Entrevista: “Financiar o agronegócio também é promover a digitalização das atividades no campo”

Marcelo Porteiro Cardoso, superintendente da Área de Operações e Canais Digitais do BNDES

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES –, principal agente de fomento brasileiro – e um dos maiores do mundo –, foi fundado em 1952. Atuando como o principal instrumento do Governo Federal para o financiamento de longo prazo e investimento em todos os segmentos da economia brasileira, o BNDES apoia empreendedores de todos os portes, inclusive pessoas físicas, na realização de seus planos de modernização, de expansão e na concretização de novos negócios, tendo sempre em vista o potencial de geração de empregos, renda e de inclusão social para o Brasil.

O Sistema ABIMAQ, ao longo de mais de 80 anos, reuniu mais de 1.500 associados, e enquanto representante de cerca de 7.800 empresas que atuam em mais de 36 segmentos de mercado, que atendem todos os setores da economia, atuando institucionalmente e contribuindo para o fortalecimento e para o aprimoramento do setor. Entre seus objetivos está o estímulo ao comércio e à cooperação, contribuindo para aprimorar seu desempenho em termos de tecnologia, capacitação de recursos humanos e modernização gerencial. Para isso, a entidade atua, inclusive, como Agência de Desenvolvimento da Indústria Brasileira de Máquinas e Equipamentos e mantém diálogo permanente com instituições de fomento e de financiamento tanto do lado da produção, quanto do cliente final.

Com cada instituição cumprindo seu papel, a aproximação entre BNDES e ABIMAQ é natural e contribuiu para o desenvolvimento de linhas e políticas de crédito tornaram a entidade como um Posto de Informações. Além disso, a ABIMAQ apoia o associado na inclusão da empresa e de seus produtos no Cadastro de Máquinas e Equipamentos no Finame e no Cartão BNDES; além de assessorar as empresas associadas no desembaraço de processos de financiamentos junto ao BNDES e instituições financeiras que intermediam os recursos.

Para o financiamento de máquinas e equipamentos, o BNDES operacionaliza o Finame, que beneficia o setor representado pela ABIMAQ como um todo. Contudo, quando o tema é agronegócio, há programas e linhas de crédito específicas, tanto definidas pelo Plano Agrícola e Pecuário (PAP), quanto criadas pela própria instituição financeira.

Nesta entrevista, Marcelo Porteiro Cardoso, superintendente da Área de Operações e Canais Digitais do BNDES, discorre sobre essas linhas voltadas ao agronegócio, fala a respeito do InovaAgro e apresenta opções voltadas à aquisição de serviços tecnológicos e digitalização das atividades no campo, assim como de linha voltada à irrigação e à construção de sistemas de armazenagem, entre outros assuntos.

Confira e boa leitura!


Máquinas & Equipamentos – Quais as linhas focadas em agronegócio, principalmente em máquinas e implementos agrícolas e quais as suas particularidades?
Marcelo Porteiro Cardoso –
Os programas e linhas de crédito operacionalizados pelo BNDES, focados especificamente no financiamento de máquinas e equipamentos agrícolas, são aqueles definidos no âmbito do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) do Governo Federal, além de alguns criados pelo próprio Banco. O orçamento definido para os programas vigentes no PAP 2018/2019 é de aproximadamente R$ 18 bilhões, com R$ 13,5 bilhões possíveis de serem utilizados na finalidade mencionada. Destacam-se os programas Moderfrota, PCA, Inovagro, Prodecoop, Pronamp e Pronaf. Estes últimos são destinados a públicos com portes específicos – médios produtores rurais e agricultores familiares, respectivamente. Além destes, outras linhas e programas operacionalizados pelo BNDES que podem ser utilizados pelo agronegócio são o Programa BNDES Fundo Clima – Subprograma Máquinas e Equipamentos Eficientes, Cartão BNDES e as linhas do BNDES Finame.

