A inovação é uma prática cada vez mais disseminada entre as empresas associadas à ABIMAQ, “embora em diferentes graus”, assegura o presidente da CSDigital, braço da Entidade que trabalha para essa realidade alcançar ainda mais adeptos, democratizando o acesso às novas tecnologias, afinal “o setor como um todo reconhece a importância da inovação para a sobrevivência e crescimento no mercado globalizado”.
Regra geral para uma empresa ser inovadora e oferecer ao mercado soluções eficientes, capazes de fazer a diferença, é inovar internamente, mostrar que funciona dentro de casa para depois recomendar aos outros. Os especialistas no tema concordam que o início está no desenvolvimento ou na construção de uma cultura que valoriza a criatividade, o aprendizado contínuo e a disposição para experimentar. A adoção de processos que permitem rápida prototipagem e testes de novas ideias são indicados por Gellert, uma vez que “aceleram o ciclo de inovação, geram diferenciais competitivos e, assim, aumentam as chances de sucesso no mercado”.
Ainda no campo da teoria, na visão de João Alfredo S. Delgado – diretor-executivo de Tecnologia da ABIMAQ –, “inovação acontece por demanda. Precisamos ter uma situação para buscarmos um caminho. Dificuldades novas, exigem soluções inovadoras, disruptivas, resultantes de pesquisa, colaboração interdisciplinar, conhecimento, criatividade, gosto pelo desafio e pelo risco”.
A prática confirma a teoria
Entre as associadas à ABIMAQ e as expositoras da AGRISHOW e da FEIMEC, muitas têm seus produtos cadastrados no Finame 4.0 e/ou desenvolvem projetos com a Finep.
Entre elas está a Metalwork, Esquadros, Toledo, Romi, John Deere e CNH Industrial. Para essas empresas, a inovação não resulta em benefícios apenas para quem inova. Eles estendem-se aos clientes finais, ao mercado e à sociedade como um todo.
Douglas Pedro Alcântara, diretor de Engenharia e de Novas Tecnologias da Romi, resumindo a opinião dos entrevistados, reconhece a contribuição das linhas de incentivo à inovação disponibilizam, a exemplo de condições financeiras vantajosas para investimentos, como taxas de juros competitivas, prazos de pagamento extensos e carências. Além disso, também podem facilitar apoio técnico e científico necessários nas inovações, assim como capacitação sobre gestão de inovação”.
Com o pensamento voltado ao mercado, Luís Felipe Carrijo Silva, engenheiro de Aplicações na Esquadros Indústria e Comércio, destaca que o investimento em automação e tecnologias inovadoras cria um círculo virtuoso de produtividade e negócios: “Produzindo-se mais com um custo menor se obtém vantagem competitiva por ganho de eficiência e rápido retorno do investimento. Além disso, o cliente se alia a um parceiro forte que possui know-how e experiência para apoiá-lo com as melhores práticas do mercado em que atua. As novas tecnologias incorporadas ao negócio abrem as portas para o aproveitamento de novas oportunidades”.
Caracterizando a Esquadros como uma empresa que tem inovação e tecnologia “não somente um slogan, mas no DNA”, Silva reconhece que aplicar esses conceitos ao negócio “é um esforço diário, promovido nas ações dos que compõem a nossa equipe. A consciência de que as necessidades do cliente se transformam rapidamente em um mercado cada vez mais dinâmico é o estímulo para entregar produtos e serviços inovadores e na vanguarda da tecnologia, afinal, inovação é o esforço de produzir mudanças focadas no potencial social e econômico do negócio”.
Essa ação traz consigo impactos positivos significativos a todos envolvidos com o negócio – lembra Silva, voltando o olhar para o ambiente interno – uma vez que “fortalece a cultura organizacional, agrega valor à imagem da empresa, cria um ambiente tecnológico propício ao crescimento profissional, gera postos de trabalho com remuneração acima da média e abre portas no mercado internacional”.
Produtos e processos focados em melhorias para produção é tradição também na Romi. A prática que se faz presente desde sua fundação, em 1930 – garante Douglas Pedro Alcântara, diretor de Engenharia e de Novas Tecnologias dessa indústria, citando a título de confirmação a fabricação, em 1948, do Trator Toro, pioneiro do Brasil e, em 1956, o lançamento do Romi-Isetta, primeiro automóvel brasileiro produzido em série.
Hoje, a Romi segue sua missão buscando “compreender quais são os processos de produção de seus clientes para que seja possível desenvolver soluções inovadoras que facilitem ou diferenciem esses processos e, consequentemente, coloque esses clientes em posições competitivas no mercado”, ou, como resume Alcântara: “Entender o futuro dos clientes é um dos principais passos para desenvolver produtos e serviços inovadores. A empresa está sempre atenta à novas formas de produção, buscando incluir processos diferentes e inovadores na empresa”.
Parcerias – Participar de feiras no Brasil e no mundo buscando novas tecnologias e inovações é uma das ações desenvolvidas pela Toledo do Brasil como parte de seu investimento em P&D&I. Eduardo Rodrigues – coordenador de Inovação da empresa – inclui a realização de projetos em parcerias com universidades e institutos de pesquisa e a manutenção de área própria de P&D. As iniciativas nesse campo contam com orçamento próprio bancado por 4% do faturamento da companhia.
