Movimentar materiais e cargas exige equipamentos específicos, adequados ao ambiente, ao trabalho – se movimentação ou elevação – e à carga, mão de obra capacitada, treinada e continuamente atualizada tecnicamente. Os benefícios obtidos são diretamente proporcionais ao cuidado e à atenção dedicadas à atividade, que consolidou-se como “um dos principais pilares dentre os responsáveis pelo avanço e desenvolvimento nacional e, para indústrias que entendem os benefícios e valores de uma movimentação eficiente, segura, confiável e ágil, é certa a promoção de incontáveis benefícios, como reduções de custos e despesas, otimizações de processos, aumentos de produtividade e prevenção de acidentes”, define Amadeu Faria – presidente da Câmara Setorial de Equipamentos para Movimentação e Armazenagem de Materiais (CSMAM), da ABIMAQ.
A evolução dos setores de logística e de supply chaim, a elevação dos custos de armazenagem e de áreas físicas utilizadas com essa finalidade, os mercados de construção civil, locação, saneamento e agronegócio contribuíram para o desenvolvimento do setor de transporte e movimentação de cargas nos setores econômicos e industriais do País.
Como detalha Faria, as constantes necessidades de otimização de espaços encontraram na verticalização de materiais “uma das alternativas mais viáveis, eficientes e crescentes do mercado, impulsionando a demanda e procura por máquinas, equipamentos, sistemas de estocagem e soluções capazes de suprir esta necessidade, promovendo impacto positivo na cadeia industrial nacional como um todo, desde o consumo e o processamento de matéria-prima, a geração de empregos que demanda mão de obra especializada, as evoluções tecnológicas e o fortalecimento do PIB nacional”.
A atividade das empresas representadas pela ABIMAQ também foi influenciada pela criação de diversos novos centros logísticos para atender o e-commerce e os serviços de entrega de redes de supermercados, atacadistas, varejistas, medicamentos e bens de consumo em geral, elevando a demanda por soluções para movimentação e elevação de cargas, comemora Leonardo Costa, coordenador do GT-Guindastes da ABIMAQ.
Igualmente afetado pela conjuntura global, o setor de movimentação de cargas – resume Faria – teve em 2023 “um ano positivo, mesmo ainda com esses fatores negativos que impactaram diretamente a indústria nacional”.
Gargalos e riscos
Leonardo Costa destaca o setor industrial e, consequentemente, o setor de movimentação e elevação de cargas e materiais como de suma importância para a economia do País, “visto a geração de empregos diretos e indiretos, uso de linhas de crédito, compra e venda de insumos entre outros aspectos, e garante: “O risco faz parte de qualquer negócio e deve ser analisado de forma antecipada. A economia do nosso país é um dos fatores que não controlamos e que geram impactos direto no segmento, seja na compra de insumos, seja na disponibilidade de crédito e poder de consumo”.
A sugestão do presidente da CSMAM para o equacionamento dos gargalos está na busca, pelas empresas, de “novas formas e estratégias para garantir resiliência e eficiência neste ambiente tão volátil e altamente flexível, através de novas tecnologias, inteligências artificiais, diversificação de fornecedores, práticas sustentáveis e ações integradas e colaborativas na cadeira de suprimentos, fortalecendo, desta forma, indústrias e outros setores nacionais que combatem diariamente a concorrência direta dos produtos estrangeiros”.
Costa crê no fortalecimento de um mercado que pode ser explorado: o da manutenção preventiva, a exemplo do que acontece no segmento automotivo, pois a manutenção preventiva é mais rápida e exige um menor investimento, e conclama os fabricantes dos equipamentos a implementarem ações de incentivo, inspeções e revisões preventivas, a fim de, a longo prazo, reduzirem custos de paradas e de manutenção e ampliar a vida útil e o valor de revenda do equipamento”.
Sergio Luiz Eidt, diretor da Ciriex Abus, condiciona a manutenção ao ambiente (se agressivo ou não) e ao uso (se um, dois ou três turnos). Recomenda, ainda, “manter em estoque uma lista das principais peças de desgaste, de modo a agilizar as trocas quando se fizerem necessárias”.
Jorge Silva – gerente-geral de Equipamentos da Konecranes – elenca entre os pontos cruciais o alinhamento da estratégia de manutenção “às recomendações do fabricante. A criticidade da instalação exige sistemas preditivos e prescritivos baseados em monitoramento contínuo do equipamento”.
Seleção e cuidados de operação
Os principais benefícios das máquinas e dos equipamentos para movimentação de cargas são a ergonomia e a segurança dos trabalhadores envolvidos no manuseio das cargas, e, por isso, vários cuidados devem ser adotados com relação aos equipamentos que fazem a movimentação e/ou a elevação de cargas.
Além de proporcionar aproveitamento da área de produção, dispensando a necessidade de espaço para o trânsito de empilhadeiras ou carros industriais, assim como permitindo o armazenamento em diversos níveis, otimizando a utilização do espaço vertical, as tecnologias de levantamento e movimentação reduzem “muito o risco de manipulação de carga aos trabalhadores, pois permitem transitar com os fardos sem passar sobre áreas com pessoas”, afirma o diretor da Ciriex Abus.
Atenção especial – assegura Victor Hugo Carlos, gerente Comercial da Climber – deve ser dada a “nunca elevar carga superior à carga nominal do equipamento, jamais ficar ou passar por baixo da carga içada. manter um plano de manutenção de acordo com a utilização, realizar checklist diário, oferecer treinamento aos colaboradores, pois um equipamento de movimentação e/ou elevação de cargas deve sempre garantir a segurança do operador, das pessoas ao redor, da carga que está sendo içada, das máquinas próximas ao içamento. Deve, ainda, garantir o atendimento da necessidade da aplicação, dos parâmetros de normas e projetos”.
