Com resultados estimulantes, atividade de mineração está cada vez mais tecnológica

Indústrias de máquinas e equipamentos apresentam resultados positivos em resposta a investimentos das mineradoras

Responsável, de acordo com o Ministério de Minas e Energia, por cerca de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o setor de mineração está em expansão e seus resultados econômicos são continuamente influenciados por aumento da produção, variação cambial e preço das commodities minerais.

Os números computados pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) de janeiro a agosto deste ano mostram que a comercialização da produção das mineradoras gerou R$ 220 bilhões, total 112% acima do registrado no mesmo período do exercício anterior (R$ 103,7 bilhões), superando, inclusive os resultados de 2020, que ficaram em R$ 209 bilhões. Ocupando os três lugares principais do ranking estão o minério de ferro, com R$ 162 bilhões; o ouro, R$ 18 bilhões; e o cobre, com R$ 11 bilhões.

Como consequência desse faturamento, o recolhimento de tributos cresceu na mesma proporção, injetando R$ 76 bilhões aos cofres públicos, ou seja, 112% a mais do que em igual período em 2020 (R$ 36 bilhões); e a participação do saldo comercial mineral no saldo da balança comercial passou de 49% para 69%.

Para os próximos meses, o Ibram prevê que a demanda global por commodities minerais deve continuar em expansão, ou pelo menos estável. Assim, a produção deverá se manter crescente, e os resultados não serão abalados pela redução no preço do minério de ferro.

Os desafios enfrentados pela atividade mineradora são proporcionais aos resultados. Infraestrutura, ambientes hostis, segurança dos trabalhadores destacam-se. Para equacioná-los, além de investimentos significativos, está o desenvolvimento de máquinas, equipamentos e tecnologias que também otimizem e reduzam os custos das operações, propiciem alta produtividade ao processo e segurança operacional, com diversas tecnologias embarcadas que visam a economia de escala, segurança, conforto e saúde ocupacional via redução de ruídos, vibração etc.

Produção integrada

No tocante ao setor representado pela ABIMAQ, a contribuição é reconhecida pelas mineradoras, inclusive porque nas atividades de mineração máquinas e pessoas são fundamentais para o processo produtivo. Há movimentações de elevados volumes de materiais e processos muito específicos desde a lavra até o beneficiamento mineral, passando por todas as etapas, como extração, beneficiamento, transporte via mineroduto, filtragem, estocagem e carregamento de navios.

Todas essas atividades são realizadas por máquinas operadas por pessoas ou por sistemas de controle automatizados, por isso, o sucesso da mineração é intrinsecamente vinculado ao bom desempenho das máquinas e dos equipamentos, que “propiciam a movimentação de grandes massas de materiais com altas taxas de produções horárias, baixos custos e mais segurança operacional”, afirma Sérgio Mileipe, gerente-geral de Operações da Samarco, mineradora focada em pelotas e pellet feed (partículas ultrafinas de minério de ferro que, ao passarem pelo processo de pelotização, aglomeram-se e dão origem às pelotas), com produção integrada da mina ao porto, que tem o mercado transoceânico como o seu destino natural.

“Os equipamentos precisam operar em alta performance. Nele, qualquer tipo de desvio ou não atendimento às premissas de projeto pode impactar a produção”, reforça a Anglo American, que, em Goiás, extrai e beneficia ferroníquel em duas plantas (Barro Alto e Niquelândia) e minério premium, com teor de ferro ao redor de 67% e baixo índice de contaminantes, em Conceição do Mato Dentro (MG), que se interliga ao Porto de Açu (RJ) via mineroduto de 529 km.

Nas últimas décadas, “observa-se o aumento significativo do porte dos equipamentos de mina, reduzindo o número de máquinas necessárias para a produção e, por consequência, menor custo e maior produtividade, obviamente considerando as restrições geométricas de cada jazida”, comenta Mileipe, reconhecendo que, “ao longo dos anos, os recursos minerais tendem a se tornar mais complexos tanto na lavra quanto nas etapas de beneficiamento visando à obtenção de produtos de alta qualidade para mercados cada vez mais exigentes”.

A consciência e a legislação ambiental também evoluem a cada dia, até por exigências da sociedade, mais informada sobre a atividade mineira. O gerente-geral de Operações da Samarco entende que “tais desafios fazem com que processos e equipamentos sejam desenvolvidos e robustecidos para maximização da eficiência nas atividades de mineração, assegurando a segurança das operações, o pleno atendimento aos requisitos ambientais e a sustentabilidade dos negócios”.

