A ‘Quarta Revolução Industrial’ chegou à produção dos óleos industriais. No futuro imediato novos produtos prometem desempenhos também revolucionários.
A ‘Manufatura Avançada’, ou ‘Indústria 4.0’, já é uma realidade no exterior e começa a consolidar-se no Brasil. Essa nova atividade produtiva global, também chamada de a “Quarta Revolução Industrial”, vem exigindo o desenvolvimento e emprego de maquinário, soluções técnicas e softwares revolucionários para compor um ambiente industrial totalmente digital, interconectado, baseado em ‘big datas’, arquivamento na ‘nuvem’, atualizações on line, não apenas entre as unidades produtivas, mas, envolvendo todas as instâncias e departamentos de uma empresa e seus vários universos de relacionamento. Como um tsunami, a “Quarta Revolução Industrial” vem invadindo todas as áreas das empresas como as conhecemos hoje e promete transformar tudo de maneira inimaginável. Da programação, seleção e fornecimento de matérias primas ao desenho industrial, passando por análises de mercado, produção em si, armazenagem (em vários estágios), embalagem, entrega final, logística de transporte e acerto comercial, via instituições financeiras. Tudo acompanhado não apenas pelo fabricante, como também pelo cliente, em tempo real, praticamente sem o emprego de mão de obra humana e permitindo, em casos extremos, até correções emergenciais no produto final durante a sua elaboração.
Não resta dúvida alguma que essa nova era da indústria global já levanta questionamentos sobre as bases de operação desse incrível e futurista ambiente. Novos equipamentos deverão surgir diante dos olhos do empresariado (caso, por exemplo, da Impressão 3D) deslocando conhecidas soluções e processos hoje empregados por vários tipos de incompatibilidades com os novos tempos, como produtividade, precisão, velocidade, economia de energia, flexibilidade de operação, adaptabilidade, facilidade de manejo etc. Tais equipamentos, por sua vez, deverão requerer novos padrões em acessórios, fluidos variados, sistemas de energia, hoje ainda em fase de desenvolvimento.
É o caso dos óleos lubrificantes industriais. Diante desse universo ainda por descobrir-se, quais soluções estão encaminhando os fabricantes de óleos industriais para suprimento desse novo mercado que emerge em todo o mundo? E quais são, também, os novos produtos que estão entrando no mercado? Benício J. B. Silva, coordenador Técnico de Lubrificantes/Lubes Especiais, da Ipiranga Lubrificantes, comenta que “com a Implementação da Indústria 4.0, as linhas de produção real e virtual irão fundir-se em um sistema global inteligente, de forma que as operações reais terão um similar virtual gêmeo onde poderão simular operações antes da fábrica vir a operar efetivamente”. Serão condições, continua ele, “que permitirão investigar situações de anormalidade operacional, ou comportamento dos componentes do sistema, monitorando-se tempo real e, ao mesmo tempo, realizando-se as devidas correções sem que seja necessária a intervenção humana, pois o próprio sistema irá tomar as ações necessárias para corrigir o problema”.
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Óleos amigáveis
No que diz respeito à lubrificação e características dos lubrificantes, para atender esse novo nível de desenvolvimento tecnológico dos equipamentos, acrescenta Benício Silva, “estamos falando de um ambiente de trabalho onde serão necessários lubrificantes com nível de performance extremamente elevado e em condições de operar por muito mais tempo sem necessidade de intervenções para trocas, ou reposições, e muito menos para manutenções por falhas de operação causadas por mau desempenho dos mesmos”.
O coordenador Técnico da Ipiranga refere-se a tecnologias de lubrificantes que utilizam a nanotecnologia em adição a algumas tecnologias que trabalham com lubrificantes ‘sintéticos’, de alta resistência à variação de temperaturas (altas e baixas), cargas e contaminações, “que já são uma realidade, especialmente nos casos em que as intervenções são extremamente difíceis de serem realizadas, ou não podem ocorrer, como, por exemplo, em caixas redutoras de turbinas eólicas e em aviação”.
Antonio Traverso Junior, consultor Master da Petrobras Distribuidora, lembra que os produtos desenvolvidos para equipamentos que farão desse novo cenário que compõem a ‘Manufatura Avançada’ “serão lubrificantes para a vida da máquina (conceito de “fill for life”), para os quais não há troca de carga”. Serão “lubrificantes economizadores de energia (“energy saver”); assim como produtos 100% amigáveis ao meio ambiente (biodegradáveis e atóxicos)”, completa o representante da Petrobras.
O mais curioso, contudo, é que boa parte desses produtos, ou pelo menos a base de desenvolvimento desses novos lubrificantes, já está sendo disponibilizada pelos fabricantes dentro e fora do Brasil. Hoje, como os empresários e os dirigentes, ou gestores de unidades industriais, já sabem, os óleos lubrificantes industriais dividem-se em três categorias: óleos minerais, semissintéticos e sintéticos. “Os óleos lubrificantes industriais semissintéticos e sintéticos vieram para ficar”, diz Antonio Traverso Junior. Por outro lado, “produtos formulados a partir de bases PAO (polialfaolefinas), PAG (polialquilenoglicóis), POE (poliolésteres) e demais misturas de bases serão a evolução natural do mercado, devido aos novos requisitos dos ativos industriais em termos de lubrificação”, explica ele.
