Não perder de vista o que realmente o produtor rural quer e precisa, promover a rota tecnológica e conseguir traduzir isso em valor para os clientes, e aproximar o máximo possível a tecnologia dos reais anseios dos produtores. Para Cristiano Del Nero, presidente da CSEI, esse é o grande desafio da agroindústria e quanto mais for equacionado maior será a chance de adesão. Contudo, o empresário reconhece que “existem muitas variáveis e complexidades a respeito deste assunto, afinal, a adesão ocorre de maneira diferente nos países e nos momentos de mercado.”
Nessa atividade, a evolução da tecnologia acontece por fases. Del Nero comenta que “o primeiro estágio, com boa aceitação no Brasil, é o da operação remota das máquinas e equipamentos. Posso garantir que é possível operar um sistema de irrigação com nível de automação muito próximo a 100%. Isso significa, por exemplo, que o funcionamento de um pivô central pode ser comandado de maneira remota, por meio de um celular ou em uma central de operação na fazenda.”
Mesmo existindo campo para expansão, o presidente da CSEI assegura que “a primeira camada é um nível tecnológico bem disseminado em nosso país. Já estamos em caminho avançado na oferta de soluções de gestão da lavoura e manejo na irrigação, o que proporciona ao produtor uma tomada de decisões baseada em dados de previsão de chuva, variação de temperaturas, necessidade de água de acordo com a cultura e seu estágio, entre outras. A expansão da adesão dessas soluções pelos produtores é o desafio relacionado à inovação e à tecnologia no setor em que trabalho.”
O próximo passo é disseminar a integração das tecnologias, que potencializam a gestão da irrigação. Para atingi-lo e desenvolver novas tecnologias, o presidente da CSEI, recomenda “pensar no que é possível agregar aos sistemas de irrigação para que este valor percebido seja ainda maior. Boa parte dos sistemas de irrigação estão presentes na lavoura de maneira permanente, 24/7. Cada desafio do produtor é uma oportunidade e é nisso que trabalhamos para desenvolver a indústria e, em breve, avançarmos em tecnologias de IA para o setor.”
Uma das sugestões é facilmente detectada e antecede o avanço tecnológico: “Hoje, temos cerca de 20% da área agricultável no Brasil coberta por rede 4G. Este número é muito baixo e exige planejamento do País. Assim como avançamos com a conectividade urbana, precisamos ter um plano assertivo para reduzir o déficit de conexão no campo”, constata Del Nero.
Mesmo com esse gargalo, há benefícios usufruídos pelos produtores, afinal, “uma série de tecnologias e sensores são acoplados aos sistemas de irrigação, fornecendo informações valiosas sobre quando e como irrigar, contribuindo para gerar economia de energia, de água e de insumos, além de aumentar a produtividade”, explica Del Nero, convicto de que “o uso dessas tecnologias faz com que os produtores extraiam todo o valor dos equipamentos.”
Outro ponto positivo é lembrado pelo presidente da CSEI e se relaciona à inclusão, em 2021, da irrigação no Plano de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agricultura – ABC+. “Este reconhecimento significa que o Brasil enxerga a irrigação como uma das tecnologias que contribuem para a agenda climática e que devem ser ampliadas para que o País se torne cada vez mais sustentável”, relata o executivo.
Entre os argumentos que podem ser utilizados para ampliar a adesão à irrigação, Del Nero cita pesquisas da Universidade de Nebraska em andamento que comparam o nível de fixação de carbono no solo em culturas irrigadas e não-irrigadas. Os resultados preliminares – informa –“apontam que as culturas irrigadas contribuem de maneira acentuada para um maior nível de fixação, e devemos ter andamentos relevantes nos próximos anos nesta direção.”
Mais um aspecto é elencado por Del Nero e compreende as mudanças climáticas e os eventos climáticos extremos: “Quando falamos sobre irrigação, falamos sobre uma tecnologia de adaptação às mudanças climáticas que adiciona uma camada de segurança contra as variações climáticas. Além de termos um nível de segurança maior contra a quebra de safra, ainda temos um bônus, que é o aumento da produtividade sem a necessidade de expansão de área. A irrigação é o seguro agrícola mais eficaz para o produtor rural.”
O gargalo da conectividade no campo também é lembrado por Danilo Silva, gerente Agronômico da Netafim. “Caso não haja conectividade, é necessário utilizar outros equipamentos, como rádio, para fazer alguns manejos ou a troca de dados entre plataformas”, frisa, somando outras necessidades, como o conhecimento do produtor sobre as ferramentas existentes, a aptidão do produtor para trabalhar com dados e inovação, o motivo para ele querer aquela tecnologia, a expectativa que ele tem do uso dos dados, da tecnologia, da inovação.
“Quando se pensa em adicionar cada vez mais tecnologia, o que o produtor espera é usar melhor os insumos que possui, como fertilizantes, produtos químicos, sementes etc. É preciso usar melhor a mão de obra e a água, tomar a melhor decisão possível. Irrigar quando necessário também está relacionado ao uso de energia elétrica e à questão da sustentabilidade”, reconhece Silva.
O mercado tem crescido muito nos últimos anos e tem potencial para crescer ainda mais, confirma Luiz Alberto Roque, Co-CEO da Bauer América Latina e CEO da Irricontrol, mesmo com o Brasil irrigando menos de 10% de sua capacidade.
O gerente agronômico da Netafim, para quem “a irrigação é apenas uma das etapas do sistema de produção”, concorda que o mercado tem crescido fortemente, e ainda há muito a ser conquistado. Os motivos – entende ele – relacionam-se às mudanças e incertezas climáticas e aos altos preços de algumas culturas.
No primeiro caso, como não é possível garantir chuvas em determinados períodos, como acontecia há alguns anos, muitas vezes, o volume ideal de chuvas não ocorre. Nesse caso, a irrigação entra como solução para suprir a falta de água em momentos estratégicos ou durante o ciclo produtivo. Já os altos preços de algumas culturas tornam o investimento em tecnologia mais atrativo.
O uso de energias renováveis, a redução do consumo de diesel e, principalmente, o aumento da produtividade na mesma área têm sido prioridades no desenvolvimento de soluções mais sustentáveis para o campo, na visão de Roque. Na Bauer, a temática conduziu à criação de um setor exclusivamente dedicado às energias renováveis, com o objetivo de contribuir ainda mais com a preservação ambiental, reduzir custos operacionais e oferecer uma solução energética eficiente para o produtor, independentemente da região em que atua.
“Firmamos também uma parceria estratégica com a Micropower, empresa especializada em projetos de armazenamento de energia”, relata Roque, e detalha: “Juntos, desenvolvemos uma solução chamada microrrede, um sistema híbrido de geração e armazenamento de energia solar, com integração de baterias, energia hidrelétrica e uso pontual de diesel. Esse modelo é gerenciado por um software inteligente que identifica, em tempo real, qual é a fonte de energia mais econômica a ser utilizada em cada momento.”