A mecanização e a automação da mineração brasileira, na opinião de Maximiliano Josef Wagner – CEO da Putzmeister do Brasil, fabricante de equipamentos gerais para operação underground (túneis e mineração em geral); produção, transporte, bombeamento e distribuição de concreto e argamassa; projeção de revestimentos refratários em fornos industriais; e bombeamento de materiais sólidos ou pastosos, a partir de esteira transportadora ou bomba de pistão – derivam da necessidade de “rapidamente adaptar-se aos padrões internacionais de extração e manuseio de descartes“.

Recordando os acidentes recentes como demostração do quanto a situação da mineração brasileira é delicada, Wagner inclui como causa da evolução tecnológica da atividade mineira “os preços internacionais das commodities, que nos mostraram o quão sensível é a variação do preço de mercado, em face às sucessivas e imprevisíveis atividades de mercado globalizado“.

Segurança, ergonomia, controle e produtividade por tonelada processada, monitoramento on-line estão entre os benefícios proporcionados pelas máquinas para o sucesso da mineração na visão do engenheiro Marco Antonio Fujiwara, diretor Comercial da Schenck Process, que produz equipamentos para pesagem, dosagem, peneiramento, telas de peneiramento injetadas de poliuretano e borracha, moagem, transporte pneumático, filtragem, carregamento de vagões etc.

O ambiente de mineração, devido às próprias condições de extração e processamento, é mais severo para alguns componentes e equipamentos, que necessitam de adequações para garantir confiabilidade e segurança operacional. A isso, é adicionada a instalação, muitas vezes, em locais de difícil acesso ou longe de outros polos industriais.

De acordo com Daniel Eidelwein – diretor de Vendas América do Sul da Weg-Cestari, tradicional fabricante de redutores e motorredutores que atendem toda a gama de aplicações do mercado mundial de máquinas e equipamentos, para todos os setores da indústria, incluindo a mineração – “por esses motivos, os equipamentos devem possuir alta confiabilidade, o que é possível apenas com a utilização de acionamentos desenvolvidos com os melhores e mais modernos métodos de seleção e cálculo, por uma equipe com vasta experiência e conhecimento das aplicações neste setor”.

Entre os pilares que sustentam a atuação da Weg-Cestari, confiabilidade e robustez para suportar a demanda das mais diversas aplicações está entre os mais importantes nos processos de engenharia e desenvolvimento. Comprovando essa informação, o diretor de Vendas América do Sul da fabricante discorre sobre o desenvolvimento de uma linha de equipamentos “específicos para o setor de mineração, com componentes como vedações, retentores, sistema de respiro e uma série de outras características agregadas para entregar a robustez e a confiabilidade que o segmento necessita e que não são normalmente encontradas em outras aplicações”.

Nacionais e importados, segundo aplicação e porte

O volume de máquinas e equipamentos nacionais e importadas, presentes nas mineradoras, faz da boa gestão um diferencial de sucesso.

A Mineração Caraíba S/A (MCSA), por exemplo, trabalhando em suas três minas ativas na Bahia com mineração do cobre utilizado nas metalúrgicas – concentrado com 35% de cobre –, como conta Rodrigo da Silva Coelho, gerente de Manutenção da Mineração, no que diz respeito ao parque de máquinas e equipamentos investe em uma “boa gestão de riscos com um planejamento apurado e com as ações bem diligenciadas para que os problemas sejam antecipados e mitigados”,

Na Samarco, como informou Mileipe, a situação é semelhante. “As plantas de beneficiamento que incluem o transporte do ROM (run-of-mine, minério obtido diretamente da mina) via correias transportadoras, britagem, moagem e flotação configuram-se por grandes instalações com várias máquinas e equipamentos devidamente dimensionados para cada etapa e produzidos tanto no Brasil, assim como no Exterior”.

Parece incongruente que o Brasil sendo um país com alta vocação mineira ainda demande a importação de parte dos equipamentos de produção de mina, sobretudo, os de grande porte. Segundo os fabricantes de máquinas, isso tem relação com o volume de produção, mas, de um modo geral, todas as principais marcas estão instaladas também neste país.
Como relatam os representantes das mineradoras entrevistadas, usualmente as máquinas de grande porte e de aplicação específica na mineração são importadas, mas há máquinas rodoviárias (Linha Amarela) com aplicação no setor mineral e máquinas de beneficiamento, entre outras, fabricadas no Brasil e que também são exportadas.

