Pequenas e médias mineradoras asseguram o sucesso do setor

As máquinas e os equipamentos também dão sua contribuição

Foto: Saulo Cruz/MME

Após registrar em 2021, faturamento de R$ 339 bilhões, volume 62% superior ao de 2020, o setor de mineração brasileiro fechou o primeiro semestre de 2022 com queda em produção, exportação, faturamento e saldo comercial em relação a igual período de 2021, comprovando que a mineração em todo o mundo “tem comportamento cíclico e depende dos humores do mercado internacional para apresentar bons resultados”, comenta Raul Jungmann, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração, o Ibram – Mineração do Brasil.

Essa sazonalidade, no entanto, não afeta os investimentos previstos para o quinquênio 2022-2026, situados em US$ 40,4 bilhões, como informado pelo Ibram, sendo US$ 18,7 bilhões em execução (46%) e US$ 21,7 bilhões (54%) programados.

Além disso, com base em dados oficiais (Novo Caged) o setor mineral, em maio deste ano, mantinha mais de 201 mil empregos diretos, contra 198 mil em janeiro. Esse total, na cadeia produtiva, ultrapassa a casa dos 2 milhões de trabalhadores, pois a cada vaga direta correspondem outras 11. Estatísticas do Ibram também apontam que, dos 15 maiores municípios arrecadadores de Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), nove têm Índice de Desenvolvimento Humano maior do que o IDH do Estado, como Parauapebas, Canaã dos Carajás e Marabá (PA); Mariana, Itabirito, Nova Lima, Congonhas, Ouro Preto e Paracatu (MG).

Os resultados acima resultam da atividade de mais ou menos 10.000 mineradoras, das quais apenas cerca de 150 são de grande porte. Isso significa que as pequenas e médias mineradoras são 90% do setor mineral, respondem, principalmente, pela produção de minérios para a construção civil e geralmente estão situadas nas proximidades dos centros urbanos.

Pequenas e microempresas, por exemplo, mineram anualmente menos de 100 mil toneladas; enquanto as médias produzem entre 100 mil e 1 milhão de toneladas, com as grandes manipulando mais de 1 milhão de toneladas de minério por ano. Nesse universo somam-se outros 16.000 atores oficiais, segmentados em lavras garimpeiras, licenciamentos (a expressiva maioria) e complexos de águas minerais.

A necessidade de aproximação entre mineradoras e mercado de capitais é citada por Rodrigo Cesar Franceschini Oliveira – presidente da Câmara Setorial de Cimento e Mineração (CSCM) e do Conselho de Mercado de Metalurgia e Mineração (CMMM), ambos organismos da ABIMAQ – e definida como “muito importante para conseguir propiciar cada vez mais o ingresso de mineradoras para IPOs, emissão de debêntures e demais instrumentos financeiros para as mineradoras médias e principalmente aquelas voltadas aos minerais estratégicos brasileiros”.

Mercado segue atraente

A contribuição desse conjunto de mineradoras para o setor de máquinas e equipamentos, de acordo com Gilson Capato, diretor comercial da Volvo CE no Brasil, é “representativa, pois nesse setor incluem-se vendas de máquinas para pedreiras, produção de areia e indústria de calcário. Historicamente, este segmento gira em torno de 10% a 15% do mercado de máquinas. Mas ressaltamos que, neste número, no entanto, não está computada a atuação de locadores no segmento de mineração”.

Esse alerta de Capato tem como base a expansão da comercialização de máquinas para outros segmentos da mineração, “como é o caso da elevação da venda de máquinas para aplicações em fosfato, largamente usado na produção de fertilizantes. Além disso, verifica-se aumento na comercialização de equipamentos para operações em bauxita, minério usado para a produção de alumínio, mostrando maior movimentação no setor de serviços”.

Para Marco Antonio Sousa, gerente de expansão do Grupo AIZ, esses dados também não devem ser motivo de preocupações, porque “a mineração se comporta de modo cíclico e depende dos humores do mercado internacional. O setor continua pujante, buscando equipamentos e tecnologias como as fornecidas pela AIZ para alavancar produção sem subir os gastos operacionais, reduzir as emissões e, principalmente, retirar o operador de dentro da cabine em operações de risco, possibilidade oferecida pela operação remota”.

