Desafio é palavra diretamente relacionada à vida do industrial brasileiro. Superação é postura inerente à atividade cotidiana do empresário nacional, em especial daquele que atua no mercado de máquinas e equipamentos. Em 2019, esses dois elementos conviveram harmoniosamente com a retomada da atividade. Este ano de 2020 será ainda melhor, garantem industriais, executivos, economistas e consultores, e o otimismo se reflete nos indicadores, da mesma forma que o otimismo espelha o que os índices sinalizam.
Maria Cristina Zanella, gerente de Competitividade, Economia e Estatística da ABIMAQ, analisa 2019 sob dois ângulos – ambiente internacional, que foi conturbado, impactando negativamente as exportações do setor que registraram retração de 7%; cenário doméstico com mudanças importantes no câmbio e na taxa de juros, com reflexos positivos no consumo e na geração de empregos –, definindo esses últimos 12 meses como “um período de continuação da retomada do crescimento iniciada em 2018, após passar por cinco anos de retração das suas receitas liquidas totais e por seis anos de retração das vendas no mercado doméstico”.
Ao longo desse movimento de recuperação, os indicadores da indústria de bens de capital mecânico seguem evoluindo e registraram um diferencial no último ano: o mercado doméstico contribuiu de forma efetiva para a evolução de indicadores como vendas, faturamento, nível de ocupação e geração de empregos, isso porque a recessão na Argentina, os conflitos políticos em diversos países da América Latina, a guerra comercial entre Estados Unidos e China e a desaceleração das atividades de países da Europa conduziram à redução das exportações brasileiras para o mercado internacional.
A reversão do mercado consumidor – do Externo para o interno – tem origem, segundo Zanella, em mudanças importantes no câmbio e é fortemente influenciada pela redução na taxa de juros, que “abriu espaço para ampliação do crédito e redução das taxas de mercado, que impactou o consumo, produzindo implicações em toda economia”.
Interlocução indústria – governo
Esses resultados animadores e consistentes, de acordo com João Carlos Marchesan – presidente do Conselho de Administração ABIMAQ/SINDIMAQ – são os primeiros sinais de que “as medidas adotadas pelo governo brasileiro começam a surtir efeito. O governo tem acenado positivamente não só com a reforma no sistema previdenciário e a medida provisória para desburocratizar e simplificar processos para empresas e empreendedores, mas também permitindo e mantendo uma interlocução inédita com o setor produtivo, somada à redução dos juros aos menores patamares da história, mantendo a inflação controlada, e estabelecendo contexto adequado para o Brasil voltar a crescer”.
Em 2020, “vamos continuar trabalhando para o crescimento do setor, buscando crédito suficiente, redução do custo Brasil e condições adequadas que garantam isonomia em relação aos nossos concorrentes internacionais. Vamos continuar defendendo a iniciativa privada, e precisamos de um empurrão gigantesco na indústria nacional, o que parece estar se configurando nesse início de 2020”, reforça Marchesan.
O presidente do Conselho de Administração ABIMAQ/SINDIMAQ agrega “aos sinais evidentes da reação positiva do mercado brasileiro às ações do governo e do Congresso Nacional, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima do esperado; a criação de mais de 800 mil empregos formais; o aumento nos últimos cinco meses de 2019 do faturamento industrial; e os sucessivos recordes da Bolsa de Valores de São Paulo, que, pela primeira vez, ultrapassou os 110 mil pontos”.
Os indicadores econômicos – garante esse líder empresarial – indicam que o Brasil começa a se reerguer, resgatando aos poucos a confiança dos setores envolvidos e responsáveis por alavancar o crescimento e reencontrando o caminho do desenvolvimento. Indicam, também, “que começamos a ser ouvidos. O próprio envolvimento do governo com relação às medidas para entender, apurar e diminuir o custo Brasil indicam que estamos no caminho certo”, constata Marchesan, comemorando que “finalmente encontramos ressonância em um trabalho que temos desenvolvido na ABIMAQ há anos para apurar o diferencial de custo em se produzir o mesmo produto no Brasil ou no Exterior e estamos conseguindo demonstrar que esse diferencial é causado principalmente por deficiências em fatores sistêmicos”.