Máquinas pesadas – Mesmo não segmentando o que é dedicado exclusivamente à mineração, o Departamento de Competitividade, Economia e Estatística da ABIMAQ analisa o movimento das indústrias de máquinas rodoviárias em operação no País, associadas ou não à entidade. De janeiro de 2014 a agosto de 2021, o total de máquinas produzidas em território nacional soma 162.604 unidades. No mesmo período, foram comercializadas no mercado interno 128.221 unidades e comercializadas internacionalmente outras 70.432, com a diferença suprida por estoques.
Reportando-se a estatísticas de mercado, Massami Murakami, diretor de Planejamento Estratégico da Volvo Construction Equipment, compara-as aos resultados da empresa e fala sobre investimentos na nacionalização de produtos utilizados por mineradoras.

Enquanto “o mercado de carregadeiras, escavadeiras e caminhões articulados até 100 toneladas, no primeiro semestre de 2021 em comparação com o mesmo período de 2020, cresceu 63,7%, a Volvo CE registrou aumento de 80,4% em unidades comercializadas principalmente para prestadores de serviços”, garante Murakami, lembrando que o mercado de mineração responde por cerca de 10% das vendas de máquinas pesadas da montadora. Esses resultados respondem por parte do direcionamento do investimento de R$ 1 bilhão para o triênio 2020-2023 à nacionalização de carregadeiras de maior porte, que chegam ao mercado ainda este ano e tem a mineração como principal usuário.

Considerando os produtos que o braço brasileiro da empresa global de gestão familiar comercializa e provê suporte de pós-vendas no território brasileiro, Jair Machado – gerente Comercial Divisional da Liebherr Brasil – comenta que as máquinas fabricadas por essa indústria – escavadeiras hidráulicas de 100 t a 800 t, caminhões fora de estrada de 100 t a 400 t, tratores de esteira de 70 t e draglines de diversas capacidades e tamanhos – são aplicadas “na primeira etapa do ciclo de produção da indústria de mineração: na escavação, carga e transporte de materiais, sem as quais as plantas de produção não poderiam processar o material extraído da natureza em sua forma bruta”.

Fabricante de soluções para processar minerais, aplicadas desde a mina até o porto, no segmento de mineração, e também aplicáveis à construção civil, a Metso Outotec possui parque fabril em Sorocaba para atendimento do mercado nacional e exportação de máquinas e componentes, mantendo “área de importação de produtos muito robusta em com grande experiência para desenvolver a melhor logística possível para os itens importados”, frisa Marcelo Motti, vice-presidente de Vendas e Serviços.

O executivo da Metso Outotec destaca que “dentro do portfólio, podemos dizer que 70% dos equipamentos são produzidos localmente, sendo os de maior porte fabricados fora do Brasil. É importante ressaltar que mais de 80% das nossas peças, sobressalentes e materiais de desgaste, são produzidos localmente. Isso traz uma segurança para o cliente quanto ao prazo de entrega. Contamos hoje com uma fábrica de componentes e equipamentos, uma fundição e uma fábrica de borracha para atender ao mercado nacional e internacional”.

Equipamentos e componentes – No caso da Putzmeister do Brasil, seu CEO assegura que “em torno de 20% dos produtos utilizados em mineração são produzidos na planta do Brasil. São em sua maioria periféricos e acessórios. Os principais equipamentos, de aplicação específica, são importados de unidades da empresa situadas nos EUA e Europa. A razão desta proporção se resume basicamente na disponibilidade de tecnologia de ponta e custos de fabricação”.

