No setor industrial, gera redução na conta de energia e amplia indicadores de sustentabilidade
O crescimento exponencial da produção e da utilização de energia solar fotovoltaica tem como fundamento a sustentabilidade e a redução do custo da conta de energia. Com a entrada em vigor em 1º de janeiro de 2021 do preço horário para comercialização de energia elétrica, os benefícios crescem, porque a energia solar é gerada durante o dia, no período em que a tarifa é mais cara.
Outro motivo que vem levando ao crescimento do setor – em 2020, a capacidade instalada saltou de 4,6 gigawatts (GW) para 7,5 GW, sendo 2,2 GW creditados à geração distribuída – tem relação com a queda dos juros, que estimula o investimento além do mercado financeiro.
Balanço referente a 2020 divulgado pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) mostra que o segmento atraiu mais de R$ 13 bilhões em investimentos no último ano, incluindo as grandes usinas e os sistemas de geração em telhados, fachadas e pequenos terrenos, representando crescimento de 52% em relação aos investimentos acumulados no País desde 2012.
Além disso, a pandemia do novo coronavírus levou micro, pequenas e médias indústrias a se voltarem à redução dos custos, implantando, entre outras coisas, uma política de energia semelhante à praticada pelas grandes empresas.
Em um cenário em que a indústria é responsável por cerca de 40% da energia consumida anualmente no País (450 mil GWh) e em que este insumo chega a responder por até 50% dos custos industriais, otimizar a fatura com a concessionária é muito mais do que um bom negócio.
Como afirma Guilherme Susteras, coordenador do Grupo de Trabalho de Geração Distribuída da Absolar, o ambiente industrial vem sendo “muito afetado pela sustentabilidade devido a exigências de mercado e de acionistas, principalmente às exportadoras, pois globalmente, seja investidor, seja cliente, há uma consciência de sustentabilidade que está chegando até por regulação”.
O estímulo do mercado regulado
“A energia solar fotovoltaica reduz o custo de energia elétrica da população, aumenta a competitividade das empresas e desafoga o orçamento do poder público, beneficiando pequenos, médios e grandes consumidores do País. O setor solar fotovoltaico trabalha para acelerar a expansão renovável da matriz elétrica brasileira, a preços competitivos. Somos a fonte renovável mais barata do Brasil e ajudaremos o País a crescer com cada vez mais competitividade e sustentabilidade”, aponta o CEO da Absolar, Rodrigo Sauaia.
As possibilidades de geração distribuída reguladas pelas resoluções vigentes, contribuíram para o desenvolvimento do setor fotovoltaico e, na opinião de Ricardo Nakamura, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Siemens – que atua no setor fotovoltaico brasileiro desde 2015, com inversores para geração centralizada e distribuída –, combina-se a grandes empreendimentos no Ambiente de Contratação Livre (ACL) e viabilizam instalações internas ou usinas remotas para fornecimento de créditos a consumidores industriais e comerciais.
Nesse ambiente, “indústrias em geral devem estudar previamente pela sua classe de consumo e, por seu porte, definir qual modalidade atende suas necessidades. Seja um contrato de mercado livre ou um empreendimento de geração distribuída”, destaca Nakamura, recomendando a realização de estudos “para que a fonte solar contribua com demais demandas e fornecimentos energéticos existentes de forma coordenada, desenhando assim um verdadeiro mix de energia”.
Mercado crescente
Decorrência natural do mercado regulado e do fato de a energia produzida pela fonte solar ser, em muitos países, a mais barata disponível,o aumento da demanda gerou oportunidades de negócios para as empresas, ampliou os volumes de produção e reduziu o preço dos equipamentos.
A atração exercida por esse segmento conduziu à criação de muitas empresas e levou algumas a agregarem à atividade, afinal, a capacidade instalada de energia fotovoltaica, seja distribuída, seja centralizada, situa-se ao redor de 3% da matriz energética, com estimativas de que cerca de 5% da capacidade instalada é de propriedade do setor industrial.
Exemplo é a Flex, empresa com 100 unidades de fabricação em 30 países, que oferece ampla cadeia de suprimentos e rede de distribuição em todo o mundo e que também atua no segmento com sua subsidiária Nextracker. A Flex, desde 2015 fornece rastreadores solares, sendo que os painéis solares entraram no portfólio dois anos depois.
