Óleo & Gás: a previsibilidade dos leilões… e dos negócios

A ANP também vem fazendo a sua parte. Em 13 de junho de 2019, por exemplo, publicou o pré-edital da Rodada de Licitações do Excedente da Cessão Onerosa sob o regime Partilha da Produção, prevista para ocorrer em 6 de novembro deste ano, com os bônus de assinatura que variam entre R$ 1,766 bilhões e R$ 68,194 bilhões, com o percentual mínimo de excedente em óleo situando-se entre 19,82% e 27,65%. Estão previstas ainda, duas outras rodadas para este ano: 16ª Rodada de Blocos Exploratórios no regime de concessão (pós-sal) e a 6ª Rodada de Partilha (pré-sal). Para 2020 e 2021, a perspectiva é de que ocorram quatro rodadas, uma de concessão e uma de partilha em cada ano (7ª e 8ª Rodadas de Partilha e 17ª e 18ª Rodadas de Licitações no regime de concessão).

Além disso, as rodadas realizadas entre 2017 e 2019, incluindo a de excedentes da Cessão Onerosa, devem resultar em 39 novas plataformas produzindo, diariamente, 4,5 milhões de barris, com investimentos nominais em R$ 924 bilhões e arrecadação de cerca de R$ 4 trilhões.

Desse modo, “há oportunidades para entrada de empresas de todos os portes e perfis nos variados segmentos da indústria nacional de petróleo e gás”, comenta Oddone. Hoje, são quase 100 grupos econômicos em exploração e produção e cerca de 130 mil agentes de distribuição e revenda de combustíveis.

Para as empresas da CSENO, na visão de Reis, o retorno dos leilões da ANP, com a entrada de empresas internacionais (oil companies), que têm processo de tomada de decisão mais rápido o que desencadeia uma série de oportunidades na indústria, abre “um horizonte de investimentos que vai desde a construção da plataforma até a sua manutenção durante longos anos de produção”.

“O setor de petróleo vive um momento importante de retomada a partir da agenda regular de leilões promovida pela ANP. A geologia atraente aliada à competitividade do País abriu o mercado, trazendo novos agentes e consequentemente mais negócios dentro do País”, sintetiza o gerente executivo de Relações Externas da Shell, listando entre os benefícios a chegada de novos fornecedores, a busca pelo aprimoramento dos serviços e materiais oferecidos.

Os trabalhos nos campos leiloados nos últimos anos, já começam a se intensificar, amplificando os investimentos e oportunidades para as empresas e fornecedores. Para a Shell Brasil, “o momento é ainda mais especial. Ampliamos e fortalecemos nosso portfólio nos últimos leilões e estamos retomando as campanhas de perfuração no Brasil”, comemora Paiva, que vê, com naturalidade, “as mudanças e os ajustes pelos quais passou o setor de óleo e gás no Brasil”.

Otimismo também marca a visão da Aker Solutions Brasil e se baseia em conquistas ao longo de 2018, quando fechou contratos para serviços de manutenção em três plataformas na Bacia de Campos e nove unidades de produção offshore da Petrobras; obteve três novos contratos para projetos na Noruega, com a Equinor, a partir do Brasil, envolvendo 47 módulos de Sistemas de Controle; e fornecimento de sistema de produção submarina e serviços relacionados, com a Petrobras, para Mero 1, com 13 árvores submarinas verticais projetadas para o Pré-Sal, cinco unidades de distribuição submarina e três estações de controle-mestre topsides.

Woodson Ferreira, vice-presidente de Customer Management da Aker, afirmando a disponibilidade da empresa para novos projetos, cita os investimentos praticados durante os anos de retração do setor, quando injetou cerca de R$ 260 milhões no desenvolvimento do Centro de Alta Tecnologia, tornando a planta de São José dos Pinhais (PR) a maior e mais moderna fábrica da companhia no mundo, podendo atender às demandas de soluções tecnológicas e de produção para projetos locais e globais. Outro investimento relevante foi a aquisição da C.S.E. Mecânica e Instrumentação, com o objetivo entrar no mercado de construção e montagem e descomissionamento para plataformas em operação no Brasil.

Acreditando em retomada gradual das atividades no setor de Petróleo & Gás, “que será mais percebida no mercado de Subsea a partir de 2020”, entende, segundo Ferreira, que, “além do investimento das IOCs nos últimos leilões e grande foco no pré-sal, o desinvestimento da Petrobras em campos maduros, gera novas oportunidades, seja na revitalização de campos, seja na manutenção de plataformas”.

Desafios existem, sempre

“Temos de continuar fazendo as coisas da maneira certa, para que a exploração possa resultar em descobertas, descobertas possam resultar em desenvolvimentos e desenvolvimentos possam representar aumento de produção. Também é meta da ANP efetivar a abertura nos setores de gás natural e de refino e aprimorar os procedimentos para agilizar esse licenciamento e não reter os investimentos. A ANP dialoga com o Ibama nesse sentido”. Essa posição de Oddone resume a opinião dos agentes do setor e responde a Makarovsky, que compara o prazo de surgimento do primeiro óleo nos poços brasileiros ao de países como o México, “que privatizou o setor há quatro anos, a primeira plataforma já começou a produzir”.

“Vimos trabalhando pela autocertificação, que existe em outros países e permite que empresas com boas práticas, a partir de licença existente, possa, para um percentual a mais, estender a licença, sem ter de começar o processo de licenciamento do zero novamente”, inserindo financiamento entre os pontos que merecem atenção e beneficiam toda a cadeia de Petróleo & Gás.

“Até viabilizar economicamente um poço em um campo petrolífero, a empresa investe bilhões de dólares, e o risco é muito grande e dificulta a obtenção de financiamento pelas garantias exigidas. A Abespetro vem atuando – e já obteve algum sucesso junto a ANP com regulamentação recentemente divulgada – na implementação do RBL (Reserve Based Lending), em benefício, principalmente, dos pequenos e médios produtores”. Essa metodologia sugerida aceita o uso da reserva provada como colateral, reduzindo o risco do financiamento para desenvolvimento da produção, permitindo, ainda, o uso como recebíveis.