Atuando em âmbito nacional e multisetorial, instituições como Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em que pese a queda de uma posição no Índice Global de Inovação 2024, divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (IGI, OMPI), acreditam que o ano de 2025, em termos de resultados, Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação, traz boas perspectivas.
Para Roberto Sampaio Pedreira, gerente de Monitoramento e Avaliação da ABDI, a Nova Indústria Brasil pode ser a propulsora do desenvolvimento do setor industrial, criando um ambiente favorável à neoindustrialização e à inovação, entre outros benefícios. Os primeiros resultados – enfatiza ele – permitem-lhe considerar que a NIB, enquanto política industrial em vigor, “trata o incentivo à inovação como prioritário; é um pilar central para o processo de modernização do parque industrial nacional, a adoção de estratégias de P&D, o aumento da produtividade das empresas e a promoção do crescimento econômico sustentado.”
Ratificando sua posição, Pedreira relaciona o conjunto de medidas legais instituídas pela política industrial visando ao incentivo à inovação, medidas que têm sido essenciais para o avanço tecnológico e ampliação da competitividade, tais como: Lei nº 14.902/2024, que institui o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Programa Mover); e Lei nº 14.948/2024, que institui o marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono, que inclui incentivos para a indústria do hidrogênio de baixa emissão de carbono.
A essas legislações agregam-se ainda a Lei nº 14.948/2024, que aperfeiçoa a conhecida Lei de TICs e cria o Programa Brasil Semicondutores (Brasil Semicon) e o direcionamento de investimentos de, aproximadamente, R$ 42 bilhões, para impulsionar a adoção de tecnologias digitais avançadas, avisa Pedreira, ao complementar: “Outra importante estratégia adotada no âmbito da política industrial é o uso de encomendas tecnológicas e compras públicas para inovação, visando a fomentar a produção local e estimular segmentos estratégicos, como tem ocorrido no complexo industrial de saúde e é vastamente utilizado pela Petrobras.”
A NIB – afirma Pedreira – “possui metas, por missão, até 2026. Em seu primeiro ano de implementação (2024), a NIB alcançou recordes históricos de investimentos, que se refletiram no expressivo desempenho do setor industrial. Entre 2025 e 2026, as instituições financeiras governamentais deverão injetar mais de R$ 300 bilhões para impulsionar o desenvolvimento industrial, no âmbito do Plano Mais Produção. Não é algo a ser desprezado ao se fazer conjecturas sobre 2025. Até porque, há também positiva expectativa de continuidade da expansão industrial, em face dos substantivos investimentos privados em diversos ramos industriais, anunciados ao longo do ano passado, que ultrapassa os R$ 2 trilhões.”
Entendendo o anúncio de investimentos da Embraer, de mais de R$ 20 bilhões, até 2030, como um exemplo da “confiança do setor privado na política industrial implementada pelo governo federal, e a disposição em promover um novo ciclo de desenvolvimento industrial”, o gerente de Monitoramento e Avaliação da ABDI crê que, para 2025, são promissoras as perspectivas “de vermos o Brasil dinamizar uma agenda de desenvolvimento baseada na sustentabilidade ambiental, no domínio de tecnologias de ponta, na geração de empregos mais qualificados, na modernização da estrutura industrial.”
Posição semelhante é declarada por Alvaro Prata, pois, o IGI sinaliza que o Brasil manteve “a liderança entre as economias da América Latina e do Caribe. Dado o tamanho e o potencial da economia brasileira, precisamos avançar ainda mais para alcançar uma posição mais adequada no ranking. Para se ter uma ideia, para as seis missões da NIB, a Embrapii projeta a contratação de 1.986 projetos entre 2023 e 2026. Isso representa um investimento direto da Embrapii de R$ 1,9 bilhão, que irá alavancar R$ 4,6 bilhões em projetos de PD&I.”
Recorde histórico
O balanço da Embrapii focado na conexão entre o conhecimento científico da sua Rede de Unidades e a indústria, em 2024, é comemorado por Prata, afinal, “contratamos 638 projetos com empresas por meio dos 93 centros de pesquisa aplicada (Unidades Embrapii) que integram nossa rede. Isso, de forma agregada, representa mais de R$ 1 bilhão em investimentos em PD&I. Além disso, em 2024, colocamos em operação o modelo de Centros de Competência Embrapii, com nove centros credenciados em várias regiões do País. O foco é a criação de competências em áreas de vanguarda, como tecnologias quânticas, 6G, terapias avançadas, entre outras.”
