Embora seja um segmento produtivo pujante, sempre com grandes volumes de produtos transformados, o setor fabricantes de máquinas e equipamentos para o Plástico (e também para a Borracha) não encontra-se confortável diante do cenário econômico nacional. E sobre esse comportamento é bom que se esclareça de imediato: há duas realidades quanto se analisa o setor do Plástico – uma, que retrata a ótica dos fabricantes nacionais de equipamentos para transformação final das várias resinas derivadas de petróleo; outra, quando avalia-se a realidade dos transformadores finais em produtos despejados nos mais variados mercados.
Do ponto de vista destes últimos, a situação geral não pode ser considerada das piores. Também não pode ser avaliada como das melhores. Sob o aspecto dos primeiros, dos fabricantes de máquinas e equipamentos, entretanto, a realidade não tem sido assim tão generosa e favorável. Há dois anos, ao menos, a condução da marcha vem sendo ditada por aguda inquietação, originada pelas incertezas de médio e longo prazos em relação aos desempenhos propostos e alcançados pela economia brasileira.
Ao final do ano passado, quando a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) publicou seu anuário 2016-2017, já era sabido que naquele exercício (2016) o setor fabricante de máquinas e equipamentos para plástico não havia alcançado as metas desenhadas ao fechamento de 2015. No ano passado, “houve queda de aproximadamente 20% nos negócios apenas para os fabricantes de máquinas e equipamentos que focaram o mercado interno”, comenta Gino Paulucci Jr, diretor da Polimáquinas Indústria e Comércio e também presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Acessórios para Indústria do Plástico (CSMAIP), da ABIMAQ. “Para as empresas que focaram também o mercado externo, a realidade não foi diferente, pois, houve queda de 10% no volume de negócios”, completa ele.
Importação x exportação
O desconforto geral decorre, exatamente, da sequência de desempenhos abaixo do planejado. Em 2015, como lembra o presidente da CSMAIP, houve queda de 10% no volume geral de negócios do setor, quando comparadas as atividades daquele exercício em relação ao imediatamente anterior. Para ilustrar a situação geral do setor, basta lembrar que as importações (em valores) de máquinas e equipamentos encontram-se em patamares altamente díspares das exportações, realidade que vem se mantendo desde 2011, ano em que importou-se o equivalente a US$ 880 milhões (FOB) e exportou-se apenas US$ 98 milhões (FOB). Desse ano até hoje, as exportações equivalem, em média, a 10% das compras realizadas no mercado internacional pelo setor – seja por fabricante de máquinas e equipamentos empregados na transformação final do plástico, seja por transformadores finais de plástico.
O curioso é que, apesar de as planilhas dos órgãos oficiais competentes registrarem essa defasagem da balança comercial, pendente para o lado das importações, o mercado transformador local “não demonstra, normalmente, preferência por máquinas e equipamentos importados”, assegura Gino Paulucci Jr. Essa tendência só se manifesta quando a paridade entre as moedas brasileira e norte-americana torna-se mais favorável ao dólar. Ou, nas palavras do próprio Gino Paulucci, “quando o câmbio encontra-se artificialmente valorizado em favor do dólar”. Situação, aliás, que voltou a ocorrer nos últimos meses.
Como executivo de alto nível de empresa brasileira fabricante de máquinas para transformação de plástico, Gino Paulucci argumenta sobre as tendências do mercado com a firmeza e segurança de quem produz equipamentos no Brasil e conhece bem os meandros desse negócio. Conhece tanto o mercado nacional que chega até a lançar mão de uma comparação ‘estranha’ para demonstrar porque o cliente brasileiro prefere os equipamentos fabricados no Brasil aos importados. Para ele, “comprar equipamento no mercado estrangeiro equivale àquele casamento no qual um dos cônjuges continua morando no exterior”. Sua explicação leva em conta o fato de o comprador de equipamento estrangeiro acabar perigosamente dependente do fabricante internacional no que diz respeito à manutenção do equipamento, à assistência técnica, à substituição emergencial de peças, à discussão técnica que surgir.
