Em um mundo conectado, intralogística também está na fase 4.0

O conceito de Indústria 4.0 está se expandindo para tudo que existe na atualidade, até porque 4.0 virou sinônimo de inovação e de incorporação de tecnologias de última geração, saiu do campo da tendência e se transformou em realidade. E, nesse contexto, a intralogística segue o mesmo caminho, adota os mesmos princípios e incorpora a mesma terminologia. Ou seja, em mundo conectado, a intralogística é cada vez mais conectada, inteligente e autônoma.

Para os especialistas, a intralogística conectada se caracteriza pela integração dos processos de otimização, integração, automação e gerenciamento de informações e fluxos físicos de fornecimento, produção e distribuição dentro de um centro de distribuição ou armazenagem, com absorção das recentes tecnologias e softwares de manuseio de materiais, proporcionando ganhos de produtividade tanto para sistemas manuais, quanto automatizados.

Como prefere José Vitor Mamede – engenheiro de produção com pós-graduação em administração geral e especialização em planejamento e modelagem em sistemas de transportes, diretor da JVM Consultoria Empresarial e professor na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) – a intralogística conectada é muito mais do que tecnologias de manuseio de materiais que realizam tarefas específicas como receber, classificar, escolher e empacotar. As soluções nesse campo envolvem “o uso eficaz de softwares e bancos de dados que levam avanços na produtividade operacional através da integração de manipulação de materiais e tecnologias de processamento de informações, otimizando processos e aproveitando melhor equipamentos e mão de obra”.

Nesse novo cenário, armazéns e tecnologia são companheiros inseparáveis e interdependentes, pois o uso de diferentes tecnologias melhora a produtividade e reduz os custos. Vê-se, assim, a assimilação pela logística – e por decorrência pela intralogística – dos conceitos que orientam a Indústria 4.0.

A evolução dos sistemas de picking e packing especialmente nos setores em que são requeridas maiores eficiência e rentabilidade dos processos de separação, como por exemplo, no e-commerce, exemplificam com precisão as definições. “A digitalização entrou na vida de todos nós e mudou a forma de nos comunicarmos e como convivemos; o surgimento do e-commerce mudou nossa forma de consumir. A percepção disso tudo, é de que precisamos de uma intralogística automatizada para poder atender à demanda dos clientes”, comenta Mamede.

E, em um mundo 4.0, a cadeia de suprimentos também é 4.0, ou seja, é conectada com a indústria e com o cliente; é rápida, eficiente, informativa, com dados em nuvem e conexão via satélite, capaz de oferecer não só entregas mais rápidas, sem erros, defeitos ou avarias, mas novas experiências aos clientes.

Produtividade com racionalidade

Eis aí o mundo ideal, que, no dia a dia, muitas vezes, é atropelado pelo mundo real. Para evitar tal situação é imprescindível saber por onde começar, que etapas implementar e como evoluir da intralogística “analógica” para a conectada.

A intralogística automatizada é caminho para atender à demanda dos clientes

A recomendação de Mamede leva em consideração o fato de que, mesmo a questão da automação na movimentação e armazenagem de materiais sendo tema bastante debatido, parte dos profissionais, ao analisar sua implementação, frequentemente, deixa de considerar uma questão fundamental: A movimentação e a armazenagem de materiais agregam valor aos produtos? Se a resposta for negativa, o ideal seria ela não existir, afinal, “melhor do que ter um armazém é não ter nenhum”, e se a resposta for pelo ‘nenhum’, novas perguntas derivam: Como fazer chegar aos nossos clientes os produtos desejados senão à base de transporte? Como atender prontamente um pedido senão com algum estoque disponível? Enfim, a equação é complexa, e o essencial é manter o foco no que de fato significa aumentar a produtividade com racionalidade.

Quando e como é o futuro?