Lamentado que o ambiente “está tomado por crises internacionais, eleições presidenciais e constrições na cadeia de suprimentos, o que deixa um pouco de dúvida quanto à consistência das projeções promissoras para o período de 2023 a 2026”, Maximiliano Josef Wagner, presidente da Putzmeister Brasil, anuncia que “os investimentos projetados para obras de infraestrutura e outros no Brasil têm refletido muito positivamente no setor industrial brasileiro, principalmente para o de fornecimento de máquinas e equipamentos. No primeiro semestre de 2022, os resultados foram ótimos no nosso segmento e, para o segundo semestre, estamos prevendo um leve recuo na demanda, porém, ainda dentro de uma expectativa de, no final, consolidar-se em um bom ano de negócios”.

Presente no Brasil há dez anos e contando com fábrica em Pouso Alegre (MG) há oito anos, a XCMG ingressou no mercado de mineração em 2021. “Nosso foco é ter qualidade e preço para atender as grandes, médias e também pequenas empresas locais. Por isso, além de equipamento, investimento em montar equipe treinada para o pós-venda e dispor de peças de reposição para atender o mercado de mineração” – explica Tian Dong, vice-presidente da XCMG Brasil Setor de Mineração. Com a certeza de que o Brasil vai crescer ainda mais neste setor, comunica que “a XCMG está abrindo filiais com mão de obra qualificada nos locais em que a mineração está se desenvolvendo, como Pará e Mato Grosso”.

Para Dong, a XCMG Brasil em dez anos, tornou-se uma empresa brasileira, “desde a linha de produção, financeiro, contabilidade até o pós-venda. Os produtos quando chegam ao Brasil são adaptados para atender as necessidades do cliente brasileiro. Com tudo isso, nossos equipamentos elétricos contribuem para o setor de mineração com eficiência, menos poluição, segurança e alto valor agregado. As primeiras máquinas para o setor de mineração brasileiro chegaram em abril de 2022. São pás carregadeiras, escavadeiras e caminhões, com emissão zero carbono. Há, também, a disponibilidade de máquinas autônomas, que trabalham sem operador, que são importantes principalmente nas barragens, tanto com relação à segurança, como sustentabilidade”.

O uso de tecnologias especialmente voltadas a manter boa produção e sustentabilidade – sinaliza Souza – “é feito de forma recorrente no setor mineral e começa a chamar a atenção entre as pequenas e médias mineradoras. Muitas vezes, isso acontece de forma tão silenciosa que acaba passando quase imperceptível. As empresas possuem instrumentos e ferramentas tecnológicas que promovem impactos notáveis nas operações unitárias de lavra e no beneficiamento mineral”.

“A escala para operação dos produtos vai de 1 a 5, e nossos equipamentos já estão no nível 3. Esperamos que em oito meses já possamos apresentar ao mercado caminhões e máquinas autônomas e elétricas”, comemora Souza, comunicando que, “ao desenvolver equipamentos de operação remota e frotas com motorização elétrica, o Grupo utiliza sua capacitação tecnológica para ajudar as empresas a se alinharem às políticas de segurança, redução de emissões, cumprimento das exigências ambientais e de sustentabilidade, conforme os preceitos da ESG, que se constituem caminho para a sobrevivência das empresas. Assim, o Grupo está sempre alinhado à tecnologia e inovação voltadas a essas áreas”.

Enxergando novos players com papeis significativos e as pequenas e médias mineradoras rumando na direção de atualizações tecnológicas, novos equipamentos, trocas de antigos e mais produtividade, Marcelo Motti – vice-presidente de Vendas e Serviços da Metso Outotec –, sinaliza “fortes tendências vinculadas à preocupação com o meio ambiente, além de equipamentos com menores consumos de energia e água, além da automação presente”.

Inovar através de soluções que toquem nos desafios dos clientes é o objetivo dos investimentos realizados pela Metso Outotec em âmbito global, o que lhe permite esperar para a operação brasileira “crescimento de dois dígitos em 2022”, afirma Motti. Ele acredita na possibilidade de construção de um quadro ainda mais favorável para as indústrias que atuam como fornecedoras para o setor mineral, reivindica “a desoneração de impostos, de forma que possamos ser mais competitivos frente aos concorrentes internacionais. Investimentos em formação de mão de obra, financiamentos com taxas competitivas, aceleração nas análises e liberações de licenças de exploração, entre outras iniciativas”.

