Em um mercado aquecido como o do agronegócio, após dois anos sem eventos presenciais, os agropecuaristas estão ansiosos para conhecerem todas as novidades que serão apresentadas, as tecnologias e tudo o que faz a agropecuária brasileira manter-se como fornecedora mundial de alimentos, com ganhos recorrentes de produtividade e com safras expressivas mesmo quando o clima prejudica a produção.
Por outro lado, as indústrias, que continuaram investindo em tecnologia e em desenvolvimento de produtos, mesmo realizando lançamentos em eventos virtuais, estão querendo ver física e presencialmente a reação dos produtores rurais a tudo o que têm para mostrar e a comercializar, pois esta também é uma exposição de negócios expressivos.
É nesse ambiente que acontece a 27º AGRISHOW, 100% presencial e a céu aberto, em Ribeirão Preto (SP), na última semana de abril. A expectativa de expositores e visitantes é grande, afinal “a AGRISHOW é um evento extremamente importante sob o ponto de vista do posicionamento mercadológico das empresas. Os agricultores procuram as novidades e lançamentos, e as empresas têm este como o momento de se apresentarem para os agricultores, pesquisadores, fornecedores, investidores e para a grande mídia”, observa Pedro Estevão B. de Oliveira – presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), da ABIMAQ.
“O agronegócio não parou durante a pandemia da Covid-19, tivemos resultados excepcionais nas vendas do setor e nas exportações agrícolas do Brasil. Os investimentos em novos produtos e novas tecnologias continuaram normalmente dentro da indústria, que está preparada para apresentar as novidades nesta edição”, comemora o presidente da CSMIA. O reconhecimento da importância do setor representado pela ABIMAQ para a produção de alimentos é resultado direto, para Pedro Estevão, do barateamento dos custos de produção dos alimentos, pois agiliza as operações, tornando-as mais precisas e mais baratas, colaborando decisivamente para aumento da produtividade geral das lavouras.
E para onde caminharam e se direcionam as tecnologias? Segundo Pedro Estevão, “em várias dimensões”. Três são as vertentes mais importantes: adaptação das tecnologias utilizadas nas grandes propriedades para pequenas e médias; aumento da capacidade diária de operação das máquinas e da capacidade de automação com base em dados pré-coletados e coletados on-line; e a evolução da conexão das máquinas à internet, que tem contribuído para melhorar o desempenho das operações e da armazenagem de dados para a gestão das fazendas.
Importante indutor de negócios e também excelente termômetro do mercado, a Agrishow deste ano, quando comparada com a anterior, em relação às expectativas, para o presidente da CSMIA, caracteriza-se pelo fato de “o momento ser de maiores desafios em relação a 2021, custo de capital maior, aumento de custos da produção agrícola, falta de insumos e imprevisibilidade dos desdobramentos da guerra Rússia e Ucrânia. Apesar destes desafios o agronegócio está bem preparado, capitalizado, e os atuais preços da principais commodities estão em patamar remunerador”.
Temas relacionados ao meio ambiente, sustentabilidade e redução das emissões de gases nocivos à atmosfera, entre outros, permeiam todos os assuntos do agronegócio, e as máquinas, os equipamentos e os implementos para a agropecuária também aí dão sua contribuição, uma vez que a descarbonização é um requisito recente no mercado agrícola e relaciona-se diretamente com o diesel usado nos motores agrícolas.
Pedro Estevão garante que “há várias soluções sendo pesquisadas, como o hidrogênio verde produzido a partir de eletrólise de energia limpa e renovável, como o álcool e os motores a biometano. Outra vertente é o melhor uso das atuais motores, visando ao menor gasto de combustível. Há também enorme fronteira a ser explorada para as máquinas agrícolas em software para controlar e medir as emissões de carbono, importante para comercialização de créditos de carbono e certificações”.
Outro benefício da mecanização e da automação do campo elencado pelo presidente da CSMIA reporta-se aos trabalhos de intervenções para prevenção e controle de erosão realizados pelas máquinas, que também interagem na adubação de solos degradados visando à restituição de florestas e ao plantio direto na palha, técnica importante e fator de prevenção da degradação de terras.