Focada em inovações constantes, no controle e na produtividade por tonelada processada, no monitoramento on-line dos equipamentos e na extensão da vida útil dos equipamentos através de uma equipe local de serviços para atendimento remoto ou em campo, a Schenck Process, de acordo com seu diretor Comercial, produz localmente, em Taubaté (SP), entre 90% e 100% dos equipamentos, “atendendo todas as normas de segurança local e buscando sempre melhor eficiência, maior vida útil, controle e monitoramento on-line e curvas de tendências a fim de evitar as manutenções corretivas”.
Informando que as raízes da Netzsch na mineração e no processamento mineral iniciaram em 1896, quando a Netzsch Grinding & Dispersing foi fundada, Antonio Felisberto Borges Júnior – gerente de Vendas Netzsch MG – define os equipamentos da empresa, todos com fabricação 100% nacional, como aqueles “que fazem a mineração rodar e são o coração das mineradoras”. Ele está se reportando às bombas de deslocamento positivo e demais equipamentos de bombeamento, sistemas de desaguamento de rejeito, sistemas ou skids de drenagem para aplicação em minas subterrâneas que necessitam de uma unidade móvel pequena e compacta para enfrentar seus desafios de drenagem, com ampla gama de capacidades de vazão e pressão e em conformidade com todos os padrões de segurança relevantes para o setor (OSHA, MSHA, entre outros).

Na indústria de mineração – que representa aproximadamente 60% das vendas na empresa em Minas Gerais –, “o alto teor de sólidos e uma maior granulometria podem aumentar drasticamente os custos associados ao desgaste e impactar negativamente o funcionamento da bomba”, agrega Borges, elencando a necessidade de bombas robustamente construídas para aumentar a confiabilidade, permitindo que operem por mais tempo sem interrupções, reduzindo significativamente os custos de manutenção.

Com portfólio de produtos composto de vasta gama de produtos seriados e numerosas soluções customizadas, a Steute especializou-se no desenvolvimento e na produção de equipamentos de controle seguros e confiáveis para aplicações complexas e críticas como é exigido no segmento de mineração: chaves de emergência acionadas por cabo, chaves detectoras de desalinhamento de correias, sensores indutivos e fins de cursos, todos montados na fábrica em Vinhedo (SP).

A imprescindibilidade dessas soluções para a mineração – na visão de Junior Saldanha, diretor Steute do Brasil – vincula-se ao funcionamento “24 horas por dia e 365 dias por ano, ou seja, as máquinas e equipamentos aplicados precisam apresentar alta performance e garantir toda a segurança necessária para o processo e para os usuários”.

A SEW também participa na mineração, trabalhando diretamente com as mineradoras e as fabricantes de máquinas e equipamentos, desde a extração mineral, transporte e logística, fornecendo motores elétricos, redutores, motorredutores e servoacionadores, entre outras soluções, que podem ter vida útil superior a 20 anos se forem seguidas as orientações e feitas as manutenções recomendadas.

“Mineração representa entre 11% e 15% de nosso faturamento, pois o mercado em que nos posicionamos é bem pulverizado. O maior volume de acionamentos estão na área de processamento mineral na planta, mas também estamos presente nas minas, contribuindo, entre outros aspectos, com a eficiência energética, com produtos desenvolvidos especificamente para o Brasil, como nosso redutor planetário que hoje é comercializado mundialmente”, afirma Marcelo Cardoso, supervisor de Vendas de Engenharia de Aplicação da SEW.

Em Pomerode (SC), estão localizadas a fábrica e a área de vendas da Andritz Separation, que, como o nome diz, é especialista em separação e soma mais de 150 anos de experiência, fornecendo soluções, equipamentos e serviços para separação de sólido e líquido para variadas aplicações na mineração, inclusive contribuindo com o cliente na identificação da solução de separação mais eficiente e confiável para o seu processo.

Como avisa Maurício Heinzle, diretor de vendas da empresa – que também atua nos setores químico, de alimentos e bebidas e de saneamento –, o foco são “tecnologias para tratamento de grandes volumes de rejeito e o impacto positivo no meio ambiente, incluindo filtros-prensa, centrífugas decanter, filtros esteira e de disco a vácuo, filtros hiperbáricos, prensas desaguadoras, espessadores, bem como as soluções de digitalização e uso de serviços remotos, que favorecem o apoio às equipes de manutenção de nossos equipamentos e a interpretação dos dados e dos equipamentos a distância por nossa equipe de especialistas diretamente da fábrica, assegurando ótimo rendimento e disponibilidade de operação”.

Especificamente para aplicações na mineração, há os filtros-prensa confeccionados “em diversos tamanhos, modelos e volumes de filtração, inclusive para aplicações pesadas e para proporcionar a melhor distribuição da força de fechamento nas condições mais adversas, com destaque para design robusto, de modo que as aplicações que geram alto desgaste possam ser operadas sem qualquer problema, sistema de descarga rápida e alta taxa de filtragem, responsáveis por menor consumo e maior recuperação da água, proporcionando uma filtragem econômica e ecológica”, descreve Heinzle.

