A agropecuária brasileira impressiona e alimenta o mundo

Uma atividade que cresce ano a ano, responde por resultados expressivos da balança comercial brasileira, desenvolve tecnologias que são referência global, cresce de forma sustentável e alimenta o mundo. Essas são algumas das qualificações que a agropecuária brasileira recebe no dia a dia.

Nos anos 1960 o campo iniciou sua ascensão tecnológica, atingindo um nível, neste século, em que há inovações praticamente todos os dias, para propriedades de todos os portes. A sustentabilidade está intrinsecamente relacionada às ações, no conceito mais abrangente possível, envolvendo uso de recursos hídricos, terra e insumos; preservação ambiental; recuperação de áreas degradadas e de rios e nascentes; uso de energia renovável, principalmente geração fotovoltaica e biomassa.

O Censo Agropecuário 2017, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informa que 55,86% das propriedades agrícolas, independentemente do porte, têm tratores; 19,32%; semeadeiras e plantadeiras; 15,7%, adubadeiras e/ou distribuidoras de calcário; e 9,12%, colheitadeiras, formando um parque com mais de 2 milhões de máquinas agrícolas.

E a terra devolve a atenção na forma de alimento – vegetal e animal – e divisas. Numericamente, os resultados envolvem valores expressivos. As exportações anuais beiram os US$ 100 bilhões, representando mais de 43% do total geral das receitas obtidas pelo País no mercado Externo. O volume total de receitas acumulado com vendas internacionais de 2010 a maio de 2021 ultrapassa US$ 1 trilhão.

A previsão é de crescimento na produção de grão, com 271,7 milhões de ton

Em 2020, o agronegócio como um todo, incluindo cadeias de insumos, serviços e a indústria vinculada aos produtos do campo, respondeu por 26,6% do PIB deste país, sinaliza o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-USP), prevendo igual desempenho para este ano.

Na produção de grãos, os avanços em produtividade são crescentes e devem crédito à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), referência em agricultura tropical. O oitavo levamento da safra realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado em meados de maio, estima produção de grãos no País de 271,7 milhões de toneladas, total 5,7% ou 14,7 milhões de toneladas superior ao produzido em 2019/20.

A produtividade ocupa a cena. Nos últimos 40 anos, a produção de grãos no Brasil cresceu 545%, enquanto a área aumentou apenas 60%. Entre as líderes nesses avanços, está o milho, que, de 2006 a 2017 (anos dos dois últimos Censos Agropecuários do IBGE), teve sua produtividade elevada em 60%; a soja,30%; enquanto o rendimento do feijão foi de 46% e o do algodão, 30%. Especificamente na safra atual, a produtividade média por hectare de soja deve superar 3,5 toneladas, volume 4,4% superior ao do ano-safra anterior.

Na pecuária, são mais de 215 milhões de cabeça de gado, sem contar suínos (mais de 41,4), ovinos e caprinos (aproximadamente 27 milhões), aves (cerca de 1,5 bilhão de unidades). A produção de grãos bate recordes praticamente todos os anos, sem que a área plantada se expanda na mesma proporção, fruto do manejo que permite até cinco safras em dois anos. A fruticultura é mundialmente reconhecida pela qualidade. O café está entre os melhores do mundo, e o Brasil destaca-se como exportador.

Toda essa produção é desenvolvida em 5.073.324 estabelecimentos agropecuários, que ocupam 351,289 milhões de ha do território brasileiro, correspondendo a 41% da área total do País (851,487 milhões de hectares), de acordo com dados do Censo Agropecuário 2017 do IBGE, divulgado em outubro de 2019. Desse total, 45% são pastagens (cerca de 160 milhões de ha) e 29% são matas e florestas (pouco mais de 101 milhões de ha).

Entre 2000 e 2012, cerca de 20% das novas áreas agrícolas vieram da conversão de pastagem com manejo, mas, a partir de 2012, esse número subiu para 53%. A conversão de pasto com manejo para área agrícola é caracterizada pela limpeza, adubação, aplicação de herbicidas e plantio.

Mecanização contribuiu para o sucesso

Esses indicadores interferem positivamente no resultado de diversos segmentos representados pela ABIMAQ, mantendo o setor de máquinas e implementos agrícolas em plena atividade, investindo em pesquisa e desenvolvimento, colocando novas tecnologias no mercado e crescendo ano a ano.

