Arnaldo Silva Neto e Danilo Piccolo Silva*
“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. A frase, extraída dos conceitos da Teoria da Evolução e cuja autoria é controversa, explica por que grandes animais como os tiranossauros e os estegossauros desapareceram da face da Terra há milhões de anos, enquanto espécies muito menores, como a dos crocodilos, tubarões, medusas e pequenos crustáceos tiveram sucesso em adequar-se às mudanças do planeta e ainda estão por aqui.
Mas o conceito de adaptabilidade não se limita ao campo da sobrevivência das espécies; pode ser estendido ao ambiente de negócios, em que as transformações se tornam cada vez mais rápidas e radicais.
Durante muitos anos, o verdadeiro e permanente valor estratégico de uma organização era ser grande e gerar cada vez mais lucros, de modo que o crescimento era o único caminho realmente válido.
Nesse período, que se estendeu até os anos de 1970 e chegou a ser chamado “anos dourados”, as empresas não precisavam de grandes investimentos em qualidade, nem havia preocupações com custos e com a concorrência, uma vez que a demanda estava sempre insatisfeita, o que levava o mercado a aceitar os preços pedidos pelos fornecedores.
A partir dos anos de 1980, o mundo então conhecido começou a sofrer expressivas transformações com a formação de blocos econômicos na Europa e América do Norte, queda de barreiras comerciais, ampliação dos mercados com transações internacionais e expansão do mercado financeiro.
Em consequência, a eficiência no uso dos recursos, inovações em produtos e processos produtivos, redução de perdas e desperdícios, reengenharia, downsizing, sistemas de gestão da qualidade e foco nas necessidades e expectativas dos clientes passaram a compor a agenda das organizações, como forma de adaptar-se e sobreviver numa arena de competição cada dia mais acirrada.
O que se vê no início da segunda década do Século XXI é o cenário dos negócios continuar a mudar e produzir com qualidade e eficiência continuará a ser necessário, mas não mais suficiente. Há claros sinais de que uma nova revolução está presente e em crescimento, desta vez assentada na Sustentabilidade.
Ainda que esse tema esteja na agenda diária das empresas, dos governos e das pessoas, parece haver um entendimento apenas parcial do seu conceito, limitado às ações de preservação ambiental e ao uso racional dos recursos naturais, motivado pela consciência de sua finitude, um dos pontos centrais do conceito de economia sustentável. A questão, porém, vai além disso.
Ainda que a importância da sustentabilidade seja entendida por boa parte das empresas, as práticas ainda são caracterizadas por iniciativas pontuais e dissociadas das operações, notadamente nas dimensões social e ambiental.
As finalidades de uma empresa que se pretenda sustentável no tempo compreendem a função que ela desempenha na sociedade como geradora de riqueza e de bem-estar das pessoas, as características do que produz, como produz, para quem produz, como obtém e usa os recursos necessários para sua operação, as condições que orientam sua atuação e sua participação como elemento de desenvolvimento da comunidade a que serve. Há nesse contexto a necessidade de atender aos anseios de todas as partes interessadas: acionistas, clientes, fornecedores, sociedade e poder público.
Conciliar crescimento econômico, preservação ambiental e desenvolvimento social tem-se tornado um desafio inevitável no mundo dos negócios e, a princípio, uma equação de difícil solução. Entretanto começa-se a ter a clara noção de que não se trata de questões antagônicas, mas complementares.
No caso da indústria, um dos segmentos que está no topo da lista das ações de sustentabilidade é a energia elétrica, pois:
- é o principal insumo energético para cerca de 80% das indústrias;
- a indústria representa 36% de toda a energia elétrica consumida no Brasil;
- o insumo de energia elétrica pode representar 40% dos custos de produção;
- é um insumo estratégico multisetorial: indústria automobilística, saúde, shopping centers, construção civil, metalurgia, plásticos, hotelaria, supermercados, agricultura, alimentos e bebidas.
Analisar o uso da energia elétrica na indústria, portanto, é sinônimo de atuar sobre um dos principais elementos de sustentabilidade econômica e ambiental.
A produção de eletricidade também traz consigo algumas questões que não correspondem propriamente à realidade. A primeira delas é a crença geral de que fontes limpas e renováveis, em especial a solar e a eólica, estão fartamente disponíveis e são de baixo custo.
No caso do Brasil, não há condições de ventos constantes e de intensidade necessária próximos aos maiores centros consumidores, como a Região Sudeste. Apenas no Nordeste, em estados como Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia, Piauí e Maranhão são encontradas condições adequadas para a instalação de geradores eólicos.
Já para a geração de energia solar, o País dispõe de condições mais distribuídas em seu território (o que não ocorre em países como a Inglaterra, por exemplo), mas a produção em escala exige espaços consideráveis para a instalação de painéis, competindo com outros usos como a agricultura, e investimentos expressivos.
À parte dessas condições, tanto a fonte solar, quanto a eólica dependem de fatores não controláveis para a geração de energia (presença de sol e vento), o que impossibilita sua disponibilização sempre que necessário, não sendo consideradas como fontes de suprimento assegurado. No entanto, quando em operação, representam importante papel na economia de água das fontes hidráulicas ou de derivados de petróleo em geradores térmicos.
Completando o quadro das fontes renováveis, tem-se a geração de eletricidade a partir de biomassa e biogás, em especial com o uso de bagaço de cana que, ao contrário do sol e do vento, pode ser armazenado e utilizado quando se fizer necessário, o que a torna uma fonte controlável.
A segunda questão que merece esclarecimento é a ideia de que otimização energética limita-se à eficiência energética, quando na verdade parte importante também envolve a gestão do uso da energia. Fatores como tarifas em diferentes horas do dia e períodos do ano, a possibilidade de compra de energia e a contratação de uso do sistema elétrico, planejamento da produção em períodos de menor custo da energia, controle de demanda (picos de consumo), compensação de energia reativa, entre outros, têm impacto expressivo na fatura de energia elétrica das indústrias e precisam ser administradas.
Assim, pode-se dizer que otimização energética está associada ao rendimento energético, o que pode ser traduzido como custo/unidade produzida (quanto menor for essa relação, mais competitivos serão os produtos da indústria).
Para os profissionais dos mais diversos setores que desejarem adquirir, atualizar e/ou aprimorar conhecimentos relativos às energias renováveis e ao mercado de energia, o IMT oferece um curso de Aperfeiçoamento em Energias Renováveis e Mercado de Energia, composto por três módulos de 120 horas cada um: Sustentabilidade e Otimização Energética, Sistemas de Conversão de Energias Renováveis e Mercado de Energia. A próxima turma deve iniciar em agosto.
* Arnaldo Silva Neto – Engenheiro eletricista com mestrado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), MBA pela Fundação Dom Cabral (FDC) e Desenvolvimento de Lideranças, pela Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos. Atuou por 35 anos no setor elétrico, em cargos gerenciais e executivos de uma das maiores distribuidoras do País. Foi subsecretário de energia elétrica de São Paulo e professor convidado de cursos de pós-graduação do IMT.
Danilo Piccolo Silva – Com mestrado em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos, tem experiência na área de Ciência e Tecnologia de Alimentos, com ênfase em instalações industriais de produção de alimentos. Gerente de Projetos da Reunion Engenharia, participou da implementação de mais de 200 projetos em diferentes ramos da agroindústria.