2018: Um ano para crescer e investir

2018 será um ano de retomada. Esse é um sentimento de confiança que permeia todo o setor produtivo e que, no caso da ABIMAQ, soma-se ao otimismo e à certeza de que a atividade, após quatro anos, inicia trajetória ascendente.

Essa confiança caminha lado a lado com os resultados da economia, que podem ser medidos pelo PIB, indicador que, segundo divulgado pelo IBGE em 1º de março, cresceu 1,0% em 2017, após dois anos de quedas consecutivas da ordem de 3,5%.

“A economia brasileira está melhorando. A inflação, controlada, a taxa de juros (taxa Selic) caiu, está havendo algum controle fiscal do governo. Em resposta a esse cenário, independentemente da sazonalidade, a economia deve crescer entre 5% e 10%. Percebemos um grande esforço da indústria em investir, pois o mercado chegou em seu ponto de fadiga”, afirma João Carlos Marchesan, presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ, definindo 2018 como “um ano promissor para o setor, após cinco anos seguidos em queda”.

No atual cenário, um ano com números positivos é uma conquista

Essa percepção de Marchesan está explícita nos números consolidados do setor, divulgados pela ABIMAQ em 28 de fevereiro. Baliza-se, ainda, em dados e expectativas oficiais, como a redução da SELIC a 6,75% ao ano, inflação em queda e com meta definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em torno de 4,5%, para 2018, e de 4,25%, para 2019. O Banco Central do Brasil, via relatório FOCUS, de 14 de fevereiro, colocou sua estimativa em 3,84%, ou seja, 0,1 ponto percentual abaixo da previsão anterior.

No que diz respeito especificamente à indústria de máquinas e equipamentos, José Velloso, presidente-executivo da ABIMAQ, declara que movimento ascendente já foi perceptível em 2017 e vem sendo confirmado em 2018. “Muito embora tenha tido queda de 3% no faturamento, terminamos o ano com crescimento de 3% no segundo semestre. Em 2018, a meta é crescer dois dígitos. Essa é uma notícia boa, porque depois de quatro anos com números negativos, em que o consumo aparente praticamente caiu 50%, imaginar um crescimento de 5% a 10% é muito positivo”, afirma o presidente-executivo, comparando essa expectativa ao crescimento do PIB brasileiro, estimado pela Associação para 2018, em 2,8%.

As eleições não devem trazer grandes surpresas que prejudiquem o mercado

Em fevereiro – segundo relatórios elaborados pelo Departamento de Competitividade, Economia e Estatística (DCEE) e divulgados em 28 de fevereiro pela ABIMAQ – as exportações foram 84,4% superiores às do mesmo período de 2017; o faturamento de R$ 4,39 bilhões no segundo mês do ano, com queda de 1,1% na comparação com janeiro de 2017. E mais: a capacidade instalada nas indústrias de máquinas atingiu 70,5% em fevereiro, contra 69,3% de um ano atrás; e a indústria representada pela entidade voltou a empregar, somando 291.179 mil pessoas, total 9,7% superior ao de janeiro, ou seja 43,192 novos postos de trabalho.

Há, ainda, muito a reativar. Hoje, a atividade está 46% abaixo do resultado médio dos meses de janeiro no período pré-crise (2010-2013). “Se subir 5% em 2018, é como se tivéssemos ainda uma queda de mais de 30%. Mas, o importante, é que estaremos mais perto da necessária recuperação. No atual cenário, ter um ano com números positivos, depois de quatro anos de queda, é uma conquista”, resume Velloso, destacando que a queda do faturamento, no período, foi inferior à queda da atividade, passando de US$ 11 bilhões, em 2013, a US$ 9 bilhões, em 2017.

Exportações: impacto significativo

Os motivos dessa aparente desproporção são assim comentados pelo presidente-executivo da ABIMAQ: “Nesse período de crise, o que segurou a indústria de máquinas e equipamentos foi a exportação. Antes era 30% do faturamento; em 2016 e 2017, o total do faturamento originado correspondeu a 41% do faturamento, em cada ano. Hoje, está ao redor de 44,1%”. Outro dado significativo é que das 1.500 associadas da ABIMAQ, 744 empresas exportaram em 2016. Em 2017, esse número foi de 810. Ou seja, 50% dos associados exportam, o que favoreceu a sobrevivência das empresas.

“Todas essas empresas sofreram muito, porque a exportação não tem o poder de suprir toda a queda do mercado interno”, comenta Velloso, frisando o papel do setor de máquinas e equipamentos representado pela ABIMAQ na balança comercial brasileira: “Em 2017, a indústria de transformação exportou US$ 82 bilhões. Apenas o recorte das empresas representadas pela ABIMAQ respondeu por US$ 9,1 bilhões. O nosso setor é o que mais exporta na indústria de transformação e as exportações respondem por 41% do nosso faturamento. Ou seja, se não fosse a exportação a situação estaria ainda pior. Por isso, temos vários programas para fazer as empresas exportarem sob o manto do Projeto Esforço Exportador, com palestras, assessoria, Projeto Apex, ajuda para promover exportação, entre outras”.

