A agricultura de precisão tem como princípio tratar a variabilidade da lavoura, afinal, nenhum terreno é 100% uniforme. As máquinas e equipamentos contribuem para isso. A agricultura de precisão cumpre sua finalidade de gerar dados e, via análise dos dados, contribuir na tomada de decisão.
Mais importante do que ter o modelo mais recente, é entender quais são as inovações e os equipamentos que fazem jus às suas necessidades no campo, assegura Fabrício Orrigo, diretor de produtos para Agro da Totvs. Em outras palavras, “é preciso entender as dores e os gaps que podem ser sanados com uso da tecnologia, seja para automatizar tarefas repetitivas, reduzir custos ou o impacto ambiental.”
Como garante Marcio Albuquerque, presidente da Associação Brasileira de Agricultura de Precisão e Digital (AsBraAP), “vemos avanços na conexão das máquinas. Apesar das dificuldades de conectividade no campo, soluções específicas se disseminam. Temos cada vez mais dados disponíveis: dados de solo, dados das máquinas, imagens de satélite mais precisas, dados do clima. Temos sistemas de gestão de dados de muitos tipos para suportar as decisões.
O caminho da inovação torna ainda mais necessária a conectividade: “A inovação está caminhando para plataformas integradas que conectam todas as etapas da produção, desde o planejamento até a comercialização”, detecta Orrigo, e exemplifica ao citar que a Totvs “está investindo em plataformas que integram dados de máquinas, sensores, clima e mercado, oferecendo uma visão completa do negócio.”
O Brasil é referência global em agricultura de precisão, seja desenvolvendo tecnologia nacional, seja aplicando a tecnologia cada vez em maior escala. Contribui para isso, a importância da agricultura brasileira no cenário global e as características da agricultura e do solo.
Exemplificando esses aspectos, Albuquerque cita que “no Brasil, o mapeamento da fertilidade do solo, através da amostragem georreferenciada, tem importância muito maior do que em outros mercados. Aqui temos solos naturalmente menos férteis que em outras regiões, em que é preciso construir a fertilidade. Assim, a atenção dada pela agricultura de precisão a ele é maior que em outras regiões.”
E mais, como afirma o presidente da AsBraAP: “Em todas as áreas campeãs de produtividade em concursos ou destacadas, sempre existem indicações da aplicação da gestão usando agricultura de precisão. Esta disseminação do reconhecimento estimula a aplicação.”
Detentora da plataforma agronômica Climate FieldView, que coleta, organiza e processa os dados da lavoura para fornecer informações detalhadas que, combinadas ao conhecimento do agricultor sobre a sua lavoura, permitem que ele tome decisões mais precisas, baseadas em dados e com maior agilidade, a Bayer, segundo Daniel Padrão – diretor de Operações de Agricultura Digital Bayer Brasil –, entende que saltos de produtividade ainda maiores acontecem quando sistemas de georreferenciamento, controle automático de aplicações, telemetria e outros, agricultura digital e o que há de mais avançado em ciência e pesquisa aplicada aos insumos agrícolas se encontram com o conhecimento e a experiência do agricultor.
“Através da Agricultura Digital, agricultor brasileiro aumenta o potencial produtivo de cada talhão”, declara o diretor de Operações de Agricultura Digital Bayer Brasil, com “mais rentabilidade, menos riscos e uma maior saúde do solo com resultados de melhoria de produtividade.”
Outra iniciativa da Bayer é destacada por seu diretor de Operações de Agricultura Digital: a construção, com parceiros, “da maior base de dados nacional para compreender o impacto das práticas de agricultura regenerativa nas lavouras, com o desenvolvimento de ferramentas e modelos para estimarmos o potencial de acúmulo de carbono de áreas agrícolas, e avançar na criação de índices para auxiliar agricultores e indústrias na descarbonização de suas operações.”
Quanto mais dados temos disponíveis, maior a integração necessária para a interpretação dos dados, enfatiza Catia Bertollo Chaves – especialista de Produtos da Falker – lembrando que “atualmente temos os mais diversos tipos de plataformas e relatórios, que devem seguir crescendo. Mesmo assim não podemos esquecer de calçar as botinas, pegar equipamentos e um canivete e ir para a lavoura, porém essas idas serão muito mais orientadas devido às diversas camadas de dados que podemos ter em um mesmo talhão. Hoje os principais gargalos da agricultura digital certamente estão relacionados a não termos uma única plataforma em que podemos visualizar todas as camadas de dados extraídos das diversas máquinas e equipamentos.”
