“Desde maio de 2020, o setor de máquinas está em crescimento constante. Não tem como não comemorar”, afirmou José Velloso, presidente executivo da ABIMAQ, na apresentação dos resultados de fevereiro do setor de máquinas e equipamentos. Em números, isso representa crescimento de 5,1% em 2020 e 9,3% de desempenho anualizado em fevereiro.
A previsão é de que, em 2021, sigam aquecidcos os segmentos que se destacaram em 2020 – como agronegócio, alimentos e bebidas, refrigeração e construção residencial que acabaram puxando cadeias como a de máquinas e equipamentos –, mas haverá necessidade de aumento no poder de compra dos cidadãos, pois, com o término do auxílio emergencial em dezembro de 2020, o elevado patamar de desemprego e o maior endividamento das famílias, o efeito poderá ser mitigado.
No cenário externo, se o comércio global ganhar ritmo junto à expansão da vacinação mundo afora, o cenário para as exportações de máquinas poderá ser frutífero, principalmente, mantido o câmbio desvalorizado. Cristina Zanella – diretora do Departamento de Competitividade, Economia e Estatística da ABIMAQ – ressalta, neste caso, “a tendência de os países desenvolvidos priorizarem a produção doméstica para alavancarem suas economias, acirrando a disputa por mercados”.
Perspectivas setoriais
Considerando-se os marcos regulatórios do saneamento e do gás, aprovados respectivamente em 2020 e 2021, o setor de máquinas e equipamentos deve ser estimulado. Eurimilson Daniel, vice-presidente da Sobratema – Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração – as expectativas para este ano são “muito positivas, esperamos aumento da demanda e das vendas por necessidade de renovação e atendimento de projetos em agricultura e mineração que têm puxado nosso negócio”.
O setor, segundo Daniel, vem crescendo desde 2018 e 2019. Em 2020, “faltou máquina por conta da pandemia, ou seja, não vendemos mais porque a indústria não tinha para entregar”, comenta o vice-presidente da Sobratema, explicando que, por esse motivo, “o que não foi entregue em 2020 está entregável em 2021”.
No ano passado, a locação de máquinas também evoluiu. A estimativa da Sobratema é de que 27% do que a indústria vendeu foram para locação, contra 15% a 20% dos anos anteriores. “Agora a expectativa é de chegar a 30%”, comemora Daniel, informando que, a perspectiva é de crescimento mínimo de 20% na linha amarela e em outros segmentos.
Construção e infraestrutura
Após crescimento de 1,5%, em 2019, devido basicamente ao mercado imobiliário, a construção civil rompeu o ciclo de queda iniciado em 2014, e, em 2020, o crescimento ao redor de 3% fortaleceu a retomada, assegura Ieda Maria Pereira Vasconcelos – economista da Câmara Brasileira da Construção Civil (CBIC) – lembrando que mesmo “surpreendida pela avalanche da pandemia, o setor mostrou capacidade de organização e conseguiu preservar a vida e a saúde dos trabalhadores e gerou mais de 112 mil empregos com carteira assinada.
Esse cenário – na perspectiva da economista da CBIC – permite estimar para 2021 crescimento entre 5% e 10% apenas na área imobiliária, que está com “o volume de unidades novas disponíveis para comercialização em um dos menores patamares da série histórica”.
Notícia auspiciosa foi dada pela Caixa Econômica Federal em março, durante live na (CBIC, quando lançou o Edital de Chamada Pública nº 005/2021 para a seleção de projetos em infraestrutura com financiamento do Fundo de Investimento do FI-FGTS, com previsão de investimento de até R$ 3 bilhões para rodovias, portos, hidrovias, ferrovias, energia, saneamento e aeroportos.