Mercados em ascensão

Desde a sondagem das jazidas em potencial até o porto, as pesquisas buscam redução do consumo energético e das emissões de CO2; otimização de custo nas intervenções e agilidade no atendimento de manutenções; boas práticas de manutenção que assegurem a integridade dos ativos e o atendimento à performance esperada de cada equipamento; investimento em colaboradores qualificados para operação, em segurança cibernética e na adaptação para a indústria 4.0, além da necessidade de encontrar caminhos para equacionar gargalos relacionados a licenciamentos ambientais, licensas sociais para operações, energia elétrica nas regiões minerais e insegurança jurídica são necessidades do setor mineral que vêm sinalizando novas oportuniddes para as empresas fornecedoras.

A reutilização de água, tanto do ponto de vista de segurança física, operacional, quanto pelo aspecto econômico; tecnologias para operação a distância, uso eficiente de energia, na maior parte das vezes elétrica; segurança operacional, atendendo tanto as normas vigentes, quanto a pontos específicos levantados pelo cliente ou pela engenharia de aplicação são áreas nas quais a atividade mineradora atenta de forma especial.

Agregam-se a isso os investimentos em reuso de sólidos depositados ao longo dos anos nas barragens de rejeitos e na disposição de rejeitos a seco nas barragens com novas tecnologias, com reduções de riscos por acidentes e mecanismos de disposição e monitoramentos, entre outros.

“O descomissionamento das barragens de rejeitos está demandando máquinas do nosso setor. Essa é uma atividade nova que cresceu muito em um setor que já consumia equipamentos”, reconhece Murakami.

Segurança é mercado sempre em expansão como demonstra Saldanha com a aplicação dos produtos da empresa em transportadores de correia que, de acordo com a NBR 13862, necessitam de uma chave instalada a cada 200 m. “Isso garante a segurança dos usuários, a integridade de itens como correias – pois a ideia é que cada centímetro do processo seja monitorado –, máquinas recuperadoras de pátio e várias outras aplicações dentro dos processos de mineração.

Filtragem – A Samarco, por exemplo, desde que retomou suas operações em dezembro do ano passado, com 26% da sua capacidade, produzindo cerca de 8 milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro por ano, está focada na segurança de todo o processo operacional, dedicando extrema atenção à gestão de riscos, reforçando o Sistema Integrado de Segurança. Para isso, incorporou novas tecnologias para disposição final de rejeitos – cava confinada e sistema de filtragem de rejeitos para empilhamento a seco.

“A filtragem dos rejeitos arenosos viabiliza a disposição dos rejeitos em pilhas sem a utilização de barragens. A utilização de novas tecnologias como a filtragem permite que cerca de 90% da água extraída seja recuperada e recirculada no processo produtivo, o que torna o processo mais sustentável e reduz os impactos sobre o meio ambiente”, descreve Mileipe.

Corroborando essa declaração, o diretor de vendas da Andritz Separation posiciona a separação eficiente de sólidos e líquidos como “uma vantagem competitiva crucial no negócio de mineração e minerais, seja aumentando o rendimento de desidratação preservando a qualidade do produto, com o menor consumo de energia elétrica possível, seja minimizando custos operacionais, baixa intervenção em manutenções, aumentando a reutilização de água ou eliminando barragens de rejeitos líquidos”, sintetiza.

A garantia da qualidade dos produtos – complementa Heinzle – é assegurada “em nosso laboratório de testes de última geração em Pomerode, onde utilizamos uma série de tecnologias e equipamentos-piloto para levantamento dos parâmetros necessários, com o objetivo de dimensionar e otimizar o desempenho dos equipamentos em escala industrial e para escolha da melhor tecnologia. Além disso, utilizamos dispositivos de testes de bancada para determinar a necessidade de usar auxiliar de filtragem ou condicionamento químico em seu processo, contribuindo para uma mineração mais sustentável, uma mineração que administre bem seus rejeitos e concentrados com soluções tecnológicas inovadoras e manutenção de alta performance”.

