Empresário e pecuarista, Gino Paulucci Jr., o novo Presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ tem ampla experiência institucional, em diversas áreas, e assume seu cargo no momento em que a Entidade comemora seus 85 anos, em ano de eleições nacionais, e em cenário que segue agitado em nível global, mas também registra crescimento das indústrias de máquinas e equipamentos que operam no Brasil, tanto em âmbito de mercado interno quanto de exportações.
Gino Paulucci Jr., diretor da Polimáquinas Indústria e Comércio Ltda. e pecuarista, foi eleito Presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ, em substituição a João Carlos Marchesan, para a gestão 2022-2026. Sua experiência institucional começou na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), quando foi orador da Turma 1.979. Brevetado em São Paulo em 1.975, foi diretor do Aeroclube de Bauru por 15 anos. Participa do Rotary Clube de Bauru desde 1.984, tendo exercido sua Presidência. É Diretor Titular do CIESP, regional Bauru e, há 12 anos, agregou a ABIMAQ a suas experiências.
Com posse agendada para agosto, nesta exclusiva para Máquinas & Equipamentos, Paulucci discorre sobre o setor e os planos de sua gestão, compartilhando suas opiniões a respeito de necessidades, gargalos e expectativas para os próximos quatro anos. Conta, também, sua trajetória na ABIMAQ que lhe permitiu, em pouco mais de uma década, ser eleito Presidente do Conselho de Administração.
Boa leitura!
M&E – Como teve início seu relacionamento com a ABIMAQ?
Gino Paulucci Jr. – A Polimáquinas é associada à ABIMAQ há décadas. A aproximação ocorreu em 2.011, quando teve início a polêmica sobre as sacolinhas plásticas. Com apoio da ABIMAQ, e com a participação da Abief, Abiplast, Plastivida e dos maiores transformadores de plástico, foi possível traçarmos uma estratégia, vencedora à época, que pode ser replicada em caso de necessidade.
Na mesma época, fui convidado por Wilson Carnevalli, que era Presidente da CSMAIP- Câmara Setorial de Máquinas e Acessórios para a Indústria do Plástico, a assumir a 1ª Vice-Presidência e, na eleição seguinte, fui eleito Presidente e fiquei três mandatos, até ser convidado por Joâo Marchesan, por ocasião da sua reeleição, para ser 1° Vice-Presidente do Conselho de Administração. Nessa época, Amilton Mainard, que é profundo conhecedor da indústria de máquinas, assumiu o cargo na CSMAIP.
Agora, no ano em que a Entidade comemora 85 anos, tive a honra de ser eleito Presidente do Conselho de Administração, para a gestão 2022-2026. Ocupar esse cargo, como já disse, é uma honra e uma grande responsabilidade, mas estou tranquilo porque sei que terei o apoio dos outros Conselheiros e de toda a maravilhosa equipe da Casa.
M&E – O sr. assume a coordenação do Conselho de Administração em época próxima às eleições para o Executivo brasileiro. Quais são suas percepções sobre 2022? E, somando a isso o conflito entre Rússia e Ucrânia, o que esperar para este ano?
Paulucci Jr. – Podemos somar a isso tudo os efeitos da Pandemia do Covid-19, que desorganizou totalmente as cadeias de produção. O ano de 2021 foi muito bom para a indústria de máquinas, com um bom crescimento, mas não tínhamos a guerra e as eleições, que está muito polarizada e produz muitos ruídos indesejáveis. Temos muitas incertezas como os preços da energia, das matérias-primas e, talvez a falta de diesel, no segundo semestre. Teremos de enfrentar tudo isso. Mas devemos ressaltar que os associados podem contar sempre com o nosso corpo técnico, que é de altíssima qualidade, e que, como em todos os outros momentos, estará buscando as melhores saídas para eventuais dificuldades que venham pela frente.
M&E – Mesmo assim, espera que as reivindicações do setor sejam atendidas?
