Artigo: mercado de minério de ferro mostra estabilidade, mesmo durante a pandemia

Por Vitor Maciel*

Uma crise da magnitude da que estamos vivendo com o novo coronavírus certamente afeta todos os mercados, principalmente o de commodities a granel. Porém, ao analisar os dados do minério de ferro, o segundo produto mais importante nas exportações brasileiras, nota-se um desempenho diferenciado: a produção bruta tem se mantido relativamente estável, enquanto as projeções dos valores de venda no mercado futuro são de crescimento. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), em 2018 o ferro correspondeu a 68% das exportações minerais, o que nos mostra quão importante é acompanhar o comportamento desse mercado. Vale, ainda, ressaltar que a China é responsável por importar (de diversos países) uma média anual de 1,1 bilhão de toneladas desse produto e, a Europa, 100 milhões.

Um fato que colabora para a manutenção de boas projeções, como as citadas, é que esse mercado tem a particularidade natural de atuar com oferta restrita – ou seja, as mineradoras comumente operam com uma produção justa em relação à demanda. Além disso, os principais players estão preparados para lidar com eventos e ocorrências de grande impacto. Em 2019, por exemplo, um ciclone tropical afetou a produção das mineradoras australianas, enquanto o rompimento da barragem de Brumadinho (MG) impactou uma empresa nacional.

Com essas informações, é mais fácil de entender que, mesmo esperando uma queda na demanda pelo minério em 2020, as indústrias ainda têm uma margem com que trabalhar. Junte-se a isso o fato de a China ter anunciado a retomada de algumas atividades econômicas. No último dia de março, por exemplo, o índice de produção industrial do país alcançou 52 pontos, após ter chegado a 25,7 pontos em fevereiro. Para o segundo semestre, a expectativa é que se inicie uma retomada econômica e industrial sutil, apesar de o próprio governo chinês já ter informado que quase 70% das empresas de exportação e importação já tenham retomado as operações. São fatores como esses que sinalizam um preço estimado da tonelada do minério de ferro no mercado futuro em US$83.

Na siderurgia, mesmo com as quedas esperadas na produção – em especial, da indústria automobilística -, ainda deve haver um desempenho aceitável em 2020 (globalmente, a previsão é de que ocorra uma retração de 10% a 15% na produção dos Estados Unidos e Europa). Por aqui, em dezembro de 2019, o Instituto Aço Brasil (IABr) estimava que a indústria siderúrgica nacional elevaria sua produção, ao longo de 2020, em 5,3%, atingindo 34,2 milhões de toneladas. Dessa forma, como no primeiro trimestre de 2019 a produção de aço bruto foi de 8.624 toneladas, esperava-se que no mesmo período em 2020 o total fosse de 9.081 toneladas. Dados recentemente divulgados pelo IABr indicaram produção de 8.018 toneladas – queda moderada, portanto, de 11,7%, levando-se em conta o cenário econômico global.

Por outro lado, no que diz respeito aos custos dessas empresas, o panorama é afetado pelo balizamento em dólares. Em janeiro e fevereiro, ainda foi possível repassar ao mercado um reajuste de 10%, mas, desde março, a própria indústria vem assumindo as despesas. Lembrando que a contração nas vendas e no faturamento já supera 60%.

Sim, vivemos um momento incerto, em que ainda não é possível fazer previsões exatas. Porém, ao analisar os dados da indústria chinesa, bem como o comportamento do mercado, a expectativa é de que cheguemos ao final de 2020 com produção e exportação positivas de minério de ferro. Uma evidência de que os resultados devem apresentar melhoria é que, mesmo frente a uma das piores crises já enfrentadas pela humanidade, o Índice de Confiança da Indústria do Aço (ICIA) para os próximos meses está em 23,3 pontos. Continuaremos acompanhando os indicadores da indústria global e como o mercado consumidor vai se comportar.

* Vitor Maciel é economista da Costdrivers (www.costdrivers.com), plataforma SAAS de dados e inteligência de mercado para tomada de decisões e suporte técnico especializado para interligar as informações entre as áreas de compras, controladoria e vendas, gerando aumento das vantagens competitivas.