Para as indústrias de máquinas e equipamentos que atuam no fornecimento de soluções de movimentação para áreas portuárias, a percepção é de melhoria no cenário e de gradual reconquista dos indicadores da atividade. E – garantem seus executivos – elas estão prontas para atender demandas de portos públicos e privados. E mais: essas empresas não descontinuaram seus investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento, estando, portanto, em condições de colocar nos portos brasileiros equipamentos de última geração.
Os relatórios dos organismos oficias, como Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) consubstanciam nessa percepção da indústria. O ano de 2017, de acordo com a Agência, registrou 1,086 bilhão de toneladas movimentada nos portos brasileiros, mostrando aumento de 8,3% sobre o ano anterior. Na liderança, está com o Porto de Santos (SP), seguido de Itaguaí (RJ) e Paranaguá (PR). Se o assunto for os portos do Arco Norte – Porto Velho (RO), Miritituba (PA), Santarém (PA) Itacoatiara (AM), Barbacena (PA), Itaqui (MA) – o aumento chega a 80%.
O aumento da movimentação de cargas confirma a percepção de que setor está crescendo
O balanço do setor também foi positivo no que diz respeito a obras. Em 2017, o setor de Portos e Hidrovias mereceu do Estado investimentos próximos a R$ 1,45 bilhão, sendo R$ 963,6 milhões utilizados a conclusão de obras e R$ 478,1 milhões em contratos em execução, de acordo com informações constantes do Caderno de Transportes 2017, publicação editada pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação e divulgada em 14 de março.
Parte do programa Agora, é avançar, as iniciativas geraram resultados definidos como positivos pelo secretário de Política e Integração da Pasta, Herbert Drummond. “O Ministério, mesmo com orçamento 17% inferior ao de 2016, buscou ampliar os padrões de governança, desburocratizar os procedimentos e conceder mais espaço aos investimentos e obras prioritárias. Com isso, as entregas estã acontecendo de maneira mais eficaz”, justifica.
Cenário animador
A reativação do mercado começou a ser percebida no último trimestre que, para máquinas de grande porte (com preços acima de R$ 600 mil), “foi melhor do que os últimos dois anos. O início do ano também está sendo interessante. Por isso, acreditamos em melhora no cenário econômico”, resume César Guerreiro, diretor de vendas de Big Trucks do Grupo Hyster–Yale.
Confiante e otimista, mesmo assim, Guerreiro destaca o hiato existente entre o início dos investimentos e o reflexo nas indústrias de bens de capital para o setor portuário, pois, “como entramos na última etapa do projeto, leva de dois a três anos para efetivamente contabilizarmos o resultado desses investimentos em nossas vendas”.
“A expectativa para este ano é boa. Se nos basearmos neste primeiro trimestre, já temos um crescimento importante, comparado com 2017”, comemora Eliézer Franchi, gerente de Vendas da GH Brasil – empresa especializada na construção de pórticos, pontes e guindastes – ao cobrar investimentos em manutenção e atenção especial ao cumprimento das normas de segurança NR10, NR12.
Alguns resultados foram percebidos também pela TMSA, fornecedora de sistemas mecatrônicos para terminais portuários e de transbordo. “Tivemos um período, de seis a oito meses, com o Governo Temer, quando alguns projetos foram liberados, mas agora o cenário volta a ficar nebuloso devido aos casos Rodrimar e Libra e, também, ao período de eleições que se aproxima. Nesse período de bonança, a TMSA teve competência para fechar bons contratos e entrar nessa nova fase de insegurança com uma carteira de pedidos razoável”, comenta Mathias Elter, diretor-presidente da TMSA.
Porto 4.0
O conceito de conectividade que, entre outros pontos, caracteriza a Indústria 4.0 é premissa atual nos novos equipamentos. Telemetria, em padrões próximos à que monitora os carros da Fórmula 1, também. O objetivo das pesquisas em novas tecnologias é aumentar a eficiência e reduzir os custos operacionais dos portos e terminais logísticos.
O investimento em tecnologia e Pesquisa e Desenvolvimento é permanente. No caso da TMSA, por exemplo, 20% do quadro de funcionários (cerca de 100 pessoas) integra, as áreas de Engenharia e P&D. como frisa Elter, “somos uma empresa de tecnologia. Além de equipe própria, temos acordos com empresas do Exterior”.
A GH, por exemplo, “está em fase final de teste de uma solução onde o equipamento registra tudo que ocorre em seu funcionamento, mandando um relatório para um portal em nuvem, onde o cliente pode identificar alertas de mau uso, erros de operação ou sinais de desgastes, podendo prever uma quebra e antecipando uma manutenção corretiva”, comenta Franchi, resultando que “hoje, a GH está investindo na chamada Indústria 4.0”.
Já a Hyster-Yale está focada em telemetria, que – explica Guerreiro – envolve monitoramento remoto e permite rápida atuação em caso de imprevistos e gerenciamento de frota. Seu mais recente lançamento, uma máquina da família de manipuladores de contêineres vazios, atinge até 20 metros de elevação suportando até 11 toneladas e pode trabalhar até 20 mil horas.
“O sistema de telemetria desenvolvido torna possível ao cliente o gerenciamento de toda sua operação, tendo acesso a informações do tipo: informativos sobre colisões sofridas pelo equipamento, envio de mensagens via SMS e alertas e com base nos dados gerenciados via portal, possibilitando a gestão de parâmetros como produtividade, custos operacionais, manutenções preventivas e certificações dos operadores, informações que são disponibilizadas por meio de um portal altamente customizável e de fácil manuseio”, resume diretor de vendas de Big Trucks.
Preocupação com o humano
Em um universo cada vez mais tecnológico, a preocupação com o elemento humano continua atual. Ou seja, o operador dos equipamentos de movimentação segue merecendo atenção da Engenharia, pois, no caso de áreas portuárias, os ambientes são sempre agressivos. “Hoje, cabine com ar condicionado, cadeira com amortecimento, maior amplitude da visão ergonomia são conceitos presentes em todas as máquinas”, comenta Guerreiro, garantindo que a empresa sempre implementa melhorias em suas máquinas focadas no elemento humano.
Preocupação semelhante também é destacada por empresas que produzem equipamentos de menor porte. Iolanda Tabegna, diretor comercial da Seman – fabricante de manipulador de carga pneumático para o transporte de pequenos volumes, com limitação até 400 kg – vê a ergonomia como ferramenta de aumento da produtividade e destaca a importância no desenvolvimento dos equipamentos do cumprimento de normas regulamentadoras como NR-17, ligada à ergonomia e temperatura ambiente.
Em ambientes agressivos, a preocupação com o elemento humano continua atual e merece investimentos
“No nosso caso, buscamos mecanizar o movimento, via desenvolvimento de projetos adequados à necessidade da carga, que atendam às exigências de otimização de espaço, segurança, redução de avarias de produtos e redução de custos”, explica Tabegna, exemplificando com projeto desenvolvido para Citrosuco S/A Agroindústria: a construção de um conjunto para movimentação do suco de um ponto ao outro na cadeia de logística, até o transporte marítimo, formado por um carro pórtico tipo trolley para viga I, com 4” e 6” e o equipamento balancim rotativo pneumático com capacidade de até 250 Kg, com acionamento servo comando “peso zero”.
Nesse cenário de retomada da atividade, a união entre a eficiência da uma indústria globalizada que respeita as características locais, a preocupação com o ser humano, a criatividade e o permanente investimento em tecnologia avançada e inovação garante resposta rápida e contribui para gerar crescimento da economia.