Energia
O setor de energia se destaca em investimentos. Segundo o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, informou em meados de março, até 2030, serão R$ 329 bilhões, considerando geração e transmissão, com R$ 5 bilhões sendo realizados ainda em 2021, em 145 empreendimentos localizados em 20 Estados, e são aguardados 9 mil quilômetros de linhas de transmissão. Nesse total previsto para 2021 estão inseridos os mais de 4.800 MW de expansão da geração centralizada, sendo 2.600 MW de fontes fotovoltaicas ou eólicas, a entrarem em operação até dezembro.
Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), reforça essa informação do titular do MME, informando que, apenas em 2020, foram mais 8.000 aerogeradores em operação e mais de 660 parques, passando dos 17 GW de capacidade instalada e se consolidando como segunda fonte da matriz elétrica.
De acordo com a presidente da ABEEólica, no último ano, praticamente não foram registrados impactos da pandemia na cadeia produtiva de energia eólica no Brasil, “porque as fábricas estão produzindo hoje aerogeradores, pás e torres eólicas para parques que são fruto de leilões realizados ou contratos no mercado livre nos anos anteriores, para entregas nos próximos anos. Produzir equipamentos para o setor eólico é um negócio de longo prazo”.
Outra fonte de energia que apresenta resultados crescentes é a solar fotovoltaica, tendo fechado 2020 “com R$ 38 bilhões de negócios no setor no acumulado desde 2012, oportunizando 224 mil empregos, com mão de obra qualificada, de técnicos e níveis superior, sendo 60% na instalação dos sistemas, 20% na fabricação de equipamentos e 20% nas demais atividades funcionais das empresas, incluindo engenharia e projetos”, informa Rodrigo Sauaia, diretor executivo da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica).
Embora em 2020 a meta não tenha sido cumprida devido à pandemia do novo coronavírus, os resultados situaram-se em patamares atraentes e permitem projeção de crescimento para este ano, “resultado de R$ 22,6 bilhões em novos investimentos, gerando 147 mil empregos”, estima Sauaia, considerando os quatro leilões previstos para este ano, que terão a participação da energia solar.
Mineração
Outra atividade econômica que espera dar continuidade em 2021 aos resultados de 2020 é a mineração industrial, que faturou “R$ 209 bilhões no ano passado, total 36% superior aos R$ 153,5 bilhões de 2019. Consequentemente, os tributos totais recolhidos pela mineração industrial no País levaram aos cofres públicos mais de R$ 72 bilhões, ou seja, 36% a mais do que em 2019, e contratou cerca de 5 mil trabalhadores, resume Flávio Penido, diretor-presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), frisando que “o setor também elevou para US$ 38 bilhões o valor previsto para investir no Brasil até 2024”.
O Ibram – comenta Penido – projeta uma sequência de valorização dos preços internacionais de minérios em 2021, “mas não é possível fazer uma previsão mais precisa em função da pandemia e de seus efeitos pelo mundo, apesar do início da vacinação em massa”.
No horizonte, sinaliza o diretor-presidente do Ibram, estão “a demanda chinesa por minérios do Brasil; os planos de ação de longo prazo instituídos pelo governo federal; o plano regulatório da Agência Nacional de Mineração; e a disponibilidade maior de áreas para pesquisa mineral por parte da ANM”.
Agropecuária e indústria de alimentos
Mesmo com o setor de ciclo curto – hortifruti e flores, por exemplo – registrando perdas e tendo queimado R$ 1 bilhão em flores, na visão de Eduardo Daher, diretor executivo da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), o Brasil, olhando unicamente a atividade agrícola, “foi privilegiado pelo momento em que se tomou consciência da pandemia – fevereiro-março a maio –, pois para a indústria de insumos e máquinas e equipamentos é a entressafra, saímos da safra de verão e estamos entrando na safra de inverno, a safrinha. Os caminhões estavam levando a soja para o porto e os navios estavam iniciando suas viagens. E como o mundo inteiro começou a se preocupar e fazer estoque de alimentos, o mercado internacional levou boa parte do agro brasileiro, proporcionando receita superior a US $ 100 bilhões”.
