Novas tecnologias convivem com a tradição

Unidade com rolamento integrado, da NSK, desenvolvida
especialmente para peneiras vibratórias

Atividade pulverizada, com predominância de micros e pequenas empresas (87% das 9.415 minas registradas), a indústria da mineração depende de investimentos em inovações capazes de tornar a atividade mais eficiente, gerando valor às empresas. Essas ações – de acordo com o Relatório Deloitte Monitor de 2017, realizado em parceria com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) – “precisam ser pensadas para a obtenção de benefícios mais perenes. A inovação deve ser vista como um fator de melhoria das condições de produção, envolvendo a relação com as comunidades e, consequentemente, a garantia de lucros permanentes”.

Nesse sentido, a indústria de máquinas e equipamentos vem dando sua contribuição, com soluções para todas as áreas e atividades de uma mina, pois, embora a mineração seja “tipicamente um segmento bastante conservador no tocante à adoção de novas tecnologias, é notório perceber avanços na medida em que a maioria das companhias passou a construir as suas prioridades dentro da relevante e necessária jornada de transformação digital”, declara Fernando Capelari – gerente de Desenvolvimento de Negócios em Automação de Processos para o Segmento MMM, da Schneider Electric região Américas – garantindo que “quem não seguir este caminho estará para trás, visto que todas as iniciativas buscam sempre maior produtividade e rentabilidade nas operações de qualquer companhia”.

Ricardo Oliveira, supervisor de Engenharia de Aplicação da NSK, nessa mesma toada, cita pesquisa do Gartner que mostra o uso de IoT por 20% das indústrias que atuam nos segmentos de recursos naturais, petróleo e mineração: “A mineração, seguindo a Indústria 4.0, deve entrar nesta era, até porque este setor pode aproveitar a experiência de outras indústrias que já estão se reposicionando, adotando a transformação digital e se inserindo neste novo contexto”, afirma, lembrando que algumas empresas do segmento de mineração entram na Era 4.0 pela porta da gestão de ativos, manutenção preditiva, uso de caminhões autônomos, uso de sensores e analítica avançada para reduzir custos. “Até drones, modelagem em tempo real e geocodificação para aumentar a produtividade já estão sendo usados”, comemora.

Concordando que a Mineração 4.0 é um fato, Mathias Cotta – gerente de Vendas de Automação da Metso, destaca a necessidade de considerar que “a indústria mineral tem uma velocidade própria para a adoção da Indústria 4.0. Seu ambiente operacional é severo e a própria indústria mineral em si é conservadora na adoção de novas tecnologias, diferentemente de setores como o automobilístico e o de telecomunicações. Na mineração, a adoção da digitalização e de outras tendências da Indústria 4.0 acontece, e existe um roadmap para isso”. E, as empresas que atuam como fornecedoras para o setor, como a Metso, “têm demonstrado muitos desenvolvimentos nessa área, incluindo, por exemplo, dispositivos que eliminam riscos em processos de manutenção e operacionais”, reforça Cotta.

Vertentes atuais e futuras

O aplicativo focado em paradas, da Metso, inclui informações sobre os equipamentos, cronograma e contatos dos técnicos
envolvidos com o processo

Nesse cenário, a segurança tem papel predominante e é exigência primeira das mineradoras, cobrando atenção e foco da indústria de máquinas e equipamentos. Os pontos fundamentais nesse quesito envolvem conectividade via tecnologias abertas e que alcancem todos os dispositivos; segurança cibernética; e compartilhamento de dados sobre a condição operacional dos equipamentos e máquinas, permitindo, inclusive, aprendizado pela aplicação de conceitos de Inteligência Artificial e Machine Learning.

Agregam-se, ainda, demandas por maior segurança, menor consumo de energia e de peças de reposição e desgaste, sustentabilidade e menor impacto ambiental, produtividade e inclusão da automação ou de recursos que reduzam a necessidade de mão de obra intensiva; relação custo-benefício positiva; e pós-venda ágil e parceiro.

Na visão de João Paulo Faria, coordenador de vendas para o mercado de mineração da Danfoss – empresa que produz soluções em acionamentos elétricos para esse segmento – os principais desafios vinculam-se a processos de beneficiamento do minério sem água, monitoramento das barragens de rejeitos existentes, comunicação rápida e segura. Além disso, Faria entende também que é necessário vencer gargalos das mineradoras quanto à aplicação de tecnologia e relacionados à falta de informação do cliente final e até a resistência à inovação por parte dos colaboradores.

O funcionamento pleno dos princípios da Indústria 4.0 está diretamente vinculado à implementação de soluções de conectividade em locais de difícil acesso, com infraestrutura ainda precária e distantes dos grandes centros. Para isso, investimentos são essenciais e, como dependem de intervenções da administração pública, nem sempre acontecem na mesma velocidade de desenvolvimento e implementação das tecnologias. “Este é um grande desafio para o País”, frisa Jair Machado, gerente comercial de Mineração da Liebherr Brasil, fabricante de máquinas de construção, que oferece produtos e serviços orientados para uso em diversas outras áreas, como a mineração