Transformação no armazenamento de energia e adoção de tecnologias habilitadoras da indústria 4.0 promovem desenvolvimentos e estimulam investimentos
Abrangência e diversificação são palavras imprescindíveis quando a pauta é movimentação e armazenagem de materiais e cargas, pois, independentemente do segmento econômico em que uma empresa atua, principalmente se for no setor industrial e comercial, há muito o que ser movimentado, em quantidades, densidades, formatos os mais variados.
Semelhantemente a isso, as indústrias que fabricam máquinas e equipamentos para movimentação e armazenagem de materiais e cargas possuem portfólio vasto e abrangente, compreendendo desde transpaleteiras, empilhadeiras, rebocadores, esteiras e pontes rolantes, talhas, guinchos, guindastes, pórticos e tantos outros instrumentos, como garras, gruas, tombadores etc.
Cada um desses produtos é um mundo à parte, com características específicas e múltiplas aplicações, mas com tendências e temas convergentes, afinal, quando o assunto é equipamentos elétricos, sustentabilidade, fonte renovável de energia, eficiência energética são prioridades, e as baterias de lítio se destacam. No caso de equipamentos mecânicos, como guindastes, resistência e segurança operacional são imprescindíveis.
Outro ponto em comum compreende a inclusão de sistemas de monitoramento para autodiagnóstico, operação remota, inserção de robotização e automatização.
A pujança do setor é expressa de várias formas. Uma delas é a representatividade. No âmbito institucional, a ABIMAQ mantém dois fóruns específicos: a Câmara Setorial de Equipamentos para Movimentação e Armazenagem de Materiais (CSMAM) e o Grupo de Trabalho de Guindastes, desconsiderando, aqui, as áreas de afinidade, como o Grupo de Trabalho de Estruturas Metálicas (GT-EM) – ver box específico – e o Grupo de Trabalho de Manufatura Avançada (GT-MAV).
Como explica André Abrami – presidente da CSMAM e CEO da Automni Automação – o objetivo dessa câmara setorial é desenvolver ações para geração de negócios para o setor através de parcerias com empresas associadas, webinars, feiras do setor, projeto de catálogo eletrônico, temas de maior destaque para aumentar a frequência dos associados, favorecer negócios e também trazer novos associados.
Por sua vez, o GT-Guindastes, de acordo com seu coordenador, Leonardo Costa – presidente da TKA Guindaste – foi criado em 2010 para encontrar alternativas para enfrentar as dificuldades que afetam diretamente a competitividade das empresas desse setor, proporcionando um fórum específico e exclusivo de debates, análise de pleitos e proposição de medidas necessárias para garantir a sustentabilidade das empresas fabricantes nacionais de guindaste telescópio, articulado hidráulico e florestal ou sucateiro, nivelados tecnologicamente com os mercados mais sofisticados do mundo”.
Tendências em tecnologia
Atuando no Brasil, com as marcas Konecranes e Demag, a Konecranes desenvolve equipamentos e serviços de elevação para todos os segmentos industriais e também portuário. De acordo com Jorge Silva, gerente de Vendas de Equipamentos Industriais na América Latina da empresa, no cenário atual duas tendências destacam-se em âmbito mundial: segurança operacional e indústria 4.0.
Com relação à segurança operacional – informa Silva – “cada vez mais são necessários recursos ativos inteligentes que reduzam o risco de o operador, durante a operação de equipamentos, incorrer em falhas que possam causar impactos de segurança a si mesmo e aos outros trabalhadores, com perda de produtividade”. Para atender essa premissa, mais do que seguir as medidas administrativas e de engenharia previstas nas Normas Reguladoras, na visão do gerente de Vendas da Konecranes, “os equipamentos terão cada vez mais de agregar recursos que limitem, de forma dinâmica, a possibilidade de erros de operação”.
A outra grande tendência global citada por Silva é alinhada aos princípios da indústria 4.0, que traz benefícios não somente a máquinas e equipamentos diretamente envolvidos no processo produtivo, mas também a equipamentos auxiliares e de logística interna das plantas industriais.
“Atualmente, os equipamentos de movimentação incluem como padrão sistemas de monitoramento para autodiagnóstico e permitem que a manutenção preditiva seja realidade”, explica, usando como exemplo o acesso de inspeção em uma ponte rolante, que antes era realizado exclusivamente via acesso físico ao equipamento em altura e, hoje o equipamento pode ser acessado remotamente para diagnóstico, assim como “uma frota de equipamentos integrada pode ser monitorada em tempo real, de qualquer lugar, incluindo estatísticas de produtividade, análise de falhas e muito mais”.
