Melhora a vida útil e protege a ferramenta, a máquina e as peças, assim como o acabamento superficial, ou seja, com menos usinagem é obtido o resultado esperado. Reduz e até elimina o uso de óleos protetivos adicionais. Permite acelerar os parâmetros das máquinas, como velocidade de corte e remoção. Diminui os ruídos de máquinas e veículos. Mantém o design planejado pelos engenheiros, atendendo reguladores, botões, alavancas, maçanetas, engrenagens e todas as peças móveis e semimóveis. E ampliar essa relação é muito fácil, cada um consegue lembrar de uma série de benefícios dos lubrificantes industriais.
Por mais que para o leigo todas as marcas aparentem fazer a mesma coisa, quem vive o cotidiano da atividade sabe que não é bem assim. A gama de fluidos, óleos e graxas é ampla, com compostos específicos formulados segundo a necessidade a ser atendida.
Nesse campo, a opção vai além de concordar ou não em utilizar um lubrificante. As perguntas se multiplicam: Qual lubrificante usar? Que composição deve ter? Quais densidade e viscosidade ideais? Qual é melhor: mineral ou sintético? Se escolher sintético, deve ser emulsão ou translúcido? Todo lubrificante serve para tudo? Há restrições para aplicação em máquinas e equipamentos do setor alimentício ou de saúde?
As respostas são ainda mais variadas do que as questões levantadas. E a indústria investe continuamente em pesquisa e desenvolvimento de novos compostos e formulações.
E, surge assim uma nova interrogação: será que existe alguma atividade que não se utiliza desses compostos? A solução, neste caso é simples: não há, o que existe são setores com menos dependência, mas, mesmo assim, consumidores.
A definição do engenheiro Nilson Fernando Morsch – diretor-executivo do Sindicato Interestadual das Indústrias Misturadoras, Envasilhadoras de Produtos Derivados de Petróleo (Simepetro) – materializa essa quase onipresença: “O mercado de lubrificantes é muito dinâmico, principalmente no que diz respeito a desenvolvimentos de produtos e de tecnologia, gerando novas especificações para os lubrificantes, tanto automotivos quanto para aplicações industriais, sempre direcionadas pelas fabricantes de equipamentos (OEM)”.
Esse dinamismo tem seu preço. De acordo com Morsch, para o desenvolvimento de um lubrificante são necessários entre dois e três anos, e os investimentos ultrapassam os US$ 300 mil, principalmente pelos custos com testes de rodagem em campo.
A ampla e diversificada aplicação desses produtos garante certa estabilidade no setor, em qualquer dos seus elos, afinal, este é um mercado importante para a sociedade e, principalmente, para os fabricantes de equipamentos. Exemplo é o resultado dos últimos dois exercícios, divulgado pelo diretor-executivo do Simepetro: “Por incrível que pareça, em 2020, ano de maior impacto da pandemia da Covid-19, o mercado de lubrificantes registrou queda muito pequena. Em 2021, em contrapartida, os números sinalizam 1,5 milhão de m3 de lubrificantes, volume próximo de recordes de vendas”.
As perspectivas para este ano, tanto do Simepetro quanto, dos empresários entrevistados, são afetadas por dois eventos: as eleições, inclusive presidencial, e a Copa do Mundo de Futebol, no Catar. Esses dois eventos “podem fazer com que nossa economia seja afetada”, prevê Morsch, acreditando que a imprescindibilidade dos lubrificantes para o funcionamento das máquinas e dos equipamentos contribua para que, apesar dos desafios, o números fiquem próximos aos de 2021”.
Regeneração de fluidos preserva anualmente 25 bilhões litros de água
Defensor do uso de lubrificantes sintéticos como forma de preservação do meio ambiente, garantindo que “na área de óleos solúveis evita-se trabalhar com petróleo, até devido à insalubridade, a ALL Lubrificantes – como conta José Rodrigues – desenvolveu “a Unidade Móvel de Regeneração. Esse veículo equipado com laboratório completo vai até a sede do cliente para recuperar o óleo lubrificante usado. Dessa forma, minimiza-se os riscos de acidentes com o transporte de óleo nas rodovias, previne-se danos ambientais, preserva-se a natureza e respeita-se a vida”.
Os reflexos desse procedimento também são financeiros. Exemplificando, Rodrigues cita diminuição dos custos operacionais e da necessidade de investimentos em óleo novo, além da eliminação do descarte, pois o processo de regeneração “recupera 100% das propriedades do óleo usado”.
