Atenção à lubrificação reduz custos operacionais de indústrias do setor

O mercado de lubrificantes industriais, as aplicações técnicas e casos de sucesso foram os assuntos tratados em três webinares realizados nos dias 17, 24 e 31 de março, pela ABIMAQ, em parceria com a Public Projetos Editoriais, para um público formado, em sua maioria, por profissionais de áreas técnicas, manutenção, engenharia e áreas de produção de indústrias de máquinas e equipamentos.

Como lembrou Marcos Perez, superintendente de Mercado Interno da ABIMAQ e moderador dos três eventos, “95% dos membros das Câmaras Setoriais da Entidade dependem de lubrificação e de lubrificantes, seja para fabricar as máquinas e os equipamentos, seja para que seus produtos finais funcionem adequadamente”.

Sendo assim, a importância da lubrificação industrial no aumento da vida útil das máquinas e equipamentos permeou todas as apresentações, uma vez que, segundo pesquisas citadas ao longo dos eventos, o mal uso dos lubrificantes e a contaminação são causa de 50% das quebras de rolamentos.

A conexão da atividade de lubrificação entre produtos e serviços no mercado industrial é usual, afinal, no dia a dia tão importante quanto a venda do produto, o atendimento e o suporte pós-vendas são diferenciais entre os fabricantes de lubrificantes. Em outras palavras: não basta vender o lubrificante, é necessário acompanhar e mostrar os ganhos em cada aplicação. Desse modo, essa atividade antecipa-se a um comportamento que é tendência em outros segmentos da economia: a servitização.

A discussão sobre o lubrificante ideal também se fez presente nos eventos, e a opinião dos palestrantes vinculados ao setor de produção de soluções para lubrificação resume-se em: para que possa atender os requisitos mínimos e superar as exigências de performance de cada aplicação, o melhor lubrificante é aquele que possui características superiores ao recomendado pelos fabricantes de equipamentos.

Isso não elimina a necessidade de equipamentos adequados para cada situação e em conformidade com as exigências da operação, estando à disposição, no mercado, equipamentos diversos que garantem um bom processo de lubrificação.

Situação detectada por vários participantes da websérie tem relação com o desligamento, por parte do usuário final, do sistema de lubrificação automático da máquina ou do equipamento. Definindo a causa como cultural e até de formação dos profissionais que atuam na manutenção e na operação, os palestrantes estimam que, no Brasil, 70% das aplicações são executadas manualmente, 20% com equipamento pneumático, elétrico ou a baterias e, apenas 10% de modo automatizado.

Formação e capacitação profissionais – Gargalo lembrado por todos os palestrantes, nos três dias, foi o papel do lubrificador e sua formação, pois cabe a ele o principal papel no processo. A atuação correta desse profissional pode garantir a performance dos equipamentos. Para garantir que ele exerça seu papel com qualidade, há necessidade de investimentos em qualificação e treinamento, assim como de reconhecimento desses profissionais.

Entre os temas recorrentes esteve a necessária diferenciação do papel do lubrificador daquele desempenhado pelo mecânico. Enquanto o primeiro opera de maneira preventiva, o segundo atua na manutenção corretiva, que será minimizada se a lubrificação for realizada corretamente, em consonância com as orientações das empresas fabricantes de máquinas, que, por ocasião da entrega de seus produtos, orientam sobre como proceder à lubrificação do equipamento.

A elevada rotatividade da mão de obra nessa atividade interfere na formação, exigindo que os fabricantes de lubrificantes e de soluções de lubrificação refaçam os treinamentos, mas, mesmo assim, o problema não é sanado.

A padronização do trabalho e a realização de aplicações com excelência, não comprometendo a aplicação nem o questionamento sobre a qualidade do lubrificante ou da graxa, são benefícios decorrentes de treinamentos e contribuem para a obtenção de parâmetros importantes para equalizar a qualidade do fornecedor e comparar as marcas.

