Construção Pesada cresce no mercado interno e nas exportações

Crescimento, recuperação das vendas, retomada são palavras usuais na indústria de máquinas e equipamentos da linha amarela, no final do primeiro semestre do ano. Mesmo sem os números do período estarem consolidados, o segmento de máquinas para construção vem apontando recuperação, atendendo as projeções realizadas em 2017. Estudos desenvolvidos pela Câmara Setorial de Máquinas Rodoviárias (CSMR) da ABIMAQ mostram que, no primeiro quadrimestre do ano, as vendas quase dobraram em relação ao mesmo período do ano passado.

“Apesar de o resultado do primeiro quadrimestre ser bem maior do que o previsto, a projeção da ABIMAQ ainda é de crescimento no ano em torno de 10%”, comenta Alexandre Bernardes, presidente da CSMR, como consequência, inclusive, do prazo máximo para abertura de licitações, que expirou em junho, por causa das eleições.

Com fechamento do semestre em fase de consolidação, o fundamental é que os sinais de retomada das atividades são reais e resultam, de acordo com Bernardes, de movimentos que vão além das licitações e envolvem alguns setores da economia, como o agronegócio, a indústria e o próprio setor de construção civil.

Silvio Amorim, CEO da Schwing-Stetter Brasil, confirmando essa tendência, afirma que constatou aumento do nível de atividade na construção civil, principalmente na demanda por peças e serviços, “pois as grandes construtoras sempre mantêm dinâmica de manutenção e os equipamentos sempre estão meio prontos para funcionar quando necessário”. A continuar nesse ritmo, a fábrica, que hoje trabalha em um turno, deverá, até meados de 2019, começar a operar em dois turnos.
Na busca de contribuir com essa retomada, a CSMR “vem interagindo com diversos entes governamentais visando a dar maior competitividade às empresas. Em trabalho uníssono com a presidência da ABIMAQ, buscamos linhas de financiamento mais atrativas, abrindo uma discussão acerca das questões tributárias inerentes às montadoras, fomentando o uso de máquinas rodoviárias no meio rural, participando de discussões nas áreas de infraestrutura e competividade brasileira”, comenta o presidente da Câmara Setorial, lembrando que, para crescimento sustentável, investimento é fundamental.

As exportações, principalmente no que tange ao segmento de máquinas pesadas, também influenciam positivamente esses resultados. Dados da ABIMAQ sinalizam que o segmento de máquinas rodoviárias registrou crescimento de mais de 40% entre 2016 e 2017 nas exportações, impulsionando assim o resultado global do setor. No primeiro trimestre deste ano, 36% das exportações de bens de capital do Brasil saíram da área de máquinas rodoviárias.

Projeto Avançar

A posição da indústria mostra que a evolução registrada no período em comparação aos mesmos meses do ano anterior deriva da movimentação do próprio do setor produtivo.

Essa posição é ainda mais interessante e expressiva quando volta-se o olhar para as divulgações pelo Governo sobre os resultados do Projeto Avançar, lançado em 9 de novembro de 2017 e derivação do Crescer, com a pretensão de até o final de 2018, receber investimento ao redor de R$ 130,97 bilhões em 7.439 projetos já em andamento ou com obras paradas nas áreas de energia, infraestrutura, defesa, habitação, mobilidade urbana, saneamento e petróleo e gás.

O último balanço divulgado comemora a manutenção de “um bom ritmo de execução, alcançando, até 31 de março de 2018, a conclusão de 24% do total previsto de projeto, com 74,7% dos empreendimentos em andamento, sendo 44,4% com mais de 80% de execução”.

Entre os motivos citados pela indústria para que os reflexos das ações desse programa ainda não tenham atingido o setor de máquinas e equipamentos estão a morosidade do processo licitatório das obras qualificadas em Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), em organização pelas agências reguladoras, que estão realizando inúmeras audiências públicas. Outros argumentos são relativos ao porte das obras – a grande maioria de pequeno porte – e à ociosidade que vinha sendo registrada no setor de construção como um todo.

