Juntos, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina somam área ao redor de 576 774 km², o correspondente a 7% do território nacional, e população próxima a 30 milhões de habitantes (pouco mais de 14% da população estimada para o Brasil para 2018). Quando o assunto é Produto Interno Bruto (PIB), em 2015, produziram mais de 16,8% do total e, em 2016, os dados de 2016 divulgados em 16 de novembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que esses Estados ocupam respectivamente quarta, quinta e sétima posição no PIB nacional, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (PR e RS) e Bahia, no caso de Santa Catarina.
Quando o assunto é indústria, em número de trabalhadores e volume de produção, é a segunda região brasileira, com características diferenciadas, como a presença de indústrias próximas às áreas produtoras de matérias-primas; predomínio de estabelecimentos industriais de médio e pequeno porte em quase todo o interior da região; e predomínio de indústrias de transformação dos produtos da agricultura e da pecuária, assim como dos segmentos moveleiro, têxtil, petrolífero, automobilístico, de transportes, implementos rodoviários e agrícolas, metalomecânico, equipamentos para frigoríficos, plásticos e embalagens, bebidas, softwares e biotecnologia. O interessante é que as atividades concentram-se em áreas físicas específicas, criando polos por atividade econômica.
Com todas essas peculiaridades e pujança, a região é tradicional exportadora, respondendo, segundo o portal SiscomEx (Portal Único de Comércio Exterior), por cerca de 20% do total nacional, além de manter a balança comercial favorável.
Realidades e resultados
Guardadas as peculiaridades de cada Estado, a atividade industrial tem papel significativo na arrecadação dos pares da Região Sul.
André Nunes de Nunes, economista-chefe do Sistema FIERGS – Unidade de Estudos Econômicos, detalhando a matriz do ICMS daquele Estado – que, em 2017, respondeu por R$ 31,9 bilhões, o correspondente a 83% da arrecadação gaúcha – informa que “a Indústria de Transformação representa 46,6% do total (R$ 14,7 bilhões), seguida pelo Comércio (28,4%; R$ 8,9 bilhões) e Eletricidade e Gás (11%; R$ 3,5 bilhões). Ou seja, o papel da indústria é fundamental, por ser o setor da economia que mais agrega valor. Além disso, ao longo dos últimos anos, tem ganhado mais importância com a utilização extensiva da substituição tributária”.
Levando em consideração a participação no PIB, Nunes destaca a indústria de alimentos, que “responde por 22,3% do PIB do setor e emprega 20,3% dos trabalhadores da indústria no Estado”, mas também relaciona o complexo metalomecânico gaúcho, que é “muito desenvolvido e agrega os segmentos de fabricação de veículos, máquinas e equipamentos, produtos de metal, metalurgia e materiais elétricos. Esse complexo representa 29,1% do PIB industrial e emprega 27,3%”.
Os motivos que conduzem a esses resultados são vários. Para o economista-chefe do Sistema FIERGS o principal é a diversificação da atividade industrial do Estado, que fez com que surgissem empresas líderes em quase todos os segmentos. “Esse fenômeno se deve ao pioneirismo da atividade manufatureira no Estado. Tendo em vista que o Rio Grande do Sul está fisicamente distante do centro do País e foi um dos primeiros Estados a se industrializar, muitas atividades tiveram de ser desenvolvidas aqui para dar suporte ao desenvolvimento da indústria”, justifica.
Já o Estado de Santa Catarina, mostram os dados oficiais da Secretaria da Fazenda, fechou 2017 com arrecadação tributária bruta de R$ 24,11 bilhões, consideradas receitas com ICMS, IPVA, ITCMD e taxas, além de repasses obrigatórios de tributos recolhidos pela União. Nesse universo, coube ao ICMS 79,16% da receita tributária bruta, ou seja, R$ 19,11 bilhões, valor originado de atividades dos setores têxtil, embalagens, redes de lojas e supermercados, energia, metalomecânico, comunicação e combustíveis.