Mineroduto – Ainda sobre o processo produtivo, o gerente-geral de operações da Samarco salienta o transporte entre as unidades de Germano, em Mariana (MG), e Ubu, em Anchieta (ES), via minerodutos, projetados para o transporte de polpa de minério de ferro por longa distância, impulsionado por bombas que conferem a pressão necessária para deslocamento do material ao longo de aproximadamente 400 quilômetros, entre Minas Gerais e o Espírito Santo, e garante: “Dadas suas dimensões e características, o mineroduto gera menos impactos quando da sua construção e operação, além de menor custo operacional quando comparado a outros modais de transporte, conferindo assim um dos diferenciais competitivos da Samarco”.

A crescente utilização desses minerodutos desenvolveu um mercado que tem a IEC Engenharia como uma das representantes. Com atuação voltada à integridade de dutos e estruturas via sistemas de proteção catódica, a empresa tem forte presença em mineração. Esses serviços envolvem “levantamentos de campo, projeto, fornecimento de equipamentos e materiais, montagem, pré-operação, inspeção, operação e manutenção, em estruturas metálicas importantes, inclusive as construídas enterradas ou submersas”, resume Victor Santos da Silva – engenheiro Comercial dessa empresa.

Entre os serviços da IEC estão inspeção de dutos enterrados pelos métodos de Pearson, CIPS (passo-a-passo), PCM, DCVG, incluindo geoposicionamento de dutos, que analisam o revestimento do duto sem a necessidade de escavações, definindo os locais que necessitam de reparos; External Corrosion Direct Assessment (ECDA) & Internal Corrosion Direct Assessment (ICDA), direcionados a avaliar a integridade de dutos enterrados, onde não é possível a passagem de PIG ou a realização de teste hidrostático para identificação de áreas mais suscetíveis à ocorrência de corrosão. Também é possível localizar e medir a profundidade dos dutos com pipe locators, fornecendo coordenadas com instrumentos DGPS. Após processamento dos dados, é feita a inclusão dos dutos em quaisquer tipos de mapas.

Tendências em tecnologia

A evolução da tecnologia aplicada à mineração em todas as suas fases, desde a busca da reserva até o embarque nos navios, leva muitos especialistas a falarem em mineração 4.0, pois, cada dia mais, há necessidade e aperfeiçoamentos diversos, em especial operação inteligente; automação e monitoramento de operação via satélite, telefone, rádio ou outro meio de comunicação disponível; assistência gráfica voltada ao controle das áreas escavadas; máquinas e equipamentos operados remotamente e autônomos; recursos e técnicas para gestão de ativos, como machine learning, análise preditiva remota e realidade aumentada.

A opinião dos fornecedores para esse setor é, em parte, apresentada por Motti, quando afirma: “A busca por eficiência operacional de nossos clientes nos desafia a sempre buscarmos soluções sustentáveis, com menos consumo de água e energia, além de maximizar a produtividade da planta de beneficiamento, com vistas a maior rentabilidade possível para o cliente, sempre com a visão de saúde e segurança dos colaboradores de nossos clientes. Além disso, a automação dos equipamentos e dos processos é forte tendência também na busca por mais eficiência e segurança”.

Quando o assunto é eficiência energética, para o supervisor de Vendas de Engenharia de Aplicações da SEW, o processo começa “na fase de desenvolvimento e de seleção e especificação de um produto, pois, no nosso caso, por exemplo, a linha principal permite mais de 100 milhões de combinações, além de desenvolvermos produtos específicos de acordo com a necessidade do cliente”.

Desenvolver produtos para aplicações customizadas, de alta tecnologia, capazes de atender a necessidades específicas, é tendência não apenas da mineração, mas também dos demais segmentos da indústria para os quais a Weg-Cestari fornece, sinaliza seu diretor de Vendas América do Sul. No entanto, no que se refere ao ambiente minerador, a automação e o monitoramento preciso das máquinas e equipamentos que integram cada processo produtivo são dificultados, muitas vezes, pelas severas condições de trabalho.

Visando a equacionar esse problema, “no momento, estamos atuando fortemente no monitoramento das condições de trabalho dos redutores, desenvolvendo produtos que transmitem, em tempo real, informações precisas sobre as condições de trabalho de cada motor ou cada redutor. Parâmetros como temperatura e vibração transmitidos em tempo real, proporcionam a racionalização das manutenções, o que significa maior disponibilidade dos conjuntos para os nossos clientes”, resume Eidelwein.

