Carlos Jorge Loureiro, presidente executivo do INDA
Fundado há 50 anos, o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (INDA) tem como meta reunir empresas e informações do setor, manter uma agenda positiva e traçar estratégias relativas ao abastecimento de aços no Brasil.
Com a criação do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos (Sindisider), em 1988, esses objetivos foram potencializados, passando a representar, não somente os distribuidores de aços planos, mas, também, revendedores de outros produtos, incluindo aços longos e especiais, telhas, tubos com costura, entre outros.
Hoje, INDA e Sindisider congregam mais de 3.000 empresas, que respondem pela comercialização, em todo o País, de cerca de 3,8 milhões de toneladas por ano.
Neste momento específico, o setor vive uma situação peculiar, afinal, como todas as demais atividades econômicas, foi impactado pela pandemia do novo coronavírus. O mercado teme a falta do insumo, mas, Carlos Jorge Loureiro, presidente executivo do INDA, garante que “não haverá desabastecimento”.
A entrevista exclusiva à Máquinas & Equipamentos concedida por Loureiro, trata desse assunto, apresenta a organização do setor e fala da relação dos distribuidores de aço com o mercado consumidor, entre outros temas.
Confira a seguir e boa leitura!
Máquinas & Equipamentos – O INDA está comemorando 50 anos. Que resumo o sr. faz desse período no Instituto e como será festejada a data?
Carlos Jorge Loureiro – Ao observar a trajetória de cinco décadas do nosso Instituto, as avaliações são as mais positivas possíveis. Iniciamos como um grupo de empresários da distribuição de aços, preocupado em simplesmente manter uma agenda positiva de reuniões e encontros que pudessem auxiliar nas questões ligadas ao abastecimento de aços planos no Brasil. Hoje, somos o maior reduto de informações e estratégias sobre o setor em todo o território nacional. Após 1988, quando o INDA criou o Sindisider, passou-se a acompanhar e representar também os interesses dos revendedores de aços longo, inox, aços especiais, fabricantes de telhas, perfis e tubos com costura. A criação do Sindisider e a larga adesão às suas atividades, atualmente com mais de 3.000 empresas representadas em todo o Brasil, servem para demonstrar o respeito e a credibilidade do nosso trabalho. Quanto às programações de aniversário, nesse momento de pandemia mundial devido à crise sanitária do COVID 19, infelizmente seremos privados de comemorações que estejam à altura da nossa história. Nessa fase de incertezas, onde as mortes se acumulam diariamente nas páginas dos noticiários, a prioridade passou a ser nossa saúde e a sobrevivência de nossas empresas. Teremos de aguardar o resplandecer do “novo normal” para pensarmos com mais afinco em grandes reuniões e eventos sociais.
M&E – Como resume a evolução do setor de distribuição de aços nesses 50 anos?
Loureiro – Nessas cinco décadas, o mundo passou por mais transformações do que o já observado em toda a história da humanidade. Isso não foi diferente para o setor de distribuição de aços no Brasil. Passamos de estoquistas reguladores de abastecimento, para indústrias que processam e pré-preparam o aço para ser utilizado nos mais diversos estágios de produção do setor metalmecânico e construção civil. O distribuidor de aços é o grande financiador da pequena e média indústria do País. Compra aço a vista nas usinas siderúrgicas e vende aos clientes com prazos que vão até 70 dias. Hoje, além de beneficiar o aço, servir como estoque regulador, abastecer o mercado com vendas imediatas, são os agentes de financiamento.
M&E – Quais os principais marcos dessa história?
Loureiro – Existem dois grandes momentos na história do INDA que merecem destaque. O primeiro ocorre no início da década de 1990, com a privatização das usinas siderúrgicas nacionais. Esse episódio gerou grandes incertezas e especulações no mercado, tendo a Diretoria do Instituto grande importância em manter seus associados informados e servir como interlocutor confiável entre governo, usinas siderúrgicas e distribuição de aços. Já o segundo, advém da entrada da China na OMC, em dezembro de 2001, data que passa a se constituir marco para toda cadeia produtiva da siderurgia mundial. A “abertura do mercado chinês” eleva a concorrência em âmbito global, rompendo todos os paradigmas conhecidos até então. Para nos mantermos competitivos nesse cenário, temos que nos reinventar a cada dia. Mais uma vez, o INDA desempenha papel fundamental, reestruturando todas as suas ações e transformando-se num grande centro de planejamento estratégico, dedicado a garantir a competitividade e o desenvolvimento da distribuição de aços no Brasil.
M&E – Como é a organização do setor? Qual o percentual de distribuidores que participam do INDA?
Loureiro – O setor de distribuição de aços planos no Brasil pode ser dividido pelo tamanho das empresas: pequeno, médio e grande porte. Não existem estatísticas precisas sobre esse tema, mas nosso sentimento é de que os associados INDA respondam por 70% da distribuição de aços planos de todo o território nacional – aços vendidos pelas usinas nacionais.
M&E – Quais os principais tipos de aço comercializados pelos distribuidores?
Loureiro – Em sua maioria, os associados INDA comercializam preponderantemente aços planos ao carbono, dos tipos: CG – Chapa Grossa, BQ – Bobina a Quente, BF – Bobina a Frio, Chapa Zingada, Chapa Eletro-galvanizada, Chapa Pré-pintada e Galvalume.
