Os resultados obtidos pelas indústrias brasileiras de máquinas e equipamentos com exportações, de janeiro a agosto deste ano, superaram em 28,9% o obtido no mesmo período de 2020, de acordo com o Departamento de Competitividade, Economia e Estatística da ABIMAQ, retornando ao patamar pré-pandemia.
A análise dos números não expressa a dificuldade encontrada pelas empresas que buscam colocar seus produtos no mercado internacional. A problemas de logística, custos de importação e do dólar, investimento na internacionalização e conhecimento da legislação do país do importador – entre outros aspectos – somam-se riscos de inadimplência por parte do importador estrangeiro, que não são resolvidos apenas por opções de financiamento a exportações por parte de bancos privados e públicos, em especial Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Como explica Eric Brabenec, diretor da Geco Corretora de Seguros, “as empresas de grande porte certamente contam com o apoio do BNDES; exportadores de bens de consumo com vendas recorrentes e portfólio de clientes conseguem antecipar os recebíveis via Programa de Financiamento às Exportações (Proex), do BB, em parceria com a Compagnie Française d’Assurance pour le Commerce Extérieur (Coface)”.
Mas a realidade para as exportadoras de bens de capital é bem diversa, até devido aos longos prazos de financiamento. “Dependendo do país de destino, o risco político também tem de ser avaliado”, lembra Brabenec, citando a Argentina como exemplo: “Nosso vizinho fechou o ano de 2020 na quarta colocação no ranking das exportações brasileiras. Mesmo assim, devido a diversos problemas vividos na história recente, assegurar o crédito para exportações destinadas àquele país virou uma missão impossível“.
Nesse sentido, o seguro de crédito, cada vez mais, é usado para viabilizar o financiamento à exportação, pois, como frisa o diretor da Geco, agrega agilidade, rapidez e eficiência à operação, além de definir essa modalidade de seguro como “alavancadora de negócios e de crédito, pois multiplica a capacidade de crédito do exportador de máquinas, não ocupando limite de crédito junto aos bancos de relacionamento do cliente importador, como acontece com a carta de crédito”.
Solução simples, que possibilita ao exportador a antecipação do pagamento via Exim Automático, a carta de crédito, no entanto, compromete a linha de crédito do importador no Exterior. Por isso, Brabenec recomenda a utilização de seguro de crédito como alternativa.
“Uma apólice de seguro de crédito permite a estruturação de supplier’s credit, ferramenta atrativa tanto para o exportador quanto para o importador. O exportador consegue descontar os recebíveis em um banco, que aceita a apólice de seguro de crédito como mitigador de risco; enquanto o importador ganha uma nova linha de crédito e consegue pagar a máquina conforme permite o cash-flow de sua empresa. Uma situação ganha-ganha para ambos”, resume.
O supplier’s credit também integra o Proex, porém, tendo como foco os bens de consumo e uma carteira de clientes (multi-buyer), com prazo de crédito de até seis meses, não atende o setor representado pela ABIMAQ, afinal, o valor do bem e a durabilidade definem o prazo de pagamento. “Caso o comprador seja uma empresa pública, prazos de até dez anos não são incomuns”, assegura o diretor da corretora, relatando como exemplo a venda de ônibus produzidos no Brasil para as frotas dos grandes sistemas urbanos de transporte público em Santiago e Bogotá, que contam com financiamentos estruturados com apoio de seguradoras privadas.
No caso do financiamento de máquinas, o crédito ao comprador é um instrumento que aumenta significativamente a competitividade do exportador brasileiro. Essa modalidade ainda tem oferta limitada tanto pelas seguradoras brasileiras quanto pelos bancos privados. Além disso – enfatiza o fundador da Geco – “não é trivial atender os interesses do exportador, do importador, do banco e da seguradora em um único documento, a apólice de seguro de crédito”. Lembra, ainda, que “esse agravo era ainda maior, quando a ABGF (Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias) era ativa, porque não aceitava um intermediador, um especialista, como a Geco por exemplo, que pode ser fundamental para o sucesso da operação”.
Mudanças no cenário potencializam uso de seguro de crédito
Para obter um financiamento atrativo, a contratação de uma apólice de seguro de crédito é fundamental para aliviar as linhas de crédito do comprador e do vendedor.
No caso específico dos produtos brasileiros, que devido ao valor da moeda têm sua competitividade ampliada, o seguro de crédito substitui uma ferramenta utilizada até 2019: o Convenio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR) da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), que funcionava à semelhança desse instrumento, pois uma dívida não paga por um país criava uma inadimplência frente a todos os membros.