Comprovando que a Weg-Cestari está preparada para a manufatura avançada, seu diretor de Vendas cita o lançamento de uma “linha de redutores industriais com um sistema de sensoriamento inovador apto à indústria 4.0”.

Descarbonização – O diretor de Planejamento Estratégico da Volvo CE enumera o controle de emissões como “a última grande onda do setor, que exigiu investimentos expressivos, mas as novas tecnologias para monitoramento e eletrônica embarcada, de modo geral, são continuamente desenvolvidas e evoluem devido aos controles”. Para ele, as metas de eliminação do uso de combustíveis fósseis são o foco atual, assim como tecnologias que aumentem a segurança e a produção.

As alternativas consideram a eletrificação dos equipamentos como uma das possibilidades. “Temos na Volvo diferentes abordagens por máquinas de deslocamento mais longo, máquinas autônomas em ambientes confinados, em circuito reduzido, e máquinas estacionárias merecem diferentes abordagens na eletrificação. O uso inteligente da energia tem de levar esses fatores em conta. Conceitos como bateria de carga rápida; alimentação cabeada e regeneração de energia com acumulação na forma elétrica e hidráulica, que tem melhor índice de eficiência, são algumas das rotas tecnológicas”, relata Murakami. No entanto, os equipamentos elétricos, como carregadeira e escavadeira de pequeno porte, lançados pela montadora sueca em 2020, ainda estão restritos aos mercados europeu e norte-americano.

Os desenvolvimentos da Volvo acontecem em vários centros, e quando a tecnologia está pronta entra em produção em todas as unidades ao redor do planeta. Exemplo dado pelo diretor de Planejamento Estratégico envolve pesquisas com novos combustíveis: “O Grupo Volvo fechou parceria com a Daimler para célula de hidrogênio para transportes de carga. Assim que estiver disponível será aplicada nos equipamentos em que melhor se adeque”.

No caso da Liebherr, duas vertentes vêm merecendo atenção especial: exigências relativas às condições climáticas e à segurança, desenvolvendo motores mais eficientes, combinando combustíveis fósseis e energias alternativas de fontes renováveis; e soluções com operações remotas a partir de centros de comando e controle ou da operação autônoma dos equipamentos.

Lubrificação e movimentação – Disponibilidade crescente dos equipamentos e dos colaboradores, redução dos custos de manutenção, segurança operacional e física dos trabalhadores e produtividade das máquinas são anseios permanentes da indústria mineira. Victor Santos da Silva assinala uma tecnologia que contribui nesse sentido e é comercializada pela IEC Engenharia. Trata-se da lubrificação automática de equipamentos tais como esteiras transportadoras, motores elétricos, bombas e sistemas de exaustão e ventilação.

”Como especialista em lubrificação, posso citar que a gestão correta da lubrificação poderá gerar 25% de redução de custo anual de manutenção, além de diminuir o vazamento de lubrificantes para o meio ambiente. Os sistemas automáticos de lubrificação cada vez mais modernos e vinculados ao acesso por rede oferecem confiabilidade, aumento da vida útil dos ativos, diminuição de avarias em elementos mecânicos e aumento da produtividade”, esclarece Silva, confirmando que “em toda unidade de mineração há pontos críticos e de difícil acesso que oportunamente deverão ser lubrificados. A lubrificação automática, como a da perma-tec GmBH, que é distribuída com exclusividade pela IEC, garante volume de dosagem exato e exposição mínima do colaborador em locais inseguros, oferecendo uma grande redução na exposição e risco a acidentes”.

Equipamentos mais compactos, ideais para movimentação em locais de difícil acesso; versáteis com acionamento elétrico e combustível simultaneamente, com cabines climatizadas e comandos remotos; com capacidade de leitura da varredura de superfície e correspondente ajuste otimizado na aplicação do material projetado; emprego de equipamentos não tripulados são tendências listadas pelo CEO da Putzmeister do Brasil, e exemplifica, discorrendo sobre um recente desafio vencido a contento: “Tivemos de projetar material em um ambiente extremamente insalubre, de alta temperatura. Conseguimos idealizar o equipamento para suportar o ambiente e implementamos a operação não tripulada“.