M&E – Qual o total de aço comercializado por ano? Em toneladas comercializadas, quanto os associados do INDA representam? Quanto é importado?
Loureiro – Aproximadamente são comercializados 12 milhões de toneladas de aços planos no mercado doméstico, sendo 10,7 milhões de produção nacional e 1,3 milhões provenientes de importações. Desse total geral, 50% passa pela distribuição. Os associados INDA respondem por algo em torno de 3,8 milhões de toneladas por ano. Em 2019, foram importados 1,3 milhões de toneladas de aços planos ao carbono. Tais produtos são importados por distribuidores e indústrias, na proporção 70% e 30%, respectivamente.
M&E – Do total comercializado, quanto, aproximadamente, é para os setores representados pela ABIMAQ?
Loureiro – Aproximadamente 12% das vendas dos associados INDA vão para o setor de Máquinas e Equipamentos, e 6% para o setor Agrícola-Rodoviário.
M&E – E no caso das usinas, todas mantém algum vínculo com o INDA? De que forma? Explique.
Loureiro – Nem todas as usinas siderúrgicas sediadas no Brasil são associadas ao INDA. Na categoria de sócios especiais, apenas contamos com a participação da ArcelorMittal, CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Gerdau e Usiminas. A principal participação das usinas nas atividades do INDA consiste em troca de informações estatísticas para confecção dos relatórios mensais de inteligência competitiva, publicados por nosso instituto.
M&E – Como está o movimento para o setor neste ano?
Loureiro – Como tudo em nossos dias, a incerteza impera. Os últimos anos têm sido muito difíceis para o setor de distribuição e revenda de aços em todo o Brasil. Nossa economia “andou de lado”, não tivemos grandes obras de infraestrutura. Muitos distribuidores tiveram de fechar filiais e remodelar a forma de interagir com o mercado. Este ano, com a pandemia da Covid-19 estamos assistindo a um descompasso entre produção e consumo de aços. O distribuidor mais uma vez tem cumprido seu papel de regulador do abastecimento. Só para se ter uma ideia, entre julho e setembro, os estoques dos associados INDA caíram dois meses, ou seja, nosso número normal de estoque são quatro meses, hoje está abaixo de dois.
M&E – Quais as principais dificuldades encontradas e como foram – ou vêm sendo – sanadas?
Loureiro – Nesse momento, estamos vivendo um descompasso entre a produção e o consumo de aços planos no Brasil. Com o advento da Covid-19, as usinas nacionais diminuíram a produção em fins de abril. Naquele momento a expectativa era de uma queda no consumo nacional na ordem de 50%. Contudo, com o passar das semanas, esse número foi se revelando menos impactante e já no início de agosto, felizmente, começamos a assistir a demanda subir fortemente apresentando uma “curva em V” realizada pelo mercado. Para mantermos a tradição de excelência em nosso atendimento e respeito às necessidades dos nossos clientes, não estamos medindo esforços para abastecer o mercado. Entre julho e setembro, nossos estoques já foram reduzidos em mais de dois meses.
M&E – Com a paralização da atividade de algumas usinas, como ficou o abastecimento do setor?
Loureiro – O descompasso do mercado entre produção das usinas e consumo doméstico foi mitigado pela redução dos estoques dos distribuidores de aços, e agora com a volta dos equipamentos que foram desligados pelas usinas., a situação tende a se normalizar. As usinas nacionais já estão retomando a produção aos níveis do período anterior à Covid-19. Acontece que alguns setores consumidores estão com um desempenho muito além do esperado, como é o caso da construção civil, máquinas e equipamentos, agronegócio, linha branca e autopeças. Só para exemplificar, as usinas nacionais entregaram no mercado doméstico, no mês de setembro de 2020, 1,028 milhões de toneladas de aços planos. Esse número é 12,5% maior do que o realizado no mesmo mês de 2019.
M&E – Chegou a haver falta de algum tipo de produto?
Loureiro – Não registramos nenhuma falta expressiva de algum produto em nossa rede de distribuição. Pode ocorrer a falta de determinado item em uma ou outra empresa, mas com pesquisa é possível encontrar no mercado.
M&E – Neste momento de instabilidade da economia, o INDA dialogou com entidades representantes de consumidores? De que forma? Quais os objetivos? Que resultados podem ser destacados?
Loureiro – Sim, sempre que procurado o INDA participa de reuniões com as entidades representantes dos setores consumidores. Nosso maior objetivo é garantir o abastecimento com presteza e qualidade dos produtos comercializados. Constantemente nos colocamos como interlocutores nos assuntos relativos à distribuição de aços no Brasil e mantemos um canal de diálogo permanentemente aberto com todas as instituições de classe. Só para citar um exemplo, já há alguns anos participamos como membro permanente do Conselho de Metalurgia e Mineração da ABIMAQ.
M&E – Que recado deixa para os clientes dos distribuidores e para as indústrias que utilizam aço como insumo?
Loureiro – Não haverá desabastecimento. O mercado está se regularizando e a produção das usinas crescendo em ritmo acelerado. Os estoques da rede de distribuição estão ajudando nesse processo de ajuste.
M&E – Outros pontos que considerar importantes para informação do setor consumidor de aço.
Loureiro – Fornecedores e consumidores de aços não são inimigos. Nosso inimigo é a política de desindustrialização que o Brasil vem experimentando ao longo das últimas décadas. A melhor forma de garantir abastecimento e qualidade é desenvolver parcerias de longo prazo.