Pesquisas indicam a falta mão de obra na indústria como desafio urgente

A indústria brasileira, especialmente o setor de máquinas e equipamentos, enfrenta um desafio iminente: a escassez de mão de obra qualificada para acompanhar o avanço tecnológico e atender à crescente demanda do mercado. Esse fenômeno afeta diversos setores, desde a manufatura até a tecnologia, impactando a produtividade e a competitividade das empresas no país.

Diversos fatores contribuem para a carência de trabalhadores na indústria do Brasil. Entre eles, destacam-se: Envelhecimento da população; Falta de qualificação; Mudança de perfil profissional; Condições de trabalho e Baixos investimentos em educação técnica.

A escassez de mão de obra tem consequências diretas na produtividade e no crescimento das indústrias no Brasil. Entre os principais impactos, estão a redução da produção, o aumento de custos, a dificuldade na inovação e a dependência de importação.

O “Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027”, elaborado pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), revela uma necessidade premente de qualificação profissional no Brasil. O estudo projeta que, para atender às demandas da indústria nos próximos anos, será necessário qualificar cerca de 14 milhões de trabalhadores.

Do total estimado, aproximadamente 2,2 milhões de profissionais necessitarão de formação inicial para suprir novas vagas e substituir aqueles que deixarão o mercado de trabalho. Além disso, cerca de 11,8 milhões de trabalhadores já empregados precisarão de requalificação para se adaptarem às transformações tecnológicas e organizacionais que estão moldando o setor industrial.

O estudo revela que a operação industrial está entre as áreas que mais demandarão profissionais qualificados entre 2025 e 2027, com uma demanda estimada de 181 mil vagas. Haverá uma demanda crescente por alimentadores de linhas de produção, trabalhadores de embalagem e etiquetagem, entre outros. Há uma necessidade urgente de investimentos em educação profissional e programas de requalificação para garantir que os trabalhadores possuam as habilidades necessárias para atender às demandas atuais e futuras da indústria.

O “Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027” serve como um alerta e uma ferramenta estratégica para direcionar políticas públicas e iniciativas do setor privado voltadas à formação e atualização profissional. A adaptação a esse cenário é crucial para assegurar a competitividade da indústria brasileira e promover o desenvolvimento econômico sustentável do país.

De acordo com a Pesquisa de Escassez de Talentos 2024, conduzida pelo ManpowerGroup, 81% dos empregadores brasileiros relatam dificuldades para encontrar profissionais com as habilidades necessárias, posicionando o Brasil acima da média global de 74%. Esse cenário destaca a urgência de estratégias eficazes para atrair, reter e desenvolver talentos no país.

Setores como Tecnologia da Informação e Dados (39%), Atendimento ao Cliente (29%) e Marketing e Vendas (21%) são apontados como os mais desafiadores na busca por profissionais qualificados. Para enfrentar essa lacuna, as empresas estão adotando diversas estratégias, incluindo:

– Upskilling e Reskilling dos colaboradores atuais (40%): Investimento na capacitação contínua para desenvolver novas habilidades e atualizar as existentes.

– Busca por novos pools de talentos (26%): Exploração de novas fontes e canais de recrutamento para diversificar a base de candidatos.

– Oferecimento de maior flexibilidade de localização (24%): Implementação de modelos de trabalho híbridos ou totalmente remotos para atrair uma gama mais ampla de profissionais.

– Proporcionar mais flexibilidade de horário (20%): Permitir horários de trabalho flexíveis para atender às necessidades individuais dos colaboradores.

– Ajuste de salários para maior competitividade (19%): Revisão das faixas salariais para alinhar-se às expectativas do mercado e dos talentos.

Essas iniciativas refletem a necessidade de adaptação das organizações às novas dinâmicas do mercado de trabalho, visando não apenas preencher vagas, mas também criar ambientes que promovam o desenvolvimento e a retenção de talentos.

Em suma, a escassez de talentos é um desafio complexo que requer abordagens multifacetadas. Investir em estratégias de desenvolvimento de habilidades, flexibilização das condições de trabalho e revisão das políticas de atração e retenção são passos fundamentais para que as organizações se mantenham competitivas e preparadas para o futuro do trabalho. Assim como a modernização e atualização do sistema de ensino para acompanhar a evolução tecnológica e a velocidade de mudanças no mercado.

A ABIMAQ tem se posicionado ativamente na busca de soluções para a falta de qualificação de profissionais, organizando e realizando cursos de capacitação e treinamento em temas de interesse e necessidade da indústria, além de estabelecer parcerias com instituições de ensino.

Entre suas iniciativas, destaca-se o programa piloto Trilha de Formação Industrial para Produtividade (FIP), realizado em parceria com o SENAI. O programa requalifica profissionais da indústria, com módulos de até 80 horas, focados no aperfeiçoamento profissional. As trilhas de formação priorizam a produtividade e a excelência operacional, abordando problemas concretos das empresas e atendendo a ocupações de maior demanda no setor industrial.

Outra iniciativa do SENAI, é o Programa de Aprendizagem Industrial, voltado para a formação técnica de jovens entre 14 e 24 anos. Nesse caso, uma oportunidade para que as empresas enxerguem o programa como parte de uma estratégia de recrutamento e diversidade, e uma forma eficaz de integração entre educação e mercado de trabalho.

Além disso, a ABIMAQ promove o Programa Inova Talentos, uma iniciativa do Instituto Evaldo Lodi (IEL), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O objetivo é atrair jovens talentos para as empresas e capacitá-los para atuar em projetos de tecnologia e inovação. Com bolsas de estudo de até dois anos, graduandos e recém-formados podem desenvolver suas habilidades e aplicar seus conhecimentos técnicos em projetos inovadores, sendo acompanhados por tutores das empresas e orientadores acadêmicos.

Além dessas ações, a Diretoria de Tecnologia da ABIMAQ participa de grupos de trabalho da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI). Esses grupos têm contribuído ativamente com o Governo Federal na reformulação de cursos técnicos profissionalizantes e na implementação da metodologia STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts, Mathematics) desde o ensino fundamental. A abordagem STEAM integra ciências exatas, artes e tecnologia, preparando os estudantes para enfrentar os desafios do mercado de trabalho e desenvolver habilidades criativas e analíticas.

Adicionalmente, programas focados no aprimoramento de áreas estratégicas como tecnologia, engenharia e ciências da computação podem preparar uma nova geração de profissionais capazes de atuar em setores que demandam alta qualificação.

A ABIMAQ defende um esforço nacional para promover a indústria como uma carreira atrativa, especialmente para os jovens, que muitas vezes desconhecem que o setor oferece boa remuneração e possui inúmeras vagas abertas. Por meio de campanhas de valorização da indústria e parcerias com instituições de ensino, é possível despertar o interesse de novos talentos para áreas que são agentes para o crescimento e desenvolvimento econômico do país.