“Vamos continuar trabalhando para o crescimento do setor, buscando crédito suficiente, redução do custo Brasil e condições adequadas que garantam isonomia em relação aos nossos concorrentes internacionais. Vamos continuar defendendo a iniciativa privada, e precisamos de um empurrão gigantesco na indústria nacional, o que parece estar se configurando nesse início de 2020”.
João Marchesan
Em seu papel de representante da indústria brasileira de máquinas e equipamentos, a ABIMAQ, entre outras ações, orienta as empresas e aglutina as necessidades do setor. Nesse sentido, Zanella recomenda aos gestores a realização de “estudos de seu mercado de atuação, atenção às tendências, às inovações e às feiras e publicações do setor. É necessário, também, revisitar seus processos de gestão e de produção. De nossa parte, é claro, continuaremos contando com suas participações nos debates organizados pela ABIMAQ, a fim de consolidar a convergência entre nossa atuação e as necessidades do dia a dia das empresas”, convida.
Nessa linha, Bráulio Lima Borges, economista sênior da LCA Consultores, frisa a importância da união para poder “cobrar do governo mudanças que melhorem rapidamente o ambiente de negócio, como crédito para PME (pequena e média empresas) e redução da complexidade do sistema tributário, de forma a que a agenda do governo em ambiente de negócios não fique só no papel e funcione como facilitadora de abertura de negócios, e crédito, por exemplo, com cronograma para as reformas”.
Já Antonio Corrêa de Lacerda – doutor em economia especializado em análise macroeconômica e seus impactos para as empresas e o mercado, sócio-diretor da AC Lacerda Consultores e professor, pesquisador e diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da PUC-SP – define a crise no setor industrial brasileiro como “estrutural e persiste há anos”. Para ele, “é lamentável que o tema política industrial esteja fora da agenda. O nível médio atual da produção industrial atual é semelhante ao de dez anos atrás, quando o Brasil começava a superar os impactos dos efeitos da crise subprime norte-americana”.
Mercado interno permanece alavancado
O cenário do início de 2020, no setor industrial, na percepção da gerente da ABIMAQ é marcado por otimismo com “a perspectiva de ampliação do crescimento econômico. As projeções indicam um ano de crescimento do PIB ao redor de 2,5%, um ritmo bastante superior ao observado em 2019 e um crescimento da indústria ao redor de 3%”.
O sentimento positivo estende-se também ao campo político, pois “matérias importantes na área fiscal e tributária devem agitar o debate, com potencial de transformar o que alguns analistas consideram como recuperação cíclica em crescimento sustentado no longo prazo”, descreve a gerente de Competitividade, Economia e Estatística da ABIMAQ, com a esperança de que “a necessidade de maior investimento em infraestrutura seja suprida pela evolução da pauta do marco legal das parcerias público privadas já aprovada na comissão, em dezembro de 2019, e que será levada ao plenário neste começo de ano e pelo novo marco legal de saneamento básico já aprovado na Câmara”.
Frente a essas perspectivas, para o setor de máquinas e equipamentos, as expectativas são de que o ano de 2020 registre avanço de dois dígitos nas suas vendas direcionadas ao mercado doméstico. No mercado internacional, o cenário segue permeado pelas problemáticas de 2019 e, em fevereiro, agregou novo complicador: o coronavírus, que deve impactar negativamente na economia global. Por isso – frisa Zanella – ,“as expectativas são de apenas manutenção das exportações”.
O cenário do início de 2020, no setor industrial, na percepção de Maria Cristina Zanella, gerente da ABIMAQ é marcado por otimismo com “a perspectiva de ampliação do crescimento econômico. As projeções indicam um ano de crescimento do PIB ao redor de 2,5%, um ritmo bastante superior ao observado em 2019 e um crescimento da indústria ao redor de 3%”.
Considerando os acontecimentos dos últimos anos e com a certeza de que “o debate macroeconômico brasileiro é influenciado por sofismas que dificilmente se sustentam à luz das melhores teorias e bem sucedidas políticas econômicas adotadas internacionalmente”, Lacerda entende que para haver aceleração do processo de retomada da atividade industrial é necessária a compreensão de que “a combinação atual de políticas e medidas adotadas” podem não conduzir a um quadro melhor. “O desafio da retomada da economia passa necessariamente pela recuperação da indústria, tendo em vista sua relevância para a geração de valor agregado e suas interconexões com os setores agropecuário e de serviços”, comenta.