Catia Chaves assinala a contribuição da tecnologia na atenuação dos efeitos dos eventos climáticos extremos. Segundo a especialista de produtos da Falker, “no solo, por exemplo, podemos medir a resistência à penetração e verificar se é necessária alguma ação para reverter um quadro de compactação e se para isso utilizaremos uma planta de cobertura (diminuindo a queima de combustíveis fósseis) ou uma escarificação.”
Sabendo a camada compactada, prossegue Chaves, “podemos decidir a profundidade de trabalho de um escarificador para esta operação. Desta forma aumentamos a armazenagem de água do solo para períodos de estiagem e melhoramos a drenagem de água em eventos de chuvas extremas, tornando o solo mais resiliente frente a estes eventos.”
Contribuição das máquinas
A função das máquinas e dos equipamentos, atualmente, estende-se a colaborar para minimizar os efeitos da mudança climática.
Mais recentemente, devido a pesquisas em andamento e soluções disponíveis para economia de energia e redução de emissões, foram desenvolvidas máquinas elétricas e híbridas e estimulados o uso de biocombustíveis, a agricultura de baixo carbono, a otimização do uso de fertilizantes e o monitoramento de emissões. O mercado já dispõe de máquinas com motores mais eficientes, sistemas de irrigação inteligente e outras soluções que ajudam a otimizar o uso de recursos e reduzir o impacto ambiental.
A John Deere tem apostado na inovação no campo como uma ferramenta para resolver os desafios reais da produção agrícola. Horacio Meza – diretor de Vendas da John Deere Brasil – salienta que as máquinas hoje “funcionam como verdadeiros computadores sobre rodas. Com sensores, câmeras, inteligência embarcada e conexão direta com a nuvem, elas oferecem dados em tempo real para que o produtor tome decisões mais certeiras. Além disso, é possível realizar manutenções preventivas e diagnósticos a distância, o que evita paradas inesperadas e otimiza o uso dos equipamentos.”
Digitalização e automação das operações é o caminho por onde a inovação caminha, “com forte presença da agricultura de precisão que reforça a integração entre o homem, as máquinas e natureza”, admite Wanderson Tosta – diretor de Marketing da Jacto.
“Entendemos que o aumento da busca por maior rentabilidade, a necessidade de uso eficiente dos recursos e os desafios climáticos têm impulsionado o desenvolvimento de soluções mais inteligentes. A Jacto quer estar ao lado do produtor sempre, com soluções e tecnologias que façam sentido para ele. Hoje, as informações que vêm das máquinas são importantes para melhorar a gestão das operações, agilidade na tomada de decisões e criar oportunidades de ganhos de eficiência e produtividade”, declara Tosta.
Retomando o processo de evolução da agricultura brasileira, Cláudio Esteves, diretor de Vendas Valtra, utiliza a produção da soja para mostrar a importância da tecnologia no agro.
“Quando a soja começou a ganhar espaço na agricultura brasileira, na década de 70, utilizava-se muito mais semente por hectare do que se utiliza hoje. Essa redução na quantidade exige mais precisão da máquina de plantio, que por sua vez precisa ser mais tecnológica. Ainda no segmento de insumos, no passado se falava em litros de produtos por hectare. Hoje, se fala em poucos mililitros para muitos dos produtos. Tudo isso exige mais da máquina”, narra Esteves, reconhecendo que “diante desse cenário é fundamental que as máquinas e equipamentos do agro estejam em constante evolução. Eles precisam acompanhar a evolução da agricultura e atender a demanda dos produtores por mais eficiência operacional e ganho de produtividade.”
Inteligência artificial
Agricultura de precisão incorpora diversas tecnologias e equipamentos, é aplicável a todas as culturas e tem muito a evoluir com a popularização da Inteligência Artificial. No setor agrícola, IA é caminho para potencializar a produção e dinamizar o trabalho dos profissionais do campo, atendendo, ainda, a segurança alimentar, a competitividade e a sustentabilidade. A resposta será a estabilidade e o acesso a novos mercados.