Outro argumento citado pelo diretor da Geco relaciona-se a estatísticas internacionais: “Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), entre 80% e 90% do comércio exterior contam com algum instrumento de apoio, principalmente empresas de países desenvolvidos, que costumam usar o seguro de crédito para fomentar as vendas”.
Ao exportador brasileiro, contudo, ainda é necessário familiarizar-se com este instrumento “para não perder competitividade. Os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) possuem, sem exceção, agências de crédito (ECA) fortes justamente para promover as exportações, que é um enorme gerador de renda. Como a ABGF se encontra inativa, recomendamos procurar as seguradoras privadas para cobrir esta lacuna”, recomenda Brabenec.
Parceria para assessoramento
“O fabricante de bens de capital consegue realizar a venda oferecendo o financiamento, com a cooperação de uma corretora de seguros de crédito como a Geco, que atua em conjunto com seguradoras privadas, tais como a Chubb Brasil, homologada em 2018 pelo BNDES, sendo assim excelente alternativa, para não dizer a única, à ABGF”, constata, recordando que a Geco “estruturou a primeira apólice da Chubb aceita pelo BNDES. Tratava-se de uma exportação de uma frota de ônibus a um comprador situado no Peru, com pagamentos trimestrais durante três anos“.
Ampliando as ofertas, hoje, a corretora mantém parceria com uma seguradora no Exterior para operações de pequeno porte (a partir de US$ 200.000) com prazos de repagamento de até quatro anos. Alguns fabricantes de máquinas e equipamentos já optaram por essa solução, relata Brabenec. Segundo ele, o assessoramento de uma empresa como a Geco quando da apresentação de uma operação é fundamental, seja para elaborar um parecer de risco a ser apresentado às seguradoras locais, seja para, no caso de não haver oferta local, buscar coberturas equivalentes no mercado internacional.
A contribuição a ser dada por uma corretora vai além da contratação de uma apólice, prestando apoio na gestão cotidiana, especialmente quando os segurados enfrentam sinistros, o momento mais sensível em uma apólice. Além disso, “durante a pandemia, conciliamos muitos de nossos clientes na reestruturação dos créditos, pois os compradores passaram por dificuldades inesperadas e precisavam de mais prazo para ajustar as contas. Conseguimos evitar muitos sinistros, e o exportador ganhou clientes mais fiéis”, exemplifica.
Ao contrário da carta de crédito, o seguro não compromete a linha de crédito do importador no Exterior.
Brabenec, resumindo as etapas a serem seguidas na contratação de uma apólice de seguro de crédito tipo multi-buyer, recomenda analisar toda a carteira de compradores, para ajustar a apólice à necessidade da empresa interessada. “Um mito que já ouvimos muito é que toda carteira tem de ser segurada. É bem factível estruturar uma apólice que abrange somente um grupo de compradores, desde que não se trate de uma pré-seleção dos riscos, pois riscos ruins nenhuma seguradora vai querer”, recomenda.
Como alternativa, cita a apólice single risk como a mais interessante às empresas e alerta sobre a imprescindibilidade de os profissionais da corretora serem profundos conhecedores das exigências das seguradoras. Esse caminho, para Brabenec, aumenta as chances de achar a cobertura. “Um exemplo simples é o down-payment. Raramente uma seguradora, dentro da modalidade single risk, aceita uma operação sem down-payment”, informa, reforçando a necessidade de estabelecer parcerias com bancos locais, afinal, “o seguro de crédito também deve viabilizar a antecipação dos recebíveis, criando liquidez”, conclui.
A Reforma do Sistema Oficial de Financiamento e Garantias às Exportações está em discussão no Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) desde o início de 2020, com a meta de tornar o sistema mais adequado ao atual ambiente de negócios. “Esses são instrumentos extremamente importantes, pois financiam lacunas de mercado de setores de alto valor agregado, em países de alto risco, para operações de maior prazo. Empresas apoiadas por instrumentos públicos de financiamento chegam a exportar quase 15% a mais, ampliam seus destinos de exportação em até 70% e aumentam seu número de funcionários em até 10%”, comenta Patrícia Gomes, diretoria Executiva de Mercado Externo da ABIMAQ.
Esta matéria estará na próxima edição da Revista Máquinas & Equipamentos que será lançada em breve! Leia aqui as edições anteriores.