Fabricantes de baterias e de empilhadeiras – e demais equipamentos de movimentação de materiais e cargas, que dependem de baterias recarregáveis – movimentam-se investindo em fontes de energia passiveis de melhorarem o desempenho das máquinas elétricas. O resultado é que as marcas mais conhecidas disponibilizam máquinas com baterias de lítio e buscam migrar suas vendas para esses equipamentos.
Desse modo, as consultas às fabricantes de máquinas de movimentação de cargas são crescentes, e muitas empresas usuárias avaliam a mudança. Entretanto, como lembram os entrevistados, esse mercado está formando-se, sendo a troca da fonte de energia mais relacionada ao momento de renovação de frota, sem priorizar a simples substituição nos equipamentos atuais de chumbo-ácido para lítio.
A Jungheinrich, por exemplo, de acordo com informações de Rafael Souza, gerente corporativo Comercial, fabrica os componentes essenciais, como as baterias de lítio, na Alemanha, desde 2011, e no Brasil, desde 2017. A empresa – que aluga seus equipamentos diretamente para o usuário, sem intermediação – comemora o fato de que o mercado brasileiro tem recebido a tecnologia de braços abertos.
Há mais de 20 anos atuando no mercado brasileiro, a Fronius do Brasil é composta por três unidades de negócios, sendo que a mais antiga, a Perfect Charging, é focada em carregadores de baterias para cinco grandes segmentos – atacado-varejo, automotivo, comida e bebidas, empresas logísticas e clientes finais. Nos últimos 18 meses, “o farmacêutico destaca-se, e um novo mercado vem registrando crescimento: o de AGV, atendendo as demandas da Logística 4.0”, comenta Mariana Kroker, gerente comercial da unidade de negócios Perfect Charging da Fronius do Brasil.
Sustentabilidade da intralogística na aquisição de máquinas, acessórios e baterias é assunto constante até para buscar caminhos que atendam as exigências das novas gerações, que cobram produtos com menos consumo de energia, gerem menos CO2, sejam eficientes e protejam o meio ambiente.
Constatando que a crise energética atualmente vivenciada no Brasil está fortalecendo a diversificação das fontes geradoras de energia, o gerente corporativo Comercial da Jungheinrich sinaliza um caminho para a reciclagem dessas baterias: a criação de bancos de baterias em lítio, oportunizando-lhes uma segunda vida: “A primeira é a tracionária e a segunda, estacionária. Além disso, há clientes contratando energia em fazendas eólicas e solares fotovoltaicas, tornando a matriz totalmente verde”.
Entre os benefícios das baterias de lítio, Kroker e Souza citam menor consumo de energia, redução nos espaços ocupados dentro de centros logísticos.
Durabilidade da carga
Os investimentos da Fronius, por exemplo, são realizados “em tecnologias de carga que durem mais e ao mesmo tempo tragam redução de consumo e sustentabilidade”, ressalta Kroker, citando a bateria de lítio como alternativa importante, pois apresenta “vida útil e ciclagem maiores, não necessita de manutenção e reposição de água, além de possibilitar cargas muito mais rápidas e de oportunidade. Com isso, ela vem sendo muito solicitada no mercado nos últimos meses”.
O gerente corporativo Comercial da Jungheinrich, exemplificando, lembra que “a bateria de lítio, em média, é de três a quatro vezes mais cara do que a de chumbo-ácido, e se paga na operação, uma vez que, a de chumbo-ácido precisa de, no mínimo, 6 horas para recarregar com carregador de alta frequência, período em que a máquina fica sem operar se não houver bateria suplementar. Já a de lítio dispensa baterias sobressalentes, pois como não tem efeito memória, trabalha com cargas de oportunidade, necessitando, para ser totalmente recarregada, de apenas 1h12mim, o que raramente ocorre porque toda vez que a máquina para é plugada no carregador”.
A esses diferenciais, Souza soma a reversão para a bateria de lítio da energia gerada na descida do mastro ou na frenagem da máquina, o que não ocorre na bateria chumbo-ácido, que precisa utilizar esse energia no momento da geração, seja para acender luzes ou alguma outra tarefa.
A vida útil é outro destaque nas baterias de lítio: “Enquanto a de chumbo-ácido é de 1.200 ciclos de carregamento completo, a de lítio tem garantia de até 3.000 ciclos de carregamento completo, sendo que em estudos em laboratório, chega a durar 10 vezes mais”, comunica Souza.
A gerente comercial da Fronius faz uma recomendação: “Como a tecnologia ainda é nova e com muitas opções, é preciso uma análise cuidadosa para que essa decisão não se transforme em dor de cabeça. Qualidade e entrega segura sempre serão importantes quando a decisão for pelo lítio”.
Mercado jovem
Esse mercado cresce ano a ano. No caso da Jungheinrich, em 2018, 20% das novas vendas foi de equipamentos com baterias de lítio; 2019, subiu para 38%; 2020, ficou em 50% do mercado; e, para 2021, até junho foram 68% vendidos, mas a perspectiva é de que o resultado do ano situe-se próximo ao de 2020, “mas estamos muito acima da média mundial, que é de 30% de crescimento”.
Kroker estima que a participação da bateria de lítio no mercado situa-se em torno de 10% hoje. Sua perspectiva para o futuro abrange a substituição das baterias de chumbo-ácido pelas de lítio. Para ela, esse mercado “deveria representar 25% até 2025, porém, no ano passado, já representou 10%. Isso indica que o crescimento é constante e sem volta”. Os motivos apontados por ela são sustentados por números: “As baterias de lítio certamente têm um investimento duas a três vezes maior, mas, de três baterias chumbo-ácido será necessária apenas uma, e, além do investimento da bateria de lítio – que varia muito de fabricante para fabricante –, pensando na durabilidade, sustentabilidade e entrega, a conta fecha”.
A classificação tributária é citada por Souza como um impedimento à mudança da fonte de energia: “No Brasil a classificação tributária para uma bateria de lítio é exatamente a mesma do que para a de chumbo-ácido, o que acarreta carga tributária de quase 100%, dificultando o retrofiting. Por isso, é mais barato oferecer equipamento 100% novo, que é importado, do que a substituição das baterias”. Mesmo assim, as máquinas fabricadas pela Jungheinrich estão prontas para a troca de bateria e, nesse caso, é feita a troca do carregador e a atualização dos parâmetros via software.
Na evolução da bateria de chumbo-ácido para a bateria de lítio, a gerente da Fronius reconhece que nem todas as empresas estão em condições de equipar suas máquinas de movimentação com baterias de lítio, até pelo investimento inicial. Para esses usuários, indica as baterias Fast Charger, “que também trabalham com cargas de oportunidade e cargas rápidas. Outra vantagem é que o investimento na bateria é cerca de 25% superior ao da bateria de chumbo-ácido”.
Marin associa a troca da bateria à necessidade de preparo da rede elétrica da empresa, “adequando a capacidade de tensão para que possam carregar os equipamentos com baterias lítio sem sobrecarregar a rede”.
Pensando em uma terceira via, a Paletrans, nas palavras de Matheus M. Delagostini – Head de Marketing desta indústria de origem nacional – investe no desenvolvimento de um modelo, que “estará disponível muito em breve para o mercado e possui uma bateria acoplada com o carregador, ao equipamento, para que empresas que operem em um ou dois turnos consigam atualizar seus equipamentos, tendo a autonomia suficiente para suas operações a um custo muito próximo daquele que já possuem hoje com as baterias de chumbo-ácido”.