No caso da Dexco Hydraulics, comenta Lélio Ferrari – Business Director da Dexco Hydraulics e sócio-diretor da Hidracomp Componentes Hidráulicos – o investimento em inovação é realizado, especialmente, por meio “de parcerias internacionais que focam no desenvolvimento de produtos. Essa colaboração tem um papel crucial em aprimorar a qualidade e eficiência de nossos produtos, ao mesmo tempo que nos permite implementar técnicas e tecnologias que contribuem para a redução de custos de produção”.
Essas iniciativas – assegura Ferrari –, além de “melhorarem a robustez e a performance dos nossos equipamentos, permitem que a Dexco Hydraulics ofereça produtos a preços mais competitivos no mercado. A redução de custos alcançada por meio dessas parcerias e inovações é diretamente repassada aos nossos clientes, tornando nossos produtos mais acessíveis e fortalecendo nossa competitividade. Nossa área de Pesquisa e Desenvolvimento está constantemente envolvida na integração e no teste dessas novas tecnologias e práticas, garantindo que cada inovação seja plenamente adaptada às necessidades e aos padrões exigidos pelo mercado”.
A estrada da inovação
A receita de como a inovação acontece é de cada empresa. Apesar de muito semelhante, tem ingredientes personalizados. Na Toledo, explica Rodrigues, “nosso time de produtos (Marketing e Vendas), visita os clientes e nos traz as dores e necessidades e buscamos atendê-los e aprimorar os processos dos nossos clientes, resultando em uma maior eficiência operacional para eles”.
Internamente, a Toledo mantém “programas de intraempreendedorismo: os colaboradores criam suas propostas e apresentam em um formato de pitch para a Direção e o Comitê de Inovação. Para as inovações internas de processos, temos um programa de ideias que permite que qualquer colaborador envie uma sugestão e receba uma recompensa caso sua melhoria seja implementada”, conta o coordenador de Inovação dessa indústria.
Como o processo está em constante evolução, Rodrigues revela: “Estamos aprendendo a usar tecnologias como IA generativa, tanto para aprimorar os produtos, quanto para otimizar os processos internos. Utilizamos cada vez mais os meios digitais para nos comunicarmos com nossos clientes e parceiros, aproveitando as soluções de ponta para proporcionar excelentes produtos digitais, entre outros”.
Incentivadora do Demonstrador de Manufatura Avançada desde a primeira edição, até em decorrência da certeza de seu diretor, Hernane Kaminski Cauduro, de que “inovação é vital para sobrevivência das empresas.
tualmente inovação é um processo sistematizado que todas as empresas precisam aplicar”, a Metalwork encontra na própria estrutura “alguns exemplos marcantes no processo de digitalização do chão de fábrica. Quando se compara o antes e o depois, há significativos ganhos na confiabilidade das informações, ampliação de dados e informações para tomada de decisões assertivas na mesma velocidade que se imprime nos processos”.
Avanço das práticas e empresários mais sensibilizados sobre a importância de cada empresa traçar a sua jornada no amadurecimento dos processos é percebida pelos entrevistados e reforçada por Cauduro, para quem, pós-sensibilização, é preciso iniciar pela automatização e, por fim, implementar a digitalização dos processos usando as tecnologias habilitadoras. Essa receita é válida para todos que buscam integrar suas empresas aos preceitos da indústria 4.0, independentemente do porte, com as pequenas e médias indústrias inserindo-se nesse conjunto.
Um dos focos das tecnologias inovadoras que a Romi desenvolve é manter os produtos com alta taxa de atividade – o uptime. Garantir que as máquinas trabalhem o máximo de tempo possível, com o mínimo de intervenção e manutenção fácil e previsível.
Para atingir suas metas, a empresa, “dentro dos produtos, discute formas de disrupção nos subsistemas, combinando, alterando ou até eliminando componentes para que nossos produtos e serviços sejam os melhores para os clientes”, observa Alcântara. Mais do que um processo, a Romi conta com alta dose de estratégia direcionada a inovação, a ponto de “envolver departamentos que não estão diretamente relacionados com os produtos e serviços, como Jurídico ou Financeiro”.
Agropecuária: inovação é imprescindível para alimentar o mundo
Tornar possível a agricultura sustentável e apoiar os produtores em sua desafiadora missão de garantir segurança alimentar a uma população global crescente pode ser o lema para indústrias que produzem máquinas e equipamentos para a atividade. Também aqui a inovação atende os dois lados da produção, com necessidades semelhantes voltadas à especificidade de cada um, ou seja, a indústria e a propriedade rural com suas culturas.
Na atualidade, mais do que fabricantes de máquinas – ou montadoras, como eram chamadas até pouco tempo – essas indústrias agregaram as atividades de uma empresa de tecnologia, trabalham com o conceito de inovação aberta e colaborativa, com parceiros, fornecedores, acadêmicos, consumidores e até mesmo concorrentes do Brasil e do mundo para buscar novas soluções, principalmente com foco em produtividade e sustentabilidade, além de valorizarem a contribuição da expertise interna e externa para somar conhecimento, tecnologias e práticas.