No âmbito de tendências tecnológicas, Silva cita a operação totalmente automática para pontes rolantes em indústrias de processo e a operação semiautomática, com sistemas híbridos, que agrega recursos inteligentes à ponte rolante para auxílio operacional. “É possível ter sistemas de posicionamento com percursos e destinos programados previamente, que permitem ao operador rápido e seguro posicionamento de uma carga elevada em seu destino”, detalha e frisa que “essa tecnologia é aplicada como pacotes pré-desenvolvidos, modulares, resultando queda significativa de custos e maior acessibilidade para indústrias e aplicações mais simples”.
Outra tecnologia que se tornou realidade recentemente é destacada pelo gerente de Vendas da Konecranes. Trata-se da operação remota de equipamentos de elevação, “a partir de mesas que reproduzem as cabines de operação, colocadas em locais mais acessíveis, como, por exemplo, um escritório da planta. Assim, é possível a um operador acessar um ou mais equipamentos de uma única estação de controle e operá-los com auxílio de joysticks e câmeras com visualização de vários ângulos. Hoje, é possível que a qualidade e a diversidade de visualização e a atualização de imagens em tempo real ofereçam mais segurança do que a operação local em cabines”, enfatiza.
Fabricante de plataformas para descarga de granéis (tombadores); equipamentos para empilhadeiras (garras para fardos, para bobinas e posicionadores duplos); gruas florestais e os autocarregáveis, a Saur tem seus equipamentos presentes em diferentes segmentos, como agronegócio, industrial, portos e florestal, e comemora os resultados, pois agronegócio, indústria de alimentos e de papel e celulose, assim como a construção de centros de distribuição, estão aquecidos e sinalizando tendências em movimentação e armazenagem de materiais.
No caso do agronegócio, devido aos crescentes volumes de produção agrícola, os avanços relacionam-se ao meio rodoviário, que tende a evoluir, e ao ferroviário, que irá avançar para auxiliar no escoamento das safras; já com relação aos centros de distribuição, Enio André Heinen, diretor Comercial da Saur, sinaliza que a tendência é a aproximação desses espaços ao mercado consumidor, assim como a utilização dos implementos nas empilhadeiras, pois aumentam a produtividade e segurança nas operações. Lembra, ainda, que o aumento na procura por commodities agrícolas propiciou elevação dos preços e, com isto, “as empresas do agronegócio estão investindo mais em armazenagem”.
Transformação digital: sempre à frente
Para os entrevistados, a robotização e a digitalização dos centros de distribuição são caminho sem volta. A transformação digital – declara Heinen – foi imposta a todos os mercados como efeito da pandemia, e essa digitalização veio para ficar. Acessar facilmente as informações, aumentar o monitoramento e a possibilidade de análises é fundamental para a tomada de decisão, logo, automatizar e robotizar operações, vem ao encontro do controle e da produtividade, com ganhos expressivos em segurança e ergonomia.
O desafio para a indústria – elenca o diretor Comercial da Saur – é inserir a robotização e a automatização “nos nossos produtos, para conseguir atender a demanda de mercado de ler a carga a ser movimentada e, assim, exercer a pressão de aperto ideal para cada mercadoria, sem danificá-la e sem deixá-la cair. Já existem estudos e protótipos sendo testados com essas tecnologias para oferecer ao mercado”.
A indústria 4.0 também é citada pelos entrevistados, bem como, a preocupação com a sustentabilidade, que vem exigindo que as indústrias revejam seus processos e produtos, adequando-os à logística reversa, e passam a consumir energias renováveis. Além disso, no que diz respeito aos equipamentos, os sensores e os intertravamentos elétricos são cada vez mais solicitados, visando à segurança nas operações e impedindo acionamentos inseguros.
“O home office acelerou o processo e contribuiu para as pessoas tomarem decisões remotamente e pensarem de forma abstrata, que é o grande desafio da digitalização”, resume Abrami, secundado por Sidnei Antonio Gularte, sócio-fundador da Selettra, que analisa: “O mercado, atualmente, está muito aquecido, com várias soluções de movimentação automática de produtos, impulsionando-nos a produzir novas soluções, afinal, neste ecossistema a escalabilidade, além de uma oportunidade, também é um grande desafio a ser vencido”.
