Paralelamente aos projetos citados acima, outros caminham, tocados por empresas privadas, como o grupo Aegea, que reúne concessionárias de saneamento básico, oferecendo serviços de tratamento de água e esgotamento sanitário em 49 municípios de 11 Estados brasileiros. Fundada em 2010, a holding tem ampliando o portfólio de operações – por licitações e aquisições – e expandindo a rede de cobertura que oferece nas cidades onde atua por meio de concessões plenas, Parcerias Público-Privadas (PPP) ou subconcessões.
Apenas no acumulado em 12 meses até o segundo trimestre de 2019, a Aegea investiu mais de R$ 640 milhões, com destaque para a consolidação das operações de Águas de Teresina e Manaus, últimas aquisições feitas pelo grupo. Em resposta a esses investimentos, os resultados são maiúsculos: apenas no primeiro semestre de 2019, o grupo registrou lucro líquido de R$ 120,52 milhões no acumulado do semestre, valor 15,60% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior, com a receita operacional líquida somando R$ 1,04 bilhão no semestre, fruto de aumento de 41% em relação ao segundo semestre de 2018.
“O mercado de saneamento passa por uma profunda transformação com o novo marco regulatório. Com maior competição no setor, haverá oportunidade para todos”
Percy Soares Neto, diretor executivo da Abcon
Reinvestindo historicamente mais de 60% de seu faturamento na expansão e na melhoria das redes nos municípios em que está presente, atendendo mais de 7,6 milhões de pessoas, a Aegea, para o futuro “busca continuar seu trabalho de consolidação do modelo de gestão nas duas novas integrantes do grupo para que atinjam o nível de amadurecimento registrado nas demais concessionárias. Além disso, investe cada vez mais esforços em ganhos de escala e eficiência com a digitalização de processos de planejamento e controle das operações fazendo uso de ferramentas de gêmeos digitais e realidade virtual aplicados às suas ETAs e ETEs”, informa o CEO da companhia, Hamilton Amadeo.
A digitalização dos processos possibilitará à Aegea “inteligência de dados em ampliação constante quanto ao controle e à manutenção dos ativos da companhia, otimizando sua performance e seus resultando com melhor entrega para os cidadãos, além de resultados financeiros cada vez mais positivos”, reforça Amadeo, comentando que, a empresa “aguarda os desdobramentos legais esperados para reforma do setor de saneamento básico, com projeto de lei sobre o tema em aprovação no Congresso”.
Entre os retornos esperados com a aprovação do Projeto de Lei 3235/19, Amadeo lista “mais segurança jurídica para o setor, com aumento da padronização e da uniformização do ponto de vista regulatório em nível federal e equiparação dos termos dos contratos firmados com concessionárias públicas ou privadas, fazendo com que o setor de saneamento básico brasileiro supere com mais facilidade o quadro deficitário que enfrenta atualmente, em que a meta de universalização dos serviços assumida pelo Governo através do Plansab (2013), para 2033 será atrasada em 20 anos se o quadro atual permanecer no ritmo em que se encontra”.
Um bom negócio para as indústrias
Por mais que esses valores se transformem em negócios para muitos setores da economia, para quem vive a temática no dia a dia – como a indústria fornecedora de máquinas e equipamentos – alguns pontos devem ser considerados, tais como a necessidade de universalização do saneamento e o impulso que a atividade vem tomando para recuperar-se de anos de pouca movimentação. A expectativa permanece sendo pela definição de regras que favoreçam o investimento e a entrada da iniciativa privada no processo.
“O mercado de saneamento passa por uma profunda transformação com o novo marco regulatório. Com maior competição no setor, haverá oportunidade para todos”, garante Percy Soares Neto, diretor executivo da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon).
Opinião semelhante é expressa por Estela Testa, presidente do Sistema Nacional das Indústrias de Equipamentos par Saneamento Básico e Ambiental, o Sindesam da ABIMAQ: “As atividades estão acima das expectativas. Muitos projetos caminhando, e as companhias buscando novas maneiras de investimentos e colocando licitações na praça. Hoje, não se abre um jornal ou não se assiste um telejornal sem que saneamento seja citado. Tudo isso faz movimentar o mercado, pois as exigências estão aí e são claras: ou saneamos ou adoecemos”.
Tal posicionamento da presidente do Sindesam leva em consideração o mercado de tratamento de efluentes industriais, que “também está melhor este ano. O segmento industrial é um setor a ser explorado, uma vez que o atendimento às exigências legislativas e a necessidade de tratamento de seus efluentes são obrigatórias e valorizam o cenário empresarial, principalmente nos setores de papel e celulose, alimentos, químicas, mineração, entre outras, que já se utilizam de tecnologia nacional com qualidade”.
De forma efetiva, como oportunidades de negócios para a indústria de máquinas e equipamentos, Testa comenta sobre a expectativa de anúncio de diversos projetos a serem licitados e implementados neste segundo semestre, preparando um 2020 aquecido. “Existe uma transparência muito grande no momento, as empresas estão chamando os fornecedores, apresentando seus projetos, é isto é muito bom, pois permite que participemos de seus encaminhamentos. É uma nova fase, é uma nova conduta que está sendo muito elogiada pelos fabricantes”, declara, com base nos comentários das empresas participantes do Sindesam.
Na lista de Estela Testa está o Novo Rio Pinheiros, afinal, “o Governador João Dória está com a bandeira do Novo Rio Pinheiros. Nunca houve tanta movimentação sobre o tema e, desta iniciativa, devem surgir diversos projetos e demanda por muitos equipamentos”, comemora. O projeto, apresentado oficialmente em 16 de agosto pelo governador e o presidente da Sabesp, Benedito Braga, envolve um conjunto de obras no valor de R$ 1,5 bilhão para 2022, mas a estimativa do valor total do investimento é de mais de R$ 4,6 bilhões, dos quais R$ 3 bilhões – espera João Dória – originem-se no setor privado via Parceria Público-Privada (PPP).