Automação – Sistemas de monitoramento do equipamento estão entre os produtos da Stahl e se direcionam à gestão da manutenção e à confiabilidade dos equipamentos. Como ressalta Rafael Holanda Rodrigues – gerente de Contratos e Engenharia da empresa – mesmo com os equipamentos possuindo “sistemas e dispositivos de segurança de alta confiabilidade, se faz necessário o treinamento para uma operação segura e o uso de um bom plano de manutenção para garantia da confiabilidade do equipamento, dando ao usuário a garantia de segurança no manuseio, agilidade e otimização do processo dos nossos clientes.”
Jorge Silva comenta a existência de tecnologias já disponíveis e passíveis de serem adicionadas aos equipamentos de forma “modular”, conforme a necessidade da aplicação. Para exemplificar, ele cita duas situações diretamente relacionadas à atividade da empresa: pontes rolantes para aplicações industriais e portuárias.
O primeiro relaciona-se aos sistemas de controle de balanço da carga da ponte rolante quando suspensa. Segundo Jorge Silva, esse efeito, “que no passado era uma condição dependente única e exclusivamente da habilidade do operador, garante a minimização do efeito mesmo em velocidades mais elevadas, garantindo a movimentação eficiente e segura mesmo com operadores sem experiência”.
A semiautomação de movimentação para pontes rolantes é o segundo caso apresentado pelo gerente-geral da Konecranes, uma vez que viabiliza a programação de “percursos inteiros (até 120 destinos diferentes) de deslocamento que podem ser facilmente selecionados pelo operador. Ou seja, a partir de uma origem, a ponte se movimenta percorrendo um caminho pré-definido que pode evitar obstáculos existentes e garantir repetitibilidade em uma movimentação rápida e eficiente. O foco da Konecranes tem sido a oferta dessa e de outras tecnologias como pacotes adicionais padronizados, que podem ser incluídos em novos equipamentos ou mesmo em kits de modernização para equipamentos já em operação”.
Seleção – A seleção dos equipamentos – no caso de pontes rolantes, pórticos, carros de transferência, monovias, talhas manuais ou elétricas, braço giratório, guindautos, gruas, esteiras transportadoras e atuadores lineares -, segundo os entrevistados, necessita que o cliente saiba a carga máxima a ser içada, inclusive dimensionando futuras possibilidades de içamento, e considere a área de atuação dos equipamentos e os ciclos de operação. Essa postura é influenciada pelo avanço conquistado com as normas NR-10 e NR-12, as quais ainda contribuem para que os clientes optem por produtos nacionais, deixando de lado os importados que não atendam estas normas.
A seleção do equipamento mais adequado pelo cliente, no caso de guindastes, empilhadeiras, transpaleteiras e manipuladores, é tão delicada quanto de qualquer outro equipamento utilizado para movimentação e elevação de cargas. Ou seja, tem início pela avaliação das atividades pretendidas para o guindaste, ou seja, avaliação da carga, espaço disponível, veículo a ser instalado, severidade da operação, entre outros.
Rene Porto, gerente Divisional de Guindastes Móveis sobre Esteiras e Pneus da Liebherr soma a essas etapas a possibilidade de a seleção ser feita via portal na internet, que disponibiliza “ao cliente acesso a documentações que orientam a respeito de diferentes temas, além de conter ferramentas que facilitam o planejamento e a execução dos trabalhos. A plataforma conta com um aplicativo que auxilia a escolha do modelo de guindaste mais adequado para determinada atividade. Permite, ainda, realizar simulações e visualizações prévias em 2D ou 3D de todos os projetos e içamentos, facilitando o planejamento e antevendo possíveis dificuldades”.
Na mesma linha dos demais entrevistados, Geraldo Peleje – gerente de Vendas de Guindastes e Equipamentos de elevação na XCMG no Brasil – defende o estudo preliminar e relaciona aspectos que são fundamentais à seleção. Os fatores são “geográficos, de infraestrutura, tipo de solo e de elevação, espaço necessário para o trabalho e, por fim, a condição mais severa em que o guindaste será aplicado, pois ela é inversamente proporcional à capacidade versus raio de içamento”.
Segurança – Ao falar em segurança, Juliano Menegolla – executivo de Produtos Guindastes da Palfinger Latam – comemora a popularização do controle de estabilidade, afinal “estes sistemas visam a garantir que o conjunto veículo-guindaste opere dentro dos limites seguros de estabilidade, através do sensoreamento da abertura e patolamento dos estabilizadores, é possível recalcular o gráfico de carga em tempo real, permitindo o içamento apenas das cargas que o conjunto tem capacidade de içar, minimizando acidentes”.
Telemetria, interação com a tecnologia 5G, guindastes híbridos e puro elétricos e inteligência artificial são apontadas por Peleje como tendências atuais. Para esse executivo, esses itens contribuem para que os guindastes cumpram seus objetivos, uma vez que ”bloqueiam operações fora da capacidade máxima estabelecida, garantindo aumento de produtividade devido à assertividade e, inclusive, mantendo todos os envolvidos no evento de elevação seguros e atentos”.
A segurança do operador – garante Peleje – é preocupação da fabricante. Neste caso, o monitoramento por câmeras de todos os ângulos possíveis favorece “o controle sobre a atividades desenvolvida pelo operador, limitando sua possibilidade de trabalhar fora de configuração. Há também controle remoto para operações em que há risco para o operador ou dificuldade de ajuste de cargas em bases com pouca margem de erro”.