No aperfeiçoamento dos produtos, na busca de eficiência energética e redução das emissões, obtenção da produtividade com sustentabilidade, otimização dos custos de produção e operação são usuais o estabelecimento de parcerias com outras empresas e instituições, os incentivos e a aceleração de statups e a incorporação de empresas para complementação de portfólio e verticalização da produção como forma de otimizar prazos e custos, entre outros fatores.
Outro ponto a ser destacado corresponde às linhas de equipamentos e máquinas, pois é usual atuarem na agropecuária e na construção civil, além de fazerem inserções na mineração. E mais: poucas marcas são locais ou regionalizadas.
Por tudo isso, nesse setor, os valores de investimento em P&D&I, sem exagero nenhum, são proporcionais à importância da produção brasileira de grãos e proteína animal no cenário mundial.
Com um investimento global de US$ 2,18 bilhões em Pesquisa e Desenvolvimento em 2023, a John Deere acredita que o produtor deve ter o que há de mais tecnológico para que ele consiga obter a máxima produtividade de sua lavoura, com redução de custos e sustentabilidade. Por isso, além de manter equipes com profissionais altamente qualificados que conversam diariamente com os clientes para entender suas dificuldades e sanar esses problemas por meio de soluções inovadoras, em novembro de 2023, anunciou a construção do Centro Brasileiro de Desenvolvimento de Tecnologia, que ocupará área de 500 mil m2, em Indaiatuba (SP), e deve ser inaugurado até o final de 2024.
“A empresa possui celeiros como esse espalhados pelo mundo todo, para continuar oferecendo o que há de mais inovador e tecnológico para os agricultores, mas este é o primeiro centro de desenvolvimento e testes para a agricultura tropical do mundo. A companhia investirá cerca de R$ 180 milhões no projeto, com o objetivo de promover a sinergia entre múltiplos times de P&D dedicados à concepção e à validação de novos produtos e tecnologias dos principais sistemas de produção – grãos, cana e cultivos especiais”, informa Alfredo Miguel Neto, diretor de Assuntos Corporativos e Comunicações da John Deere para América Latina.
O Centro da companhia permitirá que os produtos sejam concebidos e testados em território brasileiro, considerando todas as variáveis: solo, clima, níveis de conectividade etc. Isso contribuirá para que as soluções sejam entregues aos clientes locais mais rapidamente, para que eles possam trabalhar de forma ainda mais produtiva, rentável e sustentável, sendo pequenos, médios ou grandes produtores brasileiros.
Gregory Riordan – diretor de Tecnologias Digitais e Inovação da CNH para a América Latina e diretor da Raven no Brasil – ao comentar que “a cultura de inovação da CNH defende que inovação é feita pelas pessoas, de forma colaborativa, e que pode ser realizada a qualquer instante e em qualquer lugar”, destaca entre as prioridades da empresa “valorizar as pessoas, contribuir com o seu bem-estar e estimulá-las a participarem ativamente de iniciativas e ações internas que contribuem com nossa cultura de inovação. Portanto, trabalhamos para que todos os colaboradores tenham um mindset voltado para inovação, estejam atentos e abertos para colaborarem com ideias, discutirem alternativas e proporem novos projetos de olho na necessidade do cliente, pois é assim que os processos de inovação são construídos”.
Levar respostas aos anseios dos clientes, oferecer a melhor experiência e entregar o que ele precisa, que é produtividade com sustentabilidade, frisa Riordan, “exige comprometimento de todos os envolvidos com as percepções dos diferentes ângulos e pontos de vista dos clientes, a criação de soluções transformadoras e ideias fora da caixa. Com o mindset de inovação, a empresa utiliza inúmeras ferramentas de processo e sempre estuda o cenário atual para entender e antecipar as necessidades dos clientes e do mercado, identificar as tendências, assumir os riscos, compreender os clientes e alinhar os trabalhos com os parceiros”.
Na entrega ao cliente, no campo, em termos de tecnologia embarcada o investimento em P&D&I se materializa em evolução constante de uma lista quase infindável, envolvendo sistemas hidráulicos, automação, motorização, consumo de combustível, monitoramento remoto, sistemas automatizados, controles e sensores diversos para inúmeras operações e finalidades, capacidade de produção na lavoura – seja plantando, colhendo, tratando, cuidando ou transportando –, milhares de horas de testes de campo e de bancada, facilidade de operação, conforto para o operador, sistemas inteligentes de regulagem automática e de autorregulagem, conectividade, coleta e armazenamento de dados, Inteligência Artificial, machine learning, telemetria, sistema de detecção de pedras, escolha de estratégias de colheita, , aplicativo para fretes, rastreabilidade, boas práticas, análise de riscos, gerenciamento de frota, visão computacional, big data, alertas e dicas operacionais e de manutenção. Agregam-se a isso pesquisas com combustíveis alternativos, biocombustível, eletrificação, baterias para aplicações móveis e estacionárias, além de gestão da propriedade, da máquina, da operação e da produção agropecuária.