A estrutura de arrecadação do Paraná em 2017, de acordo com dados oficiais, considerados os impostos clássicos de competência das Unidades Federadas – ICMS, IPVA e ITCMD – totalizou em 2017 R$ 33,2 bilhões, sendo a maior parte – R$ 29,6 bilhões – gerados pelo ICMS, por cinco grandes setores: R$ 8,6 bilhões são do setor terciário, envolvendo comércio e serviços; R$ 5,9 bilhões do setor secundário-indústria; R$ 4,7 bilhões de combustíveis; R$ 4,0 bilhões de energia elétrica; e R$ 0,5 bilhão do setor primário, ou agricultura. Nessa matriz, a indústria representa 49%, se considerada a hipótese que coloca atividade de produção de energia e de combustíveis no âmbito da indústria de utilidade pública, explicam os economistas Roberto Antonio Peredo Zürcher e Maurilio Leopoldo Schmitt.
Ricardo Augusto Lie – vice-presidente da ABIMAQ Paraná – ressalta o papel da ABIMAQ no Estado, lembrando que abriga a Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos para Madeira; atua na capacitação das empresas por meio de treinamentos, palestras e seminários; apoia feiras e realiza eventos com temas de interesse das indústrias e de todo o setor produtivo.
“A atuação principal é como interlocutora dos empresários paranaenses, diante dos desafios enfrentados pelo setor. Sua frente de trabalho se dá em apoio e encaminhamento de demandas das associadas em áreas como comércio exterior, defesa comercial, jurídico tributário e trabalhista, financiamentos, tecnologia, etc., atuando como facilitadora nas articulações necessárias para a formação de parcerias com o setor privado e órgãos estaduais”, resume Lie, agregando a isso os trabalhos prestados pelo SINDIMAQ nas negociações por ocasião das Convenções Coletivas de Trabalho com os Metalúrgicos da Grande Curitiba e a realização bimestralmente do Fórum de Assuntos Trabalhistas do Paraná para tratar de temas relacionados à área Jurídico Trabalhista.
Joinville, Jaraguá do Sul, Blumenau, Florianópolis, Chapecó e Criciúma são cidades do Estado de Santa Catarina que se destacam como polos de desenvolvimento de atividades vinculadas aos setores metalomecânico, de máquinas e equipamentos para processamento de aves e suínos, têxtil e agronegócio, resume Úrsula Boing Tuma, gerente executiva da sede catarinense, ao falar sobre a atividade da unidade, que congrega cerca de 180 associadas.
Hernane Cauduro, vice-presidente da sede gaúcha da ABIMAQ, falando da diversificação de atividade das cerca de 150 associadas, destaca o trabalho realizado “em parceria com a Desenvolve RS com a finalidade de aproximar os associados dos investidores”. Cita, também, ações desenvolvidas visando ao aumento do conteúdo local; serviços direcionados à capacitação permanente, com cursos voltados às atividades dos associados que, devido a terem custo otimizado, permitem maior acesso das pequenas industrias; convenio com Apex, tendo como meta o esforço exportador, levando o associado para feiras e rodadas de negócios internacionais; defesa do setor junto aos governos federais e estaduais através de articulações junto ao Legislativo; acesso das associados a consultoria no desenvolvimento de tecnologia para áreas de máquinas para o agronegócio; programa TESA e, mais recentemente, apoio para implantação da Manufatura Avançada ou Indústria 4.0.
Indústria 4.0 como meta
Nesse cenário, competitividade, produtividade, pesquisa, desenvolvimento e tecnologias são temas presentes. Associativismo e representatividade política também são necessidades que, no setor de máquinas e equipamentos, são supridas por escritórios regionais da ABIMAQ em cada um dos Estados, inclusive com a promoção de eventos capazes de suprir as necessidades locais e apoiar feiras e exposições sediadas na região.
Pesquisa inédita realizada pelo Núcleo de Engenharia Organizacional (NEO) do Departamento de Engenharia de Produção e Transportes (DEPROT) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com apoio do Núcleo de Gestão da Inovação (NAGI) da ABIMAQ, IPDMAQ – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos, Escola de Engenharia – Núcleo de Engenharia Organizacional da UFRGS, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), entre outros, levantou o nível de maturidade da indústria em respeito a Manufatura Avançada e também oportunidade de benchmarking entre as participantes. Com abrangência nacional, a pesquisa foi adotada pela indústria sulista, que responde por 90% da amostra, e traça um panorama dos focos de atenção quando o assunto é Indústria 4.0.