Conectividade e automação: realidade acessível
Até uns poucos anos atrás, perguntar a um fabricante de máquinas e equipamentos agrícolas quais as tendências em tecnologia para o futuro era ouvir uma descrição que parecia fantasiosa: a máquina como um elo no processo de informação e decisão, com vários níveis de autonomia segundo a necessidade, a atividade desenvolvida, o tipo de terreno e o cultivo.
Embora todos esses pontos estejam acessíveis em equipamentos de qualquer porte e de praticamente todas as marcas presentes no mercado nacional, a finalidade não sofreu alteração: desenvolver tecnologias que ajudem os agropecuaristas a produzirem mais em menos espaço. Para isso, a cesta é variada, com a tecnologia cada vez mais presente em todos os níveis e em interação com máquinas e implementos, desde fertilizantes, sementes e demais insumos; manejo e boas práticas; conectividade em todos os níveis, permitindo o acesso ao detalhe, com precisão.
Para atender o mercado e se antecipar a prazos de acordos internacionais, a indústria de máquinas agrícolas tem-se debruçado sobre inovações que garantam a eficiência das operações de campo e o aumento da colheita. A expectativa para os próximos anos funda-se na evolução das soluções conectadas e automatizadas, com os setores vinculados ao agronegócio sendo contemplados com a presença de altas tecnologias.
Conectadas com sensores que monitoram a operação em tempo real, as máquinas agrícolas fazem diagnóstico de solo, otimizam o seu desempenho e geram uma série de dados que apoiam a tomada de decisão do produtor. Dessa forma, a digitalização contribui para produzir mais sem ampliar a área plantada. Com protocolo aberto, as soluções permitem a inclusão de equipamentos de diferentes fabricantes.
Alexandre Vinicius de Assis, diretor de Vendas Valtra – marca da AGCO –, define como usual a incorporação de recursos de conectividade e automação com o embarque de soluções tecnológicas de direcionamento automático, opções de monitores de produtividade, além dos sistemas de controle de aplicação em taxa variável de sementes e adubo em diferentes linhas de plantadeiras, da mesma forma como o investimento em motores que atendam a legislação que regulamenta o controle de emissões, e em câmbios CVT, ou seja, de transmissão continuamente variável.
Com tudo isso, hoje, “o produtor rural brasileiro não vai somente adquirir uma máquina de trabalho, mas também vai poder ter toda a estrutura e suporte para produzir mais e aumentar sua rentabilidade. É um caminho sem volta e estamos na vanguarda dessa mudança”, salienta Assis, garantindo que na AGRISHOW, a empresa fará lançamentos de tratores e pulverizadores “que se destacam pela eficiência operacional, qualidade, desempenho e conectividade para que o agricultor tenha mais controle, precisão e rentabilidade no campo”.
As plantadeiras dobráveis da empresa, que são “autotransportáveis, de alto rendimento e entregam resultado altíssimo para o produtor aliando alto nível de tecnologia com interação simples e amigável com o operador”, são citadas por Alexandre Stucchi, diretor de Vendas da Massey Ferguson, como sinônimo de evolução tecnológica, inclusive porque este é “o primeiro projeto global dessa marca da AGCO desenvolvido 100% no Brasil”.
Além disso, a estratégia da empresa é “Agricultor em Primeiro Lugar” (Farmer-First) e objetiva “entender o que o agricultor precisa, é voltada a conjuntos de maior porte que proporcionem operações em larga escala com mais conforto, qualidade e rendimento operacional, transformando a interação entre escritório e campo mais prática e dinâmica, tornando os processos de uma propriedade mais eficientes e rentáveis e facilmente controlados a distância”, reconhece Stucchi.
A mais nova empresa AGCO a se instalar no Brasil foi a Fendt, que fez seu lançamento em 2019, durante a última edição presencial da AGRISHOW. Passados três anos, José Galli, diretor Comercial Fendt América do Sul, comemora o êxito obtido na estratégia de chegada e consolidação no Brasil, a partir de Sorriso (MT), favorecendo adiantar a fase de expansão da marca, com a inauguração, em 2021, de seis concessionárias, e de outras quatro ainda no primeiro semestre deste ano.