”Demos um salto qualitativo enorme na conectividade com nossos sistemas e chegamos à fase em que os dispositivos nos avisam antecipadamente sobre ocorrências”, resume o consultor especializado em processos logísticos e transporte multimodal ao falar dos dias atuais. Nota-se, nessa trajetória, que os sistemas serão cada vez mais inteligentes e estarão cada vez mais conectados. Quem quiser que a comunicação com os centros de comandos nas linhas de produção das industriais mantenha-se constante e direta, para garantir o futuro, já está equipando seus sistemas com inteligência artificial. Em outras palavras, nem sempre o futuro está distante, ele é apenas o próximo passo, e o “tamanho” desse passo pode ser muito curto dependendo do ponto de partida e da meta final.

Na indústria 4.0, com seus sensores e sistemas de controle que permitem às máquinas manterem-se conectadas a diversas plantas, redes, transportadores, seres humanos e outros, a logística precisa seguir o mesmo viés – conectada, tecnológica, rápida e inteligente, dependente de mudança de cultura e de integração entre todas as áreas e atores envolvidos.

O fundamental é saber aonde chegar e o que é necessário para fazer a jornada, pois equívocos são onerosos e podem abalar, gerar reversão ou até destruir as expectativas, afinal as tecnologias não são panaceia para todos os problemas indiscriminadamente. Quando tudo é feito de forma pensada, medida e apropriada, as vantagens, os benefícios e os ganhos com a automatização intralogística são inúmeros.

É essencial manter o foco no que de fato significa aumentar a produtividade com racionalidade

Mamede rapidamente elenca como fatores relacionados diretamente com a automatização de um armazém rentabilidade, qualidade, serviço e crescimento. “As empresas que optam pela automatização de seus processos logísticos são capazes de mensurar vantagens competitivas obtidas em processos produtivos e de distribuição, economia com custos operacionais, melhoria na rapidez e qualidade da preparação de pedidos, aproveitamento ótimo do espaço, aumento de produtividade, ergonomia, segurança e a satisfação de todos os envolvidos nessa cadeia”, detalha, frisando que com a evolução dos processos de armazenagem e a crescente demanda por preparação automática de pedidos exigindo maior eficiência e rentabilidade, a intralogística conectada se torna fundamental ao proporcionar maior flexibilidade e rapidez em toda cadeia.

Alguns outros benefícios merecem destaque, pois aportam confiabilidade, afinal a interligação dos processos e sistemas de logística interna às organizações contribui com a eliminação praticamente total dos erros, facilita significativamente a rastreabilidade do sistema e reduz o desperdício de tempo, otimizando a atuação da equipe, com impactos que vão além do custo com os transportes e a movimentação, envolvendo os níveis de confiança por parte do cliente.

Nesse contexto, Fábio Nascimento – vice-presidente da SSI Schäfer para o software de gestão de armazéns WAMAS – recomenda a aplicação de inteligência artificial (IA). Como exemplo, cita as etiquetas inteligentes que ‘dialogam’ com veículos autônomos e são fortes aliadas da intralogística, inclusive otimizando o uso do depósito.

A parceria entre essas etiquetas e os veículos autônomos, conhecidos como AGV – explica o vice-presidente da empresa especializada no desenvolvimento de sistemas de intralogística – “garantem que a encomenda chegue no destino correto no menor prazo possível. Os AGVs, por sua vez, substituem as empilhadeiras com a vantagem de evitar as barreiras físicas, sem a necessidade de um tripulante. Hoje, há AGVs para transporte de caixas, de paletes horizontais e modelos semelhantes às empilhadeiras, que transportam e elevam”.

Os resultados mensurados com a aplicação de IA – garante Nascimento – justificam o investimento na instalação dos sistemas e recursos ou na adaptação dos já existentes, pois o custo se paga através da redução de erros.

E nesse sentido, quando o assunto migra para estoques zero, lead time curto, alta conectividade, informações em tempo real e ao alcance de um clique, centros de distribuição mais inteligentes, o Brasil não deixa nada a dever. Essa constatação, no entanto, devido à própria dinâmica e velocidade dos avanços tecnológicos, leva a uma recomendação de Mamede: ainda temos muito a buscar com maior automação na movimentação de materiais.