Para o diretor de produtos para Agro da Totvs, a Inteligência Artificial e o machine learning são novidades não tão recentes, mas que ganharam atenção nos últimos tempos, em especial pela “capacidade para analisar grandes volumes de dados e identificar padrões, é uma tecnologia excelente para prever resultados e otimizar processos. Destaque também para o blockchain, que garante a rastreabilidade e a segurança da cadeia de produção.”
A explicação de Albuquerque de que “a digitalização da agricultura ocorre em muitas frente, sendo a agricultura de precisão um dos pilares para esta digitalização”, favorece a aplicação de inteligência artificial “de diversas formas, algumas mais perceptíveis, como nos veículos autônomos que já estão em aplicação comercial em algumas áreas pioneiras, em sistemas de detecção de doenças ou no planejamento de voo de drones.”
A percepção de Eduardo Luis Orsini Hehl, gerente da Soretto, é de que a IA no mundo agro “é uma novidade, mas vem acompanhando a evolução do assunto em outros mercados. Hoje temos com maior frequência a participação de novas gerações de produtores rurais que já nascem e crescem nesse meio digital, trazendo para o campo, tecnologias e cases de sucesso no mundo todo.”
“De nada adianta uma tecnologia extremamente disruptiva se o uso dela no campo for de difícil acesso ou restrito a poucos usuários”, alerta Leonardo Freire, gerente de P&D – Pulverizadores, Autopropelidos e Agricultura Digital da Kuhn, certificando que “com as janelas de utilização de máquinas cada vez mais estreitas e a escassez de mão de obra no campo, a confiabilidade dos sistemas empregados e a disponibilidade do equipamento para uso tornam-se fatores importantíssimos para o sucesso do emprego de tais tecnologias.”
Nesse cenário, o entendimento de Freire é de que “a tecnologia caminha a passos largos para máquinas cada vez mais inteligentes, com o uso de sensores em diversos sistemas, cada vez mais eficientes no uso de energia, a partir da redução da intervenção humana na operação, e muito mais conectadas a sistemas de análise de dados e Inteligência Artificial.”
Tendências e gargalos
As tendências em tecnologia para o agro incluem a personalização de soluções, o aumento da automação, a integração de dados e a busca por sustentabilidade. Esbarram, no entanto, em gargalos.
Lucas Zanetti, gerente de Marketing de Produto Massey Ferguson, assinala a conectividade entre as dificuldades a serem superadas, o que dificulta o uso de sistemas baseados em nuvem e IoT. Ele adiciona a falta de mão de obra capacitada com outro desafio, “uma vez que a adoção de tecnologias avançadas exige treinamento constante, mas está presente não para dificultar, mas sim aumentar a ergonomia e eficiência operacional.”
A Case IH – de acordo com Paulo Máximo, diretor de Serviços Comerciais e Planejamento de Operações e Líder de Inovação para a CNH na América Latina – comprovou, com o projeto Fazenda Conectada, “que a conectividade faz toda a diferença no campo. Foi possível aumentar a produtividade em 18%, reduzir em 25% o consumo de combustível e conseguir 10% de redução das emissões de CO2.”
Para a Marchesan, a inovação caminha em direção à conectividade total do campo, com equipamentos cada vez mais inteligentes, integrados a plataformas de agricultura de precisão e capazes de gerar dados em tempo real”, confia Luís Varella, gestor de marketing, comunicação e eventos da empresa. Já o futuro – prevê ele – aponta para “a mecanização personalizada e sustentável”, anunciando que a empresa “vem investindo no desenvolvimento de equipamentos cada vez mais específicos para cada nicho produtivo — como roçadeiras voltadas à citricultura, plantadeiras para amendoim e compostadores com sistema de propulsão hidráulica.”
Definindo os brasileiros como “bons usuários de ferramentas digitais ou digitalizadas”, o diretor de Vendas da Valtra, identifica que “o entendimento dos fundamentos e da essência dos processos ainda é um gargalo que precisa ser tratado pelas empresas, para avanço mais rápido dessas frentes. Por isso, como gargalo eu vejo hoje o pouco entendimento do público em geral sobre digitalização e inteligência artificial, que devem continuar a ser frentes exploradas.”