Como frisa Pedro Estevão B. de Oliveira – presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), da ABIMAQ – “as máquinas têm contribuição decisiva no aumento da produtividade geral da agricultura com equipamentos com menor gasto de combustível, menos poluentes e com tecnologia embarcada que propiciam precisão e economia de insumos”.

Thiago Wrubleski, diretor de Planejamento e Serviços Comerciais da CNH Industrial para a América do Sul, frisa que “isso é a tecnologia trabalhando a favor do agronegócio brasileiro” e recorda que, “de acordo com o IBGE, nas últimas décadas não houve apenas mudanças na adoção de modernas tecnologias de produção. Também mudaram as ferramentas de trabalho. O número de tratores, por exemplo, aumentou 50%, o de semeadeiras 12%, o uso de adubadoras cresceu 71% e o de colheitadeiras 48%”.

Objetivamente, o conjunto máquina e implemento “visa a entregar a melhor experiência em operações aos diferentes perfis de produtores e culturas. As tecnologias embarcadas nos conjuntos primam por ergonomia, segurança, qualidade, rendimento operacional, alta precisão e desempenho elevado. Tudo isso, objetivando a prática de uma agricultura/agropecuária mais rentável e sustentável”, resume Dener Jaime, coordenador de Marketing do Produto Fuse Massey Ferguson, marca da AGCO.

Plantio direto é usual no Brasil e depende de sistemas de cultivo e preparo do solo

Astor Kilpp – gerente de Marketing e Vendas da LS Mtron Brasil, detentora da marca LS Tractor –, mensurando os ganhos em qualidade total na produção, cita dois equipamentos essenciais na produção de grãos: plantadeira e colheitadeira. Em ambos os casos, a atenção com a precisão é fundamental. No caso da plantadeira, para evitar danos à semente, e na colheitadeira para reduzir o dano mecânico ao grão.

As máquinas e os implementos, como destacado pelos entrevistados, contribuem para as conquistas do campo em três áreas: produtividade das operações, análise agronômica e gestão da propriedade, com resultados econômicos que impulsionam a modernização do parque de máquina, alimentando um círculo virtuoso.

O primeiro pilar, a produtividade, é atendido por máquinas maiores, mais leves (para compactar menos o solo) e mais velozes, com inúmeras tecnologias embarcadas, capazes de realizar as operações em áreas maiores em menor tempo; gerar mapas para análise pelo agricultor, visando a implementação de melhorias; analisar a operação e o meio ambiente, alimentando algoritmos que levam as máquinas a tomar decisões autônomas, tanto de operações quanto de variedade e quantidade de insumos, contribuindo com a análise agronômica e observação do risco de doenças na lavoura, situação do solo e da saúde das plantas, entre outros.

Mão de obra: mudança de perfil

Para potencializar e bem usar todos esses recursos, a mão de obra do setor – desde o proprietário, gestor da fazenda, agrônomos e operadores – necessita ser continuamente atualizada, treinada e preparada para usufruir dos benefícios da evolução tecnológica, para lidar com números que estão sendo gerados em grande volume – esclarece Guilherme Panes, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Jacto –, “oferecendo muitas informações que o fator humano deve filtrar, classificar e analisar os dados que realmente interessam”.

Nesse sentido, Kilpp vislumbra o surgimento de “um mercado para novos profissionais capacitados e com formação para efetuar a gestão e a tradução destas informações para serem aplicadas no campo”.

O desenvolvimento da agricultura digital e de precisão exige data analytics e inteligência artificial para lidar com as informações coletadas em campo por sensores e estações meteorológicas conectadas, armazenadas em nuvem e disponibilizadas em tempo real, on-line e de forma remota. Quanto mais domínio dessas tecnologias, melhores resultados quanto à economia no uso de combustíveis, redução de desperdícios de fertilizantes (pulverização), redução no consumo de água (irrigação), redução no desperdício de grãos ou frutos (colheitadeiras), aumento do conforto e segurança dos operadores, entre outros.

Dener Jaime alerta que, para que o conjunto máquina e implemento influencie direta e positivamente no resultado final de uma safra não é suficiente apenas ter o equipamento: “Procedimentos voltados a configuração, calibração, regulagem e manejo operacional do conjunto necessitam ser executados de forma adequada para que a aplicabilidade do conjunto e ferramentas tecnológicas embarcadas possam operar de maneira sinérgica e proporcionar ao produtor resultados qualitativos e quantitativos que atendam as expectativas no seu negócio”.