Agrega a esses benefícios a redução de custos de manutenção, os ganhos no custo de armazenagem e logística interna dos óleos, a otimização nos processos de manutenção e consequente diminuição dos tempos de parada, além da própria redução no descarte do óleo usado.
Com essa unidade móvel, a ALL Lubrificantes regenera cerca de 1 milhão de litros de óleo lubrificante ao ano. “Considerando que 1 litro de óleo contamina 25 mil litros de água, é possível dizer que a empresa promove a preservação de 25 bilhões de litros de água ao ano. Levando-se em conta que, no Brasil, o consumo de água é cerca de 150 litros por habitante/dia, pode-se afirmar que os números da ALL permitiriam que uma cidade com cerca de 460 mil habitantes fosse completamente abastecida por um ano todo”, garante o fundador da empresa.
Insumo estratégico
Se depender do setor de máquinas e equipamentos, os resultados das fabricantes de lubrificantes serão positivos. Informações divulgadas pela ABIMAQ em 26 de janeiro indicam, no ano de 2021, desempenho 21% superior ao observado no ano de 2020. Além disso, o ano de 2021 foi o quarto consecutivo a apresentar desempenho positivo nas receitas de vendas do setor. A receita líquida total do ano passado cresceu 21,6%, chegando a R$ 222,44 bilhões.
Segundo José Velloso, presidente-executivo da ABIMAQ, “após ter recuado para uma receita média de vendas da ordem de R$ 13,7 bilhões ao mês em 2017, em 2021 as receitas mensais retornaram ao patamar de R$ 18,5 bilhões, 23,2% abaixo do pico de desempenho, mas refletindo importante recuperação nos investimentos do País”, alega, frisando que, após registrar no último exercício o melhor ano do setor da história brasileira, “estimamos para 2022 crescimento ao redor de 6%, sobre uma base bastante alta. A produção deve crescer 4,5% e as exportações outros 15,6%. Estamos bem otimistas para este ano”.
Esses resultados confirmam a relevância do setor de máquinas e equipamentos para a economia e estimulam as fabricantes de lubrificantes industriais, afinal, como afirma Renato Rodrigues Moraes – consultor Sênior de Lubrificantes da Shell, “consideramos que o lubrificante é um insumo estratégico para a indústria, contribuindo diretamente para a produtividade industrial, com uma relação estreita com a confiabilidade e vida útil do equipamento”.
Com posição semelhante, Vanessa Manhães, analista de produtos do portfólio Lubrax e responsável pelo segmento de consumo da Vibra, o setor industrial está “em constante crescimento e cada vez mais competitivo”, exigindo que máquinas e equipamentos “sejam mantidos com a máxima disponibilidade e confiabilidade. Nossa estratégia é auxiliar o consumidor ou fabricante a extrair o máximo de seus equipamentos, contribuindo para a redução do custo total de propriedade e consequentemente, maximizando valor ao seu negócio”.
Nesse sentido, na visão de Manhães, “a escolha do lubrificante correto é essencial para garantir uma operação eficaz. A Vibra tem o compromisso de entregar soluções personalizadas de lubrificação através dos serviços e produtos Lubrax”.
Também investindo em desenvolvimento em parceria com as fabricantes de equipamentos, a Shell computa “mais de 4.000 aprovações e homologações junto aos principais OEM. Dentro desse universo, há fórmulas especificamente desenvolvidas para atender a necessidades específicas para cada tipo de equipamento e necessidade”.
Estar lado a lado com o cliente é necessidade sinalizada também por Clara Simões e Douglas Ribeiro da Silva – especialistas de produto da Iconic Lubrificantes, detentora das marcas Ipiranga e Texaco: “Sabemos da necessidade de auxiliar nossos clientes quanto à importância e às características de cada lubrificante e, por isso, temos folders disponibilizados ao mercado sobre segmentos, aplicações e produtos, além de ofertarmos treinamentos sobre lubrificantes e lubrificação e mantermos algumas parcerias com fabricantes com desenvolvimento de fórmulas específicas para as necessidades de cada um deles”.
A abrangência do impacto dos fluidos para usinagem é tão grande que, além de auxiliar na eficiência dos processos produtivos, na proteção das máquinas e no aumento de produtividade, “podem até interferir positivamente no preço da apólice do seguro de um galpão industrial, através da minimização dos riscos de incêndio”, sinaliza Alessandro Alcantarilla, diretor-geral da Blaser Swisslube na América do Sul.
