Concebida com a missão de atender as demandas das empresas por projetos de P,D&I em parceria com instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), desde o início da operação, em 2013, até hoje, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) computa 42 ICTs e, em 2020, mais de uma dezena de unidades serão incorporadas à rede.
Entre as realizações nesse período, mais de 860 projetos foram apoiados, beneficiando mais de 600 empresas (42% de pequeno porte e 16% de médio porte), totalizando investimento de R$ 1,42 bilhão em P,D&I. Apenas em adequação das indústrias aos conceitos da Manufatura 4.0, são 340 projetos (cerca de 40% do total) e mais de R$ 530 milhões em investimentos. A Embrapii também é a coordenadora do Programa P&D Mobilidade e Logística do Rota 2030.
Esses resultados – possibilitados pelo modelo operacional, que prima pela agilidade e pela desburocratizam dos processos, viabilizam a contratação em alguns dias ou, no máximo, em poucas semanas – tornam natural a interação entre a instituição e a ABIMAQ, relacionamento esse que vem se fortalecendo ao longo dos anos, criando uma aliança que visa a atender as demandas das empresas do setor por inovação.
Nesta entrevista exclusiva para a revista Máquinas & Equipamentos, o diretor-presidente da Embrapii – Jorge Almeida Guimarães – discorre sobre os objetivos da instituição e suas realizações, com exemplos reais; enfoca o relacionamento com a ABIMAQ e os impactos no setor de máquinas e equipamentos dos programas que desenvolve e coordena.
Graduado em medicina veterinária, Jorge Guimarães possui doutorado em Ciências Biológicas e percorreu toda a carreira universitária atuando como professor nas UFRRJ, UNIFESP, Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), UNICAMP, UFF e UFRJ. Atualmente, é professor titular aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Boa leitura!
Máquinas & Equipamentos – A Emprapii foi criada em 2013, com a missão de contribuir para o desenvolvimento da inovação na indústria brasileira por meio do fortalecimento de sua colaboração com institutos de pesquisas e universidades, como a instituição vem atingindo essa meta?
Jorge Almeida Guimarães – Inovação é essencial para a garantia da crescente competitividade e o aumento da produtividade das empresas. No mundo atual em que predomina a economia do conhecimento, é cada vez mais importante para o setor industrial procurar interação com centros de pesquisa qualificados que possam contribuir com suas atividades de P&D. Essa interação é cada vez mais frequente e ocorre mesmo nas empresas internacionais detentoras de centros de P,D&I avançados.
Aqui no Brasil, a Embrapii foi concebida com a missão de atender as demandas das empresas por projetos de P,D&I em parceria com instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) altamente qualificadas e com foco na pesquisa aplicada. Tais instituições são credenciadas por processo competitivo e compõem as Unidades Embrapii que estão localizadas em universidades e institutos de pesquisas públicos e privados sem fins lucrativos. Hoje já são 42 ICTs e até meados do corrente ano mais 12 a 15 novas Unidades Embrapii serão incorporadas à rede. A missão central é garantir às indústrias redução do risco e dos custos à inovação, oferecendo competência técnico-científica certificada e financiamento não reembolsável participativo de modo a contribuir com as empresas do setor no desenvolvimento de seus projetos de P,D&I. No modelo de apoio da Embrapii os projetos pertencem às empresas e são financiados com recursos não reembolsáveis. Empresas pequenas, micro, de médio e de grande portes e startups são todas qualificadas para se beneficiar do processo visando avançar seus planos de P,D&I.
O modelo operacional oferecido pela Embrapii tem ainda como características garantir agilidade, flexibilidade e burocracia zero na contratação e na execução dos projetos. Essas características constituem diferencial próprio da organização no Brasil e são essenciais para o sucesso do modelo, pois a Embrapii não opera por editais para a chamada de projetos; a qualquer momento os dirigentes das empresas ou seus técnicos podem procurar as Unidades Embrapii e negociar e contratar a execução dos projetos. Aqui, a agilidade e o sistema desburocratizado do modelo mostram-se altamente eficientes. Muitos projetos são contratados em dias ou poucas semanas.
“Embrapii foi concebida com a missão de atender as demandas das empresas por projetos de P,D&I em parceria com instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) altamente qualificadas e com foco na pesquisa aplicada”.
M&E – Que contribuição efetiva a instituição dá à indústria de bens de capital mecânico?
Guimarães – A Embrapii tem por missão apoiar as atividades da indústria que requeiram desenvolvimento de P,D&I. O setor industrial em todo o mundo caminha para o uso de Manufatura 4.0, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. A Embrapii vem apoiando muitas empresas nestas tecnologias, possibilitando às empresas entrarem nesse novo mundo tecnológico de extrema competividade. Atualmente são 340 projetos (cerca de 40% do total) e mais de R$ 530 milhões foram ou estão sendo aplicados nessas temáticas de P,D&I junto com as empresas.