Convivendo com as estatísticas

As estatísticas apresentadas acima e o interesse dos próprios organismos reguladores pelo setor mineral pela aceleração da destinação de recursos a projetos e obras faz parte do dia a dia das indústrias representadas pela ABIMAQ e congregadas tanto no Conselho de Metalurgia e Mineração quanto na CSCM. Franceschini, lembrando a existência de investimentos e projetos relevantes sendo implantados, destaca “a diversificação tanto regional quanto em relação ao tipo de minério… Há projetos no tradicional eixo Minas Gerais – Pará, mas também vários projetos no Centro-Oeste, na Bahia e em outras regiões”.

O diretor comercial da Volvo CE ressalta a importância de conhecer o setor e os números para compreender a realidade. Esse é o caminho para o entendimento da queda que vem sendo sinalizada na atividade mineira no período de janeiro a junho de 2021, derivada da redução da atividade econômica na China, grande importadora de commodities minerais do Brasil, especialmente minério de ferro.

Atentando aos resultados apenas desses seis meses, a atividade experimentou um crescimento de aproximadamente 10% nesse primeiro semestre, entretanto, quando o percentual é comparado aos indicadores do mesmo período em 2021, a atividade foi sensivelmente afetada, pois nesses meses em 2021 ante 2020 a mineração crescera 38%.

A expansão da comercialização para outros segmentos da mineração, por exemplo, vem acontecendo, garante Capato citando, por exemplo, “a elevação da venda de máquinas para aplicações em fosfato, largamente usado na produção de fertilizantes. Além disso, verifica-se aumento na comercialização de equipamentos para operações em bauxita, minério usado para a produção de alumínio, mostrando maior movimentação no setor de serviços”.

Luciano do Amaral Rocha, vice-presidente executivo da Divisão de Construção da Komatsu, reforça esse entendimento. Para ele, “o mercado de mineração tem tido um crescimento muito interessante, puxado pela demanda mundial das commodities minerais, não somente o ferro, mas também de muitos outros principalmente os ligados à eletrificação, como cobre e lítio, e também agrícola, tais como o calcário. Este segmento de mercado tem apontado um crescimento cerca de 15% em relação ao ano passado de acordo com os dados da ABIMAQ”.

O que vem sendo chamado de queda na mineração no período de janeiro a junho de 2021, decorre da redução da atividade econômica na China, grande importadora de commodities minerais do Brasil, especialmente minério de ferro. Na realidade, a atividade experimentou um crescimento de aproximadamente 10% nesse primeiro semestre, entretanto, quando comparado aos indicadores do mesmo período em 2021, a atividade foi sensivelmente afetada, pois nesses meses em 2021 ante 2020 a mineração crescera 38%.

Muito além do minério de ferro

A principal demanda está com a mineração de ferro, pois esse elemento ainda representa o maior volume financeiro. Contudo “há projetos em andamento no País cujo impacto a longo prazo será muito positivo para a mineração e para a indústria brasileira em geral. Uma grande aposta são os minerais utilizados no processo de eletrificação em que o mundo se encontra”, sinaliza Rogerio Zanirato, gerente do Segmento de Mineração da Hydac, empresa focada em projetos hidráulicos, serviços de filtração e análise de fluido.

Para Zanirato, neste momento, um outro setor impacta a indústria brasileira: a exploração de matéria-prima para a indústria de fertilizantes, em especial o fosfato com grandes reservas também nas regiões Norte e Nordeste. Ele descreve o momento mundial como marcado por “um período de grandes incertezas, com conflitos no Leste Europeu e na Ásia, risco de recessão global devido ao aumento da inflação”, crê nas estimativas de especialistas de que “o setor se manterá com alta atratividade em 2022, pois segmentos do mercado irão se beneficiar desta fase nos próximos anos devido às novas demandas e aplicações resultando assim em um aumento de oferta de matéria-prima básica”, replica.

Lítio, níquel, nióbio, terras raras, alumínio e cobre são elencados pelos entrevistados como exemplos de destinos para os investimentos atuais no setor, que extrapolam os Estados tradicionais como Pará e Minas Gerais, atingindo as regiões Norte e Nordeste, que também entraram no radar com grandes reservas destes minerais sendo explorados e recebendo investimentos.

Diversificação e heterogeneidade são palavras usualmente empregadas em relação ao setor mineral brasileiro. Respondem ainda, por definições como a do vice-presidente da XCMG Brasil Setor de Mineração, para quem “o Brasil é um país mineral”, marcado pela variedade de minérios existentes e também pela diversidade de empresas.

