O fórum The European House – Ambrosetti, responsável por um ranking que mede a atratividade para receber investimentos de 144 economias no mundo, colocou o Brasil em destaque no Índice de Atratividade Global (Global Attractiveness Index) 2020. De acordo com ele, somente três países latino-americanos estão entre as 50 economias mais atrativas para investimentos estrangeiros e o Brasil é o mais bem colocado, ficando em 41º lugar. Ainda na região, o México ocupa o 43º lugar e o Chile está em 45º.
Para Michel Alaby, especialista em comércio exterior e presidente da Alaby & Consultores Associados, esse ranking deve ser visto de uma forma mais ampla, pois nossa posição no cenário mundial não é tão confortável. “Mesmo em boas colocações, a posição dos países latino-americanos reflete a estagnação econômica que a América Latina como um todo têm atravessado nos últimos anos, e que tende a perdurar.”
“Considerando que o Brasil é a maior economia da América Latina, uma das dez maiores do mundo, e que concentra 40% da população e do mercado consumidor da região, não fazemos mais do que a obrigação em estarmos nessa posição. Curioso é o Chile, com um PIB que não chega a 300 bilhões de dólares, e aproximadamente 19 milhões de habitantes, ser quase tão atrativo a investimentos quanto o Brasil”, analisa.
Utilizando uma metáfora esportiva, Alaby enfatiza que exaltar a posição brasileira como economia mais atrativa da América Latina equivaleria a colocar o Brasil como uma potência olímpica em função da posição no quadro de medalhas dos Jogos Pan-americanos, quando sempre estamos entre os três primeiros colocados e ganhamos medalhas em praticamente todos os esportes. Mas, quando disputamos os Jogos Olímpicos, a realidade da nossa posição mundial se impõe. Mas o Brasil, em âmbito mundial, é somente a 41º lugar do ranking de atratividade do Ambrosetti.
O que fazer para mudar o cenário
O consultor entende que é possível, sim, ao Brasil ser mais competitivo no cenário mundial e atrair investimentos estrangeiros, mas há uma grande lição de casa a ser feita. Segundo ele, isso passa por simplificação e diminuição da carga tributária; simplificação da legislação como um todo, em especial da parte trabalhista e de proteção aos investimentos estrangeiros; segurança jurídica; governança; e investimentos em infraestrutura e educação. “A lista é longa e inclui ações que terão efeito no curto, médio e longo prazos”, afirma.
Mas o Brasil pode efetuar mudanças no curtíssimo prazo, sendo mais inteligente, pragmático e, por que não dizer, profissional. De acordo com Alaby, é preciso passar ao mundo a mensagem de que somos um destino seguro para investimentos estrangeiros. Ele cita um exemplo de como o País não está sendo assim: a ameaça da Alemanha e, principalmente, da França de não ir em frente com o Acordo União Europeia – Mercosul em função de questões ambientais e sanitárias brasileiras. “Apesar de realmente existir um problema e os governos desses países estarem respondendo a uma demanda legítima de eleitores, para quem a questão ambiental é relevante, nem todos os motivos são tão puros assim.”
Segundo o consultor, não é segredo para ninguém que agricultores desses países temem a concorrência dos produtos do agronegócio brasileiro e pressionam seus governantes. Se a questão das queimadas não fosse o pretexto para atrapalhar o acordo, provavelmente seria algum outro. “É justamente por causa disso, para superar esses obstáculos que o Brasil precisa de habilidade e diplomacia. Algo que vem faltando nos últimos tempos”, conclui Alaby.