Indústria de máquinas e equipamentos contribuiu no fornecimento de energia

O sistema elétrico brasileiro precisa de expansão para atender às necessidades nacionais. A esse tema recorrente, quase um clichê, somou-se uma intercorrência que expôs a fragilidade e o comprometimento da estrutura existente e dos equipamentos em operação.

Trata-se do incêndio na principal subestação de energia elétrica do Amapá, em 3 de novembro, que, após curto-circuito creditado à forte chuva, deixou fora de operação a Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LTME), provocando blecaute em 13 dos 16 municípios do Estado e racionamento do fornecimento por 22 dias.

A Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) tem como principal sócio-controlador o próprio Estado do Amapá e é responsável pelos serviços de distribuição de energia elétrica em todo o Amapá, opera subestações de energia até as casas dos consumidores. Com o apagão, a CEA conseguiu suprir apenas 15% da demanda diária de energia. Esse volume passou para 65% a partir do dia 7, quando parte do abastecimento foi retomada, mas sempre oscilando, diariamente, segundo informação da própria empresa.

Em meio à crise, mais especificamente em 10 de novembro, o Ministério do Desenvolvimento Regional liberou R$ 21,6 milhões para aluguel de grupos geradores e a compra de combustível para funcionamento dos equipamentos, que foram instalados e operados pela Eletronorte.

Destaque aqui para 26 grupos geradores da Cummins Power Generation, fornecidos através da Oliveira Energia, empresa amazonense de locação de geradores para produção de energia termoelétrica e responsável pelo envio e instalação em Macapá.

Pedro Paulo Farias, diretor técnico da Oliveira Energia, comenta que, no dia 7 de novembro, seis grupos geradores Cummins modelos C250 e C500, totalizando 2 mil kVA de potência, foram transportados em aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB), para atender serviços essenciais da cidade, como hospitais e abastecimento de água. No dia 16, mais 20 grupos geradores Cummins KTA G9 de 1.250 kW cada estavam prontos para operar a Usina Termoelétrica (UTE) Santa Rita em até sete dias, após uma viagem de balsa a partir de Manaus (AM). Essa potência instalada, de acordo com Farias, supriu 10% da energia elétrica consumida pela população do Amapá, auxiliando no rodízio de fornecimento de energia aos municípios.

Caetano Souza, gerente Executivo de Vendas da Cummins Power Generation, informa que “os grupos geradores já eram de propriedade da Oliveira Energia e foram encaminhados pela empresa amazonense como parte do plano de ação do Ministério de Minas e Energia (MME)”. Como parceira da fabricante, a empresa manauara é suportada pela estrutura de pós-venda da Cummins, que conta com mais de 250 técnicos treinados e habilitados pela Universidade Cummins distribuídos em mais de 30 pontos de atendimento estrategicamente localizados em todo o Brasil, dedicados para os serviços em geração de energia.

Relatório do ONS

Para especialistas como o engenheiro eletricista José Roberto Cardoso – professor da Faculdade de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e colaborador da Fundação Vanzolini – se o transformador backup estivesse funcionando, bastaria mudar a chave para a energia ser rapidamente restabelecida, pois redundância é fundamental em situações de responsabilidade de carga”.

“A queda de um raio não causa a queima de um transformador, porque tem um sistema de proteção que desliga o equipamento. Além disso, as boas práticas adotadas pelas concessionárias envolvem o monitoramento permanente”, garante Cardoso, relacionando como possíveis causas do problema “falha de manutenção ou algum outro problema interno ou problema inicial na proteção ou, ainda, alguma falha no projeto, pois no papel tudo funciona, mas, às vezes, algumas coisas do projeto não são cumpridas”.

Comprovando essa teoria, o Relatório de Análise de Perturbação (RAP) sobre ocorrência no Amapá divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em 7 de dezembro, traz as principais conclusões, listando, entre as hipóteses para a origem da perturbação um curto-circuito do primeiro transformador que pode ter sido consequência de falha interna do equipamento ou coordenação de isolamento inadequado na subestação. Sinaliza, ainda, que o evento em pauta foi resultado de contingência múltipla (indisponibilidade do segundo transformador e perda dos outros dois equipamentos em um mesmo evento).

Como resultado positivo, o ONS lembra a necessidade de evitar que situações do tipo se repitam e, para isso, em parceria com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), está avaliando a adoção de critérios diferenciados para o caso de Macapá e regiões similares, localizadas distantes de outros centros, o que dificulta a adoção de medidas emergenciais. A meta é concluir o trabalho em junho de 2021.

O relatório, ao apontar que o atendimento às cargas da CEA, em Macapá já contempla o critério de planejamento da expansão adotado para todas as subestações do País, também emite 34 recomendações para as empresas LMTE, Eletronorte, UHE Ferreira Gomes, CEA, Energest (UHE Cachoeira Caldeirão) e para o próprio ONS, que deverão ser cumpridas nos prazos definidos, que variam entre dezembro de 2020 e março de 2021, cabendo ao Operador o papel de monitorar, avaliar o cumprimento das recomendações e informar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), ao Ministério de Minas e Energia (MME) e aos agentes.