Inovar é aplicar ideias, tecnologias e métodos capazes de aprimorar a produção, os processos e os produtos visando a reduzir custos e a aumentar a eficiência, a competitividade, a produtividade e a capacidade de desenvolvimento das empresas. Atualmente, esses aprimoramentos envolvem a entrega ao mercado de produtos, incluindo máquinas e equipamentos, mais sustentáveis, energeticamente eficientes, com menos emissão de gases de efeito estufa, entre outros.
De introdução de novas máquinas e equipamentos à implementação de novas estratégias de gestão, alterações em processos, desenvolvimento de matérias-primas e componentes, inovação é um processo contínuo de criação e aplicação de novas ideias que objetivam melhorar a forma como as empresas operam e produzem, inclusive a transferência da aplicação de algum procedimento ou solução de uma atividade a outra.
Como toda atividade, inovar carrega desafios intrínsecos, como investimentos – extensivos a pessoal – em pesquisa e desenvolvimento, cultura da empresa e, em alguns casos, frustrações.
Marcello de Souza informa que, no setor de máquinas e equipamentos, a inovação segue dois caminhos principais: produto (novas máquinas e funcionalidades) e processo (melhorias na fabricação e operação). “Nos dias de hoje, dado o atual paradigma tecnológico, as inovações de processo têm sido as mais observadas e fortemente pautadas na intersecção entre dois grandes drivers: a digitalização e a ecoeficiência”, comenta ele.
Do ponto de vista da digitalização, as mudanças mais significativas estão vinculadas às tecnologias transversais habilitadoras da Indústria 4.0, como a inteligência artificial, sensores inteligentes (IoT), gêmeos digitais, redes 5G e robôs colaborativos. A ecoeficiência, por outro lado, vincula-se à necessidade de atender a pressão do mercado por reduzir a pegada de carbono, direcionando o desenvolvimento de máquinas mais eficientes e processos menos poluentes, que reduzam o consumo energético, aumentem a vida útil dos equipamentos e minimizem os impactos ambientais. Isso inclui o uso de materiais recicláveis, sistemas de reaproveitamento de energia e tecnologias de baixo carbono.
Como exemplo o gerente de Relações com o Mercado do Senai-SP, no que toca à digitalização, lista a criação de novos modelos de negócio que acelerem a sua adoção pelas empresas, como soluções turnkey e redução dos custos de uso das tecnologias. Essa postura “tem contribuído para uma maior democratização do uso dessas novas técnicas por parte das empresas que, por sua vez, colhem resultados positivos a partir da otimização dos processos produtivos, redução de custos operacionais e incremento da qualidade final de produtos”, destaca, ao lembrar que “está cada vez mais claro para as empresas que inovar não é apenas adotar o mais novo, mas o mais inteligente e sustentável para cada realidade industrial.”
Nesse contexto, equacionar os novos desafios depende, em muitos casos, da busca, pelas indústrias, de parceiros estratégicos, “que as apoiem em toda a jornada de transformação digital, desde a concepção de novos modelos de negócio, entendimento e adoção das tecnologias emergentes até a capacitação das equipes e obtenção de recursos financeiros”, recomenda Souza, listando Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), como o Senai São Paulo, entre instituições que contribuem para esse resultado com excelência.

Indicadores básicos de inovação
A última edição da Pesquisa de Inovação Semestral 2023: Indicadores Básicos (Pintec Semestral, realizada pelo IBGE em parceria com a ABDI e a UFRJ), divulgada em março de 2025, demonstra que em 2023, a taxa de inovação das empresas industriais com 100 ou mais pessoas ocupadas no Brasil foi de 64,6%, com queda em relação a 2022 (68,1%) e 2021 (70,5%).
Com informações sobre aspectos da conduta inovativa das empresas, dificuldades e obstáculos para inovar, arranjos cooperativos estabelecidos, realização e montante de dispêndios em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), evolução e expectativas sobre realização de atividades e dispêndios em P&D, e apoio público à inovação, a pesquisa situou o setor de Fabricação de máquinas e equipamentos, com 88,0%, como o segundo que mais inovou, logo após a Fabricação de produtos químicos (88,7%).
Vale destacar que 47,6% das empresas inovadoras, em 2023, enfrentaram obstáculos para inovar, em especial decorrentes da instabilidade econômica (44,2%), seguida pelo acirramento da concorrência (41,4%) e pela capacidade limitada de recursos internos (42,1%).