“O reflexo dessa expansão é que entregaremos, em 2022, as metas estipuladas inicialmente para 2025”, comemora Galli, satisfeito em oferecer para o mercado premium e de alta potência “máquinas agrícolas que buscam melhorar o desempenho e eficiência em plantios de larga escala. São os mesmos maquinários, soluções e tecnologias utilizadas na Europa, e que nunca estiveram disponíveis em nenhuma outra marca presente no País”.
Novos combustíveis
A substituição de combustíveis fósseis é outra pauta que recebe maciços investimentos de fabricantes de máquinas, como a New Holland Agriculture, marca da CNH Industrial que, três anos após apresentar o protótipo do primeiro trator do mundo movido a biometano na AGRISHOW 2019, lança-o comercialmente no Brasil, acenando com a possibilidade “de redução de até 80% das emissões em comparação com um motor diesel padrão”, informa Thiago Wrubleski, diretor de Planejamento e Serviços Comerciais para América Latina.
A CNH Industrial aliás, nesses últimos dois anos, registrou “o maior número de lançamentos de sua história. Essa renovação de produtos reforça o nosso compromisso em oferecer soluções que garantam mais eficiência, produtividade, tecnologia e alta performance no campo. Nosso plano estratégico do grupo prevê, somente no segmento agrícola, investimento em Pesquisa e Desenvolvimento e Capex de cerca de US$ 4 bilhões até 2024. A partir disso, estamos programando uma expansão significativa no portfólio com 150 lançamentos de produtos, que certamente envolverão muitas novidades nesse sentido”, informa Wrubleski, ressaltando o envolvimento da marca com a questão de infraestrutura de conectividade, via Associação ConectarAGRO, e com a acessibilidade, com retroescavadeiras e tratores para pessoas com mobilidade reduzida.
Autonomia: há limites?
A automação de processos é uma das principais tendências do setor. Com essa certeza, a John Deere, em 2019, na Alemanha, apresentou o trator elétrico autônomo e, em janeiro de 2022, anunciou o primeiro trator autônomo, que está pronto para a produção em larga escala.
“Essa máquina é evolução da experiência adquirida pela marca com diversas outras soluções disponíveis no mercado com níveis de automação 2 e 3, com as quais consegue otimizar processos e trazer segurança para as pessoas com recursos de automação”, fala Maurício de Menezes, gerente de Conexões com Clientes da John Deere para a América Latina, enfatizando que, no Brasil, a companhia já tem equipamentos totalmente automatizados em operação, como uma colheitadeira que se constitui “sistema revolucionário na colheita tecnológica do campo”.
Menezes alerta que “apesar das máquinas já tomarem decisões com base em algoritmos, os profissionais possuem algo que jamais será substituído, que é a análise crítica de todo o cenário. Com boa capacitação, os profissionais estarão preparados para as novas tecnologias que serão implementadas. São as pessoas que possuem os conceitos e conhecimentos agronômicos de suas terras”.
A tendência crescente de fornecimento de serviços agregados aos equipamentos também é presente na agropecuária. O gerente de Conexões com Clientes da John Deere para a América Latina cita o lançamento em 2020 de um serviço de suporte remoto às operações agrícolas de clientes e parceiros que usa uma base – formada por dados colhidos pelas próprias máquinas durante as operações – para identificar oportunidades de redução de custos e otimização de equipamentos. A solução favorece que o produtor mensure tudo que foi planejado e executado, receba mapas de solo, de plantio, pulverização, colheita e informações de clima sobre microáreas e dados de operação da máquina, permitindo agregar em sua plataforma dados de seus consultores, parceiros agronômicos e até de equipamentos de outros fabricantes.
A aceitação desses centros de soluções conectadas é comprovada por Menezes, com estatísticas: “No ano passado, 85% dos chamados abertos foram resolvidos a distância, com impacto positivo sobre o bolso do produtor, pois o custo médio dos serviços e da assistência técnica, quando feitos ou iniciados de forma remota, fica até 60% mais barato e agrega economia com deslocamento e, acima de tudo, com redução do tempo de máquina parada”.