“A diferença do preço por litro é compensada por caminhos diversos”, garante ele, ressaltando prática usual de confundir preço e custo: “A influência do fluido no custo final do produto acabado é bastante reduzida, pesquisas mostram que o impacto está em torno de 0,5%”, constata Alcantarilla.
Simepetro: de sindicato interestadual a associação, são 20 anos representando o setor de lubrificantes
Reunindo 46 indústrias misturadoras, envasilhadoras de produtos derivados de petróleo, distribuídos em vários Estados brasileiros, o Simepetro, aos 20 anos, investe na modernização e adota o modelo associativista.
Nilson Fernando Morsch, diretor-executivo da entidade, fala dessa transição com a convicção de que é o que mais se coaduma com a busca do Simepetro: “Teremos mais liberdade e uma gestão mais horizontalizada para que os patrimônios de nossos associados sejam preservados e que possam crescer no mercado de lubrificantes. Possuímos relacionamento com todos os atores do mercado de lubrificantes, cumprindo nosso grande objetivo, que é colaborar para que o segmento seja harmonizado”.
A programação do ano que se inicia tem a meta de trabalhar pontos críticos do setor, estimulando a criação de regras para autorregulação do mercado, ampliando a representatividade e a relevância do Simepetro. As atividades envolvem webinários técnicos e comerciais, criação de grupos de trabalho para temas específicos e ampliação de parcerias estratégicas com grandes empresas no mercado para contribuir com informação aos associados.
Sustentabilidade e tecnologia
A onda verde da descarbonização da economia interfere diretamente nas pesquisas de novas soluções em um setor até então dependente de combustíveis fósseis.
Entre as alternativas estão as emulsões sintéticas, que – confirma José Rodrigues, diretor comercial da ALL Lubrificantes – “têm alcançado resultados expressivos. Acreditamos que essa linha, mesclada com uma aculturação do mercado, seja a tônica dos próximos anos, pois vale a pena pagar por um produto um pouco mais caro que apresenta resultados positivos em produtividade, minimização das paradas de máquinas, redução de custos com insalubridade, e trará mais rentabilidade e lucratividade à indústria”.
Quando o assunto é tendência em pesquisa e desenvolvimento, Moraes destaca busca pela durabilidade do equipamento além da sua última referência de vida útil; downsizing dos equipamentos com maior densidade de potência; maior eficiência energética do equipamento; otimização da cadeia produtiva e transporte, reduzindo a emissão de CO2 a zero; redução de intervenções nos equipamentos com maiores intervalos entre as trocas de lubrificantes; garantia da durabilidade e performance do produto, uso de produtos de maior tecnologia como o caso dos lubrificantes sintéticos; e compatibilidade do lubrificante com os materiais presente nos equipamentos.
A essa relação, os especialistas de produto da Iconic agregam as necessidades advindas dos preceitos da indústria 4.0 como realidade, com máquinas com maior eficiência e menor consumo energético, autônomas, IoT e que utilizam os recursos de forma sustentável.
Responsabilidade ambiental é palavra de ordem nessas empresas para as fabricantes de lubrificantes industriais. A Iconic, ressaltam Clara Simões e Douglas Silva, “tem buscado incluir a sustentabilidade em seus produtos e serviços como um pilar das suas operações. Os biolubrificantes são um dos componentes desse pilar e contribuem no atendimento da necessidade do mercado por equipamentos cada mais eficientes e robustos, primando pela eficiência energética e maior produtividade”.
O mercado de lubrificantes – frisa o executivo do Simepetro – foi um dos primeiros a se preocupar com a questão ambiental, “através da Coleta de Óleos Usados (Oluc) realizada por empresas de rerefino de alta padrão de qualidade, que retornam estes produtos para o consumo, com benefícios à sociedade e ao meio ambiente. Além disso, há muitos desenvolvimentos de produtos com tecnologia com visão verde para gama elevada de aplicações, como por exemplo os óleos para transformador que são de base vegetal”.
Sustentabilidade também engloba eficiência energética, até pelo crescente custo desse insumo. Por isso, as fabricantes de lubrificantes industriais buscam formulações e tecnologias passíveis de contribuir para a economia de energia. Manhães ressalta que, além de ajudar a reduzir o atrito e o desgaste existente nos componentes dos equipamentos, aumentando a eficiência mecânica de uma máquina, “a escolha adequada do lubrificante pode gerar de 1% a 4% de economia de energia. No caso de motores a gasolina e a diesel, a Lubrax possui produtos que auxiliam na redução de emissões e que proporcionam até 3% de economia de combustível, contribuindo também para redução de emissões”.