Dados da Profiles In Innovation Precision Farming, Cheating Malthus with Digital Agriculture, publicado pelo The Goldman Sachs Group, são apresentados por Wrubleski, na busca de dimensionar as oportunidades habilitadas com tecnologia de precisão: Fertilização, melhoria de rendimento de 18%; plantio, de 13%; pulverização, de 4%; irrigação, de 10%; sendo que o monitoramento de campo, gerenciamento de dados e outros apresentam valor potencial agregado de US$ 125 bilhões.

Ganhos, benefícios e resultados

Estudos e pesquisas mostram que os benefícios da agricultura digital e de precisão se materializam em ganhos de produtividade no campo de até 20%, além de proporcionarem maior segurança alimentar, controle mais rígido da produção e redução na emissão de gases de efeito estufa.

A gestão de frota também impacta positivamente no negócio agrícola. Segundo o diretor de Planejamento e Serviços Comerciais da CNH Industrial para a América do Sul, ao fazer uso de telemática, machine learning, sala de controle e manutenção remota, o produtor computa ganhos de “produtividade de ativos, com otimização de logística e manutenção e resolução proativa e preditiva de erros, que computa redução de até 30% no tempo de inatividade das máquinas ou equipamentos”.

Esse contexto favorece o atendimento de, uma necessidade crescente nos mercados nacional e internacional, como ressalta o gerente de Desenvolvimento de Negócios da Jacto: “É possível rastrear toda a produção, desde a chegada dos insumos, passando processo produtivo, cada vez mais sustentável, respeitando o meio ambiente, logística e chegando à mesa do consumidor final”.
As áreas de desenvolvimento e pesquisa das fabricantes também começa a atentar para a redução do uso de combustíveis fósseis. Há motores com gás metano, biogás e, como confirma o diretor de Marketing da LS Tractor, a empresa está com um protótipo de trator híbrido, “em avançado estágio de pesquisa, movido a diesel e eletricidade. Modelos que certamente serão o futuro da mecanização que virão para o campo em seu devido momento”.

Conectividade: tecnologia está disponível, investimentos, nem tanto

Para que tudo funcione como o esperado, projetado e idealizado, equipamentos, implementos e máquinas devem estar conectadas à internet, serem inteligentes e autônomos. Desse modo, o campo torna-se propulsor do desenvolvimento de outros setores, como operadoras de telecomunicações, empresas de TI e provedores de internet e de hospedagem em nuvem.

E é neste ponto que, em meio a tantos pontos positivos, uma deficiência se sobressai: a conectividade. Estudo denominado “Cenários e Perspectivas da Conectividade para o Agro”, desenvolvido pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), aponta, entre outros aspectos, o tamanho do problema: apenas 23% do espaço agrícola brasileiro possui algum nível de cobertura por internet.

A conectividade, como frisa o presidente da CSMIA, secundado pelos entrevistados, não depende de desenvolvimentos tecnológicos nem de disponibilização de soluções. Ela segue sendo um problema “porque falta investimento por parte do governo federal e por parte dos agricultores”.

As possibilidades nesse campo englobam tecnologias diversas, incluindo satélite, radiofrequência, cabo de fibra ótica e telecom, inclusive com geração 5G. Todos esses serviços podem ser viabilizados por empresas privadas e, por isso, vêm ocasionando acordos de cooperação entre fabricantes de máquinas e implementos e operadoras, em arquiteturas preferencialmente abertas, provendo acesso e soluções flexíveis, passíveis de conectar todos os equipamentos do produtor rural, independentemente da marca,

Vários programas existem, como o ConectarAgro, lançado em abril de 2019, capitaneado por oito empresas ((AGCO, Climate, CNH Industrial, Jacto, Nokia, Solinftec, Tim e Trimble) e que hoje, como associação, está aberto a novos participantes. Há, ainda, parceria da John Deere com a Claro, derivada da vontade de democratizar o acesso à conectividade para todos os portes de produtores, principalmente aos pequenos, beneficiando também a região como um todo.

Para a agricultura tropical, máquinas adequadas

O potencial, a profissionalização e a competência da agropecuária brasileira, além de atrair as grandes marcas mundiais, também possibilita o surgimento de empresas 100% brasileiras que se destacam e exportam, como a Jacto e a Stara, além de inúmeras startups com soluções de digitalização e precisão.