O imenso mercado das pequenas e médias mineradoras

“É notória a participação crescente das pequenas e médias mineradoras no setor, e reconhecemos que a participação delas é fundamental para que o Brasil se solidifique e perenize sua aptidão e seu potencial mineral”, constata Franceschini, pois “as grandes mineradoras não têm olhos para a enorme quantidade de oportunidades que o Brasil oferece. As Junior Companies são empresas que buscam iniciar os investimentos e prospecções, assumindo um risco maior, porém de forma ágil e inteligente tornam viáveis projetos que as grandes mineradoras a princípio não teriam interesse em iniciar. Isto pulveriza as oportunidades, traz novos players ao setor e faz com que toda a cadeia produtiva se beneficie”.

Um mercado pulverizado e de grande importância para o negócio de equipamentos, sendo que pequenas e médias mineradoras consomem mais de 20% da produção da Komatsu de forma direta. Essa é a fotografia que Rocha faz do setor de mineração e, ao complementar seu raciocínio, enfatiza que “além do alto consumo de máquinas, peças e serviços, devido à severidade na operação, as mineradoras acabam exigindo dos fabricantes que se desenvolvam tecnologicamente para manter a efetividade em termos de custos, mas também em questões críticas como ESG”.

Outra indústria que circula nesse meio é a Putzmeister: “Temos vários clientes classificados como pequenas mineradoras, mas que sobrevivem exclusivamente graças ao seu emprego de tecnologia de ponta na atividade. É a aplicação da tecnologia e da eficiência vencendo a barreira dos limites da viabilidade convencional”, comemora Wagner.

Todas as empresas de mineração são de fundamental importância no contexto de representatividade para o setor de máquinas e equipamentos, argumenta o presidente da Putzmeister do Brasil, “e da mesma forma deve ser entendida também a sua contribuição para com o nível da atividade e volume de negócios. Na maioria dos casos, um mesmo modelo de máquina atende tanto uma grande como média ou pequena mineradora”.

“Há pequenas e médias mineradoras que já nascem com foco na eficiência processual, e portanto já consideram a utilização de tecnologias atuais e/ou inovadoras para a prospecção e o beneficiamento. Mas, dada a enorme quantidade de pequenas e médias mineradoras, incluindo as minerações de agregados, rochas ornamentais, minerais não metálicos e outros, percebe-se que o setor ainda está em desenvolvimento neste sentido. Ou seja, o processo de amadurecimento tecnológico chegará a elas em um futuro que, esperamos, esteja próximo”, prevê o presidente da CSCM.

Máquinas: parceiras na lavra, na planta e no transporte

Na mineração regulamentada, as máquinas e equipamentos estão presentes e contribuem para o faturamento das indústrias que atendem a atividade e que são representadas pela ABIMAQ. Por mais que as grandes obras encham os olhos, é o dia a dia das micro, pequenas e médias mineradoras que gera empregos e renda, além de demandarem cada vez mais tecnologia e equipamentos apropriados ao seu porte e suas necessidades.

“A mineração moderna no Brasil não existiria sem as máquinas e equipamentos fabricados pelas associadas à CSCM. Atestamos, também, que em sua grande maioria essas indústrias têm investido em desenvolvimentos de equipamentos e soluções, bem como na evolução da tecnologia incorporada aos produtos”, resume Franceschini.

O presidente da CSCM comemora o amadurecimento do mercado, uma vez que as mineradoras já entendem que bons equipamentos são fundamentais para a máxima eficiência e rentabilidade da produção, bem como para garantir segurança e longevidade das operações, expandindo a vida útil das minas. “Nesse cenário, é nosso papel patrocinar o avanço tecnológico no setor mineral, estruturando departamentos de P&D próprios, sejam localizados no Brasil ou em outros países”, preceitua.

A aplicação de equipamentos de ponta à operação, assim como em grandes mineradoras, vem sendo tendência também em mineradoras de menor porte. Para aumentar a vida útil do equipamento e operá-lo de forma mais eficiente e segura, o uso de telemática, que já é realidade em mineradoras de grande porte há anos, vem-se disseminado cada vez mais no setor como um todo. A recomendação do vice-presidente da Komatsu é pelo “esforço contínuo de toda a indústria de mineração para desenvolver líderes e profissionais que possam atuar com segurança e preparados para enfrentar os desafios diários das atividades de extração”.

“Com nossos equipamentos, as mineradoras conseguem executar sua atividade fim com segurança, previsibilidade de resultados, menor custo e estimular o desenvolvimento das comunidades próximas para que os profissionais possam seguir trabalhando no setor de extração mineral. Adicionalmente, nossos equipamentos estão avançando rapidamente na utilização de IA (Inteligência Artificial) e IOT (Internet das Coisas) permitindo o melhor retorno do investimento realizado em ativos de mineração”, resume Rocha.