Paulucci Jr. – Sim. Nesses anos de maior proximidade, tanto com o Executivo, bem como com o Congresso Nacional, apresentamos sugestões que são boas para Indústria em geral, para a Indústria de Máquinas e, principalmente para o Brasil. Tomamos o cuidado de elaborar uma cartilha com as principais dificuldades que enfrentamos, enquanto setor organizado, para entregar aos candidatos à presidência da República, para que eles entrem em contato com os principais problemas e sugestões feitas pelo nosso corpo técnico para enfrenta-las.
Nenhum país do mundo vai bem se não tiver uma indústria forte. Nunca pedimos subsídios, mas sim igualdade de condições aos nossos concorrentes internacionais. Temos o custo Brasil que é a somatório de vários custos, mas isso é assunto para outra entrevista. A necessária aprovação pelo Congresso Nacional da PEC 110 seria um excelente começo.
M&E – O sr. disse que a expectativa para 2022 é indefinida. Em termos práticos isso redundaria em reversão do crescimento?
Paulucci Jr. – Não acredito. O Brasil está trilhando, a meu ver, o caminho correto para o momento em que vivemos, e temos acompanhado diversas fontes estimando um PIB crescente e a inflação decrescente.
O setor de máquinas teve crescimento de 20% em 2021, não podemos deixar de considerar que a base de comparação não era das melhores, mas foi um crescimento robusto. Estimamos para 2022, um crescimento de 5%.
M&E – Em 2 de junho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o PIB brasileiro cresceu 1% no primeiro trimestre deste ano na comparação com os últimos três meses de 2021, mostrando aceleração em relação ao fim do ano passado. Como essa informação pode contribuir na definição de um quadro positivo para 2022?
Paulucci Jr. – Não deixa de ser uma boa notícia. Como já disse, a expectativa do mercado é positiva para o Brasil, dentro do quadro atual.
Existem dois termômetros que gosto de observar, o primeiro é o aumento de arrecadação de impostos. Não houve nenhum aumento de alíquota e a arrecadação bate recorde. Isso significa que estamos produzindo e comercializando mais e o setor de serviços tem apresentado ganhos ascendentes. O segundo é a procura, por parte das empresas, de mão de obra, muitas estão tendo dificuldades em contratar. O nível de contratações com carteira assinada está aumentando.
M&E – Muitos gestores empresariais se ressentem da falta de mão de obra especializada. Qual a sua posição?
Paulucci Jr. – Educação é a base de tudo! Precisamos investir mais na formação profissional. No setor industrial, temos o Sistema S, que qualifica adequadamente os jovens para que venham trabalhar nas fábricas, mas é insuficiente. É preciso aumentar o número de escolas técnicas. Hoje, profissionais qualificados são disputados no mercado de trabalho de forma até predatória: é normal uma empresa tirar funcionários de outras empresas que, por sua vez tentam tirar de outras.
M&E – Como resolver esse gargalo? Qual a contribuição pode ser dada pela ABIMAQ.
Paulucci Jr. – A ABIMAQ tem contribuído muito. O trabalho de educação ou informação é realizado por meio das publicações internas (SINDIMAQ Comunica, Newsletter Trabalhista, Informaq e a própria M&E). Sobre a instrução e a orientação às empresas, temos consultas nas Áreas Jurídica e Mercado Externo, os programas de incentivo à Inovação (exemplo: NAGI), Convênios com instituições como Inmetro, Finep, BNDES, com destaque para o FAT – Fórum de Assuntos Trabalhistas e a NR-12.
M&E – O que o sr. deseja para sua gestão e para a Entidade?
Paulucci Jr. – Eu desejo que a ABIMAQ continue fazendo, e fazendo bem feito, o seu papel. O público interno da Casa é absolutamente bem preparado.
Daremos continuidade às ações implementadas pelo Marchesan, como, por exemplo, escolhemos os Conselheiros de várias regiões do Brasil, pois nossa Entidade é nacional, e nada mais justo que várias regiões estejam representadas. Cabe ao Conselho traçar as diretrizes básicas, e a Casa as realizará com muito profissionalismo.