Para este ano, o executivo da Abag vê um quadro que pode ser inverso, em resposta a alguns momentos de instabilidade, devido, inclusive, à inflação no mercado interno – “um efeito perverso do agro”, define Daher – “mas que deve passar logo, porque os Estados Unidos vão ampliar suas exportações e o mercado externo tende a se acalmar. Pela diversidade de produtos e de mercados que oferece, o Brasil está e continua bem, temos clima que ajuda com duas safras, solo que precisa ser refeito porque é ruim, veranico, pragas e doenças do agro, ou seja, temos o bônus e ônus do assunto”.
Na outra ponta do agronegócio, na indústria de alimentos, o faturamento cresceu 12,8% em 2020, atingiu R$ 789,2 bilhões em faturamento, somadas exportações e vendas para o mercado interno, respondendo por 10,5% do PIB nacional, segundo pesquisa conjuntural da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos).
Informações fornecidas por João Dornellas, presidente executivo da Abia, mostram que o setor, que tradicionalmente injeta entre 3% e 4% de seu faturamento em inovação, tecnologia e desenvolvimento de novos produtos, em 2020 investiu R$ 21 bilhões, parte desse total em máquinas e equipamentos, e esse ritmo deve ter continuidade.
Este ano – frisa Dornellas – é “para seguir apostando e acreditando que vamos transformar o Brasil no supermercado do mundo. A expectativa é de crescimento acima de 3% nas vendas reais”, prevê, mas há um porém: “Esse crescimento só será possível, mesmo com o recuo da pandemia, se o Brasil fizer as reformas estruturantes necessárias”.
Produtos plásticos
A pandemia também gerou movimentação positiva em outros setores tradicionais compradores de máquinas e equipamentos, como o de embalagens plásticas. José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), ao falar sobre 2020, garante que “o setor registrou crescimento de um pouco mais de 2% em relação a 2019, sustentado pelo segmento de embalagens (que abarca diversos setores) e de tubos e acessórios para construção civil. Em relação aos empregos, foram criados 13,6 mil em 2020 totalizando quase 327 mil empregos no ano no setor, um crescimento de 4,3% frente a 2019”, assevera Coelho.
O setor espera para este ano “crescimento em torno de 3% frente a 2020, mantendo o resultado positivo”, contudo o presidente da Abiplast recomenda cautela “para a recuperação que se iniciou na metade de 2020, trabalhando para que ela seja sustentada. Um fator preocupante é que boa parte dessa recuperação foi provocada pelo auxílio emergencial, que manteve a demanda e capacidade de compra, principalmente de produtos básicos, como alimentos, mas também de utilidades domésticas, materiais de construção e eletrodomésticos”.
Especificamente no setor de embalagens de papel, estudo da Empapel (Associação Brasileira de Embalagens em Papel) – em conjunto com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) – mostra que a tendência de crescimento percebida no mercado de embalagens de papel e papelão ondulado desde julho de 2020 tem perspectivas de continuar em 2021.
Em cenário moderado a previsão da associação é de emplacar uma expansão de 4,9% na comparação com 2020 e, no pessimista, 2,80%. E os resultados de janeiro mostram que a expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulado teve o maior volume registrado entre os meses de janeiro desde o início da série histórica iniciada em 2005, computando aumento de 4,9% em relação ao mesmo mês em 2020.
Limpeza
Estimativas da Abipla –(Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional) acenam com a possibilidade de a produção das indústrias de produtos de limpeza crescer próximo de 3% em 2021, após fechar 2020 com volume de produção estável, na comparação com o ano de 2019. De janeiro a julho do ano passado, o setor computou 5,9% de evolução em relação ao mesmo período de 2019. No entanto, a produção caiu, bruscamente, no segundo semestre, fazendo com que o ano fosse encerrado em estabilidade.