“O desafio é alcançar um crescimento mais robusto e sustentado, recuperar os investimentos, o emprego e a renda. Mas, enquanto não nos livrarmos da insistência em incorrer em caminhos equivocados e baseados em falsas premissas, o resultado infelizmente será um mais do mesmo. Sem mudar o foco dificilmente lograremos êxito na reversão da crise e em atingir o almejado desenvolvimento sustentável, econômica, ambiental e socialmente”, lembra Lacerda.
A esse quadro, Lacerda agrega mais um tópico: “Os pressupostos da chamada Indústria 4.0 estão a nos exigir estratégias ousadas, mas, igualmente, seria um equívoco desconsiderar a experiência da indústria tradicional e resiliente no Brasil. Isso não vai se realizar somente pelas forças do mercado. Uma boa estratégia pressupõe o diagnóstico adequado. Do contrário, avaliações equivocadas nos levarão, inexoravelmente, a falsas soluções”.
Indicadores sinalizam otimismo crescente e investimentos
Além dos indicadores específicos do setor de máquinas e equipamentos, coletados e analisados pela equipe de Competitividade, Economia e Estatística da ABIMAQ, vários outros sinalizam melhorias no ambiente de negócios, inclusive das indústrias.
O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), por exemplo, pesquisado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) – apesar de ter recuado 0,5 ponto percentual entre janeiro e fevereiro de 2020, passando de 65,3 pontos para 64,8 pontos, interrompendo a sequência de três meses consecutivos de crescimento – encontra-se 10 pontos acima da média histórica e 0,3 ponto acima do registrado em fevereiro de 2019.
A pesquisa “Investimentos na Indústria”, realizada anualmente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), também mostra recuperação do otimismo no setor industrial, situando a intenção de investimento em patamar 4% superior ao índice coletado em 2019, ou seja, em 2020, 84% das empresas afirmam que pretendem injetar recursos na operação. Como expresso no documento, entre os principais objetivos para este ano, o destaque fica por conta da melhoria do processo produtivo. De acordo com a pesquisa, 36% das empresas apontam que o aumento de produtividade é o grande alvo quando pensam em investir – percentual semelhante ao previsto no ano passado. Na sequência, 23% dos gestores assinalaram que pretendem ampliar a capacidade da linha produtiva, sendo que 67% do total envolvem a aquisição de máquinas, mesmo que usadas (12%).
Já o Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira (Iace), medido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) e pelo The Conference Board (TCB), subiu 0,4% em janeiro, fechando em 120,1 pontos, o nível máximo da série histórica.
Considerando em sua composição oito componentes – índices de expectativas das sondagens da indústria, de serviços e do consumidor; índice de produção física de bens de consumo duráveis; índice de quantum de exportações; índice de termos de troca; ibovespa; e taxa referencial de swaps DI pré-fixada (360 dias) – o Iace é complementado pelo Indicador Coincidente Composto da Economia Brasileira (Icce), constituído pelo índice de produção física da indústria; consumo de energia elétrica na indústria; índice de volume de vendas do comércio varejista; expedição de papel e papelão ondulado; número de pessoas ocupadas; e rendimento médio real do trabalho assalariado. No caso do Icce, o resultado mais recente, divulgado em 19 de fevereiro de 2020, mostra elevação de 0,2%, atingindo 104,7 pontos em outubro de 2019.
Esses indicadores são coerentes com as estimativas da equipe da ABIMAQ e balizam a expectativa de que “2020 será melhor do que 2019. Os nossos números demonstram isso. Enquanto os setores industriais cresceram apenas 0,7% nos últimos 12 meses, a projeção para 2020 é um avanço de 2,8%, e a indústria será responsável por puxar o crescimento do Brasil em 2020. O PIB do País deve crescer 2,5%, mais que o dobro do aumento estimado para 2019”, resume Marchesan, e conclama: “Que venha o crescimento”.