Sustentabilidade e novas aplicações: o desafio da indústria de transformação

Durabilidade. Se tiver de citar apenas uma característica do plástico, essa palavra com certeza será lembrada pela grande maioria da população do Planeta. Independentemente dos motivos que balizem a definição, essa é uma das qualidades que respondem pela inserção de novas tecnologias e de inovação em produtos e processos utilizando esses polímeros, de origem natural ou sintética, obtidos a partir dos derivados de petróleo ou de fontes renováveis como a cana-de-açúcar ou o milho, entre outros.

Continuamente são encontradas novas aplicações, principalmente no cenário industrial, seja como termoplásticos ou termofixos, demandando dos fabricantes de máquinas e acessórios para a indústria do plástico desenvolvimentos que atendam às necessidades dos usuários finais via indústria de transformação.

Ciclo de vida faz do plástico a opção mais econômica e sustentável

Em outras palavras, cada vez mais os plásticos substituem, com vantagens, materiais como o aço, o vidro e a madeira, “devido às suas características de baixo peso, baixo custo, elevadas resistências mecânica e química, facilidade de aditivação e ainda por serem 100% recicláveis”, informa José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), que representa atualmente 12.539 empresas, que empregam 322.679 funcionários, nos setores de transformação e reciclagem de materiais plásticos em todo o País.

“Quando se avalia o ciclo de vida completo de uma solução, é difícil encontrar uma opção mais econômica e sustentável do que o plástico”, ressalta Edison Terra Filho, coordenador da Comissão Setorial de Resinas Termoplásticas (Coplast) da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), entidade que, congrega indústrias químicas e prestadores de serviços ao setor em diversas áreas.

Agenda dinâmica e abrangente

Como pano de fundo, a indústria que atua na transformação desses polímeros convive com a busca contínua do aumento da competitividade; a sustentabilidade, que deixou de ser tendência e se tornou estratégia fundamental; o ciclo de vida e os conceitos da economia circular.

Além disso, o cenário que afeta diretamente a atividade é marcado por novidades relacionadas à Indústria 4.0 ou Manufatura Avançada. Também compreende tendências tecnológicas com foco em processos, contribuindo para flexibilização e monitoramento da linha de produção, permitindo alocação das máquinas, com consequente redução de gargalos e aumento na produtividade. De acordo com o presidente da Abiplast, do mesmo modo devem ser consideradas a necessidade de redução do time to market (tempo de colocação do produto no mercado), as tecnologias com foco em produto e os novos modelos de negócio, que permitem maior interação entre fornecedores e clientes.

Outros elementos agregam-se a essa agenda, principalmente no âmbito da sustentabilidade, com o desenvolvimento de matérias-primas de fontes alternativas como cana-de-açúcar, amido, milho, beterraba e principalmente a utilização do plástico reciclado como matéria-prima na indústria de transformação.

A atuação do setor de transformação de material plástico precisa ser levada em conta, pois o segmento tem como enfoque processar e oferecer soluções em produtos que atendam a demanda do mercado (brand owners e consumidores), sejam esses feitos a partir de resinas petroquímicas, biopolímeros, reciclados ou outra solução que possa surgir em termos de inovações em matérias-primas, “bastando para isso que haja demanda de mercado, a oferta dessas novas matérias-primas seja suficiente e exista condições rápidas de aperfeiçoamento ou ajustes nas máquinas e ferramentais para processar tais materiais”, frisa Coelho.

Novas aplicações

Versátil e inteligente, o plástico é utilizado tanto em instrumentos que possibilitem as inovações acima citadas, quanto na própria indústria plástica.

A experiência do usuário com as embalagens e a sustentabilidade da matéria-prima estão cada vez mais relevantes no mercado nacional, afinal, como fala o coordenador da Coplast, “o plástico tem trazido soluções para diversos segmentos, como é o caso de embalagens. O interesse dos brand owners por diferenciação em suas embalagens tem exigido a criação de novos produtos por parte da indústria de transformação no País”.

Outra vertente a ser considerada envolve a tecnologia de sensores muitas vezes aplicada em embalagens inteligentes que permitem ao consumidor identificar a durabilidade do alimento; a nanotecnologia e novos materiais, que proporcionam melhoria nas propriedades do material plástico, possibilitando novas funcionalidades; os simuladores e os drones, são igualmente listados pela Abiplast quando o assunto é o desenvolvimento da Indústria 4.0 e as tendências do mercado em termos de consumo.

Como exemplo, Coelho cita a impressão 3D, cujos produtos são fabricados com material plástico e geram menos custos com uma linha de produção mais eficiente e sob demanda, recurso já muito utilizado na indústria plástica; e destacam o movimento de grandes indústrias consumidoras de soluções plásticas em prol de novos usos, como construção civil, indústria automotiva, de alimentos e bebidas e de wearables.