A ampliação da cooperação entre Embrapii e ABIMAQ também é citada pelo presidente da instituição, concretizada em iniciativas “no âmbito da Expomafe, do Abimaq Inova, dos Embrapii Days e de diversas outras ações que visam a conectar e a ampliar o número de empresas associadas que se beneficiam do modelo Embrapii de inovação. Em 2025, também esperamos mobilizar mais empresas associadas à ABIMAQ para inovarem em parceria com a Embrapii.”
Ao longo de 2024, a Embrapii verificou atuação destacada em projetos nas áreas de mobilidade, saúde, agroindústria, bioeconomia e energia, entre outras, além de uma forte demanda por soluções baseadas em inteligência artificial como principal tecnologia habilitadora. “A transformação digital já é uma realidade. Também observamos um crescente interesse por inovações voltadas à economia circular”, declara Prata.
O gerente de Monitoramento e Avaliação da ABDI enfatiza outra conquista: “As estratégias e iniciativas adotadas pela política industrial levaram a recorde histórico de recursos para a indústria brasileira inovar em 2024: BNDES, FINEP e Embrapii, no contexto do Plano Mais Produção, o instrumento público de financiamento da NIB, direcionaram mais de R$ 30 bilhões para apoiar atividades de inovação e pesquisa em empresas industriais.”
Entre as conquistas importantes da indústria brasileiro em 2024, está “o forte crescimento disseminado em diversos ramos industriais, principalmente os de bens de consumo duráveis, de 10,6%, e de bens de capital, de 9,1%”, analisa Pedreira, e para comprovar sua opinião compara o desempenho da indústria em 2022 e em 2024: “A indústria cresceu com mais robustez no último ano. Isso porque, o crescimento verificado em 2022 foi sobre uma base deprimida (a de 2021). Por sua vez, em 2024, pela primeira vez em 10 anos, a indústria brasileira cresceu sobre um ano que também apresentou crescimento: em 2023, o PIB da indústria brasileira cresceu 1,6% em relação ao ano anterior; em 2024, esse crescimento foi de 3,1%, indicando o início de uma fase de expansão industrial.”
O desempenho positivo do saldo de emprego também é colocado no rol de ganhos em 2024 pelo executivo da ABDI: Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a indústria brasileira gerou mais de 306 mil novos postos de trabalho com carteira assinada, representando crescimento de 3,6% em relação ao ano anterior. Esse aumento foi estimulado fortemente pela indústria de transformação, que adicionou mais de 280 mil empregos.
“Há outros indicadores que destacam a força e as conquistas obtidas pela indústria brasileira, na esteira da implementação da Nova Indústria Brasil (NIB)”, alinha Pedreira, exemplificando com o faturamento das empresas, que “apresentou variação de 5,6% em relação ao ano anterior, que já foi um ano de crescimento, o que indica a existência de uma fase de expansão industrial. De modo semelhante, as horas trabalhadas na produção cresceram significativamente, em relação a 2023 (um aumento de 4,5%, em relação ao ano anterior).”
Aceitando a existência de entraves existentes, impeditivos do desenvolvimento do setor industrial, que necessitam ser superados pela estrutura industrial brasileira, Pedreira inclui “a dependência por insumos e componentes críticos importados, como é o caso de semicondutores. A expectativa é que a partir de 2025, com a implementação do Programa Brasil Semicon, seja possível iniciar a reversão desse quadro”, e, sem a intenção de exaurir a lista, vê que, talvez, “o mais crítico gargalo seja a deficiente infraestrutura econômica, que aumenta os custos logísticos, reduz a eficiência e encarece a produção brasileira. A expectativa é que o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) reverta esse quadro e promova o desenvolvimento da infraestrutura econômica do País.”

Perspectivas 2025
Os planos para 2025 envolvem, ainda, a superação do número de projetos de 2024, o credenciamento de mais Unidades Embrapii e Centros de Competência Embrapii, favorecendo a expansão da colaboração entre empresas e universidades, os avanços tecnológicos em áreas estratégicas e a posição do Brasil no cenário global de inovação.
