Cumprir metas é possível, e crescer também

Corroborando a posição das Câmaras Setoriais, as empresas entrevistadas pela revista Máquinas & Equipamentos são um exemplo da força de um setor que segue trabalhando, investindo, superando-se e acreditando. Há perdas, naturalmente, mas que foram minimizadas pela agilidade na tomada de decisão, pela busca de novos mercados, pelo desenvolvimento e aperfeiçoamento de produtos e por alterações nas linhas de produção, entre outras ações.

Com 95% de sua produção focada no mercado interno, a Multivac, por exemplo, neste ano, após parar dois meses no início da pandemia, “para os clientes organizarem as próprias atividades, crescerá aproximadamente 30%, atingindo a meta prevista”, atesta Michael Teschner, diretor-presidente dessa fabricante de soluções de embalagens integradas, principalmente para alimentos frescos, como carnes, queijos e frios.

Isso também será viabilizado em resposta à expansão do fracionamento de alimentos pela própria indústria para o varejo, principalmente para supermercados, o que compensou a redução no mercado de food service e restaurantes. A adoção dessa prática no Brasil acompanha tendência de outros países, explica Teschner, mas foi acelerada em função da pandemia.
Já a Prefor Indústria de Máquinas, neste ano, foi impactada basicamente no que diz respeito a prospecções de clientes pelos vendedores e representantes, que exigiu criatividade para apresentar a empresa e suas soluções. Fluxo de caixa e reorganização dos turnos para a manutenção da produção também mereceram atenção especial.

O importante, como explica Sha Moser, titular da área de Marketing da Perfor, é a empresa ter o setor alimentício como principal mercado, cujo aumento de demanda interna amplificou a procura por agilidade na produção.

Desse modo, “as vendas do primeiro trimestre compensaram o segundo, que teve leve queda comparado ao mesmo período do ano passado. Com a retomada das atividades e das viagens e visitas, estamos mantendo as metas dentro do proposto, e a tendência é de que mais vendas sejam concretizadas até o final deste ano”, frisa Moser.

O caminho percorrido pela Delgo Metalúrgica (fabricante de selos metálicos que substituem tampas convencionais) difere dessas empresas. A participação em reuniões da CSMIAFRI alertou-a sobre a possibilidade de exportar e a necessidade de preparar a empresa para isso. “Com programas de treinamento apoiados pela ABIMAQ, tivemos acesso ao conhecimento e decidimos investir na estrutura interna para trabalhar o mercado externo. Em resposta a esses investimentos, em 2020, exportamos para o Uruguai e, até o final do ano, faremos uma exportação para a Colômbia”, informa seu diretor, Fernando Dias Gomes, comemorando que “no primeiro semestre, tivemos crescimento nominal de vendas da ordem de 5%. Para o ano, estimamos um crescimento nominal de 7%, resultados bem melhores em comparação aos de 2019”.

Consumo de tecnologia

O mercado aquecido na área de alimentos e o foco no planejamento mantém empresas como a Mayekawa do Brasil sem impactos negativos, com previsões de que a ascendência no mercado mantenha-se em 2021 e que os planos postergados concretizem-se no ano que vem, crê Silvio Guglielmoni, diretor Comercial da empresa, em resposta ao fato de o mercado de refrigeração, assim como outros, ter adaptado-se à nova realidade com ganhos.

“O departamento de Serviços caminhou próspero neste período. Vendas de Peças e Assistência Técnica surpreenderam, devido aos clientes continuarem produzindo para atender as demandas de consumo. Concomitantemente a isso, a pandemia reforçou a gestão de monitoramento remoto on-line durante 24 horas, todos os dias da semana”, contata o diretor da Mayerkawa.

Essa percepção de aceleração do uso de automação é confirmada por Carlos Urbano, diretor de Industrial Automation da Schneider Electric Brasil, ao garantir que, a empresa, em consequência do comportamento do mercado, está próxima de “dobrar a participação no segmento alimentício”.

“Para a automação industrial da Schneider não há crise ou dificuldade”, atesta Urbano, uma vez que “a pandemia favoreceu e acelerou investimentos represados e mudou a forma de interação com os clientes: as reuniões virtuais nos fazem chegar mais rápido aos clientes, porque, como não existe deslocamento, há mais tempo para se conectar a diversos níveis nas empresas“.

Expansão do pós-venda

Em algumas empresas, as atividades de pós-venda deslancharam após o início da pandemia e, em parte, compensaram a desaceleração nas vendas de máquinas novas. A Serac integra esse conjunto, pois viu a vendas para peças, serviços e reformas manter-se dentro das projeções, e até crescer. A expectativa de que 2021 seja melhor é mantida pela retomada na demanda de estudos e orçamentos novos e daqueles que foram postergados no primeiro semestre.