Um bom exemplo de projeto, entre os muitos existentes, está sendo desenvolvido pela Novus, uma empresa brasileira fabricante de instrumentos eletrônicos que permitem controle, registro, aquisição e supervisão de processos industriais nos segmentos de automação industrial. Em parceria com a Unidade Embrapii de sistemas de sensoriamento, localizada no Instituto SENAI de Inovação Metalmecânica, em São Leopoldo (RS), a empresa desenvolveu um equipamento que permite o monitoramento do indicador OEE (Overall Equipment Effectiveness), utilizado para medir a efetividade global do uso de equipamentos e linhas de produção. O módulo desenvolvido é conectável com redes de dados intranet e internet, e pode ser instalado sem necessidade de quadro elétrico, fixado diretamente na estrutura do processo monitorado. O equipamento de baixo custo permite às pequenas e médias empresas se adaptarem à Industria 4.0.
Outro projeto desenvolvido pela mesma Unidade Embrapii que pode ser destacado é o Sistema de Sensoriamento para Linha de Pintura, da empresa Stara de máquinas agrícolas. O protótipo será capaz de garantir a qualidade nos produtos (rastreabilidade de defeitos), reduzindo a aplicação de insumos e o consumo de energia elétrica utilizada nos processos de jateamento, aplicação de primer, fornos de cozimento, pintura e estufa. Atualmente, todo esse processo é executado manualmente.
A Unidade Embrapii de Software e Automação, localizada no Centro de Engenharia Elétrica e Informática (CEEI) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) na Paraíba, também desenvolve diversos projetos com soluções para a Indústria 4.0. Por exemplo, em parceria com a empresa Epson são desenvolvidas ferramentas de software de realidade aumentada para suporte remoto à manutenção de equipamentos.
Outro importante tema relacionado com a Indústria 4.0 é o uso de padrões industriais que permitam a interoperabilidade dos sistemas e equipamentos desenvolvidos. Com este objetivo foi proposta na Alemanha a “Arquitetura de Referência para a Indústria 4.0”, denominada de RAMI4.0. A unidade Embrapii localizada no INDT em Manaus desenvolve um projeto com a empresa Envision que aborda a implementação de soluções que atendam aos requisitos RAMI4.0 para uso pelas indústrias de manufatura da Zona Franca de Manaus, mas que também podem ser utilizadas por outras empresas brasileiras.
M&E – A Embrapii é a coordenadora do Programa P&D Mobilidade e Logística do Rota 2030. Como este programa pode impactar o setor de máquinas e equipamentos?
Guimarães – Um dos destaques positivos do Rota 2030 é que, diferentemente do regime anterior que tinha o foco nas montadoras, desta vez as empresas fornecedoras da cadeia automotiva – como a indústria de autopeças, de máquinas e motores mecânicos e sistemas desenvolvedores de soluções para a produção de automóveis, mobilidade e logística – estão todas contempladas. A ideia fundamental é apoiar projetos que possam potencializar todo o setor. Assim, as empresas de máquinas e equipamentos da ABIMAQ podem se beneficiar dessa linha que a Embrapii possui para apoiar projetos de P&D. Atualmente são mais de R$ 40 milhões de recursos não reembolsáveis disponíveis na Embrapii para apoiar projetos de P&D. Esse apoio pode chegar a 50% do valor de cada contrato com a Unidade Embrapii como nos casos de projetos comuns de duas empresas em que pelo menos uma delas tem receita operacional bruta (ROB) menor que R$ 90 milhões. Esse procedimento reduz substancialmente o custo para as empresas conectadas à rede de Unidades Embrapii, visando a desenvolver projetos de inovação no segmento industrial, gerando mais competitividade para as empresas, empregos qualificados, abre portas para startups e gera patentes. Forma também pessoal técnico com maior índice de produtividade e gera impostos e desenvolvimento econômico e social para o País e, em muitos casos, internacionalização das empresas de pequeno e médio portes. Um subproduto importante é a oferta de possibilidades de treinamento mão-na-massa a estudantes que querem trabalhar em pesquisa aplicada na indústria.
“As empresas que queiram desenvolver projetos de P,D&I podem procurar diretamente as 42 Unidades EMBRAPII distribuídas pelo País, expor suas ideias, negociar a contratação e começar desenvolver seus projetos imediatamente”.
M&E – Quais o balanço, em números, de 2013 até o momento?