Além das máquinas
O trabalho no campo vai além de máquinas. Ele abarca também implementos, balanças, controle de perdas, peças de reposição, cabos, motores, motobombas, geradores, roçadeiras e motosserra e tantos outros itens, inclusive de proteção e segurança do próprio trabalhador rural.
Entre as empresas que atuam em nichos específicos está a Toledo do Brasil Indústria de Balanças, que desenvolve recursos para monitoramento da balança e dos periféricos (cancelas, sensores de posicionamento, câmeras), mensagens e alarmes de manutenção e segurança, aplicativo para chamada e orientação de motorista durante a operação e a pesagem e aplicação para gestão de pátio, com controle de vagas e filas de veículos.
Carlos Fonseca, gerente da Toledo do Brasil, responsável pelas regiões de Ribeirão Preto e Araçatuba (SP), convicto de que, no período de 2019 a 2022, a tecnologia no campo evoluiu significativamente, cita como exemplo as balanças utilizadas para pesagem de bovinos, que passaram a contar com “comunicação bluetooth em todos os modelos. Acompanhando a evolução da pecuária e adequando os produtos para as principais necessidades dos clientes, desenvolvemos e vamos lançar barras de 5 toneladas para fazendas com grande número de animais e com alto fluxo de pesagens”.
Os investimentos da Toledo do Brasil compreendem ainda o desenvolvimento de aplicativo para celular, capaz de associar as informações de campo à carga do veículo. “Com isto, é possível garantir a rastreabilidade da mercadoria do campo até o armazém, seja cana, soja, milho etc. Temos também o aplicativo que se comunica com a balança e realiza a pesagem através do celular, gerando relatórios e armazenando as pesagens, tudo isso aprovado pelo INMETRO e dentro das normas”.
A Sorreto Indústria e Comércio, por outro lado, é especializada na fabricação de conjuntos e cabos de acionamento, transmissões flexíveis para plantadeiras, conjuntos de acionamento para comandos hidráulicos, cabos de acionamento e cabos de comando, incluindo cabos para tratores Landini e LS Tractor.
Falando sobre a evolução das tecnologias da agropecuária, – Eduardo Luis Orsini Hehl, gerente Comercial da Sorreto, esclarece que há “uma tendência natural, mas lenta, de migração de cabos mecânicos para sistemas elétrico/eletrônicos e hidráulicos”.
Sua percepção é de que “o período pandêmico, por necessidade de mercado, serviu para acelerar diversos projetos que vinham sendo desenvolvidos. A tecnologia nas máquinas e implementos agrícolas seguiu essa tendência e hoje, com a volta das feiras, estamos vendo muitas novidades nesse mercado”.
No caso da empresa – antecipa Hehl – na AGRISHOW, “os produtos que são o carro-chefe de nossa linha agrícola, a transmissão flexível para plantadeiras e o conjunto de acionamento para comandos hidráulicos, serão expostos com diversas melhorias que foram aplicadas nos últimos meses, com os objetivos de melhorar o desempenho no campo, auxiliando o produtor no ganho de produtividade, e aumento da sua vida útil de acordo com as expectativas dos clientes”.
Agricultura familiar – Fabricante de produtos direcionados à agricultura familiar, construção e floresta e jardim, como motores estacionários, motobombas, geradores, tratores, roçadeira e motosserra, a Branco Motores – como previne Mayara Amaral, gerente de Marketing da empresa – vem se preparando para o phygital, provendo informações dentro do mundo on-line e com destaque nos pontos de venda para atrair os consumidores.
“Da última AGRISHOW presencial até os dias de hoje, em âmbito geral, a tecnologia deu um salto. O nosso business é voltado para floresta e jardim, por isso vemos avanços menores que o registrado pelas grandes máquinas do agro. Aos 85 anos, completados em 2021, a Branco Motores está investindo em inovação para continuar seu propósito de prover soluções alinhadas com as necessidades dos nossos clientes, não apenas por meio de equipamentos, mas também com consultorias e pós-vendas”.