Foco nos consumidores finais
Com o Brasil servindo de plataforma para outros 27 países – Mercosul, Pacífico e Caribe – para suas quatro marcas de soluções de suplly chain, a Kion South America, de acordo com Murilo Marin, gerente Nacional de Vendas, busca entender e acompanhar as tendências, tendo em conta a visão dos consumidores. O e-commerce, a expectativa dos consumidores finais em realizarem compras menores porém com maior frequência próximos de suas residências; a necessidade de receber suas compras o mais rápido possível, exigindo que as empresas invistam ainda mais na integração de canais, especialmente os varejistas que têm investido muito na criação ou no desenvolvimento do omnichannel, que reúne em um espaço virtual o e-commerce, a loja física, a venda porta a porta, o televendas, etc. sobressaem no atual contexto.
“Toda esta mudança gera novas tendências na indústria de movimentação, como a evolução da robotização e da automação de armazéns e a demanda por equipamentos compactos e ágeis, favorecendo o desenvolvimento de empilhadeiras inteligentes que são equipadas com controle eletrônico e oferecem mais eficiência também dos sistemas de assistência ao operador”, relaciona Marin, informando o desenvolvimento de uma empilhadeira contrabalançada elétrica, equipada com sistema de gerenciamento de dados da frota baseado em nuvem; assim como opções de gestão de frota remota; soluções que se combinam com empilhadeiras automatizadas e sistemas de automação para armazéns.
Para onde caminha?
Fabricação de pontes rolantes, pórticos, monovias, braços giratórios, talhas elétricas de cabo de aço, entre outros equipamentos, é o negócio da Climber Equipamentos Industriais, que, resultante de parceria com a japonesa Kito, atua na distribuição de talhas de corrente. Para essa empresa, que em julho completou 35 anos no mercado, há um ponto importante a ser destacado, que, de acordo com o engenheiro Victor Hugo Carlos – consultor técnico da empresa – relaciona-se à preocupação com a segurança dos equipamentos e o treinamento de operadores.
“Outra tendência que eu observo para o futuro são os equipamentos autônomos e equipamentos de alto rendimento energético evitando desperdícios de energia. Acredito também que em breve utilizaremos fontes de energia renováveis em nossos equipamentos, sendo que a nossa engenharia já está atenta a essa nova tecnologia e esperamos em breve apresentar um produto híbrido, mas isso está em desenvolvimento ainda, não posso informar maiores detalhes”.
Segmentando os equipamentos de movimentação de carga, em duas áreas – mecânica e eletroeletrônica – o consultor técnico da Climber explica que a primeira, a mecânica, “desenvolve-se mais lentamente e tem como ponto principal a procura por novos materiais, mais leves e resistentes e, claro, com custo competitivo. Já a eletroeletrônica é uma área que diariamente vem evoluindo – se pensarmos que há 15 anos inversores de frequência eram raros em equipamentos de movimentação de carga e hoje em dia é muito comum. O universo para eletroeletrônica é muito amplo e auxilia bastante na questão de segurança dos equipamentos”.
Com relação a guindastes, independentemente do tipo, a busca permanente é “por maiores capacidades, maiores distâncias e menor peso próprio. O desenvolvimento de projetos foi bastante otimizado com o uso de softwares de engenharia, prototipagem eletrônica e análise de elementos finitos, permitindo maior assertividade e menor tempo de desenvolvimento”, enfatiza Costa, ao citar a influência dos conceitos da indústria 4.0 no setor, “incorporando cada vez mais tecnologia embarcada nos guindastes. Na busca por controle e segurança, a conectividade entre máquinas é uma realidade”.
Sidnei Antonio Gularte, sócio-fundador da Selettra, preocupado com as empresas que decidiram segurar os investimentos na adequação das linhas de produção à manufatura avançada, recomenta “acelerar ao máximo este processo, uma vez que os ganhos de qualidade e produtividade apoiam os negócios imediatamente. Por outros lado, quem já vinha adotando as tecnologias habilitadoras da indústria 4.0, agora está tentando superar o desafio da escalabilidade, pois isto gera novos cenários ainda não vividos”.
O presidente da CSMAM deixa um convite: “A indústria importa muitos componentes caros e tem total conhecimento para desenvolver essa cadeia nacional. É possível montar consórcios de desenvolvimento de tecnologia e, em um ou dois anos, começaremos a ter resultados”.