Jandrei Goldschmidt, Head of Marketing da Ciber, resume essa opinião ao lembrar que “muitas empresas e construtoras possuíam e ainda possuem grandes volumes de maquinas ociosas e/ou paradas, as quais certamente com aumento da demanda de obras irão prioritariamente colocar este parque de máquinas em trabalho até que demandas maiores e expressivas gerem a necessidade de investimentos em novos equipamentos”.

Alento para o setor produtivo pode estar no reconhecimento do valor desse segmento para o desenvolvimento do País, expresso em declaração do secretário de Desenvolvimento da Infraestrutura do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Hailton Madureira: “A indústria de máquinas e equipamentos tem papel fundamental nos investimentos em infraestrutura e, quanto mais competitiva for, maiores serão os benefícios em termos de soluções inovadoras, tempestividade e custo no provimento de infraestrutura tanto pelo setor privado quanto público”.

As eleições e o desenvolvimento

Por mais otimistas que sejam as previsões, as obras públicas que caminharão são as que conseguiram ser licitadas até junho, prazo máximo permitido em ano eleitoral. Os resultados das eleições também geram apreensão e interferem nas estimativas para o segundo semestre e para 2019.

Matheus Fernandes, gerente Geral da Link-Belt Brasil, define o segundo semestre como uma incógnita, devido às eleições para presidente e o cenário incerto. Mas garante: “Estamos preparados, com um estoque de escavadeiras e peças suficientes para suprir uma demanda maior do que a de 2017”.

Percepção semelhante é expressa por Andrea Zamoly Park, diretora de Assuntos Governamentais e Corporativos da Caterpillar, para quem “os investimentos represados no Brasil serão destravados em breve. O Brasil tem tudo a ser feito, e a Caterpillar está pronta para ajudar os clientes a construir a infraestrutura de que o País precisa para crescer”.

O presidente da CSMR, resumindo a percepção dos seus pares, lembra que as eleições que se avizinham representam “uma fase de mudança, que todos acreditamos seja positiva, de investimentos, que é o que vai gerar um crescimento sustentável para o País. Nossa expectativa é de termos um governo que dará atenção à questão da infraestrutura no País, com necessidade latente de investimento e, portanto, imprescindível para a retomada do crescimento. Somos confiantes de que esse ano de 2018 é o warm up e começaremos 2019 acelerando na primeira volta, visando à retomada definitiva de um segmento de muita importância para o País”.

A confiança de Bernardes também está vinculada à necessidade de obras que estimulem o crescimento de outros setores, como o agronegócio, que se constitui “um dos impulsionadores do setor de linha amarela mesmo durante a crise, um vez que os produtores agrícolas passaram a adquirir cada vez mais maquinário amarelo para utilizar dentro das suas fazendas, como retroescavadeiras, tratores com esteiras e outras máquinas para ajudar na produção e na armazenagem da safra”.

A realização, de forma consistente, das reformas da Previdência e Fiscal é reivindicada por Goldschmidt, como forma de o Governo “mostrar ao mercado que está agindo pra conter gastos públicos, pois a dívida bruta federal do País já compromete 76% do PIB, o que impacta diretamente na disponibilidade por novos investimentos em infraestrutura. Com isto em pauta, certamente o Brasil volta a crescer mais intensamente em 2019”.

Luciano Rocha, gerente geral de Vendas e Marketing da Komatsu, ao afirmar que as obras do Projeto Avançar “foram importantes para o setor de obras em áreas urbanas, mas não contempla as de grande porte”, fala de sua confiança com relação ao futuro: “A demanda por projetos de infraestrutura é latente e está reprimida. Por isso, temos a certeza de que serão mais fortes na próxima gestão, até para aumentar a eficiência do País”.

A grande expectativa, na visão do presidente da Câmara Setorial, é de que logo venha um amplo projeto de manutenção de rodovias e ferrovias, melhorado a logística de escoamento da produção agrícola, com reflexos positivos na atividade de todos os setores produtivos da economia nacional.