*Elaine C. Marcial é doutora em Ciência da Informação, coordenadora do curso de Pós-Graduação em Inteligência, Cenários e Gestão Estratégica da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FPMB) e do Grupo de Pesquisa e Estudos Prospectivos Mackenzie, o NEP-Mackenzie Brasília.
A crise econômica provocada pelo novo coronavírus tem sido comparada, em magnitude, semelhante àquela ocasionada pela II Guerra Mundial. Só que com um agravante: não se trata somente de uma crise econômica, mas também de saúde e política, tudo ao mesmo tempo. Essa crise amplifica a velocidade das mudanças em um mundo em transformação, fruto dos avanços científicos e tecnológicos e repleto de inovações disruptivas. Como resultado, observa-se mudanças no comportamento dos consumidores, nos modelos de negócio e na gestão das organizações.
Os desafios associados ao impacto dessa pandemia são de grande magnitude, em especial quando comparado a qualquer outra crise que tenhamos presenciados nas últimas décadas,com um nível de incerteza enorme. Esse ambiente torna muitas organizações vulneráveis, em especial aquelas que não possuem um rigoroso controle financeiro ou que não conseguem se adaptar rapidamente a esse novo contexto. Os próximos dias ou meses irão redefinir o mercado e as organizações e serão decisivos no estabelecimento de quem sobreviverá.
Todos os sobreviventes terão que aprender a lidar com os altos níveis de incerteza. Para tanto, terão que ser capazes de confrontá-la na construção de um plano que seja capaz de conduzir a organização a sair vitoriosa e mais fortalecida em um porvir que se manterá repleto de inovações disruptivas.
Em ambientes de grandes incertezas, o planejamento tradicional não funciona de forma adequada, em geral, porque ele não assimila a incerteza. Há necessidade de um outro olhar. Além disso, será necessária a formulação de estratégias flexíveis e resilientes, que possibilitem rápida adaptação a um ambiente em transformação.
Também será importante estar atento aos sinais de mudança, para que se possa ajustar rapidamente a estratégia. É nesse contexto que a atividade de inteligência, que engloba o monitoramento do ambiente e a produção de informação estratégica antecipativa, cresce em importância. Essa atividade, permanentemente exercida, produz subsídios informacionais tempestivos ao processo decisório, evitando que as organizações sejam surpreendidas, disponibilizando tempo para a realização das adaptações necessárias à estratégia antes que seja tarde.
Sua associação com a construção de cenários trará maiores benefícios às organizações nesse momento, pois incorpora a incerteza nesse processo de produção de informação, possibilitando uma melhor tomada de decisão, bem como a formulação de estratégias mais robustas.
A construção de cenários traz benefícios imediatos ao possibilitar que as organizações assumam a incerteza em seus processos decisórios. Facilita a identificação do que é realmente importante nesse ambiente nebuloso, ao delimitar a incerteza em um espaço gerenciável e mensurável.
Tanto os produtos produzidos pela inteligência quanto pela construção de cenários fornecem ricos subsídios para o processo decisório, especialmente em momentos de crise, quando a realização de escolhas é difícil, mas necessária. Por exemplo: devo ou não inovar?
Muitas organizações, em especial as mais conservadoras, entendem que em ambientes “nebulosos” o melhor é esperar até que ele se torne mais claro. Entretanto, tomar uma posição como essa, ainda mais nos dias de hoje, pode resultar em consequências desastrosas. Em momento de crise como o que vivemos hoje, inovar passa a ser um fator crítico de sucesso.
Mas inovar em que, se até o presente apresenta grandes incertezas? Quais as melhores apostas? Para inovar é necessário obter boas ideias. Para tanto, é necessário gerar uma grande quantidade de ideias e jogar as ruins fora. Mas como vamos escolher quais seriam essas melhores ideias em um ambiente altamente incerto?
Mais uma vez a construção de cenários pode auxiliar nesse processo. De posse das múltiplas possibilidades de futuro construídas, é possível testar as ideias geradas em todos os cenários, verificando, a priori, quais sobreviveriam em qualquer dos ambientes. Assim, o processo decisório seria mais assertivo, disponibilizando um rol de possibilidades de investimentos em inovações que poderão contribuir para o sucesso da organização.
Tanto a construção de cenários quanto a produção de inteligência são atividades altamente especializadas e necessitam o desenvolvimento de competências para que produzam bons resultados. Nesse contexto, por exemplo, há cursos de especialização, como o de Inteligência, Cenários e Gestão Estratégica desenvolvido pela Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, que integra essas duas áreas do conhecimento ao processo de gestão estratégica, preparando os participantes para enfrentar a pandemia e o pós-pandemia, pois serão desenvolvidas competências teóricas e práticas, por meio de estudos de caso e do desenvolvimento de um projeto durante o decorrer da especialização, com o apoio de professores mestres e doutores com longa experiência no mercado.