Como fazer a inovação se concretizar nas indústrias de pequeno, médio ou grande portes, apontando caminhos por meio de um projeto idealizado e desenvolvido por um grupo de empresas – concorrentes ou não – em parceria com universidades e institutos de pesquisa. Com esse objetivo, em 2016 foi criado pela ABIMAQ o Projeto Demonstrador da Indústria 4.0, que na FEIMEC 2022 chega à quinta edição.
“Nossa principal proposta é expor o que existe de novo e o como fazer isso acontecer nas indústrias, levando diferentes tecnologias a interagirem, aumentando a competitividade e ampliando a produtividade das empresas em todos os setores”, define João Alfredo Delgado, diretor de Tecnologia da ABIMAQ, frisando que o Demonstrador “vem para discutir e destacar como as empresas brasileiras podem e devem observar, absorver e agir em toda essa transformação presente no dia a dia das indústrias”.
A edição de 2022, na visão de Denis Borges Maurício – analista de Tecnologia Industrial da Diretoria de Tecnologia da ABIMAQ, responsável pela execução do projeto desde a primeira edição – “está fantástica. A abordagem via modelo cluster mostrou-se eficiente, em uma feira, permitindo que as apresentações de problemas reais da indústria serão replicadas e as possíveis soluções encontradas nesse projeto”.
Infraestrutura Digital, Modernização de Processos, Modernização de Máquinas, Manutenção Inteligente, Soluções Digitais, Gestão Digital, Rastreabilidade são temas claramente expostos e discutidos em dez clusteres.
O Demonstrador da Indústria 4.0 é viabilizado com a participação efetiva de um grupo de empresas que disponibiliza elementos de seu corpo técnico para concretizar em um espaço público e apenas por cinco dias, uma linha de produção com muita tecnologia incorporada. Neste ano, integraram-se no projeto, em ordem alfabética, Autoform, Beckhoff, Emerson, Furukawa, GRV, Romi, MetalWork, Mitsubishi, Siemens, SKA, Sysmaq, TOTVS e Weg. Além das soluções para a indústria nacional, os visitante poderão também compreender como a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) e outras agências de fomento podem contribuir com as empresas interessas em fazer a jornada rumo à indústria 4.0.
Tecnologia em permanente ebulição
Que há décadas a indústria está vivendo grandes transformações tecnológicas e culturais não há dúvida, assim como é sabido que as inovações são inseridas e rapidamente absorvidas no mercado. “O avanço está tão acelerado que, em breve intervalo de tempo, as tecnologias são rapidamente substituídas por outras novas”, reconhece Anita Dening, gerente divisional de Tecnologia e Inovação da ABIMAQ e secretária-executiva do IPDMAQ – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos.
Isso significa que, mais do que se desenvolver de maneira muito diferente de como ocorria no século anterior, o mercado vive uma combinação de mudanças de comportamentos aliadas ao ecossistema tecnológico. Em resposta a todos esses impulsos, “tornamo-nos rapidamente mais aptos a tecnologias novas. A adaptação, que décadas atrás levava anos para se concretiza, hoje é feita com agilidade. Por isso, somos muito mais ágeis e aptos a lidar com novidades”, descreve Denis Maurício.
Historiando essa evolução, o coordenador do Demonstrador elenca os outros fatores que interagem e interferem nesse cenário, expandido a percepção de mundo: “A modernização da infraestrutura de comunicação possibilitou o contato com diferentes pessoas, ideias e manifestos, em diferentes partes do mundo, ditando a jornada mercadológica, desenhando nova postura da sociedade como um todo, da mesma forma que novos horizontes são construídos e novos olhares são trazidos para o que se chama de transformação. E ao longo dessa jornada, um novo horizonte passa a ser edificado e que vem sendo chamado de Indústria 4.0”.
Trabalho e produção – Nesse grande caldeirão de mudanças, os processos industriais também foram beneficiados, criando mais um ciclo evolutivo. Desde o século XIX até hoje, três fases antecedem o que é chamado de indústria 4.0 ou manufatura avançada.
Na primeira revolução, a mecanização dos processos industriais levou ao desenvolvimento da mão de obra operacional, gerando uma economia marcada pelo avanço da produção e por novas formas de trabalho, reconstruindo todo um estilo de vida, observando a migração das pessoas do campo para as cidades, das moradias e da urbanização para próximo dos polos industriais. Estava encaminhada a segunda revolução, que se consolida com a chegada da energia elétrica, responsável por permitir que as empresas pudessem estar em qualquer lugar. É o “boom” da globalização e dos movimentos territoriais, impactado fortemente a sociedade e a produtividade mundial, conduzindo a nova transformação, com a automação e a robotização, precursoras do movimento atual.
