Alta taxa de juros e poucas opções de financiamento a baixo custo de compra de equipamentos são causas usualmente apontadas pelas empresas como o ponto principal que dificulta investimentos e desenvolvimento do mercado de máquinas e equipamentos. No mercado de equipamentos de ar comprimido não é diferente, em que pese sua imprescindibilidade em vários segmentos, desde aplicações industriais, logística e até hospitalares.
Nesse setor, eficiência e confiança no equipamento são essenciais, mas, como comentam os representantes das empresas do setor fabricante de compressores e equipamentos, a tecnologia aplicada na produção dessas soluções não apresenta evoluções muito drásticas ou disruptivas. A busca está no aperfeiçoamento dos equipamentos e na melhoria de performance dos produtos, ganhos em eficiência energética e, portanto, sustentabilidade. Essas necessidades são atendidas por evoluções voltadas à eficiência energética, assim como ao uso de materiais recicláveis e duráveis, além de sistemas híbridos e uso de fontes de energia renováveis.
A tecnologia da geração e compressão de gases – detalha Denis Soncini, presidente da Câmara Setorial de Ar Comprimido e Gases (CSAG), da ABIMAQ – evolui no sentido da melhoria da eficiência energética, do monitoramento dos equipamentos a distância e até utilização de inteligência artificial para prevenir falhas prematuras de equipamento ou interrupção de funcionamento para manutenções corretivas.
Digitalização e automação, monitoramento de sistemas com sensores conectados à Internet das Coisas (IoT), favorecendo a manutenção preditiva, evitando paradas inesperadas dos equipamentos, segundo os entrevistados, somam-se ao uso de sistemas de controle inteligente e manutenção remota quando o tema é evolução e tendências no âmbito tecnológico.
Com máquinas voltadas aos mercados de tratamento de água e águas residuais; processamento alimentar e transporte pneumático, assim como presença nas indústrias de cimento e cal e marítima, a Aerzen do Brasil, como frisa Rainer von Siegert, diretor-geral da empresa, atua no desenvolvimento do mercado de biometano e biogás, que vem “impulsionando a busca por soluções sustentáveis e a valorização das energias renováveis. Isso reflete uma tendência de inovação e adaptação às novas necessidades ambientais e de eficiência energética, em que possuímos soluções customizadas pensadas exclusivamente para cada caso.”
Biocombustíveis é assunto também presente na Parker Hannifin, devido à sua atuação em mercados como transportes, máquinas agrícolas e de construção, industrial, médico-hospitalar, alimentos e bebidas, mineração e geração de energia. Luiz Roberto Moura, Sales & Marketing GM da Parker Hannifin, leva em conta que, “no Brasil, o mercado de transportes vem em uma retomada forte após a implementação da motorização Euro 6. A necessidade de caminhões com menor impacto ambiental, movidos por motores elétricos, gás natural e biodiesel, também tem impulsionado mudanças significativas neste segmento.”
Edgard Dutra Júnior – diretor Comercial da Metalplan – coloca mais um item na pauta relacionada à eficiência energética: certificação. E aproveita para comemorar uma conquista da empresa nesse quesito: “A obsessão por eficiência fez da Metalplan a primeira fabricante de compressores, chillers, secadores e geradores de gases do mundo a obter a certificação ISO 50001 – Gestão de Energia.”
Perspectivas
Confiante de que o resultado do setor em 2025 apresente, na média, “pequeno crescimento em comparação a 2024”, Soncini recomenda às empresas associadas à CSAG que “invistam em tecnologia para melhorar a eficiência energética de seus produtos e procurar avanços expressivos na governança das empresas, no cuidado ao meio ambiente e principalmente respeitando o ser humano tanto internamente quanto nas suas relações externas.”
A concorrência às fabricantes de compressores e geradores de ar comprimido e gases instaladas no Brasil por parte de produtos importados a preços subsidiados por seus governos “é desleal, torna o mercado desigual e dificulta a sobrevivência dos produtores locais que são os que geram empregos no País”, alerta o presidente da CSAG, listando esse entre os percalços sofridos cotidianamente pelas indústrias representadas pela ABIMAQ.
Outro aspecto realçado por Soncini, relativo à essa importação predatória e que impacta negativamente o mercado, compreende os sistemas “que não atendem as exigências legais brasileiras, como normas técnicas e certificações compulsórias.” Segundo ele, “as normas existem, mas não há fiscalização efetiva.”
Candido Schonarth – gerente de Vendas Nacional da Schulz – reforça a necessidade de equacionamento desse cenário em que “produtos importados são subfaturados ou entram no Brasil sem cumprir a legislação (seja NRs e/ou Inmetro), principalmente no atendimento de requisitos voltados à segurança do produto.