Sustentabilidade
“A sustentabilidade já chegou no homem do campo. Práticas de proteção ao meio ambiente já são adotadas em várias propriedades em todas as regiões do nosso país. Mais uma vez, as novas gerações aceleram esses processos, com suas qualificações e estudos”, garante Hehl. Fazendo sua parte, a Soretto desenvolve produtos que “garantem um funcionamento perfeito da máquina ou equipamento no campo. As partes dessas máquinas, funcionando em conjunto e harmonia durante o plantio, a manutenção ou a colheita, somadas às tecnologias de preparo do solo e das sementes, é que irão influenciar na produtividade e qualidade das culturas.”
A Fendt – descreve Rafael Antônio Costa, diretor Comercial da indústria – tem assumido um papel de protagonismo quando o assunto é sustentabilidade no campo, com foco na economia de energia e na redução das emissões de gases de efeito estufa. Esses temas não são apenas tendências, mas compromissos que já se refletem em soluções ao produtor.
No Brasil, a marca dispõe de máquinas com motores de alta eficiência, ajustados para trabalhar em rotações ideais que garantem menor consumo de combustível e menor emissão de CO2.”
Por sua vez, a BGL fabrica peças sob normas internacionais. “Nossos produtos garantem padrão e qualidade aos fabricantes de máquinas agrícolas, assegurando fixação com qualidade”, resume Warley A Grotta Jr – diretor da BGL, frisando que a empresa inova em processos produtivos para se manter na vanguarda como referência de mercado. Exemplo é contar com um parque fabril completamente aderente à indústria 4.0.
Além disso, como exporta para a Europa, “onde os protocolos estão mais avançados e rígidos”, a BGL – afirma Grotta – tem inventário de emissão de GEE desde 2023 e plano em andamento para diminuir as emissões ficando a par dos compromissos climáticos.
Autonomia: uma realidade
Já não é suficiente que uma máquina seja apenas mecanicamente eficiente, ela precisa ser capaz de coletar dados, interpretar contextos e executar tarefas com precisão e de forma autônoma, considera Bernardo de Castro – vice-presidente de Estratégia Agrícola, Divisão de Autonomy & Positioning da Hexagon.
Para Castro, “inovação em máquinas e equipamentos agrícolas, hoje, está diretamente ligada à conectividade, automação, inteligência embarcada e autonomia. Cada vez mais, falamos de sistemas interoperáveis, capazes de conectar máquinas, implementos e plataformas de gestão por meio de padrões abertos como o ISOBUS. A padronização e a integração entre marcas são essenciais para aumentar a eficiência, reduzir custos e facilitar a adoção tecnológica em diferentes realidades operacionais.”
Partindo do princípio de que a autonomia das máquinas já é uma realidade e que a sociedade assiste um avanço da agricultura de precisão para a agricultura autônoma, o vice-presidente de Estratégia Agrícola da Hexagon define autonomia “como a capacidade dos equipamentos de executar tarefas com mínima ou nenhuma intervenção humana, com inteligência embarcada capaz de tomar decisões operacionais em tempo real.”
O vice-presidente da Hexagon crê que “a autonomia no campo será progressiva, e nossa missão é garantir que cada etapa desse caminho seja segura e economicamente viável para o fabricante de máquinas. A precisão, que já é uma realidade com pilotos automáticos, aplicação em taxa variável e controle de seções, está dando lugar à autonomia integrada de processos, em que diferentes máquinas operam sincronizadas, com menor interferência humana e maior eficiência.”
“A Jacto vê os drones agrícolas como um complemento no portifólio de pulverização, que vêm ganhando espaço como alternativa estratégica para aplicações pontuais, áreas de difícil acesso e uso racional de insumos”, esclarece o diretor de Marketing da Jacto, reforçando esses equipamentos como “ferramentas importantes para o manejo inteligente e sustentável das lavouras. Esse mercado está em expansão, e a tendência é que os drones se tornem cada vez mais integrados aos sistemas digitais das propriedades.”