Importante ressaltar que de alguns anos para cá, entidades sérias como a ABIMAQ deixaram de ser reativas e passaram a ser proativas. Viraram protagonistas, fornecendo subsídios a diversos Projetos de Lei e outras medidas administrativas. Nós que somos industriais é que conhecemos as diversas alternativas para que nosso setor possa contribuir para o crescimento econômico do País. Já disse anteriormente: país forte precisa ter uma Indústria forte.
Temos de lembrar ainda que os cenários brasileiro e mundial estão em permanente mudança, dificultando prognósticos sobre qualquer coisa. Temos de estar conectados e termos agilidade, para enfrentá-los.
M&E – Que necessidades vê hoje que precisam ser trabalhadas?
Paulucci Jr. – Medidas estruturantes como: Reforma Tributária, Reforma Administrativa, dar prosseguimento a Reforma Trabalhista, que foi modesta e precisa avançar para garantir mais empregos.
É preciso voltar a existir o Ministério da Indústria. Hoje somos metade (de 10% a 11%), do PIB frente ao que já fomos, mas recolhemos parcela muito maior do que isso em impostos. Precisamos de uma Política Industrial digna desse nome.
M&E – Essa pode ser considerada uma plataforma da nova gestão?
Paulucci Jr. – Sim, recriação do Ministério da Indústria, aprovação da PEC 110, acabar com IPI, tornar permanente a desoneração da folha de pagamentos, além de outras contribuições nossas. É preciso ter em mente que tudo que onera a produção vai para a planilha de custos, senão as empresas quebram. Ao desonerar, as empresas baixarão seus custos e preços, tornando o Brasil mais competitivo.
M&E – E quanto à abertura de mercado?
Paulucci Jr. – Somos competentes e temos qualidade. A abertura pode existir desde que haja isonomia. Pode abrir o mercado desde que na mesma proporção em que o custo Brasil seja reduzido. Não queremos nem protecionismo nem reserva de mercado. Exportamos praticamente para o mundo todo, temos competência, porém temos custos que os nossos concorrentes internacionais não têm.
M&E – A pandemia levou empresas a voltarem a produzir no Brasil itens que eram importados. O sr. acha que isso vai voltar ao que era antes?
Paulucci Jr. – Quando se fala em abrir importação é importante existir uma coordenação que caberia ao Ministério da Indústria, caso contrário, corre-se o risco de se levar em conta apenas o preço final do produto.
Durante a pandemia, o mundo, que havia se globalizado quase totalmente, está se desglobalizando. Está voltando à moda as frases: Produzir perto e produzir em países amigáveis.
No momento, países como os Estados Unidos estão trazendo de volta muitas indústrias, desde alta tecnologia até coisas simples, como máscaras. Têm produtos que envolvem até segurança do País. Há itens que precisam ser mantidos de alguma maneira.
O que faz sentido pelo aspecto (preço) não necessariamente é bom ou faz sentido para o País. Isso precisa ser bem cuidado, é preciso debruçar sobre esses assuntos e buscar a melhor solução, detalhando item a item. Isso o Brasil precisa discutir, precisa saber aonde quer chegar.
M&E – Qual recado deixa para o associado?
Paulucci Jr. – Somos prestadores de serviços. Nosso foco é o associado, logo, qualquer dúvidas, sugestões e reclamações serão sempre levadas em conta, e quando necessário a rota será corrigida. Conheçam a ABIMAQ, temos muito a oferecer às empresas!
O que fortalece uma Associação é a sua base. Temos de micro a grandes empresas, o número de associados é muito importante. Temos inúmeras Câmaras Setoriais, Grupos de Trabalho e Conselhos de Mercado para assuntos específicos. A casa é do associado. Sintam-se à vontade para nos procurar, seja para entender o processo de obtenção de um financiamento para o cliente do associado, seja para dar os primeiros passos para ingressar no mercado externo, ou ainda obter incentivo para inovação, passando inclusive pelos estudos de mercado que periodicamente disponibilizamos. Estaremos sempre à disposição para atender com os serviços que temos disponíveis ou elaborarmos novos serviços para novas demandas. Vamos trabalhar juntos.