O fato de poucas empresas focarem neste tipo de capacitação – por ser onerosa – dificulta a formação e a especialização dos lubrificadores. Nilson Fernando Morsch – diretor-executivo da Associação dos Produtores e Importadores de lubrificantes do Brasil (Simepetro) – cita a Lubes Academy como uma das empresas que possuem treinamentos técnicos, comerciais e de gestão para as pessoas que fazem parte desse mercado e sugere: “Necessitamos ter mais espaço para o contato com o segmento industrial com webséries como esta que a ABIMAQ realizou. Somente com informação e ordenação teremos uma indústria mais forte”.

O evento também motivou a realização de uma pesquisa entre os participantes, cujos resultados parciais foram apresentados na última reunião e integralmente serão entregues a todos os respondentes. De acordo com Perez, dois resultados sobressaem: 73% das empresas possuem plano de lubrificação e 46% entendem o risco de contaminação como a dificuldade mais crítica na lubrificação industrial.

Mercado de Lubrificantes

Dificilmente impactado pelas crises, devido à abrangência de aplicações, o mercado de lubrificantes industriais corresponde a cerca de 40% dos produtos manipulados pelas empresas do setor, informa o diretor-executivo da Simepetro –, frisando que os outros 60% são de uso automotivo.

Morsch ao discorrer sobre os números desse mercado, lembrou que as empresas filiadas ao Simepetro representam 27% do total de lubrificantes acabados. No caso dos óleos básicos, 50% são importados e apenas 15% passam pelo rerefino.

Quando o assunto é a lubrificação como coadjuvante para o aumento da vida útil das máquinas e dos equipamentos, alguns aspectos precisam ser considerados. A contaminação do lubrificante, seja por água, seja por outros óleos ou graxas, é ponto sensível. A prevenção é sempre mais indicada e exige análises dos equipamentos e dos lubrificantes; inspeções periódicas para verificar de temperatura, vibração etc., utilização de medidores eletrônicos que conseguem dosar a quantidade exata de lubrificantes nos pontos e fornecer o consumo, atenção à periodicidade e acompanhamento da lubrificação.

Outro instrumento a ser considerado é o Plano de Lubrificação, que favorece todo o processo de lubrificação em equipamentos e máquinas, evitando manutenções imprevistas, reduzindo o número de horas de máquina parada, proporcionando economia de combustíveis e mais horas trabalhadas.

Desafios energético e ambiental – Sustentabilidade é a tendência global e vem sendo atendida com a coleta de embalagem e de óleo usado. Essas atividades, de um modo geral são realizadas pelas próprias empresas e, no caso das representadas pelo Simepetro, em parceria com o Instituto Jogue Limpo, desde 2005, computam a recuperação de 1 bilhão de embalagens nesses 17 anos, totalizando 50 mil toneladas. Já a coleta de óleo usado (Oluc) – de acordo com Morsch – em 2021 recebeu R$ 264 bilhões de investimento da Associação em logística reversa, coletando cerca de 500.000 m³.

Da parte das fabricantes Shell e Vibra Energia, respectivamente representadas por Augusto Fernandes, especialista em Aplicação de Produtos – Mineração Américas, e Leonardo Duda – analista de Desenvolvimento de Produtos Sênior – e Vanessa Manhães – analista de produtos do portfólio Lubrax e responsável pelo segmento de consumo – a pauta incluiu o desafio energético global marcado pela necessidade crescente de energia e de energia cada vez mais limpa, situação em que o lubrificante desempenha importante papel na descarbonização.

Eficiência operacional e energética, produtos e serviços com emissões de carbono menores, redução das emissões de gases de efeito estufa e economia circular foram pontos citados pelos palestrantes. Os caminhos encontrados no que diz respeito às ações voltadas para as próprias empresas são semelhantes, inclusive com relação à contribuição que pode ser dada ao mercado.