O investimento, como frisou Morsch, é elevado, atingindo cerca de US$ 300 mil por novo produto. Comprovando essa informação, Moraes cita os valores anunciados pela Shell em 2021 para os cinco anos seguintes, apenas no Brasil: R$ 1,3 bilhão em pesquisa e desenvolvimento, com cerca de 30% desse montante alocado a energias renováveis e atividades ligadas à descarbonização. O trabalho é realizado em parceria com montadoras e fabricantes da indústria, como o mercado de energia eólica, para o qual foi desenvolvido um produto carbono neutro totalmente sintético de tecnologia avançada, que contribui para a performance das turbinas eólicas, reduzindo seus custos operacionais devido ao menor tempo de intervenção e falha. Especificamente no caso de equipamentos industriais, o foco desta empresa “tem sido a parceria com diversos fabricantes de equipamentos industriais, buscando estabelecer novos níveis de performance e especificações, que reflete o maior desafio ao lubrificante, com a tendência de equipamentos de menor porte e maior potência”.
Resultados diversos estão disponíveis no mercado. Os especialistas de produto da Iconic comentam que, dos lubrificantes sustentáveis produzidos pela empresa, “41% são aplicados na produção de óleos hidráulicos, 19% para metalworking, 9% para óleos de transformadores, 6% para óleos de motosserra e 25% para outras classes de óleos, como óleos de engrenagens industriais e óleos de motor. No Brasil, cerca de 2,5% dos lubrificantes consumidos são biolubrificantes, aplicados principalmente na mineração e industrias de manufatura, segundo dados da Lubes’n’Greases de agosto 2020”.
Presença no cliente
“Sabemos que o cliente precisa de máquinas e equipamentos sempre prontos para operar com a sua máxima eficiência. Com o objetivo de entregar soluções integradas de lubrificação que gerem economia através de melhores decisões e operações sem riscos, empregamos toda a nossa tecnologia e experiência em lubrificação para resolver os problemas encontrados no cliente”, constata Vanessa Manhães.
Para atender essa premissa, a Vibra criou um programa – como explica a analista de produtos do portfólio Lubrax e responsável pelo segmento de consumo da empresa – que, “além dessa aproximação com o cliente, também gera conhecimento e capacitação através de treinamentos e acessos à orientação, remota ou presencial, com o nosso time de especialistas em lubrificação, que ajudam a fazer as escolhas dos produtos adequados para cada tipo de equipamento e a melhorar processos, reduzindo o custo total de manutenção e operação“.
A maior aproximação com o cliente e investimento em formação e especialização do mercado consumidor é necessidade e realidade, assim resumida pelo consultor Sênior de Lubrificantes da Shell: “Nesse mercado, há uma necessidade cristalina de que o fornecedor não tenha apenas o papel de fabricação e comercialização do produto, assim como tínhamos até há pouco tempo. O momento atual exige proximidade ao consumidor de forma a atender não só a sua demanda por lubrificantes, mas também de serviços adicionais a esse fornecimento, capazes de auxiliá-lo na redução de custos e no aumento de produtividade”.
Como exemplo, Moraes cita serviço de consultoria desenvolvido pela Shell, que dentre outras soluções, oferece aos clientes uma ferramenta de assistência remota, “com o auxílio de óculos de realidade aumentada, possibilitando dessa maneira que os especialistas em lubrificantes e lubrificação, possam prestar consultoria a qualquer momento sem qualquer limitação geográfica”.
Alessandro Alcantarilla elenca as necessidades da usinagem, de máquinas mais rápidas, ferramentas de geometrias e conceitos diversos, como impulsionadoras da evolução dos fluidos e reivindica: “É preciso informar, orientar e educar os usuários de fluidos de usinagem com o objetivo de aprofundar os conhecimentos para que reconheçam a qualidade do produto, pois um fluido de baixa qualidade aumenta a necessidade de manutenção, reduz a vida útil de máquinas, reduz a vida útil das ferramentas, impacta negativamente a saúde dos operadores, etc.”
O fluido de usinagem – afirma o diretor-geral da Blaser Swisslube na América do Sul – “ainda não é visto como um bem de investimento, no entanto interfere diretamente em vários aspectos dos processos produtivos, podendo comprometer uma máquina de forma significativa, reduzindo consideravelmente sua vida útil e seu desempenho pela degradação por corrosão e travamento de componentes, por exemplo”.