“A taxa de 2021 foi relativamente alta nesse período pós-pandemia, o que é esperado, uma vez que você vem de um período de depressão. Os anos seguintes, então, podem ser anos de ajuste, dentro de um outro cenário macroeconômico. Cai, mas com certa estabilidade dentro do contexto. Outra explicação possível é a queda na taxa de investimento da economia, de 17,9% em 2021 para 17,8% em 2022 e 16,4% em 2023”, destaca Flavio Peixoto, gerente da pesquisa.
O Índice de Transformação Digital do Brasil (ITDBr), elaborado pela PwC em conjunto com a Fundação Dom Cabral (FDC), registrou aumento para 3,7 pontos em 2024, em comparação com 3,3 no ano anterior. “Esse crescimento indica um avanço positivo na adoção de tecnologias digitais pelas organizações brasileiras, embora o ritmo de integração ainda precise melhorar significativamente”, entende Alvaro Prata, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
No mesmo período, informa Prata, “verificou-se aumento recorde de recursos para inovação. O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) atingiu um orçamento histórico de R$ 12,7 bilhões, destinados ao apoio de atividades de pesquisa e desenvolvimento em empresas e instituições científicas e tecnológicas.”

Mais inovador
No detalhamento por tipo de inovação implementada no período analisado pela Pintec Semestral – se em processo de negócios novo ou aprimorado ou em processos/produtos –, o setor de Máquinas e equipamentos, com 76,1%, foi o mais inovador em processos.
De acordo com Flavio Peixoto, as empresas inovadoras em produto tiveram redução de 2021 (50,5%) para 2022 (47,3%), mas cresceram em 2023 (48,0%): “Quando se analisa o grau de novidade da principal inovação em produto, 68,0% dos produtos inovadores foram novos apenas para a própria empresa, em 2023, percentual praticamente igual ao observado no ano anterior (68,1%).”
E Peixoto complementa: “Ocorreu, porém, aumento na proporção de produtos novos para o mercado nacional (de 26,4% em 2022 para 27,6% em 2023), em detrimento das empresas que relataram terem introduzido produtos novos para o mercado mundial (caiu de 5,5% para 4,4% entre 2022 e 2023). Além disso, houve simplificação dos novos produtos disponibilizados”.
Número de funcionários e porte da empresa – Alguns outros indicadores também merecem destaque. Comparado aos anos de 2021 e 2022, houve redução de cerca de 3,5 pontos percentuais na quantidade de empresas inovadoras em todas as faixas de pessoal ocupado em 2023.
A pesquisa também mostrou que as taxas de inovação continuam proporcionais ao tamanho das empresas, considerando as faixas de pessoal ocupado. As empresas de menor porte (de 100 a 249 pessoas ocupadas) tiveram taxa de inovação (59,3%) menor do que a observada na faixa de 250 a 499 pessoas ocupadas (70,8%) que, por sua vez, foi menor do que a das empresas com 500 ou mais pessoas ocupadas (73,6%).
Em valores, no ano de 2023, as empresas industriais inovadoras com 100 ou mais pessoas ocupadas investiram R$ 38,3 bilhões em atividades internas de P&D. As empresas inovadoras da indústria de transformação foram responsáveis por 86,4% desse valor (R$ 33,0 bilhões) e as das indústrias extrativas, por 13,6% (R$ 5,2 bilhões). Em 2022, os gastos, em termos nominais, ficaram em R$ 36,8 bilhões.
Quanto à proporção de empresas industriais que investiram em P&D interno, em relação ao total da indústria, o cenário foi de estabilidade, saindo de 34,4% em 2022 para 34,3% em 2023.
O estudo também demonstra que, embora a maior parte do investimento em P&D estivesse concentrada nas grandes empresas com 500 ou mais pessoas ocupadas (84,6%), percebe-se uma perda relativa de participação em relação ao ano anterior (86,3%). Por outro lado, a participação de empresas de 100 a 249 pessoas ocupadas na distribuição dos dispêndios de P&D passou de 5,9% em 2022 para 7,9% em 2023. As empresas intermediárias, de 250 a 499 pessoas ocupadas, apresentaram relativa estabilidade.