“São produtos criados ‘sob medida’ para atendimento de exigências como maior resistência à oxidação e à degradação térmica em regimes severos de trabalho, ou, ainda, por questões de compatibilidade com outros materiais do processo de operação”, esclarece o consultor Master da Petrobras Distribuidora. Numa ‘linha do tempo’ imaginária, comenta Antonio Traverso Junior, “até o ano 2000 tínhamos demandas praticamente de 100% para produtos de base mineral”. Em seguida, “estamos prevendo chegar aos anos 2020 com 80% de óleos lubrificantes industriais de base mineral e 20% de bases sintéticas, ou misturas”, projeta o representante da Petrobras. “Já entre 2020 a 2030 imaginamos trabalhar com 70% de óleo lubrificante de base mineral, mais 30% de produtos semissintéticos, com boa parcela, nesses 30%, de óleos biodegradáveis e/ou de economia de energia”, completa o consultor Antonio Traverso Junior.
Engrenagens e compressores
Do ponto de vista da Ipiranga, ampla linha de produtos baseada em conceitos mais atualizados já está disponível para comercialização. Segundo a empresa, esse ‘desenvolvimento’ observa áreas, ou segmentos industriais, incluindo lubrificantes para engrenagens industriais, óleos hidráulicos e lubrificantes para compressores. Em relação aos ‘lubrificantes para engrenagens industriais, “a Ipiranga possui em seu portfólio uma variedade de lubrificantes que atendem as mais diversas aplicações, desde aquelas mais severas, como a lubrificação de equipamentos pesados, até as relativamente mais leves, como a lubrificação de engrenagens hipóides e engrenagens sem fim”, informa Benício Silva.
“Nossa linha de lubrificantes especiais Ultratech inclui produtos de base semissintética e sintética, grupos IV e V, que suprem as demandas da indústria com atendimento e aprovações às especificações industriais mais importantes de OEM´s como Siemens MD Flender Rev. 15, Winergy, Moventas, FAG Schaeffler (para turbinas eólicas, mineração e indústria em geral) e de desempenho como ANSI/AGMA 9005–E02, David Brown, USS 224, etc”, descreve o coordenador Técnico da companhia.
Em termos de óleos hidráulicos, “a linha cobre grande variedade de aplicações na indústria, indo desde sistemas hidráulicos mais simples àqueles que exigem características especiais como elevado índice de viscosidade, ausência de cinzas, propriedade detergente e outras”, esclarece o representante da Ipiranga. “Nossos produtos atendem especificações de desempenho exigentes, como Bosch Rexroth, VDMA e ISO, além de possuírem selos ambientais, como produtos amigáveis ao meio ambiente com alto teor de matéria prima regenerativa com ação biodegradável creditada pelo teste OECD 301 B”, informa ele. As características de desempenho incluem proteção contra desgaste e corrosão, grande capacidade de filtração, controle de espuma, entre outras. Para algumas das aplicações, “a inflamabilidade do fluido hidráulico é um fator decisivo”, ensina Benício Silva. “Nosso produto à base de ésteres glicol HFDU atende requisitos da Factory Mutual, uma das maiores organizações mundiais de gerenciamento de risco e de resseguros industriais e comerciais”, acrescenta o coordenador da companhia.
Quanto aos lubrificantes para compressores, a Ipiranga oferece uma linha de produtos que cobre desde compressores de ar a compressores de gás GNV e compressores de refrigeração, incluindo equipamentos do tipo ‘parafuso’, ‘rotativo’, ‘palhetas’ e ‘centrífugo’. Esses equipamentos são amplamente utilizados na indústria sendo vitais para manterem a confiabilidade de um processo de produção. São produtos, informa Benício Silva, “que atendem as principais especificações industriais para compressores, incluindo DIN 51506, DIN 51515, GM LS-2, ISO 6743-3A-DJ e certificação NSF H1”.
Conservadores X arrojados
Do lado dos fabricantes, as opções são variadas e cobrem as inúmeras matérias primas básica (mineral, semissintético e sintético). E do lado do cliente, do comprador de óleos lubrificantes industriais, o que buscam esses consumidores? Para o representante da Petrobras, existe uma variação de comportamento que, por razões não muito lógicas, decorre do segmento ao qual o cliente encontra-se vinculado e ao perfil de indústria, ou seja, se empresa mais conservadora em suas decisões e atitudes, mais arrojada, ou cuidadosa. Antonio Traverso Junior explica que “depende de qual segmento do mercado que se considera”.
Setores menos rentáveis, explica ele, “tendem a ser mais conservadores e, consequentemente, mais sensíveis a baixo preço”. Setores mais dinâmicos, em contrapartida, “são mais arrojados, pois, entendem e percebem os lubrificantes como ‘componentes produtivos’ dos seus respectivos negócios”, comenta o representante da Petrobras Distribuidora. E, é claro, “entre estes dois extremos há vários ‘comportamentos’ intermediários, cujo ‘atendimento’ do fabricante objetiva superar as dúvidas e expectativas dos clientes”, arremata Antonio Traverso Junior.