A contribuição da indústria dada às mineradoras permeia alguns temas comuns a todas as empresas, independentemente do porte, como redução de custos, que é um gargalo também para as pequenas e médias mineradoras, garante Rocha. Essa necessidade é identificada pelo executivo como estimuladora de investimentos permanentes “em equipamentos com mais tecnologia e confiabilidade, alongando o ciclo de vida de sua frota e proporcionando um menor custo operacional por tonelada transportada”.

Tendências em tecnologia englobam trabalho integrado

Nada é tão bom que não possa melhorar. Por acreditar nessa premissa e atuar para ampliar a contribuição dada, a indústria brasileira de máquinas e equipamentos, assim como suas fornecedoras de componentes, estimula o trabalho integrado de toda a cadeia, o que engloba a mineradora, os fornecedores de soluções tecnológicas (máquinas e equipamentos), as engenharias, e a universidade ou institutos de pesquisa.

“Ainda existe um distanciamento entre os elos dessa cadeia e uma visão fragmentada do todo”, reconhece Franceschini, usando as constantes oscilações do setor como justificativa, agregando, ainda, “à falta de uma real política pública para conscientização e desenvolvimento do setor mineral brasileiro”.

Opinião semelhante é expressa por Capato ao falar sobre as ações passíveis de contribuir com a maior participação das vendas para as mineradoras no faturamento das fabricantes de máquinas: “Acreditamos que as ações deste tipo devem contar com todos os agentes envolvidos no setor, como fabricantes, clientes, governo, instituições de pesquisa e demais players”.

Mesmo com a integração estando distante do ideal, há diversas tendências tecnológicas em desenvolvimento, focadas à melhor eficiência processual e divididas em dois grupos: incrementais e disruptivas.

Como avanços incrementais estão equipamentos de menores dimensões físicas, porém capazes de processar maior volume de minério, permitindo a diminuição do footprint ou área necessária para a planta.

Nesse grupo também são listados os equipamentos que antecipam etapas de separação e de seleção, tornando os processos subsequentes mais eficientes; e a presença cada vez mais usual de simulação computacional como ferramenta passível de tornar o processamento mineral mais eficiente em termos energéticos e processuais, somam-se à automatização total de processos e equipamentos visando ao monitoramento e à operação remotos e on-line, adequando-se aos preceitos da indústria 4.0.

Veículos de mina autônomos, tecnologias para flotação e beneficiamento; processamento mineral utilizando o mínimo de recursos hídricos e energéticos; uso de energia renovável em equipamentos; automação, situam-se, na opinião do presidente da CSCM entre as tendências disruptivas.

Para o gerente de expansão do Grupo AIZ, falar de operação remota, em que “o operador trabalha desembarcado a quilômetros de distância em uma base de operação, enquanto a máquina responde a todos os movimentos e executa o trabalho com total eficiência, é a forma mais emblemática de implantar a segurança em condições insalubres. Inovamos, também, em soluções com o uso de energia limpa, desenvolvimento de máquinas, caminhões, empilhadeiras e ônibus 100% elétricos”.

O lançamento de caminhões e máquinas da linha amarela com motor elétrico “dá a essas empresas a possibilidade de cumprir os objetivos de performance e redução de emissões de maneira ainda melhor”, reforça Sousa, discorrendo sobre a atividade do Grupo AIZ ser voltada para essa área, pois a empresa projeta, fabrica e customiza equipamentos para operar em diferentes condições de trabalho, das mais simples às de elevada complexidade, faz venda e locação de caminhões implementados, customização de equipamentos da linha amarela (também sob a modalidade venda e locação), faz operações remotamente controladas, vende e aluga caminhões implementados e equipamentos customizados da linha amarela, caminhões e máquinas elétricas remotamente controladas, além de fabricar implementos rodoviários, entre outras atividades.

O grande desafio listado por Zanirato para a aplicação de tecnologia na atividade mineira, não converge no comparativo entre tamanho e a capacidade da extração, mas entre o mercado de mineração e outros mercados: “Ainda temos um grande caminho a seguir no que tange à implementação de infraestrutura necessária para receber essas novas tecnologias dentro do segmento. Acredito que o mercado de mineração brasileiro está na direção correta, mas o setor mineral ainda não pode ser considerado um early adopter para novas tecnologias, mesmo tendo todo o potencial humano e financeiro para se tornar pioneiro em inovações”.