Como informa Nelson Falcão, diretor sênior de Desenvolvimento de Negócios da Nextracker, de 2017 até o presente momento, “foram produzidos 1,6 milhões de painéis, equivalentes à aproximadamente 560 MW. Além disso, hoje, a maior planta solar em operação no País, Pirapora (SP), teve os módulos e os rastreadores produzidos pela Flex”.
A Romagnoli também está entre as indústrias que agregaram atividades relacionadas à energia solar a seu portfólio. Com 58 anos de atividade voltada à proteção de rede elétrica, faturamento próximo a R$ 1 bilhão por ano e 2.800 funcionários, em 2011, durante a construção da Arena Pernambuco, assumiu o fornecimento da estrutura de solda para sustentação das placas de captação do sistema fotovoltaico. O crescimento do mercado a partir de então estimulou sua Diretoria a investir forte nessas estruturas e em soluções como o skid solar, um subsistema unitário móvel com um transformador de média tensão, uma cabine de média tensão e um painel de baixa tensão para proteção dos inversores, montado sob medida e sob demanda, que sai de fábrica pronto e testado, informa Ricardo Bomfim Segura, diretor Comercial Nacional da empresa.
A Fronius do Brasil – subsidiária da empresa austríaca, criada em 2003 –, quando da regulamentação do setor energético em 2012, inseriu-se nesse mercado com inversor de frequência e, de lá para cá, só expandiu sua atuação.
Como lembra Alexandre Borin, gerente comercial da unidade de negócios Solar Energy da Fronius, “vendemos um componente que é o cérebro do sistema e que tem retorno do investimento pela economia que proporciona, podendo, de acordo com a concessionária, gerar redução de até 85% na conta de energia e se pagar em três anos, isso porque a eficiência do inversor se aproxima de 99% e permite gerenciar cargas”.
O desenvolvimento desse mercado nos últimos anos também é creditado por Borin à maior eficiência das placas de captação, que evoluiu de 15% para 25%, possibilitando que no mesmo espaço físico seja gerada cada vez mais energia.
Fundada em 2013 e desde 2015 operando como subsidiária independente da Flex, a Nextracker fornece estruturas de suporte com seguidores para plantas fotovoltaicas. Falcão informa que essas estruturas “são capazes de aumentar a produção de energia de uma planta de geração solar em até 25% comparado com as fixas”.
A atividade dessa indústria – conta Falcão – é complementada pela Flex, que “oferece os serviços de manufatura e reciclagem de módulos solares, possuindo hoje operação com capacidade de produção de 360MW/ano, além de possuir estrutura dedicada de aproveitamento circular de produtos eletroeletrônicos, dedicando-se, inclusive, a atender a demanda por destinação adequada aos módulos retirados de operação ou descartados durante o processo de produção”.
Opções de investimento
Friedrich Pfeifer Koelln, diretor executivo da ERB Energia Regenerativa Brasil, lembra que um dos caminhos para a indústria se beneficiar do uso da energia solar fotovoltaica é buscar investidor no mercado disposto a “colocar a usina em pé e receber o retorno do total investido entre 5 e 10 anos”. Como exemplo, cita o Grupo SKA, que investiu cerca de R$ 20 milhões na construção de quatro usinas que, juntas, gerarão mais de 7 milhões de kWh/ano e possibilitarão a compensação do consumo de energia de 168 das 465 farmácias Panvel, pertencentes ao Grupo Dimed.
Neste projeto, cabe à ERB o comando executivo da implantação e a operação e manutenção das instalações de quatro unidades. Até final de 2020, três usinas entraram em operação: Arno I, Arno II e Arno IV, instaladas, respectivamente, em Mondaí (SC), Montenegro (RS) e Rosário do Sul (RS). Arno III, em Santo Antônio do Sudoeste (PR), começa a operar até fevereiro de 2021. A produção energética desta última unidade será entregue para a distribuidora de energia a fim de compensar o consumo de energia de 44 lojas Panvel naquele Estado.