Fernandes, por exemplo, destacou o desenvolvimento de fluidos para uso em veículos elétricos a bateria, solução de monitoramento de condições do lubrificante em tempo real, um produto com emissão zero de carbono e lubrificantes biodegradáveis. Listou, ainda, a utilização crescente de componentes reciclados nos frascos plásticos e baldes, de embalagens recondicionadas e da venda a granel de óleos e graxas, que correspondem a “35% das nossas vendas de lubrificantes”.

No caso da Vibra, além de produtos mais amigáveis com o meio ambiente e de atendimento levando em conta caso a caso, foi citado investimento na expansão da fábrica para poder atender a demanda crescente. “Nossa fábrica de Duque de Caxias teve sua capacidade de produção expandida para 500 mil m³ por ano, tornando-a uma das cinco maiores fábricas de lubrificantes do mundo e a maior da América Latina”, comemorou Manhães.

Reforçando a necessidade de investimentos contínuos para obter os melhores resultados, Everton Braga, consultor Técnico da fabricante de lubrificantes especiais Kluber Lubrication, acenou com a necessidade de fazer o lubrificante chegar no lugar certo, na hora exata: “Não basta termos o lubrificante adequado, os equipamentos de apoio – como bombas, propulsoras e equipamentos auxiliares de qualidade – são essenciais para um bom processo de lubrificação”.

Fluido para usinagem – Fabricante de fluidos para usinagem, a Blaser Swisslube trabalha enfatizando o conceito de “ferramenta líquida”, como explicou Alessandro Alcantarilla, diretor-geral da empresa na América do Sul. Nesse segmento, como nos demais, há necessidade de conscientização por parte dos usuários da importância dos produtos, pois, “as empresas investem elevados valores em máquinas de última geração que geram alta produtividade. Porém, muitas vezes, utilizam fluidos de baixa tecnologia que não permitem que todo o potencial das máquinas seja atingido. Produtos com baixa estabilidade ou com baixa aditivação podem comprometer o desempenho final do equipamento adquirido”.

A necessidade de produtos mais amigáveis ao meio ambiente e aos operadores também foi lembrada pelo diretor-geral da Blaser na América do Sul. Produtos de base éster vegetal, obtidos de fontes renováveis são realidade e contribuem com a limpeza das fábricas, por possuírem um ponto de fulgor mais alto, eliminam fumaça e produzem menos névoa.

Aplicações técnicas de lubrificantes

A importância da lubrificação para o bom funcionamento dos rolamentos foi tratada por Anderson Ferreira, da área de Engenharia de Aplicação, Projetos P&D e Vendas da NSK, que enfatizou cuidados a serem tomados com métodos de monitoramento da condição do rolamento e do equipamento, inclusive on-line, subsidiando a tomada de decisão sobre a parada da máquina.

“De nada adianta ter uma ótima ferramenta, e a lubrificação falhar. Desse modo, a melhor técnica de lubrificação depende sempre da aplicação e, para todos os tipos, a recomendação é sempre monitorar o comportamento por meio de técnicas preditivas de manutenção, como análises de vibração, visual, ruido e ferrografia, agregando, no caso de rolamentos lubrificados a óleo, métodos de análise de óleo, umidade, classificação do nível de contaminação. Há usuários que misturam lubrificantes com características diferentes, pensando que terão o lubrificante perfeito, e com isso prejudicam o rolamento”, afirmou o engenheiro sênior da NSK, fundamentando sua certeza em estatística de análise de rolamentos enviados pelos clientes.

Esses componentes são “devolvidos por terem problemas. Do total de rolamentos analisados, 17,3% são sem anormalidades, o cliente tirou porque achou que tinha algum problema; 19,6% falharam por instalação inadequada; e 7,8% por falta de pré-carga. Os outros 55,3% têm relação com problemas originados por contaminação (30,2%), por penetração de água no lubrificante (20,3%) e por falha do lubrificantes (9,8%) com formação de filme, problema que está atrelado com instalação inadequada”, resumiu Ferreira.

O período e o tipo de lubrificação a ser feita nos rolamentos também interferem no desempenho, na produtividade, na economia de energia, entre outros fatores. A orientação para realizar o cálculo da quantidade de lubrificante necessário para a operação e seu período de troca é seguir a recomendação do fabricante do equipamento ou do rolamento.

