Atividade altamente interiorizada em todo País e de forte alcance territorial, somando mais de 10 mil empresas formalizadas, o setor de mineração é totalmente dependente de investimentos para manter volumes de produção e cumprir seu papel de fornecedora de suprimentos para diversas cadeias produtivas.
Essa condição leva Walter Batista Alvarenga, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), a definir a atividade como indústria das indústrias. Outra característica elencada por Alvarenga tem relação com a matéria prima da mineração: recursos naturais, que são finitos enquanto jazidas, mas não são finitos quando a abordagem é pelo caminho da remineralização, da reciclagem e de outras formas de reaproveitamento de resíduos. Por tudo isso, “a mineração é uma indústria que estuda e se reinventa para ciclos de vida de produtos. É preciso investimentos em novas rotas tecnológicas, em equipamentos, em logística, na infraestrutura para implantação de uma mina ou uma planta de beneficiamento de minério”, resume.
Tal realidade somada à estabilização do preço das três principais commodities minerais no mercado internacional – minério de ferro na casa dos US$ 60/t, ouro em US$ 1.300/oz e cobre em US$ 6.900/t ¬– está permitindo, para 2018, evolução no índice da Produção Mineral Brasileira (PMB) ao redor de 6%, elevando-se de US$ 32 bilhões, em 2017, para US$ 34 bilhões, neste ano.
Este crescimento – explica o diretor-presidente do Ibram – começa a sinalizar a recuperação econômica de preços e volumes, mas em especial, a recuperação do setor de agregados da construção civil, como areia, saibro, brita, cascalho. Comprova a assertividade da decisão das empresas do setor que, mesmo frente a dificuldades derivadas do cenário mundial e interno, devido à atividade ser de longo prazo – seus ciclos são projetados para entrada de novos projetos de pesquisa e expansão de minas visando ao suprimento de médio a longo prazos – optaram por continuar com seus investimentos, fazendo com que já no final de 2017 fosse percebida leve recuperação econômica setorial.
O momento atual se contrapõe ao período 2012-2016, quando foi vivenciado o auge dos investimentos – da ordem de US$ 75 bilhões – com a realização de grandes projetos de minério de ferro, ouro e cobre, que dificilmente se repetirão até porque, na cotação atual, o preço das commodities remuneram satisfatoriamente as grandes mineradoras. A queda dos investimentos foi gradual e atingiu US$ 18 bilhões, patamar em que deve ser mantido no período 2017-2021, de acordo com o Diagnóstico Mineração no Brasil divulgado pelo Ibram.
Nova realidade
O importante é que, na esteira dessa retomada, a indústria de máquinas e equipamentos também é beneficiada. Além disso, a atual situação, inclusive do preço das commodities no mercado internacional, é tida por muitos empresários que atuam como fornecedores para o setor como mais realista do que a fase anterior, marcada por preços elevados, fruto de demanda aquecida e forte crescimento econômico, em especial dos países asiáticos, com destaque para a China, com PIB que crescia a taxas entre 8 e 10 pontos percentuais por ano.
Kleber Carvalho Guerra, diretor de Mineração, Siderurgia e Energia da TMSA, empresa especialista em movimentação, frisa que o tempo dos greenfield, como o S11D da Vale, em Canaã dos Carajás (PA), acabou. “O atual momento é de projetos brownfield, envolvendo melhorias de qualidade em plantas e aumento de produtividade, que são suficientes para manter a indústria de bens de capital. Após um período de dificuldades, vemos 2018 como o ano da retomada na mineração e esperamos que, mantido o ritmo pelos próximos dois anos, o segmento respirará com possibilidade de mais negócios”.
A diversificação nos minérios explorados, abrindo mais espaço para zinco, cobre e lítio, é tendência apontada por Paulo da Pieve, gerente de Vendas da Aumund. Sua previsão inclui o favorecimento da criação de junior companies e está fundamentada em demandas que estão acontecendo e vão ser intensificadas devido à fabricação de carros elétricos e a busca por fontes de energia limpa. No entanto, para se concretizar depende da definição do marco regulatório e da manutenção da demanda e dos preços praticados.
Concordando com o gerente da Aumund, Alvarenga lista entre os metais, alumínio, bauxita, cobalto, cobre, zinco, ferro, chumbo, lítio, níquel, manganês, metais do Grupo Platina (platina, paládio, ródio, rutênio, irídio e ósmio), além dos metais de terras raras (17 elementos conhecidos como lantanídeos), dentre outros, e garante que, “dentre as potencialidades dos países da América Latina, o Brasil tem grande destaque para esse grupo de minerais”.
Pieve também vê espaço para projetos voltados à indústria de fertilizantes. “O Brasil importa muita matéria prima e, na teoria, até há incentivo, mas devido aos custos de produção no Brasil, as indústrias de fertilizantes preferem importar os minerais e misturar aqui, mas é um mercado que tende a crescer”, prevê o executivo da Aumund, relacionando potássio, fosfato e enxofre como os prioritários.
Mineração 4.0
A agressividade do ambiente de mineração e as condições de trabalho na atividade são temas recorrentes, que vêm merecendo atenção, normas, discussões e, principalmente, investimento em sustentabilidade, segurança, inclusive ambiental e tecnologias capazes de minorar os impactos no meio ambiente e na saúde humana, além da tradicional busca por maior produtividade e redução de custos operacionais.
Implantação por parte das empresas de programas continuados de pesquisa e desenvolvimento pela melhoria de processos, desde a exploração mineral, passando pela lavra, processamento de minérios e expedição final de produtos, monitoramento remoto, uso de big data, equipamentos autônomos e integração, também ganham espaço quando o assunto é a “mina do futuro”.
A tendência de retirar o ser humano de zonas de risco operacional, na mina e na usina (região de processamento do minério), vem levando ao desenvolvimento de equipamentos autônomos, como caminhões, e tornando usuais conceitos como automação, digitalização, comunicação, integração da cadeia de mineração, que estão demandando investimentos dos fabricantes de máquinas e equipamentos com resultados já implantados (vide box).
“É o enquadramento do setor como Mineração 4.0”, reforça o diretor-presidente do Ibram. As projeções são de que esse novo ambiente deverá estar operacional em até cinco anos e exigirá, inclusive, especialização da mão de obra em eletrônica e automação.
Realidade desde já é a demanda crescente do setor por máquinas e equipamentos que proporcionam segurança operacional da planta e das pessoas. Prioritário também é reduzir o uso da água no processo, e novidades vêm sendo apresentadas em processamento na umidade natural, informa Marcelo Motti, vice-presidente do mercado Brasil da Metso Minerals, frisando que esses equipamentos “também reduzem os rejeitos que vão para a barragem, diminuindo dramaticamente o risco ambiental. E, quando o assunto é minério de ferro, essa é a prioridade 1, 2, 3, 4 e 5”.