O ar comprimido a serviço da mobilidade

Um sistema de transporte sobre trilhos em via elevada, leve, sem motores embarcados e sem tracionamento convencional na roda, com baixo custo de manutenção e benefícios ambientais ímpares. Essa é a essência do Sistema Aeromovel, tecnologia nacional desenvolvida na década de 1970 por engenheiros brasileiros, certificada no Brasil e no Exterior e que utiliza a cadeia produtiva brasileira na sua concepção e na sua implementação.

A movimentação dos veículos do Aeromovel funciona com o princípio da propulsão pneumática. A via elevada, em média a cinco metros acima do solo, possui uma viga de concreto em forma de duto onde o ar é pressurizado. Cada veículo possui uma placa de propulsão inserida no duto, que funciona como se fosse a vela de um barco.

De forma auxiliar à propulsão, a tecnologia utiliza um subsistema de ar comprimido convencional, que aciona os principais componentes ao longo da via, como as válvulas de controle. Como explica Marcus Coester, CEO da Aerom, empresa desenvolvedora da tecnologia, “tudo funciona silenciosamente, com ventiladores estacionários localizados em pontos estratégicos ao longo da linha.”

Esta tecnologia arrojada e reconhecida mundialmente é uma solução sem emissões de poluentes e de alta eficiência energética. O gasto de energia por passageiro em comparação a sistemas tracionados por pneu chega a ser até 80% menor. Esta eficiência está vinculada ao baixo peso do veículo, que não tem motores e combustível a bordo.

“Nesse processo de pesquisa científica, contamos com parceria de empresas da cadeia metroviária, de renome internacional, para desenvolvimento e produção de subsistemas fabricados especificamente para esse veículo, como a Marcopolo Rail, no caso dos veículos, a Siemens para o sistema elétrico e de automação; a Lucchini italiana, na questão das rodas; e a Dako, da República Tcheca, nos freios”, detalha o CEO da Aerom.

A conjugação de diversas tecnologias comprovadamente eficientes, a existência de poucos componentes ativos a bordo e o peso do conjunto – muito inferior ao usual em um transporte sobre trilhos – também reduz o custo de manutenção.

Com nove linhas implementadas e diversos projetos em desenvolvimento na América Latina, África e Ásia, o Aeromovel do Aeroporto Internacional de Guarulhos será a terceira operação comercial do sistema, somando-se aos sistemas que atendem o Aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre (RS), e o parque temático de Jacarta, na Indonésia, inaugurada em 1989.

Fase pré-operacional

Previsto para entrar em operação no início de 2025, o Sistema Aeromovel do Aeroporto Internacional de Guarulhos ligará os três terminais do Aeroporto à estação da CPTM de Guarulhos. Após algumas postergações desde o início da obra, o sistema está pronto e em fase de certificação internacional de segurança, pelo Safety Integrity Level, ou Nível de Integridade de Segurança SIL4, o mais elevado grau de segurança e integridade do parâmetro internacional.

“O Aeromovel de Guarulhos será o primeiro APM – Automated People Mover – com este grau de segurança”, enfatiza Coester, ao explicar: “Isso exige procedimentos de engenharia de quatro a cinco vezes mais complexos do que nos sistemas convencionais que não têm essa certificação.”

Iniciada em 2022, a obra resulta de investimentos de R$ 271,7 milhões, obtidos por desconto na outorga anual paga por GRU Airport ao governo federal. Será operado ao longo de dez anos pelo Consórcio AeroGRU, formado por Aerom, HTB, FBS, e TS Infraestrutura.

Cada módulo do people mover é equipado com ar-condicionado e oito portas, e os passageiros poderão acompanhar informações de voos durante os 2,7 km de extensão, desde a estação Aeroporto-Guarulhos (Linha 13-Jade, da CPTM), aos terminais 1, 2 e 3 do aeroporto, totalizando quatro estações. E mais: o sistema melhorará a eficiência de deslocamento entre os terminais e conectará o GRU Airport ao sistema metroferroviário de São Paulo.

Com capacidade para transportar até 2.000 passageiros por hora, por sentido, o people mover de Guarulhos fará viagens gratuitas a cada 6 minutos em ambas as direções.

Sustentabilidade

Embora tenha sido projetado na década de 1970, quando pouco se falava de compromisso climático, hoje o Aeromovel é totalmente alinhado aos parâmetros da sustentabilidade. Com baixíssimo gasto energético e 100% elétrico, o Aeromovel não emite poluentes e só perde para a bicicleta elétrica em termos de eficiência energética.

Na vanguarda dos meios de transporte tradicionais, o Aeromovel antecipa-se também a uma exigência, que envolve a redução da emissão de microplásticos. “Essa composição não utiliza pneus de borracha e, portanto, não libera microplásticos, um tipo de poluição invisível comum em nossas ruas e calçadas, nos sistemas pluviais e nos oceanos”, reforça Coester. .

Vídeo em https://www.youtube.com/watch?v=e6vznPknbkA&t=4s