“Historicamente, as grandes empresas sempre gastaram mais, mas o aumento na participação das empresas menores nos dispêndios mostra que elas estão se engajando mais e gastando mais em P&D. Ainda é pouco, mas, pensando nas características dessas empresas, é um crescimento bem interessante que mostra mudança, ainda tímida, na dinâmica inovativa”, analisa o gerente.
Origem dos recursos
Quanto à origem dos recursos, os mecanismos de apoio público disponíveis foram menos usados pelas empresas inovadoras no último ano analisado: 36,3% utilizaram algum instrumento de auxílio público para suas atividades de inovação, proporção menor do que a observada em 2022 (39,0%). Como mecanismo mais utilizado, seguindo o ocorrido nos anos anteriores, proporcionalmente, o mais utilizado em 2023 foi o Incentivo fiscal à pesquisa e desenvolvimento e inovação tecnológica, disposto na Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005), contemplando 26,4% das empresas industriais inovadoras com 100 ou mais pessoas ocupadas.
Dentre as empresas que usufruíram desse instrumento, as de maior porte foram as maiores beneficiadas (utilizado por 48,6% das empresas inovadoras com 500 ou mais pessoas ocupadas, por 27,6% das empresas de 250 a 499 pessoas ocupadas e por 16,6% das empresas inovadoras de 100 a 249 pessoas ocupadas).
Perspectivas para 2025
Neste exercício, a expectativa apontada na pesquisa é de que 49,1% das empresas inovadoras expandam seus investimentos em P&D na comparação com 2024. Já 48,8% das empresas têm intenção de manter os dispêndios de 2024 em 2025, ao passo que 2,1% delas têm a intenção de diminuir os investimentos.
Para que isso realmente se concretize o cenário precisa ser mais favorável, pois o ambiente brasileiro é marcado por burocracia, dificuldade de acesso a crédito, entraves regulatórios, barreiras estruturais e culturais, entre outros. Os resultados se refletem na forma como o Brasil é visto globalmente: o País está na 50º posição do Índice Global de Inovação (IGI), divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), sendo que em 2023, a posição do Brasil era 49º.
Caminho da inovação em bens de capital metalmecânico
Reafirmando os dados da Pintec, o gerente do Senai-SP comenta “que as inovações no setor de máquinas e equipamentos no Brasil estão concentradas principalmente em processos produtivos, embasados especificamente no processamento de informação e comunicação.”
No entanto, a adoção dessas tecnologias ainda esbarra em gargalos importantes: “Segundo levantamento da ABDI, as principais dificuldades de micro e pequenas empresários em relação à transformação digital estão relacionadas à dificuldade de definição de estratégias e modelos de negócios adaptados ao contexto digital, ao nível de conhecimento sobre as novas tecnologias e suas potencialidades, à necessidade de capital humano qualificado para implementar e operar novas tecnologias, além da dificuldade em obter recursos financeiros para investir na adoção de novas tecnologias”, relata Souza
Para apoiar as empresas diante desses desafios, iniciativas como as Jornadas de Transformação Digital do Senai, o Programa PotencializEE e a Jornada de Descarbonização têm desempenhado papéis fundamentais. Esses programas de extensionismo tecnológico oferecem trilhas estruturadas que incluem diagnósticos tecnológicos detalhados, consultorias especializadas, capacitações práticas e suporte na implementação de soluções digitais e sustentáveis, apoiando micro, pequenas e médias indústrias a trilharem uma transição acessível para modelos produtivos mais eficientes, competitivos e sustentáveis.

Contribuição da normalização
Derivada da ISO 56002, publicada em 2019, que se concentra em fornecer boas práticas para ajudar empresas a serem eficazes em seus processos de inovação, a ISO 56001, de 2024, é a norma internacional focada na inovação. Desse modo, fornece diretrizes e requisitos para que as organizações possam sistematizar e otimizar seus processos de inovação. A norma orienta as empresas a criar um ambiente propício para o desenvolvimento de novas ideias, otimizando recursos e reduzindo incertezas.
A proposta da ISO 56001 é de transformar a inovação em um processo gerenciável, que possa ser planejado, executado e monitorado, independentemente do porte ou segmento de atuação, de iniciativas isoladas ou de talentos individuai, via adoção de abordagem sistemática de geração de valo, um direcionamento claro, permitindo que organizações superem essas barreiras e estabeleçam uma cultura de inovação mais robusta.