Siegfried Koelln, CEO do Grupo SKA, explica que a iniciativa surgiu em decorrência de entenderem esse investimento “nas usinas como um passo importante para ressaltar a missão de tornar a indústria como um todo mais sustentável, gerando e fomentando o desenvolvimento da economia através da geração de energia limpa e renovável”.
O diretor executivo da ERB sinaliza também a possibilidade de o consumidor industrial, tanto no mercado cativo através da Geração Distribuída quanto no mercado livre de energia, escolher adquirir energia oriunda de fontes renováveis, como a solar. “A geração distribuída se adequa também para o setor industrial, em especial em usinas em consumo local, ou seja, junto à carga de consumo, seja através de uma usina no telhado da indústria ou em terreno contíguo”.
As possibilidades crescentes com contratos as a service são lembradas por Nakamura que acredita na expansão desse modelo de negócios “para alavancar ainda mais o crescimento da fonte solar fotovoltaica no setor industrial, pois não arcam com os custos de uma instalação, seja local ou remota, colhendo somente os benefícios e remunerando uma empresa que detém os ativos para ela”.
Outro caminho para adesão ao sistema fotovoltaico passou a ser oferecido em dezembro pela Insole, uma empresa especializada em projetos de energia solar que, em dezembro de 2020, migrou para uma clean-fintech. O objetivo é somar à oferta de financiamento de placas solares “uma proposta de relacionamento de longo prazo, por meio do qual a empresa durante o financiamento oferece outros serviços e produtos, sem qualquer custo ou investimento por parte do cliente mediante a portabilidade da conta de luz”, afirma Ananias Gomes, presidente da Insole, acenando com a possibilidade de redução de até 50% e custo zero para o consumidor.
Para aumentar os investimentos no setor produtivo local – reivindica Falcão – “seria necessária uma política focada no setor, contemplando uma isonomia fiscal para os produtores instalados no Brasil, assim como regulamentação dos bancos de fomento nacionais para financiar somente equipamentos fabricados no País”. Explicando sua solicitação, o diretor sênior de Desenvolvimento de Negócios da Nextracker, fala sobre a concentração da produção de equipamentos solares fotovoltaicos na China, fato que, “durante a pandemia, colocou em risco todo o setor. É importante desenvolvermos a indústria local, com uma política industrial coesa e focada na isonomia fiscal”.
Perspectivas
Pela análise da Absolar, serão adicionados mais de 4,9 gigawatts (GW) de potência instalada, somando as usinas de grande porte e os sistemas distribuídos em telhados, fachadas e pequenos terrenos. Isso representará um crescimento de mais de 68% sobre a capacidade instalada atual do País.
Na Nextracker, a previsão para 2021 é superar em muito o crescimento de 2020, com a retomada prevista da economia, garante seu diretor sênior de Desenvolvimento de Negócios, o que, considerando os resultados computados até outubro de 2020, é significativo: no período, a fonte solar cresceu 47% em relação ao ano anterior e apesar da pandemia.
O diretor Comercial Nacional da Romagnoli, citando as realizações na área de energia solar fotovoltaica, cita a injeção de R$ 5 milhões para construção de uma área de mais de 2 mil metros quadrados direcionada à produção de skid solar. “Essa subestação unitária foi criada em 2019, essa solução já vendeu 250 MW em 2020, e a nossa meta é comercializar 1 GW em 2021”, prevê Segura, frisando que a empresa segue investindo forte nas estruturas para suporte de placas, tanto no solo quanto no telhado.
Presente em usinas solares de grande porte, a WEG também fornece solução completa para a geração de energia solar distribuída: kit com módulos, inversor, estrutura metálica e cabos, além da instalação via rede de integradores habilitados.
A empresa entrou no segmento em 2011, comemora a grande aceleração registrada no período de 2018 a 2020 e confia que, neste ano, o mercado seguirá ascendente, confirma Paulo Roberto Krüger, diretor de vendas de energia solar distribuída da WEG.
A tecnologia – garante Krüger –, que também evolui rapidamente, sinaliza “com módulos mais estabilizados, o que aumenta a eficiência ano a ano. A grande novidade está nos inversores que agora se comunicam com baterias, pois a utilização em conjunto dessas duas soluções permite que o usuário não dependa da rede elétrica”.