Na construção civil, a maior utilização do plástico reciclado tem contribuído para a certificação de construções sustentáveis e gerado ganhos ambientais. Na indústria automotiva, além de o plástico possibilitar maior leveza aos veículos, é aplicado em sua forma reciclada.

No mercado de alimentos e bebidas, é facilmente comprovada a maior movimentação para embalagens mais sustentáveis e com maior índice de reciclabilidade, de modo que, depois de utilizadas, possam retornar ao processo produtivo.

Quando o assunto são os wearables, o desenvolvimento de novas tecnologias é inquestionável, como a fabricação de peças do vestuário fabricados com plástico reciclado, os airbags wearable – inovação tornada possível com a união do plástico com o airbag utilizado por atletas cujo esporte apresenta riscos – e acessórios como pulseiras e relógios inteligentes e faixas de monitoramento cardíaco, fabricados com material plástico.

“Com as inovações em materiais e tecnologias, os produtos plásticos têm a possibilidade de se adequarem às tendências de compartilhamento, à circularidade da cadeia produtiva, ao maior apreço à reutilização e à reciclabilidade dos produtos, assim como à personalização”, explicam o presidente da Abiplast, relacionando como papel da entidade agir constantemente em prol do desenvolvimento dessa indústria, produzindo informações e conteúdos técnicos e promovendo e pleiteando ações tributárias para que, não somente o restante da cadeia do plástico e seus consumidores valorizem este material, mas para também ser criado um ambiente de negócios favorável para sua evolução.

Outro setor a olhar para a matéria-prima é o do agronegócio, alerta Edison Terra Filho. “O aumento de produtividade, os ganhos de eficiência produtiva e a redução do consumo de água são alguns dos fatores que geram novas possibilidades neste setor”, explica e agrega, ainda, os setores automobilístico e de eletrodomésticos, “que têm buscado materiais cada vez mais sofisticados para atender demandas por desempenho superior e apelo estético aliado à sustentabilidade e à competitividade de seus custos de produção”.

O suporte da indústria de máquinas e acessórios

Permeando todos esses campos estão as máquinas e os acessórios para indústria do plástico, cujos fabricantes são representados na ABIMAQ através da Câmara Setorial de Máquinas e Acessórios para Indústria do Plástico (CSMAIP), que reúne 120 empresas nas áreas de extrusão, injeção, sopro, corte e solda, impressão, termoformagem, reciclagem e periféricos.

Como define Gino Paulucci Júnior, presidente da CSMAIP, esse setor tem como finalidade suprir às necessidades dos transformadores do plástico em seus múltiplos – e muitas vezes inimagináveis – usos e formulações, sempre voltados ao usuário final, cada vez mais exigente e sedento por novidades, sem abandonar a preocupação com práticas sustentáveis e preservação ambiental.

Essa indústria, após quatro anos de queda na produção, em que viu as vendas serem reduzidas em quase 50%, está estimulada pelos resultados da economia nacional em 2017 – comemora Paulucci – e já começou a sentir os efeitos no segundo semestre do ano passado, dando iniciou à sua recuperação.

O investimento na eficiência energética proporciona 30% de redução no consumo de ener­gia elétrica

À frente, nessa retomada, saiu o segmento de embalagens, principalmente flexíveis. Esses primeiros sinais, levam o presidente da CSMAIP a ter confiança de que 2018 promete ser um ano de recuperação. “A economia vem descolando-se cada vez mais da política. Nesses últimos anos, a indústria de transformação de plástico não investiu, represando suas necessidades, mas agora a demanda deve crescer”, estima e garante que a indústria de máquinas e acessórios está em condições de anteder essa demanda represada pela queda na atividade econômica dos últimos anos com aditivos especialíssimos, a exemplo da maior eficiência energética.

“Os fabricantes que estavam capitalizados puderam se preparar para essa retomada e investir na planta industrial e em novas tecnologias embarcadas nas máquinas, tornando-as mais eficientes energeticamente, mais produtivas e com melhor qualidade de acabamento do produto final, agregando ganhos de produtividade. As máquinas fabricadas atualmente consomem cerca de 30% menos energia elétrica, que é um dos principais insumos da indústria de transformação do plástico”, comenta Paulucci.

Ao mesmo tempo em que cita o trabalho em execução pela CSMAIT – ações que viabilizem financiamentos de longo prazo adequados à produção – o presidente da Câmara Setorial da ABIMAQ deixa um recado para os gestores das indústrias de transformação do plástico: “Fiquem atentos para o custo-benefício das máquinas novas, pois vale a pena investir. As que estão operando são antigas e têm baixa eficiência energética, reduzindo a competitividade. Em três anos, com a economia de energia que as inovações tecnológicas proporcionam, paga-se uma máquina nova, além de aumentar a competitividade no mercado”.