Consequência natural desse resumo da história da industrialização, posturas, habilidades e competências também evoluíram e, “ainda que as atividades operacionais que conhecemos sejam reduzidas, os novos modelos de trabalho exigem maior capacitação intelectual, sejam em conhecimentos e habilidades técnicas, lógicas e específicas, as chamadas Hard Skills, ou num perfil mais social de habilidades que lidam com a interação e a relação com os outros, enfatizando os controles emocionais e até de empatia, os Soft Skills, criando, assim, uma demanda que suporta as dinâmicas de trabalho em uma interação mais horizontal do que hierárquica e multidisciplinar”, resume Delgado.
Rede e conectividade – Essa remodelação das formas de trabalhar é definitivamente impactada pela chegada da Internet, que escancarou e agilizou o acesso à informação, contribuindo no desmoronamento de fronteiras regionais, dando espaço e voz para pessoas de diferentes cidades, estados e países. A criação da rede amplifica o debate e a interação, derrubando até limites idiomáticos, criando temas universais que carreiam desafios como sustentabilidade, eficiência energética, uso racional de fontes naturais, descarte consciente de resíduos, entre outros.
Nesse novo mundo virtual de interação ininterrupta, o respeito à sociedade e ao planeta ganham destaques, exigindo que países e grandes empresas os insiram em seus planejamentos estratégicos e foquem sua atenção em meios de aumento da produtividade para atender uma sociedade em crescimento com diferentes interesses e demandas, com um adendo complexo: reduzindo o impacto ambiental.
A indústria 4.0 começa a ser observada e uma demanda como essa ganhou expansão de forma mais intensiva nos últimos anos, impulsionada pelo último grande evento da história mundial, a pandemia causada pelo SARS COV19, o novo coronavírus.
“Acompanhando essa linha do tempo, percebe-se a interdependência de todos os elos, que apenas pode ser percebida depois de vivenciada, sinalizando a lógica de toda evolução”, reflete Anita Dening, listando benefícios decorrentes da crise sanitária e descrevendo o modo de vida, de trabalho e de relacionamento no presente.
“Essa pandemia fez as empresas acelerarem os seus processos de integração e modernização, o trabalho remoto se mostrou eficiente para algumas atividades, e outras tecnologias vieram para suportar muitas das atividades presenciais, garantindo um ambiente mais seguro e controlado, mais amigável, ampliando oportunidades de trabalho, desenvolvendo novos modelos de negócios, possibilitando o barateamento de produtos, aumentando o portfólio das empresas e ampliando a qualidade de vida das pessoas com as tecnologias e soluções resultantes da quarta revolução industrial”, constata a gerente divisional de Tecnologia e Inovação.
O Projeto
Apenas didaticamente – adverte Delgado – é possível separar o projeto do Demonstrador da Indústria 4.0 da evolução da indústria, da tecnologia, do mercado e – por quê, não – do modo de vida. “Ele está totalmente entranhado nessas fases alinhadas acima, é desenvolvido como instrumento para mostrar como as empresas brasileiras podem e devem observar e agir em toda essa transformação, expondo o que existe de novo e como fazer isso acontecer. Por isso, ele também é evolutivo, e a cada edição incorpora novos saberes para demonstrar possíveis soluções”, observa o Diretor de Tecnologia da ABIMAQ.
A evolução da evolução
Resumindo a história em construção, Anita Dening reforça: “A equipe organizadora, ciente de que o objetivo do projeto avançou da ideia de levar apenas os conceitos da indústria 4.0 para as empresas durante os dias da feira para mostrar o modo como esse processo poderia ser iniciado de forma prática e com baixos investimentos, decidiu pela exposição de soluções pontuais, condizentes com os desafios que são expostos diariamente no setor industrial”.
A partir desse conhecimento, o Demonstrador projetou dez cluster com temáticas diferentes dentro de operações tradicionais de um processo industrial, a exemplo de processos de gestão da qualidade e eficiência operacional, processos de automação pneumática, processos de usinagem, comissionamento de novos projetos, treinamento e capacitação operacional, logística e expedição inteligente e autônoma, entre outras.
E mais: essa abordagem ampliou a interação com o visitante da feira, fez com que que o desafio de “Como fazer a indústria 4.0 acontecer dentro das empresas” fosse esclarecido, provocando a interação de muitos visitantes com as aplicações, além de enxergarem soluções práticas passíveis de serem implementadas em suas empresas. Com isso, o projeto trouxe um novo olhar para as empresas participantes e também para os visitantes da feira, criando uma expectativa muito grande a cada edição.