Na autonomia total, a próxima etapa
A capacitação técnica das empresas e dos profissionais brasileiros em Petróleo e Gás é mundialmente reconhecida, principalmente em offshore, em águas profundas e, agora, no Pré-Sal, que situará o País entre os cinco maiores produtores de petróleo do mundo. Mas tecnologia é sempre evolutiva, e isso vale também para este setor. Investimentos maciços continuam sendo direcionados a inovações, que buscam eliminar a necessidade da presença humana em atividades mais perigosas e até mesmo na operação de plataformas.
Com o advento da Indústria 4.0 e a transformação digital, alguns conceitos foram absorvidos, mas há quem afirme que a alta tecnologia aplicada em prospecção, extração e produção comprova que está é uma indústria que nasceu 4.0 e que, neste momento, no Brasil, ganha força em decorrência do debate sobre energia em geral, que inclui gestão energética. “O Brasil é um país muito importante no setor de Óleo e Gás, e a transformação digital é tão importante no Brasil que tem uma população crescente com o aumento da demanda de energia. Operando dentro de um cenário digital que evolui rapidamente, a indústria de energia no Brasil está à beira de sua maior transformação em décadas”, define Susan Peterson, Digital Lead de Energy Industries da ABB.
Imprescindível para a sobrevivência, a transformação digital – na visão da executiva da ABB – não decorre do cenário digital atual, mas “trata dos principais desafios do setor da indústria durante esse período de transformação da energia. Tem a ver também sobre como nós, como indústria, re-imaginamos pessoas, processos e tecnologia. Essa transformação, e mais especificamente um direcionamento em direção às operações autônomas, dá-nos uma grande oportunidade para, de maneira positiva, beneficiar a segurança e empoderar os colegas no campo, reestruturando equipes e o tempo gasto em resolver processos críticos e desafios operacionais. Com a tecnologia atuando nas atividades repetitivas, as equipes podem focar no que é mais importante”.
“O Brasil é um país muito importante no setor de Óleo e Gás, e a transformação digital é tão importante no Brasil que tem uma população crescente com o aumento da demanda de energia. Operando dentro de um cenário digital que evolui rapidamente, a indústria de energia no Brasil está à beira de sua maior transformação em décadas”
Susan Peterson, Digital Lead de Energy Industries da ABB
A transformação digital é a evolução natural e necessária do setor de Óleo e Gás, concorda Christian Schöck – CEO da Siemens Oil & Gas Brasil – reconhecendo, no entanto, que “a implantação da tecnologia disponível ainda caminha mais vagarosamente do que avança”. Sua expectativa é de que, em função da visibilidade para o assunto, dos casos de sucesso existentes e especialmente dos benefícios da Indústria 4.0, “as empresas tomem passos mais arrojados em direção à digitalização”.
Essa perspectiva de Schöck tem como base a atuação da empresa que – garante – “tem promovido frequentes inovações e desenvolvido soluções customizadas para cada projeto de parceiros Siemens no campo digital, com ganhos esperados em CAPEX e OPEX, além de casos reais em operação para completo entendimento de nossas soluções, afinal, no mercado de Óleo e Gás a eficiência é chave, e por isso a transição para Industria 4.0 é fundamental”.
O estágio de desenvolvimento e de aplicação das tecnologias disponíveis, contudo, não é homogêneo. O CEO da Siemens Oil & Gas Brasil, por exemplo, entende que cada empresa possui um perfil de inovação e resume o cenário ao afirmar: “Vemos parceiros e clientes em diferentes estágios de evolução em direção à digitalização. Vemos casos de operações em plantas que possuem registro de pouquíssimos dados, ou de monitoramento manual de parâmetros, sem analisar a questão de cyber security. Mas, a grande maioria das empresas já definiu seu caminho em digitalização. Em alguns casos, os passos são maiores e em outros, menores e mais conservadores. Os benefícios são reconhecidos, e por isso, a migração para a digitalização dos processos e controles está em progresso”.
Energia em transição
Na visão de Peterson, a evolução de que a indústria trata hoje tem relação com o data driven, que usa a análise de dados para direcionar o planejamento e a tomada de decisões, com vistas a entregar respostas mais precisas e confiáveis por meio de dados. “Data é como um novo material bruto, ajudando a converter insights para melhorar os negócios, melhorar o gerenciamento de risco e evitar problemas. Com uma transição da energia a caminho, há um crescente uso dos dados para melhorar, expandir e modernizar indústrias existentes, assim como mercados em crescimento em indústrias mais novas. Como nós geramos, distribuímos e vendemos energia para os usuários, também gerenciamos a demanda que está mudando”, reforça.
Lembrando que Industria 4.0 é tema em evidência, mas que não começou recentemente. – “a Siemens conectou e monitorou uma planta de geração de energia em 1977” – Schöck agrega aos avanços recentes aceleradores da digitalização – em software, aplicativos, inteligência artificial, analytics e digital twins – o transporte e o processamento de dados. “Hoje em dia, essa capacidade avança mais rápido do que a indústria de Óleo e Gás a aplica. Há, portanto, necessidade de reduzir o gap entre as soluções de automação e digitalização que são realmente implantadas e a tecnologia disponível”, comunica o CEO da Siemens Oil & Gas Brasil.