A dependência de componentes importados é elencada por Moura, que justifica: “As empresas ainda sofrem com interrupções na cadeia de suprimentos.”
Otimismo marca as perspectivas da Metalplan e da Aerzen para 2025. O diretor Comercial da Metalplan trabalha com a expectativa de “continuar com o expressivo crescimento dos últimos anos, investindo em tecnologias e atendendo nossos clientes com produtos cada vez mais inovadores.”
Já o diretor-geral da Aerzen do Brasil tem a percepção de que o mercado se apresenta bastante promissor considerando o principal foco da empresa, que envolve o transporte e a compressão de gases, estimulando os investimentos no desenvolvimento de máquinas de alto desempenho e em tecnologias que ofereçam menor impacto ambiental.
“A expectativa é que, em 2025, o mercado de compressão de ar continue a se expandir, especialmente com a crescente demanda por soluções energética e ambientalmente responsáveis. A Aerzen seguirá investindo em inovações tecnológicas, como sistemas inteligentes de operação e de monitoramento, que ajudam as indústrias a otimizarem sua matriz de custos. Além disso, a empresa se concentrará em atender as novas exigências do mercado, incluindo a necessidade de redução de emissões e maior sustentabilidade, consolidando sua posição como líder no fornecimento de soluções de ar comprimido, gás e vácuo”, assegura Rainer von Siegert.
Dutra Júnior credita a manutenção dos indicadores de crescimento em 2025 à iniciativa do Ministério de Minas e Energia (MME) e da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) em lançar “o projeto Eficiência Energética em Sistemas de Ar Comprimido em Indústrias, que financiará, para as indústrias selecionadas, realização de diagnósticos energéticos com foco em sistemas de ar comprimido. Com esses diagnósticos, as empresas terão recursos para aplicação de medidas eficientes capazes de aumentar a eficiência energética e reduzir custos operacionais.”
Buscar novos mercados, aproveitar as oportunidades e expandir a atuação em outros setores estão no radar da Schulz, enquanto a Parker prevê “crescimento em soluções para eficiência energética e descarbonização; maior integração de sistemas digitais e conectados; e expansão em mercados emergentes e com foco em sustentabilidade, como o hidrogênio verde”, enumera o executivo da Parker Hannifin.
Independentemente de qual o avanço promovido, o gargalo existente no setor industrial de equipes treinadas e profissionais em dia com a evolução tecnológica fortalece uma necessidade mais e mais comum, assim resumida por Dutra Júnior: “A grande demanda por soluções cada vez mais tecnológicas, eficientes e voltadas à sustentabilidade criará um gargalo de profissionais especializados. Dessa forma, o treinamento das equipes e a formação de profissionais flexíveis e com essa visão diferenciada deve ser o grande desafio das indústrias de ar comprimido nos próximos anos.
Descarbonização
Há várias formas de uma tecnologia ser amigável com o meio ambiente e a vida, ser sustentável e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. No caso do ar comprimido, a sua popularização durante o período da pandemia do novo coronavírus atendeu esses fatores. Contudo, pouco a sociedade conhece dos benefícios proporcionados pela geração de ar comprimido na descarbonização das atividades econômicas.
Um exemplo é dado por Schonarth quando cita o desenvolvimento de produtos com maior eficiência energética e produção no local de consumo (on-site), gerando redução de custos operacionais e logísticos, entre produtor e consumidor. Por sua vez, Moura, concordante com o executivo da Schulz, informa que “o ar comprimido, quando otimizado por compressores mais eficientes e integrados a processos que eliminam vazamentos e desperdícios, pode reduzir o consumo de energia elétrica, que é uma das principais fontes de emissões.”
Soncini lembra que os investimentos das indústrias do setor em equipamentos cada vez mais eficientes energeticamente gera resultados, afinal, a geração de ar comprimido e gases é responsável por cerca de 8% do consumo de energia elétrica para aplicação industrial. Desse modo, destaca o presidente da CSAG, “o melhor benefício que podemos ter é utilizar equipamentos com melhor eficiência energética. Disponibilizando equipamentos mais atualizados, os fabricantes de compressores e tratamento de gases estão contribuindo muito para um menor consumo de energia e consequentemente menos emissão de carbono.”
Na visão de Siegert, “esta questão está intimamente ligada às linhas de produção em que as máquinas da Aerzen são utilizadas. Por exemplo, na produção do biogás, a partir da captura do CO2 e metano, impedimos que esses gases sejam liberados na atmosfera, ajudando na redução das emissões de gases de efeito estufa. Assim, as soluções de ar comprimido da nossa empresa desempenham um papel crucial nesse processo de transformação e descarbonização da economia.”