M&E – Para dar uma ideia de volume, qual o valor desembolsado pelo BNDES por ano? Quais são os principais usuários?
MPC –
No ano de 2018, o BNDES Finame desembolsou R$ 19,2 bilhões, o que corresponde a 28% dos desembolsos totais do BNDES. Entre as linhas e programas que utilizam recursos do produto BNDES Finame, destaque para a linha de Ônibus e Caminhões e para o programa Moderfrota, responsáveis por 83% dos desembolsos e 86% das operações aprovadas no produto em 2018, respectivamente. Um importante ponto a ser destacado é a participação das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) no produto. Em 2018, as empresas de menor porte foram responsáveis por 85% dos desembolsos e 88% do total de operações do BNDES Finame aprovadas. A atuação do BNDES Finame nas cinco regiões do país demonstra a pulverização geográfica da atuação do BNDES, com destaque para a região Sudeste, com 37% dos desembolsos, e a região Sul, com 28% dos desembolsos em 2018. Com relação ao total de operações aprovadas, Sudeste e Sul também lideraram o ranking, com 39% e 31% do total em 2018, respectivamente.

“Em 2018, apenas com Finame, o BNDES desembolsou R$ 19,2 bilhões, o que corresponde a 28% dos desembolsos totais da instituição”

M&E – Enfocando linhas para áreas específicas do agronegócio, como é feito o financiamento à irrigação?
MPC –
Nessa área, existe um programa no âmbito do PAP, cuja finalidade se destina ao desenvolvimento da agropecuária irrigada sustentável – o Moderinfra. Podem solicitar recursos do programa os produtores rurais (pessoa física ou jurídica) e suas cooperativas em todo o território nacional. Não há vedação de acesso por porte, mas destaca-se o fato de que agricultores familiares também podem adquirir itens de sistemas de irrigação no âmbito do Pronaf.

M&E – A expressão Agricultura 4.0 está cada vez mais presente na vida do produtor. Como o BNDES pode contribuir com o processo de digitalização do campo?
MPC –
Atualmente, já é possível a obtenção de financiamento no BNDES para atividades que atendam a demanda por utilização de tecnologias de IoT (Internet das Coisas) e indústria 4.0 no campo. O produto BNDES Finame já viabiliza a aquisição de equipamentos com elevada tecnologia embarcada, e o programa Inovagro financia diversas dimensões de inovação no setor rural, por meio da aquisição de máquinas, equipamentos e softwares. Outras duas iniciativas estão em desenvolvimento. A primeira, uma linha de crédito específica para aquisição de serviços tecnológicos credenciados pelo BNDES, que poderão ser adquiridos isoladamente ou associados à aquisição de bens de capital presentes no ecossistema da Indústria 4.0. A segunda, BNDES Pilotos IoT, apoiará com recursos não reembolsáveis projetos que contribuam com a digitalização de atividades no campo. Já foram selecionados nove projetos-piloto, que permitirão a validação em ambiente real de soluções integradas de IoT por meio de consórcios envolvendo ICTs, fornecedores, startups e produtores rurais.

M&E – Como acessar essas linhas?
MPC –
Com exceção do BNDES Pilotos IoT, que será apoiado com recursos não reembolsáveis, os demais instrumentos mencionados são acessados por meio de agentes financeiros credenciados no BNDES, de forma presencial ou através da plataforma online Canal MPME, que permite o envio eletrônico da solicitação de financiamento.

M&E – A armazenagem é um gargalo no agronegócio. Como o BNDES Agro contribui com o produtor rural na aquisição de silos e sistemas de armazenagem?
MPC –
O BNDES Agro é um programa que objetiva aumentar a capacidade de armazenagem de indústrias específicas, viabilizando inclusive o apoio a empresas cerealistas. Foi criado em abril de 2018 e, para o PAP 2018/2019, foram destinados R$ 2,5 bilhões. O acesso ao BNDES Agro é realizado por meio dos agentes financeiros credenciados do BNDES, de forma presencial ou através da plataforma online Canal MPME, que permite o envio eletrônico da solicitação de financiamento. Por fim, importante citar o Programa PCA, definido no âmbito do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2018/2019 do governo federal com orçamento de R$ 1,2 bilhão, considerado uma alternativa de financiamento ao produtor rural à construção, ampliação, modernização ou reforma de armazéns.

“A parceria entre BNDES e ABIMAQ potencializa as oportunidades de negócios para os associados, que contam com ampla informação sobre o credenciamento de produtos no Finame”

M&E – Como a parceria ABIMAQ-BNDES contribui para o acesso a todas essas linhas de crédito?
MPC –
No que tange à parceria BNDES e ABIMAQ, é notório que ela cria e potencializa as oportunidades de negócios para os associados da entidade. Na condição de Posto de Informação do BNDES, os agentes da ABIMAQ estão aptos a fornecer informações atualizadas sobre os produtos do Banco em virtude do recebimento de materiais de divulgação e acesso a treinamentos periódicos. O acordo também permite uma troca ágil de informações entre as instituições, através de caixa corporativa exclusiva para os parceiros. Além das informações sobre produtos de crédito disponibilizados pelo BNDES para a indústria de bens de capital, os filiados da ABIMAQ contam – através das facilidades oferecidas pelo Posto de Informação – com ampla informação sobre o credenciamento de seus produtos no Finame, uma linha muito importante para o setor.