Pelo ângulo das mineradoras – garante Cardoso – “a tendência é de monitoramento a distância, processo que envolve tecnologia da indústria 4.0 e Inteligencia industrial com monitoramento baseado na condição dos componentes e prognósticos de manutenção, e a SEW está preparada para isso, favorecendo que o monitoramento seja feito tanto no equipamento quanto no componente“. Essa atividade de monitoramento dos acionamentos pode ser realizada pela SEW como um pacote completo de serviços, com o objetivo de otimizar e melhorar a performance dos equipamentos.

Necessidades e gargalos

Investimentos em modernização das plantas existentes, visando à maior eficiência operacional são sugeridos por Eidelwein: “Hoje as opções de soluções para o segmento conciliam eficiência e robustez, e isso permite que as plantas mais antigas possam se atualizar. Desta forma, a atualização e a modernização das plantas antigas trazem redução do consumo de energia e aumento na confiabilidade operacional, não só dos equipamentos, mas sim da planta inteira”.

A relação é acrescida de outros aspectos também inerentes à atividade, como a distância de grandes centros. Como sinaliza o diretor de Vendas América do Sul dessa indústria com capital 100% nacional – para que as unidades de mineração e processamento tornem-se mais competitivas também é necessário o desenvolvimento de equipamentos modulares e versáteis, monitorados a distância, reduzindo estoques de componentes, racionalizando os recursos, facilitando o processo de gestão dos ativos e minimizando a necessidade de serviços emergenciais, dificultados pela logística necessária para acesso a áreas remotas.
Mas não são apenas as mineradoras que investem. A maioria das indústrias entrevistadas afirma inserir investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação em seus planejamentos, a exemplo da Schenck Process, que, como assevera Fujiwara, “apesar de todos os potenciais riscos para o equilíbrio econômico e financeiro dos contratos – variações abruptas de preço das matérias-primas, risco de blackout em meio a outros mais –, continua investindo na sua fábrica em Taubaté e trazendo novas máquinas de injeção para telas de poliuretano e borracha para atender o mercado nacional e das Américas”.

“Temos grande potencial de investimentos no mercado nacional e na América do Sul nos próximos anos, porém, fatores econômicos e políticos externos podem diminuir este ritmo”, lamenta Fujiwara.
Há também gargalos cuja solução vai além dos investimentos das mineradoras. Envolvem custos de logística, infraestrutura, conectividade, comunicação, energia elétrica nas áreas de mineração, desenvolvimento do conhecimento e formação de mão de obra, sem esquecer, naturalmente, de questões ambientais, entre muitas outras, comuns a todo o meio empresarial brasileiro.

A esses pontos, o gerente de Vendas Netzsch MG adiciona “o rateio desigual da receita proveniente da arrecadação de impostos entre os Estados, cujos ônus poderiam ser amenizados com a melhoria do sistema de distribuição buscando promover melhor equilíbrio socioeconômico entre os federados”.

Heinzle amplia a relação ao falar sobre o desafio de escassez hídrica e citar soluções para desidratação de rejeitos, além dos concentrados: “Para os rejeitos, a disposição a seco é o nosso propósito, pois eliminaremos as barragens. Nossas tecnologias de separação também auxiliam na recuperação de água para reutilização no processo. Essas soluções contribuem para a manutenção dos custos operativos sob controle, para uma mineração sustentável, preservando o meio ambiente e a comunidade”.

Caso de sucesso lembrado pelo diretor de Vendas da Andritz envolve a Itaminas, localizada em Sarzedo (MG), “que não utiliza barragens de rejeito. Há mais de um ano, a empresa opera 100% do tratamento dos rejeitos gerados. A tecnologia utilizada consiste em filtros-prensa, com área de filtração de 2.100 m2 e disponibilidade operacional superior a 90%”.

Refletindo sobre o futuro da mineração, o vice-presidente de Vendas e Serviços da Metso Outotec prevê que “a área de serviços deve seguir crescendo, com soluções compartilhadas com as principais empresas de mineração do País. O trabalho de parceria deve se intensificar na busca de soluções desenvolvidas em conjunto. O desafio de mão de obra qualificada segue presente como em anos anteriores”.

Em complemento, o gerente Comercial Divisional da Liebherr ressalta: “Sem que percebamos, no mundo em que vivemos hoje, a mineração está presente em praticamente tudo que utilizamos e, se não houver nenhuma grande mudança no estilo de vida que conhecemos a médio e longo prazo, esse processo se perdurará ainda por muito tempo”.