Hélio Sugimura, gerente de marketing da Mitsubishi Electric, observa que as inovações, direta ou indiretamente, são digitais e já estão comprovadas pela sua implementação em muitas operações de mineração em todo o mundo. “Elas não apenas fornecem soluções para os problemas existentes, mas também transformam radicalmente os processos de mineração, aumentando a eficiência, a lucratividade e a capacidade de cumprir regulamentações mais rígidas”, esclarece reconhecendo, ainda, que, como a atividade mineradora é realizada em ambientes remotos, “requer uma imensa infraestrutura para operar com produtividade e eficiência, e tecnologias digitais inovadoras e automatizadas ajudam a levar mais agilidade e segurança para essas operações”.

Automação, sinônimo de eficiência

Independentemente de se situar no grupo das tendências incrementais ou disruptivas, a automação é citada pelos especialistas como a chave para a mineração ganhar eficiência e consolidar os vínculos com colaboradores, comunidades, governos e o meio ambiente, em cada uma das etapas da cadeia de valor, reduzindo os impactos decorrentes da volatilidade dos preços do minério e da necessidade de atender as legislações ambientais.

O gerente de marketing da Mitsubishi Electric expõe a necessidade de o mercado detectar o real valor da inovação. “Soluções de automação que aumentam a eficiência energética, por exemplo, contribuem para reduzir o consumo e, também, ao monitorar o funcionamento de máquinas, melhorar o seu desempenho e o seu ciclo de vida”, relata.

Outro exemplo citado por Sugimura reporta-se à “disponibilidade de recursos de monitoramento de vida útil de acionamentos elétricos e monitoramento de condição de motores”. Nesse quesito – explica o gerente de marketing da Mitsubishi Electric – “é possível trabalhar de forma preditiva, com melhor planejamento de atividades de manutenção, evitando paradas de processos de transporte de minério”.

O uso de softwares supervisórios para acompanhar indicadores de performance (KPI) e comparar com a eficiência de outras unidades produtivas também é sugerido por Sugimura para “acompanhar e monitorar as operações de forma automatizada, o que, além de facilitar o gerenciamento de forma mais eficiente, contribui para garantir a segurança das operações”.

Falar em automação nos dias atuais exige reportar-se à internet das coisas. Essa tecnologia, quando aplicada no segmento de produção mineral em larga escala, “transformará drasticamente a relação entre o homem e a produção mineral”, preconiza o gerente de Mineração da Hydac. “É necessário tirar o homem do risco. Acidentes ambientais ocorridos na mineração em todo o mundo e a necessidade pujante de apresentar cada vez mais valor aos acionistas direcionam os holofotes às tecnologias ligadas à descarbonização dos processos minerais e a tecnologias relacionadas às questões do ESG”, acredita, convicto de que essa postura não é somente seguida pelas empresas minerais, mas também pelas empresas desenvolvedoras de tecnologia que fornecem para este setor.

Oferecer soluções que gerem produtividade, economia, segurança e cuidem do meio ambiente. Esse é o foco essencial dos esforços dos diversos atores da indústria de fornecimento de máquinas e equipamentos para mineradoras, no entendimento de Capato, pois “cada empresa desenvolve soluções diferentes em função de sua expertise e know-how, do seu conhecimento da indústria de mineração, de suas prioridades estratégicas e sus próprios valores corporativos”.

A Volvo Construction Equipment – exemplifica seu diretor comercial –, está investindo em desenvolvimentos tecnológicos em três grandes frentes. A primeira é Energia Sustentável, com equipamentos movidos à eletricidade, células de combustível, combustíveis alternativos e outros, redução da pegada de carbono em todo o ciclo de vida do produto, desde o desenvolvimento, produção, operação e descarte.

Conectividade é a segunda disciplina e envolve equipamentos que enviam e recebem dados com uma central e entre si, para transformar esses dados em informação que possa ser usada pelos gestores de equipamentos e da operação para maximizar a eficiência operacional, segurança, etc.

E, o terceiro pilar é ocupado pela Automação, com equipamentos cada vez mais inteligentes, que promovam uma operação segura, tanto para os operadores e pessoas que trabalham no canteiro de obras ou operação, quanto para os equipamentos e para a comunidade ao redor, percorrendo a jornada evolutiva ao longo dos 5 níveis de automação definidos na indústria.