A universalização dos serviços de água e esgoto até 2033, como previsto pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), é assunto recorrente, mas ainda dependente de regulamentações e de investimentos portentosos, estimados em R$ 35,5 bilhões ao ano, valor cerca de três vezes superior ao que vem sendo praticado apenas para construir as redes faltantes, como mostra estudo realizado pela consultoria KPMG para a Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon). No caso de ser considerada a compensação da depreciação de ativos, o investimento anual é elevado para cerca de R$ 50 bilhões, que é o quíntuplo da média anual de todo o setor nos últimos anos.
Em 2017, por exemplo, de acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), o investimento realizado foi da ordem de R$ 10,9 bilhões e incluiu extensão de redes, adutoras, construção de estações de tratamento de água e esgoto, elevatórias, reservatórios, ligações de água, cisternas, poços artesianos, redes coletoras de esgoto, coletores- tronco, ligações de esgoto e tanques sépticos.
A desigualdade na distribuição das estações de tratamento de esgotos (ETE), que cuidam da coleta, tratamento e destinação adequada dos esgotos sanitários nos 5.570 municípios brasileiros, também é um mercado potencial
Como lembra Cesar Seara – assessor técnico da Abcon – desses totais, 60% são custos em esgotamento sanitário e 40%, em abastecimento de água e a magnitude dos aspectos físicos referentes, que incluem a cadeia produtiva responsável pela fabricação de tubos, peças, conexões, equipamentos eletromecânicos, entre outros; o projeto técnico, gerenciamento, execução das unidades operacionais tanto no abastecimento de água como esgotamento sanitário; e a capacitação dos recursos humanos envolvidos em todas as etapas da implantação do Plansab, que merecem especial e cuidadosa atenção”.
A desigualdade na distribuição das estações de tratamento de esgotos (ETE), que cuidam da coleta, tratamento e destinação adequada dos esgotos sanitários nos 5.570 municípios brasileiros, também é um mercado potencial. Fazendo uso de informações do Atlas Esgotos Despoluição de Bacias Hidrográficas, da Agência Nacional de Águas (ANA), publicado em 2017, Seara comenta que há 2.768 ETEs utilizando-se das mais variadas tecnologias de tratamento, localizadas em 1.598 municípios, existindo, em muitos deles, mais de uma estação.
“Uma simples subtração, em relação ao total de municípios, conclui-se que será necessária a implantação de mais de 3.000 ETEs nos municípios sem tratamento de esgoto e destinação adequada. Atualmente no Brasil, em relação à água consumida 9,9 bilhões de m³ (100,0%), apenas 5,7 bilhões de m³ (58,0%) são coletados e somente 4,4 bilhões de m³ (44,0%) são coletados e tratados”,relata o consultor técnico da Abcon, definindo como premente a necessidade de “resgatar um alarmante déficit de cobertura no esgotamento sanitário”. Destaca, ainda, o potencial do setor de saneamento básico, notadamente dos serviços de água e esgoto, em gerar emprego, renda e o desenvolvimento de novos negócios diante da obrigatória universalização dos citados serviços.
Nesse contexto, Seara está convicto de que “cabe ao setor produtivo importante papel para atender a enorme demanda do CAPEX/OPEX referente à implantação, ampliação e/ou melhoria dos sistemas públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário, com máquinas e equipamentos que permitam a universalização dos serviços”.