A tendência para 2018 – na visão de Velloso – é de as exportações ainda serem uma saída, “porque embora haja uma retomada, ainda não vai resolver o problema das empresas se compararmos com 2013”.

Gargalos governamentais

A indústria tem feito – e continuará fazendo – o dever de casa e acreditando na força da atividade produtiva. Apesar disso, há fatores que afetam o resultado e podem ser complicadores do processo de recuperação.

Um deles – nem o pior nem o maior – é o fato de 2018 ser ano de eleições, o que vai movimentar bastante o País, mas, na visão de Velloso, não deve trazer grandes surpresas que possam vir a prejudicar o mercado, até porque o Brasil – e o Governo que está em vigência – resolveu vários problemas: inflação controlada, juros reais (taxa Selic) em patamares baixos e emprego começando a subir. Em meio a todas as dificuldades, o País cresceu 1%, em 2017.

Mas há gargalos a serem equacionados e que deverão merecer atenção especial ainda deste Governo e também do próximo. O principal deles, na opinião do presidente-executivo da ABIMAQ, é a taxa de investimento ou formação bruta de capital fixo, que está em níveis muitos baixos e não apresenta sinais de elevação.

“Entramos em 2018 com muito otimismo. Temos certeza de que o setor volta a crescer, os números da economia estão melhorando, mas há luzes amarelas piscando, e a principal é sobre o investimento”, prevê, confirmando que os índices previstos – entre 5% a 10% – irão se concretizar, devido ao próprio déficit existente: “Ficamos quatro anos com taxas negativas de investimento e de consumo aparente de máquinas e equipamentos, gerando envelhecimento do parque industrial brasileiro como um todo, e, com a retomada da economia, forçosamente as empresas farão investimentos”.

A estatística baliza a preocupação de Velloso: de 2008 a 2014, a média anual de investimento situou-se entre 20% e 21% do PIB. Para favorecer crescimento de 2,5% a 3% da economia brasileira, o percentual sobre esse indicador de atividade econômica teria de ser de 23% a 24%. Com a crise, em 2016, o investimento caiu para 16%, o que já seria recorde negativo se, em 2017, não caísse ainda mais, chegando a 15%. Em 2018, o investimento deve aproximar-se dos 15,8% do PIB, bastante distante do ideal de 23% e da média mundial, de 24%. Exemplos não faltam. Os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, com exceção do Brasil, injetam 29% todos os anos; e nos demais países da América Latina, situa-se na casa dos 25%.

“O investimento de hoje é o crescimento de amanhã. Se continuar com uma taxa de investimento tão baixa, estamos contratando o não-crescimento nos próximos anos”, lamenta Velloso, lembrando que o próprio governo criou nós que terão de ser desatados. Um deles é a PEC do Teto dos Gastos Públicos (Proposta de Emenda à Constituição 55/2016) que, a partir de 2018 e durante 20 anos, prevê que os gastos federais só poderão aumentar de acordo com a inflação acumulada conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O outro – e não menos importante – responde pelo nome de Medida Provisória 777, que foi arduamente combatida pela ABIMAQ e introduziu a TLP (Taxa de Longo Prazo – composta pela variação do IPCA e por taxa de juros prefixada, estabelecida em cada operação, para o prazo de cinco anos) em substituição à TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). A título de informação, a TLP foi fixada em 6,76% para 2018.

A somatória dessas legislações afeta diretamente o investimento. A PEC dos Gastos, o investimento público, e a MP 777 com a TLP, a taxa de juros para financiamentos privados, pois coloca a obtenção de recursos pelo FINAME, por exemplo, na casa dos 14% a 16% ao ano, e o custo das operações diretas do BNDES – aquelas acima de R$ 20 milhões – em 12%.

Em resumo, para que a retomada caminhe a passos mais vigorosos e a iniciativa privada possa investir, o Governo – tanto o atual como o que será empossado em 2019 – precisa descobrir alternativas ao alto custo do financiamento. Velloso sugere dois caminhos: diminuir a remuneração do BNDES (Del Credere) e transferir as operações indiretas para diretas, tirando o banco repassador e com isso acabando com o spread, que coloca a taxa de juros entre 30% e 40% ao ano para capital de giro.

Em resumo: o Governo – este ou o próximo – terá de regular o setor financeiro. “Até agora os governos só agiram em detrimento da indústria. Agora, terão de tomar medidas que irão afetar o setor financeiro – para acabar com essa loucura do spread bancário e aumentar a concorrência entre os bancos no Brasil – e melhorar as taxas de juros do BNDES”, reivindica o presidente-executivo da ABIMAQ.

Para os empresários do setor de máquinas e equipamentos, Velloso recomenda perseverança nas exportações e confiança na atividade produtiva: “Esperar um ano bom, porque as vendas irão melhorar. A indústria brasileira está ressentida e precisa melhorar a produtividade e isso só com máquinas novas. Temos a Feimec e a Agrishow, ambas no primeiro semestre, em abril e maio, que são dois momentos importantes que, com certeza, gerarão negócios”.