Guimarães – O modelo operacional da Embrapii já resultou em mais de 860 projetos apoiados, com mais de 600 empresas beneficiadas e cerca de R$ 1,42 bilhão em investimentos em P,D&I. O modelo operacional tem apoiado desde projetos de inovação tipicamente incrementais até projetos de envergadura com grande impacto tecnológico. Todos se originam de demandas das empresas e envolvem diferentes tecnologias, como sistemas inteligentes, conectividade, novos materiais, inteligência artificial, metalurgia, automação e agricultura moderna, entre outros.
Do total de 600 empresas apoiadas 42% são pequenas empresas, 42% grandes empresas e o restante são empresas de porte médio. Muitas nunca desenvolveram P&D no Brasil. A grande maioria dos projetos diz respeito ao desenvolvimento de novos produtos, mas há também projetos que geram novos processos. Além disso, mais de 300 pedidos de propriedade intelectual das empresas já foram realizados.
A Embrapii tem sido capaz de conectar o mundo da pesquisa com as demandas das empresas, com foco em pesquisa aplicada. O objetivo é facilitar o esforço das indústrias para se tornarem mais competitivas.
M&E – Como o relacionamento entre Embrapii e ABIMAQ se materializa em desenvolvimento da indústria nacional de bens de capital mecânico?
Guimarães – A Inovação é o caminho para aumentar a competitividade e a produtividade da indústria brasileira, e a Embrapii tem como missão atuar favorecendo esse caminho e busca fazer esse papel, atraindo, favorecendo, ajudando e financiando com recursos não reembolsáveis projetos do setor industrial para inovar. A parceria com a ABIMAQ é um passo importante para a Embrapii atender as demandas das empresas do setor por inovação. A aproximação das indústrias de equipamentos e máquinas com a Embrapii é uma forma eficiente para abrir mais oportunidades de negociação.
Inovação é essencial para o futuro. As Unidades Embrapii possuem diversas competências que são de fundamental importância e essenciais para o desenvolvimento tecnológico em áreas estratégicas como manufatura 4.0, internet das coisas, big data, novos materiais, conectividade, automação, entre outras.
A expectativa é que a parceria com a ABIMAQ possa aproximar cada vez mais a Embrapii das demandas das empresas do setor. Pretendemos fazer, juntamente com a ABIMAQ, uma série de eventos por todo o Brasil para conectar as empresas de bens de capital mecânico com as Unidades Embrapii para a discussão e demonstração de tipos de projetos a serem cogitados pelas empresas visando o apoio pelo modelo Embrapii.
O modelo da Embrapii dialoga com os anseios da indústria, é moderno, ágil, flexível e desburocratizado, facilitando fomentar a atividade de inovação. A expectativa é que as empresas sejam atraídas pela forte base de conhecimento existente nas Unidades Embrapii e pela sua capacidade de geração de soluções tecnológicas, potencializadas pelo mecanismo próprio e único de compartilhamento de custos e riscos.
M&E – Como uma indústria deve fazer para acessar a EMBRAPII e usufruir dos benefícios?
Guimarães – As empresas que queiram desenvolver projetos de P,D&I podem procurar diretamente as 42 Unidades EMBRAPII distribuídas pelo País, expor suas ideias, negociar a contratação e começar a desenvolver os seus projetos imediatamente. As Unidades Embrapii têm autonomia para contratar os projetos com as empresas de forma ágil e rápida, sem qualquer interferência burocrática da Embrapii, pois foram previamente selecionadas e credenciadas por suas competências para levarem avante tal planejamento. Assinado o contrato entre a empresa e a Unidade, a Embrapii financiará sua parte no custo do projeto com recursos não reembolsáveis. A ideia básica e fundamental é apoiar projetos de interesse da indústria. Acreditamos que quem sabe melhor qual o seu maior desafio é a própria indústria, por isso apoiamos todos os projetos negociados pelas empresas com nossas Unidades. Como já mencionado, de maneira geral, a Embrapii financia até 1/3 do valor dos projetos com recursos não reembolsáveis. Em casos específicos o financiamento pode chegar a 50% do custeio (projetos com pelo menos duas empresas sendo uma delas com ROB menor que R$ 90 milhões). Essa situação se aplica a projetos ligados a mobilidade e logística, internet das coisas e manufatura 4.0, que são temas de interesse das empresas da ABIMAQ.
Outra grande vantagem oferecida pelo modelo Embrapii é o fluxo contínuo de contratações de projetos, ou seja, as empresas não precisam esperar edital para buscar financiamento para execução de seus projetos. Basta buscar as Unidades Embrapii. Também não precisam recear que faltem os recursos da Embrapii para dar continuidade ao desenvolvimento dos projetos já contratados. Em seis anos de operação, incluindo os piores anos de crise econômica e política no Brasil, nunca houve um dia sequer de atraso nos repasses dos recursos Embrapii aos projetos contratados e nenhum projeto das empresas foi retardado por essas causas.