Ao longo do exercício passado, explica o presidente da CSMAIP/ABIMAQ, “o câmbio manteve-se desvalorizado, favorecendo a moeda norte-americana, principalmente durante o segundo semestre do ano”. Apenas dessa condição favorável à importação de máquinas e equipamentos, “não ocorreu uma ‘invasão dos importados’ simplesmente porque o nível de investimento dos transformadores brasileiros também caiu muito”, completa ele.
Sem ‘voo de galinha’
Comparativamente, diz ele, “nossas máquinas são tecnologicamente avançadas e extremamente adequadas ao mercado local”. No geral “somos inovadores, competitivos em todos os segmentos e, ainda por cima, temos a capacidade de atender bem e imediatamente a todos os anseios dos transformadores, nossos clientes”, orgulha-se o executivo da Polimáquinas. Para arrematar, afirma: “quando o câmbio está em níveis civilizados, somos imbatíveis na maioria dos quesitos e em especial na fabricação de equipamentos destinados ao processamento de embalagens plásticas flexíveis, embora também sejamos muito competitivos nos campos da extrusão, sopro e injeção”.
Em relação ao futuro, Gino Paulucci considera que “os sinais emitidos pelo setor industrial, em janeiro e fevereiro deste ano, são alentadores”. Só não há espaço, segundo ele, “para afirmar, categoricamente, tratar-se de tendência efetiva e contínua, embora observe-se que os fundamentos estruturantes da economia encontram-se presentes nesses resultados”. Apesar de a economia interna apresentar, nesses dois primeiros meses, essa tímida retomada, “trabalhamos com perspectiva de crescimento sustentável dos negócios para todo o ano e não enxergamos nenhum ‘voo de galinha’ para o nosso segmento industrial”, garante o presidente da CSMAIP/ABIMAQ.
Quanto ao presente, as dificuldades extra chão de fábrica continuarão as mesmas, segundo Paulucci. O setor continuará olhando fixamente para flutuação do câmbio. Também manterá o debate em relação à modernização das leis trabalhistas, assim como deverá continuar questionando a complexidade nas cobranças de impostos, assim como os valores recolhidos. Ou seja, “vamos continuar mantendo nossa posição de questionar proativamente todos esses entraves, que retiram pesadamente a competitividade de nossos produtos, seja no mercado interno, quanto no externo”, resume o representante da Câmara Setorial da ABIMAQ. Na opinião de Paulucci, “cabe ao Estado organizar e propor normas que simplifiquem as relações do Estado com as empresas (via impostos); estabelecer regras que agilizem a relação ‘empresa/trabalhador’ (pela reforma trabalhista) e, fundamentalmente, que entenda, de uma vez por todas, que um câmbio desfavorável pode ‘matar’ empresas do parque fabril nacional”. Enfim, “o governo precisa deixar bem claro para todos nós que tipo de ‘Indústria’ deseja para o Brasil”.
Plástico Brasil 2017
Do lado do empresariado, adianta Gino Paulucci, as empresas deverão manter seus programas de contratação de mão de obra. No ano passado houve ligeiro recuo no número de trabalhadores junto ao segmento de Máquinas e Acessórios para Indústria do Plástico, segundo o executivo. Para este ano pode-se afirmar que a força de trabalho contratada encontra-se em nível bastante adequado às demandas e já existem informações concretas de que haverá amplo esforço em qualificação de colaboradores, além de investimentos em melhorias de processos e modernização dos parques industriais.
Todos esses fatores positivos “poderão ser observados e constatados na Feira Internacional do Plástico e da Borracha, que ocorre entre os dias 20 e 24 de março deste ano no recinto do São Paulo Expo”, informa Gino Paulucci. Os milhares de visitantes ao evento terão a oportunidade, segundo ele, “de constatar, in locco, que esses dois segmentos – de Plástico e de Borracha – atravessam um momento positivo, apesar das dificuldades enfrentadas pelo Brasil, com uma das crises mais perversas que já viveu”. A Plástico Brasil 2017 “será um marco positivo neste momento econômico do País”, conclui ele.