M&E – Como acessar o banco ou as linhas do BNDES?
MPC –
A maior parte dos instrumentos de apoio do BNDES à aquisição de máquinas e equipamentos é operada na modalidade indireta. Nesse caso, o recurso é do BNDES, mas o cliente precisa se relacionar com um dos agentes financeiros credenciados pelo Banco. Isso porque a avaliação de riscos do empreendimento, a análise de garantias e todos os aspectos operacionais da contratação da operação são feitas por esse agente, que receberá uma remuneração pelo risco. Outra possibilidade é o site do Canal MPME – acessável através do site do Banco –, disponibilizado para facilitar o contato entre clientes e agentes financeiros. Ao preencher dados básicos de sua necessidade, o potencial cliente pode iniciar uma proposta de crédito junto a um agente financeiro escolhido por ele no próprio site.

M&E – Como credenciar máquinas e equipamentos no BNDES Finame?
MPC –
A metodologia de credenciamento de máquinas e equipamentos do BNDES Finame passou por grande reformulação. Em dezembro de 2018, passou a vigorar uma nova forma de cálculo para apuração do conteúdo local dos bens credenciados. Esta reformulação foi concebida de modo a agregar, para fins de credenciamento, fatores qualitativos importantes tais como: complexidade econômica, diversificação do parque industrial, inserção nas cadeias globais de valor, a qualificação da mão de obra e o valor adicionado da produção industrial. Tal mudança foi necessária, pois a forma anterior de apuração se mostrava defasada para o atual momento da indústria nacional, apesar de sua importância histórica na estruturação desta base industrial. Dessa forma, o novo Índice de Credenciamento (lC) passou a possuir dois componentes principais, o índice de Estrutura do Produto (IEP) e os chamados Qualificadores (Q). O IEP substituiu o antigo índice de nacionalização em valor. Já os Qualificadores funcionam como um complemento ao IEP, tendo como objetivo premiar estratégias consideradas meritórias para o fortalecimento da indústria e o desenvolvimento do País. Nesse cenário, o credenciamento mantém-se como importante instrumento para garantir o estímulo ao fortalecimento das cadeias produtivas industriais, passando a agregar aspectos que permitem ampliar o desenvolvimento e a competitividade do setor industrial brasileiro no longo prazo.


Programas agropecuários do BNDES

As principais linhas de financiamento operacionalizadas pelo BNDES com foco no financiamento de máquinas e equipamentos, tem características e finalidades específicas e cobrem extensa gama de produtos, conforme descrito abaixo e somam-se ao Cartão BNDES Agro, para aquisição de máquinas, equipamentos, insumos e serviços cadastrados no site do Cartão BNDES, tendo como clientes produtores rurais.

• Moderfrota: aquisição de tratores, colheitadeiras, plataformas de corte, pulverizadores, plantadeiras, semeadoras e equipamentos para preparo, secagem e beneficiamento de café.
• PCA: aumento da capacidade de armazenagem, por meio da construção, reforma, modernização e ampliação de armazéns.
• Pronamp: amplas finalidades para médios produtos rurais, dentre as quais, a aquisição de máquinas e equipamentos.
• Inovagro: incorporação de tecnologias nas propriedades rurais, com o objetivo de aumentar a produtividade e a competitividade das atividades existentes.
• Moderagro: apoio e fomento ao setor de produção, beneficiamento, industrialização, acondicionamento e armazenagem de produtos agropecuários, incluindo ação de defesa animal e recuperação de solos.
• Moderinfra: desenvolvimento da agropecuária irrigada e apoio a proteção de cultivos.
• Prodecoop: investimento de cooperativas para modernização de seus sistemas produtivos e de comercialização para se tornarem mais competitivas.
• BNDES Agro: aumento da capacidade de armazenagem das agroindústrias de carne, leite, açúcar e trigo e empresas cerealistas; e à aquisição de pulverizadores aéreos agrícolas.