A Digital Lead da ABB agrega a esse quadro, no caso específico do Brasil, a aplicação de tecnologias bem-sucedidas em outros lugares e comenta a importância da digitalização no equacionamento de problemas gerados pela mudança de geração na força de trabalho e falta de pessoas especializadas para a indústria. “O futuro da força de trabalho em óleo e gás precisará dar suporte à indústria digital de óleo e gás, com um equilíbrio de engenheiros e cientistas de dados, treinamento e estratégias para atrair uma geração de força de trabalho focada nas novas tecnologias”, prevê.
“Se nós pensarmos sobre isso em uma escala de um a cinco, a autonomia da indústria de óleo e gás está alcançando o estágio quatro, onde sistemas têm total controle e aprendem sobre ações passadas. Muitas tecnologias, incluindo manutenção preditiva, robótica e drones, digital twins e inteligência artificial, foram necessárias para alcançar esse estágio”, comemora Peterson, alertando que atingir o estágio 5, que corresponde ao totalmente autônomo em todas as situações, não é simples: “A segurança para nossa indústria está sempre à frente. Olhamos para o risco de segurança associado a operações específicas, e as variáveis nos processos são fatores importantes. Uma gestão de obstáculo efetiva é crucial, com operações com desempenho da gestão, assim como dashboards dos sistemas de segurança, para trazer visibilidade dos riscos em segurança em tempo real”.
Nesse sentido, a transformação digital vai além de uma mudança tecnológica e se torna “evolução conduzida pelos negócios, transformando todos os aspectos de um modelo operacional ao usar a tecnologia digital efetivamente, e afetando tudo relacionado desde a estrutura e cultura internas até parceiros externos e a cadeia de fornecimento”, estima Peterson, afirmando que “neste momento, muitos clientes industriais não têm acesso à energia que precisam para permitir seu crescimento. Podemos – a ABB – ser um facilitador para esse acesso, auxiliando o desenvolvimento da infraestrutura que irá ajudar a alimentar a economia do Brasil”.
A tendência, para o executivo da Siemens, está no modelo de comercialização, que ultrapassa o conceito de customização e vem sendo aplicado pela empresa junto a seus clientes que não mais “precisam adquirir, operar e manter os ativos. Nesse aspecto, entregamos energia e utilidades como serviços (“as a Service”), com a Siemens sendo a detentora dos ativos e a responsável pela operação e pela manutenção. Estabelecemos um contrato de fornecimento dessa energia e/ou utilidade com garantia de altíssima disponibilidade. Isso permite aos nossos clientes uma melhoria no dispêndio de caixa, melhorar sua eficiência e focar em seu business principal, tendo respaldo da Siemens para atender sua demanda por longo prazo. São modelos BOO, BOOT e similares, em funcionamento em plantas de geração de energia remota em cidades como Coari (AM) e São João da Barra (RJ), por exemplo, e que podem ser estendidos ao mercado de Óleo & Gás de maneira distinta e inovadora”, promete.
Na expectativa
E esses benefícios proporcionados pela digitalização tornam os valores estimados para o mercado global de tecnologia digital para campos de petróleo extremamente atraentes. Avaliação da Prescient & Strategic Intelligence Private Limited (conhecida como P&S Market Research Private Limited) para o horizonte 2013-2023 é de que, nos próximos cinco anos, os investimentos nessa atividade devem alcançar cerca de US$ 34,8 bilhões, contra US$ 26,5 bilhões injetados em 2017.
No setor industrial brasileiro, muitas empresas estão prontas para usufruir desses investimentos. Uma delas é a Vulkan do Brasil que, segundo seu presidente – Klaus F. Hepp – entende a transformação digital como movimento “irreversível, que está acontecendo e vai afetar todos os setores”.
“A dinâmica aumenta cada dia mais”, enfatiza Hepp, informando que a posição da empresa é a de “desenvolver e fabricar solução de acionamento para todas as etapas envolvidas na cadeia de processo de petróleo e gás – desde a extração até o transporte, ou processos posteriores. Trabalhamos em parceria, desenvolvendo as soluções segundo especificações dos clientes. São mais de 200 produtos e soluções completas em acoplamentos para embarcações e plataformas, flexíveis, altamente flexíveis e rígidos, sistemas de freios para ventiladores, sopradores e sistemas de elevação, entre outros”.
Confiante com a retomada de investimentos da Petrobras e a entrada de novos atores, Hepp entende que o setor petrolífero tende a acelerar o processo de digitalização e afirma: “Estamos prontos para acompanharmos a digitalização do setor industrial como um todo e do de Petróleo e Gás em especial, com tecnologia de ponta e produtos desenvolvidos e fabricados no Brasil, uma vez que, há cinco anos, a divisão Vulkan Drive Tech brasileira é Centro de Competência Global por parte do nosso grupo internacional de origem alemã, contando com centro de testes para novos produtos e aplicações”.