Representante nacional do setor de máquinas e equipamentos, que soma mais de 8.500 empresas, a ABIMAQ mantém fóruns que reúnem indústrias com interesses em comum, objetivando aproximar empresas e desenvolver cada um dos diferentes segmentos da indústria que fazem parte da Entidade.
Nessas Câmaras Setoriais os associados, com o suporte dos especialistas da Associação, debatem temas relevantes, analisam as oportunidades futuras e estabelecem as melhores práticas para o setor. Entre as ações está também a representatividade do segmento atendido em feiras e demais eventos de interesse dos associados.
No caso da Agrishow, três desses fóruns estão diretamente vinculados: a Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), a Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação (CSEI) e a Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos (CSEAG).
Tecnologia, inovação, produtividade, sustentabilidade, mercado e potencial da indústria nacional estão entre os muitos temas de interesse. Os membros discutem e propõem junto à sociedade civil, ao governo e a outras entidades os grandes temas do setor como financiamentos, sustentabilidade, normatização de máquinas e operações, modernização ou adaptação da legislação entre outras.
Por isso, a Agrishow é um palco especial para as empresas congregadas nesses três grupos mostrarem os resultados dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I), dialogarem com os produtores rurais e ouvirem as suas necessidades, fortalecerem os relacionamentos e fidelizarem clientes.
Maturidade da armazenagem de grãos convive
com falta de crédito para se expandir
Controles de automação, de termometria, de controle de estoques, automação de processos são tecnologias incorporadas nos sistemas há algum tempo. Nas palavras de Paulo Bertolini, presidente da CSEAG, essa realidade resulta de uma “indústria madura. A tecnologia vai evoluindo, mas o conceito já existe e está melhorando continuamente. Temos qualidade, equipamentos, opções para manter a qualidade e o padrão exigido para o ativo armazenado, que é de grande valor.”
A tecnologia é embarcada de fábrica e também interage com o usuário sempre que necessário, permitindo a consulta dos dados e indicadores a qualquer momento, de qualquer lugar. Atualmente, vem absorvendo inteligência artificial, integrando, por exemplo, o silo à estação meteorológica. Com base nos dados coletados pela estação e analisados pela IA, o sistema se ajusta aos indicadores de unidade, de temperatura, entre outros, preservando o grão armazenado.
Bertolini informa que os equipamentos são utilizados por toda a cadeia, incluindo o antes e o depois da porteira, atendendo cerealistas, cooperativas, trades, despachantes aduaneiros e a indústria, por exemplo. A atividade atende as etapas de classificação, armazenagem, secagem e industrialização.
Mesmo assim, a indústria tem condições de ampliar a produção a qualquer momento para atender as necessidades do mercado interno. Para se manterem vivas e investindo em desenvolvimento e aplicação de tecnologias de ponta, as indústrias exportam parte significativa da produção nacional para cerca de 40 países.
Há mais de uma década, a demanda reprimida no mercado interno é expressiva. Em termos estáticos, o déficit de armazenagem é próximo a 120 milhões de toneladas, o que significa cerca de 50% da safra nacional de grãos.
A falta de armazéns – explica o presidente da CSEAG – acarreta diversos problemas para o produtor, para o comprador e o exportador, e, no fim da cadeia, para o consumidor. A relação de consequências do déficit de armazenagem inclui, por exemplo, perda de qualidade dos produtos, transporte de água e detritos junto com o grão, inflação no preço dos alimentos para o consumidor e redução no preço do produto para o produtor, sazonalidade.
Nesse contexto, como lamenta Bertolini, “a excelente produtividade do agricultor brasileiro é colapsada no pós-colheita, gerando grandes perdas, afetando a segurança alimentar não somente de 210 milhões de brasileiros, mas de 800 milhões de pessoas no mundo afora que se abastecem da agricultura brasileira. Estamos brincando com o perigo.”
Para equacionar o déficit de armazenagem, “além de crédito para a construção de armazéns, é preciso política pública que favoreça ao produtor investir na construção de silos na propriedade, a exemplo do que acontece em países como os Estados Unidos, onde 80% da capacidade de estocagem está nas fazendas. No Brasil, desde 2013, a capacidade instalada dentro da porteira varia entre 14% e 16% do total, ficando 86% das estruturas de armazenagem nos centros urbanos”, informa o presidente da CSEAG.
“Precisamos inverter esse quadro”, conclama Bertolini, explicando que “o investimento do produtor no silo próprio se paga com o que ele deixa de ganhar. Ou seja, com o silo ele deixa de terceirizar o pós-colheita e passa a ter condições de negociar sua safra em melhores condições, aumentando sua lucratividade. É possível segurar um estoque de passagem de uma safra para outra. Há estudos que mostram payback de dois a três anos, o que é excelente, pois a linha de crédito vai até dez anos, com dois de carência. Com os ganhos proporcionados pela armazenagem na fazenda, o agricultor pode rapidamente reaver seu investimento”.
As linhas de crédito existem – Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) e o Pronaf Mais Alimentos, em âmbito nacional, além de outras linhas regionais e estaduais –, são vantajosas, e o juro é viável. O PCA, comenta Bertolini, “é uma das linhas mais baratas de todo o plano safra. O que falta são recursos alocados suficientes para equacionar o déficit nacional. Só com investimento e políticas públicas condizentes com as necessidades da atividade, o Brasil terá sustentabilidade econômica capaz de viabilizar a agricultura e sustentabilidade social, pois sustentabilidade ambiental já existe.”