Um ano especial, de resultados positivos para a indústria em função de uma conjunção de fatores diversos que levou o setor a registar crescimento positivo em relação a níveis de emprego, performance e consumo das famílias. Os resultados no último trimestre começaram a mostrar preocupação com o que estava por vir, devido a aumentos da taxa de juros, da taxa cambial, que têm impacto bastante significativo no custo do dinheiro. Essa é a síntese que Flávia Spadafora – sócia-líder do setor de Industrial Markets da KPMG no Brasil – faz de 2024, que carreou como herança para 2025 a possibilidade “de que as coisas podem ser boas.”
Mesmo assim, alerta a consultora, “não podemos exagerar nesse otimismo, porque vários ajustes se fazem necessários na economia para que isso seja sustentável, como contas públicas, entendimento das relações internacionais de comércio que impactam fortemente o Brasil devido à dependência do Brasil. Além disso, a mudança no governo estadunidense, era sabido, traria algumas questões complexas, mas talvez não na rapidez e na intensidade que acabaram acontecendo.”
O resultado desse cenário, em linhas gerais, é uma política monetária mais contracionista e um crédito mais restritivo, que vão impactar a indústria de uma maneira geral. Por outro lado, o lançamento do NIB traz uma discussão de forma estruturada e lança para o mercado questões importantes, com pontos que precisam ser ajustados e acelerados, que deixam todos atentos.
Spadafora entende que, por suas peculiaridades, “a NIB traz uma estruturação importante, responsável por a indústria estar se organizando para fazer o levantamento das novas linhas de investimentos, de tal forma que ganhe corpo a retomada da nacionalização por tanto tempo protelada, dando forças para a inovação e o desenvolvimento”. Ou seja, “se de um lado está a situação da economia, por outro lado, há movimentos de forma estruturada da indústria da maneira geral”, compara ela.
Como exemplo, cita a própria indústria automotiva, que vem fazendo seus anúncios e materializando o programa Mover, que é muito festejado na medida em que várias empresas se candidataram e alocaram dinheiro para fazer o investimento, mas, por outro lado, há restrição de capital, “porque o dinheiro acabou ficando curto para que os sistemistas pudessem também usufruir”, enuncia Spadafora, enxergando “reflexos muito positivos para o setor de máquinas e equipamentos. É simbiótico. Temos de celebrar essas engrenagens. Elas foram colocadas a mercado, e a indústria está experienciando. Instrumentos como esse e como a própria NIB – que também sinaliza para a possibilidade de novas formas de as empresas buscarem um dinheiro mais barato –, se bem estruturados e bem entendidos pela indústria, trazem a perspectiva de resultado positivo.”
A Letra de Crédito do Desenvolvimento é um exemplo listado pela consultora como instrumento que, se bem direcionado, viabiliza bancos de desenvolvimento a liberarem dinheiro para, de fato, “termos linhas de financiamento bastante expressivas. Começamos a ver uma estruturação de mecanismos que podem favorecer bastante a indústria, e, naturalmente, a de máquinas e equipamentos da maneira bastante importante. Além disso, a lei do Bem e o próprio BNDES se colocam como alternativa para que as empresas possam de fato investir a um custo viável em meio a questões impeditivas do contexto macroeconômico para que o dinheiro externo se torne barato.”
Hoje, na visão da consultora, a indústria não tem mais por onde escapar, de enfrentar o desafio da transformação digital, de trazer mais tecnologia para suas operações, porque a concorrência é extremamente agressiva e na medida em que a gente busca joint ventures, fusões e aquisições como alternativa para trazer novos produtos e inovação a gente precisa do dinheiro para o desenvolvimento. Então cada vez mais essa temática fica muito amarrada e entrelaçada. Quanto mais houver programas estruturados para disponibilização de recursos para investimento, mais as empresas irão atrás, buscando, de fato, trazer inovação para a ponta.
Tudo que é relacionado a energias renováveis também impacta, na proporção da dependência da indústria do tipo de energia utilizado no processo de fabricação, mas como várias normativas que estão saindo, as empresas terão de buscar formas de melhorar o seu processo produtivo para diminuir o impacto no saldo de carbono, frisa Spadafora, definindo sua posição como “otimista-realista. Sabemos que tem muito a acontecer. O desfecho não será obrigatoriamente o desejado, mas as empresas estão se mexendo e ajustando seus processos. A indústria está efervescente na otimização de custos, nas melhorias dos processos produtivos e nas linhas de aumento de resultados”.