Everton Braga, em sua apresentação, focou nos resultados obtidos com os lubrificantes especiais, que evitam folga, quebra e irregularidade em máquinas que trabalham em ambientes adversos, como a mineração. Usou como base para sua explanação uma carregadeira que trabalha em mina subterrânea da mineradora AngloGold Ashanti.

“O cenário que encontramos era marcado por desgastes rápidos de componentes – pinos e buchas –, impactando na produção. Para reduzir o desgaste, utilizou-se graxa de cálcio. Biodegradável, ela proporcionou redução de consumo de lubrificantes, impactou a diminuição de quebras prematuras e aumentou a disponibilidade do equipamento”, resumiu Braga, comemorando que hoje “as máquinas da mina do Lamego operam 100% com graxa de cálcio. Com essa alteração também foi registrada extensão da vida útil dos equipamentos por mais de 4.000 horas”.

As técnicas de lubrificação ficaram a cargo de Lucio Capitaneo – engenheiro industrial especializado em soluções do manuseio de lubrificantes da Indústrias da Bozza, fabricante de equipamentos e acessórios para lubrificação, a exemplo de carrinhos, propulsoras pneumáticas, bombas manuais, carretéis, macacos hidráulicos, kits de abastecimento, mangueiras, tampas, compactadores, válvulas, bicos e medidores, além de equipamentos para comboios, postos de serviços e linha industrial. Para ele, “o sangue está para o corpo humano, como o lubrificante está para a máquina”.

Até por esse motivo, Capitaneo crê na inexistência “de uma técnica específica, pois cada equipamento tem seu plano de lubrificação”. Alerta, no entanto, que “a técnica comum a todas as aplicações é evitar ao máximo a contaminação do lubrificante”.

Exemplificando, o engenheiro da Bozza cita o caso de um cliente do setor agrícola e garante: “Lubrificando a colheitadeira com uma propulsora pneumática, ganha 6% de acréscimo no rendimento, 6% de redução no consumo de energia, 30% de aumento de vida útil do equipamento e 56% de redução na manutenção, além de executar a operação com redução de 75% do tempo”.

Caso de sucesso

“Ajudar as empresas a concretizar seu potencial de produtividade, oferecendo soluções inovadoras e estabelecendo com o cliente e funcionários uma relação de longo prazo para contribuir com o desenvolvimento da tecnologia de forma sustentável”. Com essa missão a LubriChemical – de acordo com seu CEO, Alessandro Magnolo – vem obtendo resultados crescentes e construindo casos de sucesso diferenciados, como o apresentado no último webinar da série Lubrificação Industrial.

Envolvendo uma aplicação do produto da empresa em trefilação de alumínio, após explicar o processo de trefilação e apresentar o tipo de óleo utilizado, Magnolo falou sobre o estudo de performance realizado e os ganhos obtidos.

“Os resultados mostram que a mudança de tecnologia melhorou muito o sistema operacional do cliente, que passou a trabalhar com um produto com melhor performance, reduzindo o custo de produção, registrando melhora do equipamento e do ferramental, além de atender as legislações ambientais e trabalhistas, e diminuir o impacto ambiental devido a menor descarte do material em resposta a uma vida útil muito maior”, resume Magnolo, esclarecendo que “o intuito do case foi justamente fazer um trabalho de redução de custo operacional, mantendo como principal foco a otimização do maquinário e do ferramental usados na aplicação”.

Para ele, a lubrificação tem início na correta estocagem dos lubrificantes, “em sala limpa, apropriada e identificada com tags de cores, contentores identificados para nunca misturar”. Envolve, ainda, a utilização de “ferramentas apropriadas na hora da montagem e de EPI adequados, como luvas próprias”. Magnolo recomenda fazer o cálculo correto de quantidade de graxa ou dos lubrificantes seguindo as regras de aplicação que as empresas podem passar em treinamento.