“Nossos clientes mantiveram os equipamentos com a manutenção em dia. Outros partiram para a flexibilização de seu mix de produção de forma a produzir mais produtos no mesmo equipamento, o que também impulsionou o nosso negócio de peças e serviços”, reforça Holien Silva Júnior, gerente geral da Serac no Brasil.

Situação semelhante também está sendo vivenciada pela Pioneira, que, como atesta Régis de Siqueira, diretor da empresa, viu-se premido a alterar a estratégia junto aos clientes e, assim, no segundo semestre, obteve “aumento de 60%, na comercialização de peças e na reforma de equipamentos, compensando a queda, nos primeiros seis meses do ano, de 60% no volume de varredeiras mecânicas de grande e pequeno porte, capinadeiras mecânicas, entre outras máquinas novas comercializadas”.

A readequação do rumo permitirá à empresa, que “fechou positivo no primeiro semestre, registrar faturamento no ano 30% abaixo do obtido em 2019”, informa Siqueira, para quem a atividade “retomará lentamente, possibilitando recuperação em dois anos”.

Na esteira do agro

Desaceleração em março, forte redução de atividades em abril, recuperação total a partir de maio, com vendas recordes em toda América Latina e desempenho muito acima do planejado neste segundo semestre. Essa pode ser a descrição do ano de 2020 para a Husqvarna e reflete os setores de manutenção de áreas verdes e manejo florestal, que estão se desenvolvendo “positivamente de maneira muito forte”, sintetiza Mauro Favero, vice-presidente de Vendas e Serviços da Husqvarna na América Latina, empresa que exporta 50% de sua produção de motosserras e roçadeiras para América Latina, EUA, Europa e Ásia.

Para a Case IH, 2020 foi o ano de maior número de lançamentos de sua história no Brasil. No entanto, as dificuldades de seus revendedores levarem o produto para demonstração e mesmo de atenderem os clientes de forma presencial, levou-a a lançar no dia 4 de novembro, após cinco meses de desenvolvimento, um showroom virtual da marca, o Case IH Virtual Experience.

Essa plataforma 3D nasce “para que o produtor rural consiga obter informações sobre as colheitadeiras de forma rápida e precisa”, comemora Eduardo Penha, diretor de Marketing Comercial da Case IH, informando que “a rápida adaptação ao cenário de mudanças provocado pela pandemia da Covid-19 em 2020, que gerou novos hábitos de consumo de informação, estimulou o desenvolvimento de uma ferramenta inovadora e pioneira para promoção das novas colheitadeiras”. A intenção é em 2021 incluir os demais produtos.

No grupo CNH Industrial, a performance da Case IH estende-se às outras marcas (New Holland e Iveco) e linhas de produto do grupo. Thiago Wrubleski, diretor de Planejamento e Serviços Comerciais da CNH Industrial para a América do Sul assim resume o desempenho do grupo: “A demanda por equipamentos rodoviários extrapesados cresceu no fim da safra de grãos, em março. Os veículos leves sofreram um pouco por conta do varejo nos grandes centros, mas, com a retomada do comércio, entrou em recuperação. O mercado agro poderia ter apresentado melhores resultados, mas continua com demanda aquecida por equipamentos, permitindo retomada em V, voltando a patamares muito interessantes em maio e junho, seja para renovação ou ampliação de frota. Construção Civil segue demonstrado sua força por fatores diversos, mas também puxada pelo segmento agrícola. Mineração, estável, pode melhorar por conta do dólar. O mercado de aluguel de máquinas, de certa forma, tornou-se mais evidente, devido também à própria incerteza com relação ao futuro e à volatilidade do mercado”.

Em números, isso significa que o grupo CNH Industrial, em 2020, encontra-se “estabilizado frente a 2019, sem crescimento real”, reconhece o diretor do grupo, reafirmando que planos de lançamentos e de investimentos seguem inalterados, inclusive em 2021, que “deve continuar proporcionando espaço para crescimento de até dois dígitos nos diversos segmentos, dependendo apenas de sabermos a pauta do governo em máquinas rodoviárias”.

Crescimento em 2020 é comemorado pela Jacto, fabricante brasileira de equipamentos para a agricultura, presente em 108 países. A meta é fechar o ano com faturamento cerca de 15% acima do computado em 2019.

Esse resultado será fruto de um ano movimentado. Após parar a fábrica por 20 dias, em maio a Jacto realizou uma feira digital para “atendermos nossos clientes, mesmo que de forma remota. Também mantivemos as condições promocionais previstas para as feiras presenciais de que participaríamos este ano, facilitando o acesso dos produtores a novos produtos, novas tecnologias e novos maquinários. Desenvolvemos ações digitais com suporte dos especialistas e equipe comercial para atendermos nossos clientes e quem estava procurando atualizações de máquinas não só no Brasil, como no Paraguai e México”, relata Wanderson Tosta, diretor de Marketing.