A conclusão apresentada em todas as regionais do Sul, em novembro, é assim resumida por Anita Dedding, secretária executiva do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos (IPDMAQ) e membro da equipe do NAGI-ABIMAQ que participou da pesquisa: “As empresas ainda estão mais focadas em interesse ligados à tecnologia básica, que é o que pode gerar valor rapidamente, e nos mostra o caminho a ser percorrido para as empresas evoluírem para objetivos mais próximos da Indústria 4.0. Os resultados nos estimulam a buscam ampliar a amostra, que foi de 90 empresas, e melhor diagnosticar as demais regiões”.
“Como resultado da amostra, detectamos as tecnologias a serem oferecidas e demandadas, principais barreiras à implantação e ao oferecimento de soluções 4.0, competências necessárias tanto para a oferta como para a aquisição de tecnologias 4.0, entre outros”, resume Dedding, ao frisar que a meta – devidamente atendida – foi “obter um quadro do perfil atual do setor, auxiliando na discussão de caminhos estratégicos a serem adotados pelo setor para promoção da Indústria 4.0. Também pudemos entregar às empresas participantes, de modo individual, customizado e exclusivo, uma análise de posicionamento frente ao grupo de empresas participantes, que pode contribuir para os investimentos e o planejamento dessas empresas, pois permite visualizar qual foi o posicionamento diante das médias do setor nas diferentes características avaliadas”. (vide figura acima)
Entre as empresas que responderam à pesquisa está a AGCO, que durante a retração da economia nacional manteve seu plano de investimentos direcionado à tecnologia, seja nas plantas industriais, seja nos produtos e serviços oferecidos aos clientes com recursos avançados de precisão e conectividade.
Como informa Ana Helena de Andrade, diretora de relações governamentais, em 2017, “foi destinado um aporte financeiro R$ 36 milhões para modernização e aplicação de novas tecnologias na planta de Canoas (RS). Além disso, desde 2016, a unidade da AGCO em Santa Rosa (RS) também vem recebendo investimento para modernização e aplicação de novas tecnologias. Até o momento, foram destinados R$ 60 milhões no projeto. A implementação de indústria 4.0 possibilitou o desenvolvimento de produtos altamente tecnológicos e confiáveis. Com isso, a expectativa é de aumentar a produção na planta em 100% nos próximos dois anos”.
As inovações que já são utilizadas nas unidades brasileiras da companhia – informa Ana Andrade – envolvem desde exoesqueletos, Google Glass, impressoras 3D, AGVs (Veículo Guiado Automaticamente, em inglês), COBOTs (robôs colaborativos), bem como modelo virtual da fábrica e simulação virtual (Plant Simulation). Ou seja, “o que há de mais moderno em manufatura e em tecnologias que não só garantem melhorias de custos, mas, principalmente, aprimoram a eficiência e qualidade de produção. O conceito de fábrica 4.0 da AGCO visa a integrar os pilares de material, pessoal, equipamentos e processos, aumentando a produtividade e qualidade das máquinas produzidas”, explica.
Em resposta, a empresa deve fechar 2018, na estimativa de sua diretora de relações governamentais no “mesmo ritmo de comercializações do segmento de máquinas agrícolas e obter um incremento de 8% nas vendas. Para 2019, a AGCO segue otimista com o mercado brasileiro e continuará destinando aportes financeiros na ampliação e na modernização de suas fábricas, além do lançamento de produtos altamente tecnológicos para o produtor rural”. A confiança encontra fundamento, por exemplo, no Censo Agropecuário de 2017, que mostrou espaço para expansão, “visto que muitas propriedades agropecuárias ainda não são mecanizadas. No Rio Grande do Sul, por exemplo, apenas 50% das propriedades possuem tratores. Em plantadeiras, o número cai para 24%, colheitadeiras para 11%, e adubadeiras, 15%”, elenca Ana Andrade, vislumbrando as possibilidades comerciais da companhia.