“Produtos de alta tecnologia em geral possuem custo inicial mais elevado, mas, trazem benefícios e economias a médio e longo prazos muito significativos, de forma que irão impactar no Custo Total de Propriedade das empresas”, argumenta Benício Silva, da Ipiranga. Porém, a crise generalizada pela qual atravessa o País nos últimos anos, com destaque especial para o setor industrial, “fez com que os usuários preferissem soluções diferenciadas para suas aplicações, buscando tecnologia de ponta a custos iniciais mais acessíveis, resultando em reduções generalizadas de custos no curto prazo”.
O mercado brasileiro de lubrificantes industriais, analisa o coordenador Técnico da Ipiranga, “apesar de um pouco cauteloso em relação aos custos das novas tecnologias, dá sinais de que está abrindo-se cada vez mais para essas novas tecnologias”. Especialmente quando “resultam reduções de custos a curto e médio prazos, aliadas a um desempenho igual, ou superior, às tecnologias de alto valor agregado existentes, cujos custos iniciais de aquisição são ainda muito elevados para os padrões do mercado brasileiro”, completa Benício Silva.
Melhor uso
Ambas as fabricantes de óleos lubrificantes têm sofisticados centros de pesquisa no Brasil de onde ‘nascem’ produtos sofisticados para os mais variados usos industriais. Cada uma e ao seu modo procura alertar seus clientes quanto a melhor forma de uso do produto adquirido a fim de que alcancem os benefícios alardeados. No caso da Petrobras Distribuidora, por exemplo, Antonio Traverso Junior lembra que a empresa sempre faz questão de enfatizar, junto ao cliente, “os riscos e prejuízos que podem ocorrer quando se mistura produtos diferentes”.
Outra questão bastante enfatizada pela Petrobras Distribuidora junto aos seus clientes diz respeito “à busca de informações quanto a segurança de que o fornecedor disponha de ‘sistemas de controle e qualidade’, reputação no mercado e equipe com alto conhecimento técnico”. Os óleos industriais “requerem formulações precisas e estáveis para produzirem os resultados esperados e evitar problemas de desempenho e durabilidade”, completa o consultor Master da companhia.
Seguindo a mesma trajetória, a Ipiranga preocupa-se com a aplicação adequada e correta de seus produtos. A ponto de “ao recomendamos a utilização de determinado lubrificante industrial aos nossos clientes, usuários finais, ou não, insistirmos junto ao cliente para que tome alguns cuidados e que não haja dúvidas, ou enganos na aplicação do produto no ponto a ser lubrificado”, adverte Benício Silva. Devido à complexidade e variedade de aplicações diferenciadas que existem na Indústria, a Ipiranga levanta algumas informações fundamentais, a priori, para, depois, fazer a recomendação do produto a ser utilizado.
Dentre as informações buscadas encontram-se, por exemplo, em qual equipamento irá operar o produto, qual o componente, a temperatura de operação, se o ambiente está sujeito à contaminação, qual tipo de contaminantes está presente ao processo, qual a pressão de trabalho, qual a carga no ponto de aplicação e se está sujeito à desgaste, se existem vibrações no processo, além de outras informações relevantes. Com essas informações nas mãos, comenta Benício Silva, “podemos ter uma ideia das condições de operação do lubrificante e qual tipo de lubrificante poderemos recomendar, passando por lubrificantes minerais, sintéticos e semissintéticos, grau de viscosidade e índice de viscosidade, carga (FZG, Four Ball), ponto de fulgor, ponto de mínima fluidez, entre outros detalhes técnicos”.
Correlação entre produtos
Informações dessa natureza, independente de quem as colete, ou as analise, permitem traçar um panorama da real dimensão das exigências a que estão submetidos os óleos lubrificantes industriais. Cuidados dessa natureza correm em sentido oposto à busca (por parte dos usuários) somente de preços finais. Preços finais inferiores, podem ser favoráveis num primeiro momento, porém, podem resultar em gastos não previstos com manutenções corretivas de equipamentos quando não se observa, por exemplo, a exposição do óleo lubrificante aos extremos de temperatura em processo.
Preocupações dessas naturezas acompanham as duas fabricantes de óleos lubrificantes industriais. Existe, sim, uma complexidade de usos, aplicações e resultados que podem comprometer comercialmente uma marca, caso ocorram prejuízos provocados por usos inadequados de óleos industriais. “O mercado brasileiro de lubrificantes industriais é bastante complexo e precisamos estar atentos às implicações diretas, caso seja utilizado um lubrificante não adequado que provoque, por exemplo, falha grave que exija uma parada de máquina e, consequentemente, de produção”, revela cuidados Benício Silva. Por isso, insiste ele, “é muito importante que os usuários evitem fazer correlações diretas entre produtos similares”. Aliás, um dos maiores erros cometidos pelos consumidores finais de óleos lubrificantes industriais.