Entrevista: Exército entre os clientes tradicionais e permanentes da Indústria

José Sirnando Cavalcante das Neves, Coronel da Arma de Engenharia do Exército Brasileiro, subdiretor de Obras de Cooperação do Exército

A execução de obras em estradas e a construção de pontes são atividades desenvolvidas por construtoras, mas que também são listadas entre as atribuições do Exército Brasileiro. As realizações recentes – que contribuem diretamente com a atividade da indústria de máquinas e equipamentos rodoviários – incluem os 65 km da BR 163/PA, no trecho Mato Grosso até o município de Miritituba, no Pará, que esperavam pavimentação desde a abertura da rodovia em 1976. No momento, também está sendo realizada a duplicação de 50,8 km da Rodovia BR 116, entre os municípios de Guaíba e Tapes, no Rio Grande do Sul.

Essas ações são coordenadas pela Engenharia Militar Brasileira e, mesmo com a missão de proporcionar as condições necessárias ao movimento contínuo e ininterrupto das tropas, beneficia a sociedade em geral. Além disso, essa atividade permanente no Exército Brasileiro demanda máquinas e equipamentos rodoviários, adquiridos diretamente junto à indústria brasileira por meio de licitações.

Para falar sobre o relacionamento com a indústria brasileira e o trabalho realizado – que de 2005 a 2012 contemplou a duplicação e na estauração da BR 101/NE, que atravessa os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, por exemplo – , a revista Máquinas & Equipamentos entrevistou o Coronel da Arma de Engenharia do Exército Brasileiro, subdiretor de Obras de Cooperação do Exército, José Sirnando Cavalcante das Neves.

Confira e boa leitura!

Máquinas & Equipamentos – Qual a contribuição do Exército Brasileiro, nos últimos anos, no que diz respeito a obras rodoviárias?
José Sirnando Cavalcante das Neves
– O Exército Brasileiro, ao longo dos últimos anos, por meio do seu Sistema de Engenharia, vem dando continuidade a uma longa tradição de cooperação com o desenvolvimento nacional, cumprindo com o que está previsto entre as suas atribuições constitucionais. Nesse contexto, destacam-se os trabalhos desenvolvidos em proveito da melhoria da infraestrutura rodoviária, tais como duplicação e restauração da rodovia BR 101/NE, nos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, realizadas entre os anos de 2005 e 2012 e, mais recentemente, os trabalhos na pavimentação de 65 km da BR 163/PA,. concluídos em 23 novembro, e a duplicação, em andamento, de 50,8 km da Rodovia BR 116, entre os municípios de Guaíba e Tapes, no Rio Grande do Sul. Assim, podemos afirmar que o balanço do emprego do Exército em obras de infraestrutura é bastante positivo, uma vez que, além da fundamental contribuição para o desenvolvimento do País, o conhecimento técnico adquirido pelos quadros dos Batalhões de Engenharia, resultante da experiência nas obras, contribui para que o Exército possa dispor, seja em tempo de paz ou de guerra, de pessoal técnico habilitado e mão de obra qualificada em obras de infraestrutura.

M&E – Como definir as obras realizadas pelo Exército?
Cavalcante das Neves
– As obras de infraestrutura realizadas pelo Exército são fruto de parcerias com outros órgãos da Administração Pública federal, estadual e municipal. O volume de parcerias firmado nos últimos anos tem-se mantido constante e varia apenas em função das limitações orçamentárias das entidades parceiras e da própria capacidade operacional dos Batalhões de Engenharia do Exército.

A pavimentação da BR 163, entregue em 23 de novembro, e a BR 116, em andamento no Rio Grande do Sul, somam 110 km. De 2005 a 2012, foi duplicada e restaurada a BR 101/NE, que atravessa três Estados do Nordeste.

M&E – Quais os diferenciais das obras realizadas pelo Exército?
Cavalcante das Neves
– O planejamento e a execução das obras realizadas pelo Exército caracterizam-se sempre pela fiel observância dos princípios que regem a administração pública. Há uma busca constante pela obtenção de rigorosos padrões técnicos nos serviços executados e por uma gestão de excelência em todas as fases da obra, o que permita entregar à sociedade um produto final de reconhecida qualidade e com o menor custo possível.

M&E – Como é prevista a aquisição e como é realizada a manutenção de máquinas rodoviárias?
Cavalcante das Neves
– A cada novo instrumento de parceria firmado é prevista, dentro do orçamento destinado à execução da obra, a disponibilidade de recursos para a aquisição de novos equipamentos, bem como para a manutenção da frota existente. Além disso, o Sistema de Engenharia do Exército mantém um programa constante de capacitação de seus quadros, tanto nas atividades de gestão de frota, como no treinamento de mecânicos e operadores das máquinas de construção. Esses procedimentos permitem que os Batalhões de Engenharia possam sempre dispor de equipamentos modernos e em perfeitas condições de uso, condições fundamentais para que sejam atingidas as metas previstas com qualidade e produtividade em cada obra realizada.

M&E – A aquisições é feita por meio de licitações…
Cavalcante das Neves
– Sim, as máquinas utilizadas pelo Exército são adquiridas por meio de processo licitatório, conforme previsto na legislação. Suas características técnicas são especificadas em cada edital, de acordo com as necessidades das obras, observando de modo geral as mesmas características das máquinas disponíveis no mercado e empregadas por empresas de construção civil.

M&E – Quais as necessidades que a indústria precisa atender?
Cavalcante das Neves
– Os equipamentos atualmente disponíveis no mercado nacional já atendem em muito boas condições as necessidades das obras em que são empregados pelo Exército Brasileiro. No entanto, vale ressaltar que devido às características dos locais onde normalmente as obras são realizadas, longe dos grandes centros e em condições de operação severas, há necessidade de que os fabricantes assegurem boa rede de assistência pós-venda, que permita atender em tempo oportuno as demandas por peças e serviços, reduzindo os tempos de parada por quebra ou atraso na manutenção da garantia.

M&E – Qual a situação atual das obras colocadas sob responsabilidade do Exército? Há obras paralisadas?
Cavalcante das Neves
– Não há obras sob a responsabilidade do Exército paralisadas no momento. Todos os termos de parceria em vigor estão em andamento, dentro do fluxo normal de orçamento de cada obra.

M&E – O que está previsto para o Exército assumir entre as obras usualmente listadas como paralisadas?
Cavalcante das Neves
– Não há como precisar essa informação uma vez que não dispomos de dados oficiais sobre o total de recursos empregados nas obras de infraestrutura contratadas pelo Governo Federal e outros entes da Federação.

M&E – Quais as perspectivas para 2020?
Cavalcante das Neves
– A expectativa é de manutenção das atuais parcerias e de estabelecimento de novas, que conjuguem o interesse do Exército na capacitação permanente de seus integrantes ao desenvolvimento nacional. Nesse sentido, as parcerias realizadas com o Governo Federal e outras instituições da Administração devem proporcionar a manutenção dos níveis de operacionalidade e prontidão da Engenharia Militar.

M&E – O que é necessário para que o setor de obras rodoviárias como um todo retome as atividades?
Cavalcante das Neves
– Acreditamos que o volume de investimentos no setor de infraestrutura está diretamente relacionado à saúde econômica do País. Por outro lado, a eficiência da malha de transporte em todos os modais possui reflexo direto no desempenho da economia, melhorando a competividade do produto nacional no mercado externo, bem como ampliando a circulação e a distribuição de riquezas no interior, contribuindo para a segurança e a integração nacional.