Uma máquina ou um implemento agrícola não se aplica a qualquer clima ou solo ou culturas. Isso significa que independentemente de a marca ser global, o produto exige adequações ou tropicalizações, como preferem as fabricantes.

A característica principal das máquinas, como explica Panes, é a robustez, “uma vez que atua em uma agricultura que chega a ter 3 safras em um ano. Se olhar para a cana-de-açúcar, por exemplo, as máquinas rodam mais de 3.000 horas por ano e, portanto precisam ser projetadas para suportarem esse regime intenso de trabalho”.

Márcio Fülber, diretor Comercial da Stara, ressalta a necessidade de as máquinas serem desenvolvidas nas características daqui, uma vez que “os sistemas de cultivo e preparo do solo no Brasil, que é um país predominantemente praticante do plantio direto, não têm aqui o mesmo uso de máquinas de lá. São sistemas totalmente diferentes. A adaptação de máquinas que são fabricadas no Hemisfério Norte é bastante necessária”.

A marca coreana LS Tractor, que possui seis séries de tratores que vão de 23 a 150 cv, para atuar em mercados como da fruticultura, café, horticultura e lavouras em geral e na pecuária, desenvolveu uma serie “totalmente no Brasil, para as condições do nosso país”, afirma Klipp, frisando que “os demais modelos passaram por adaptações e ajustes que foram conduzidos através de testes de campo efetuados em várias regiões no Brasil e em diferentes culturas. Tudo isso antes de serem colocados no mercado”.

Essa postura é comum a todas as marcas globais, como a CNH Industrial, que, somente na América do Sul, possui seis centros de pesquisa e desenvolvimento e mais de 600 engenheiros dedicados. Com isso, a empresa também desenvolve aqui tecnologias e as exporta para outras unidades, garante o diretor de Planejamento e Serviços Comerciais da empresa.

O teste em campo, nas mais diversas condições de operação e jornadas de trabalho, também é fundamental e praticado pelas fabricantes, com o objetivo, como detalha Jaime, de “avaliar a capacidade de entrega em rendimento operacional, qualidade de execução, melhores ajustes e calibrações, bem como baixos índices de manutenção, entrega de maior eficiência operacional entre outros fatores que são relevantes para o cotidiano nas diferentes propriedades e culturas cultivadas em países tropicais”.

Como o clima é tropical e o trabalho realizado de sol a sol, em condições climáticas nem sempre favoráveis e em áreas com terreno irregular, um outro aspecto é continuamente trabalhado pelas fabricantes: o conforto e o bem-estar do operador. Cabines e respeito à ergonomia deixaram a categoria de opcionais e o ar-condicionado segue o mesmo caminho.

Máquinas autônomas: realidade, mas com limites

A evolução da tecnologia embarcada nas máquinas e nos implementos agrícolas, que teve como um dos precursores o piloto automático, na atualidade, vai além da precisão, do uso da inteligência artificial, do machine learning, do data analytics e de tantas outras tecnologias, vem levando as fabricantes a operarem também como grandes centros de serviço e torna a autonomia uma meta, e até, em níveis variados, uma realidade.

Em feiras do setor, há alguns anos, as fabricantes expõem protótipos totalmente autônomos, comprovando que, em termos tecnológicos, há viabilidade. Contudo, esclarece Wrubleski, “é difícil saber quando as máquinas e equipamentos autônomos serão realidade nas fazendas brasileiras, pois para que isso aconteça outros pontos também devem ser consideradas, como as questões regulatórias, por exemplo”.

Nesse diapasão e lembrando da imprescindibilidade da “conectividade para garantir qualidade e estabilidade em conexões em diferentes áreas rurais em todo o Brasil, que permitam que tecnologias já existentes sejam implantadas e operacionalizadas de maneira adequada e segura”, Jaime entende os sistemas autônomos como “fundamentais para as transições que ocorrerão da agricultura 4.0 para a 5.0”.

Enquanto Panes limita a viabilidade a algumas operações e culturas específicas, citando desenvolvimento da Jacto para pulverização autônoma na cultura de citrus, lançado no ano passado; o diretor de vendas da John Deere Brasil, recorda que a empresa “foi pioneira em tratores autônomos, no começo dos anos 2000 e conta com diversas soluções comerciais com níveis de automação, inclusive uma colheitadeira, que permitem otimizar processos, reduzir custos e trazer segurança para as pessoas com recursos de automação”.