Respondendo à afirmação usual de que o Brasil ainda investe relativamente pouco em P&D e que enfrenta desafios relacionados à qualificação de recursos humanos, infraestrutura deficiente e uma cultura de inovação pouco desenvolvida, Prata reforça os avanços e as metas da instituição que preside: “A Embrapii, com seus valores de agilidade, flexibilidade e baixa burocracia, representa um modelo dinâmico e efetivo para superar – junto com a indústria e os melhores centros de pesquisa – todos esses desafios, e com o investimento de recursos não reembolsáveis.”
“Somando 2024 com os 10 anos anteriores desde a criação da Embrapii, já são mais de 3.000 projetos contratados com mais de 2.000 empresas. Esse conjunto de projetos representa investimento de R$ 5,7 bilhões em PD&I (valor corrigido pelo IPCA), gerando diversos resultados, como mais de 1.000 depósitos de propriedade intelectual”, alega o presidente da Embrapii.
Prata soma, ainda, mais um ponto de destaque no balanço de 2024: “A participação de microempresas, pequenas empresas e startups no portfólio de projetos da instituição continuou crescendo. Atualmente, elas representam 61% do total de empresas parceiras da Embrapii, ampliando a capilaridade e o número de atores que se beneficiam das diversas externalidades positivas geradas pela inovação.”
Para Pedreira, a partir de 2025, “a política industrial demonstra que manterá o ritmo vigoroso de investimentos em inovação. No setor de defesa, por exemplo, foram recém-anunciados investimentos públicos para aumentar o grau de domínio de tecnologias críticas, da ordem R$ 80 bilhões, até 2026. Esse montante faz parte da Missão 6 da NIB, e será direcionado para fortalecer cadeias produtivas de satélites, veículos lançadores e radares, além de recursos para projetos como o caça Gripen, o avião cargueiro KC-390, viaturas blindadas, fragatas e submarinos.”

Modelo de contratação
Na Embrapii, o modelo de contratação em fluxo contínuo dispensa edital, e, desse modo, oferece agilidade na contratação de projetos, permite maior previsibilidade aos investimentos empresariais em PD&I, reduz burocracia, evita a concentração de recursos em períodos específicos e possibilita maior acesso a pequenas empresas e startups. Além disso, os recursos aportados são não reembolsáveis; ou seja, a instituição assume riscos junto com as empresas, pois inovar requer investimentos significativos.
Pedreira – concordante com a positividade da Lei Complementar nº 177, sancionada em 2021, que impede que os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) sejam bloqueados ou redirecionados para outras finalidades que não sejam o financiamento de projetos de ciência, tecnologia e inovação – fala sobre o fortalecimento do Fundo e, no âmbito da NIB, fez com que, em 2024, alcançasse o recorde de orçamento e execução: foram aplicados R$ 12,7 bilhões para apoiar atividades de inovação e P&D.
“Vislumbro que, com a continuidade da política industrial, o FNDCT será instrumento fundamental para dinamizar o desenvolvimento científico, aliado aos interesses da indústria, principalmente no tocante aos desafios prementes, como os previstos nas missões da NIB: saúde (missão 2), transformação digital (missão 4), bioeconomia e descarbonização (missão 5) e defesa (missão 6)”, detalha Pedreira.
Para Prata, o fim do contingenciamento desse Fundo e a alteração do indicador dos juros para TR merecem ser lembrados como mudanças essenciais para a competitividade da economia brasileira: “Com as alterações do FNDCT é possível trabalhar com maior previsibilidade orçamentária, o que é fundamental para PD&I. Além disso, os recursos permitem ao País desenvolver projetos estratégicos para encontrar soluções para os grandes desafios da sociedade. Com relação à TR, é importante destacar que o novo contexto reduz substancialmente o custo do financiamento, pois juros menores incentivam empresas a investirem em inovação.”
Os editais da Finep em fluxo contínuo permitem maior flexibilidade e agilidade no processo de avaliação e aprovação dos projetos, assegura gerente de Monitoramento e Avaliação da ABDI: “É um considerável ganho para as empresas, que se beneficiam desse dinamismo para ajustar melhor seus projetos de inovação com suas estratégias de longo prazo” e, mais ainda, para o setor industrial como um todo, “porque essa flexibilidade permite que um número maior de projetos seja submetido, o que amplia a capacidade de incentivar a inovação no País.”