Seis anos de ações estruturantes em âmbito interno, setorial e institucional

João Carlos Marchesan, Administrador de empresas, empresário e presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ de 2016 a 2022

Posicionado como presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ/SINDIMAQ ao longo de seis anos, João Carlos Marchesan está concluindo sua segunda gestão, exercida em meio a um cenário nacional e internacional turbulento, talvez o período mais turbulento vivenciado nos 85 anos da ABIMAQ. Nesta entrevista ele faz um balanço das conquistas da Entidade, que se refletem em ganhos para as indústrias do setor, em especial às associadas. Marchesan finaliza sua segunda gestão com o setor mais fortalecido e maduro, em plena fase de consolidação do crescimento e participando ativamente e sendo ouvido pelas instituições nacionais, afinal, entidade forte, associado forte, e vice-versa. Internamente, foi consolidada a profissionalização da ABIMAQ e do SINDIMAQ. O resultado de todas essas ações, somado à evolução dos serviços prestados, levou à ampliação do quadro de associadas a ponto de “nunca na história da ABIMAQ registramos o atual número de associados”, comemora.

Confira!

M&E – Após seis anos à frente do Conselho da ABIMAQ, como define sua gestão?
João Carlos Marchesan –
Ativa, sob todos os pontos de vista, seja no trato com o governo, com interlocuções importantes que garantiram várias situações favoráveis ao setor de bens de capital como um todo, seja na prestação de serviços para os associados, através de uma equipe altamente competente, composta por gestores eficazes e sempre atentos às demandas ou na base de tudo isso, a profissionalização efetiva da Casa, com a consolidação do cargo de presidente-executivo, a fixação de vários diretores-executivos, com dedicação integral à causa e demandas dos associados, bem como a realização permanente de pesquisas e encontros técnicos que permitem à Casa saber quais os caminhos e necessidades a seguir.

M&E – Quais as principais realizações que destaca?
Marchesan –
Foram várias realizações importantes, desde a participação efetiva iniciada em novembro de 2016 no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Conselhão) do governo do presidente Michel Temer, em que tivemos a oportunidade de contribuir com discussões importantes sobre vários itens, mas os mais importantes relacionados à necessidade das reformas, tributária, da previdência, administrativa e outras para melhorar o País, até a sensibilização do governo em relação ao Custo Brasil. Eu explico: O Governo, através da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec) do Ministério da Economia, na pessoa de seu Secretário, na época, Carlos da Costa, lançou um programa, após nossos inúmeros estudos apresentados, cujos principais objetivos são reduzir o custo Brasil e executar uma nova metodologia de análise e governança para avaliar e dar prioridade a propostas com maiores chances de melhorar o ambiente de negócios e a competitividade brasileira. Sem mencionar inclusive que uma carta da ABIMAQ enviada a esse mesmo secretário em março de 2020 norteou todo o programa do governo em relação à pandemia da Covid – 19, no que se refere à indústria. Foram tantas ações, difíceis de serem enumeradas em uma entrevista. Essas são as que me recordo no momento

M&E – Em âmbito nacional, esses seis anos foram marcados por turbulências diversas: A crise fiscal que, levou o setor de máquinas e equipamentos a enfrentar uma das fases mais difíceis, se não a mais difícil; seguida de dois anos de pandemia do novo coronavírus, em que mesmo assim o setor cresceu; e encerra com a guerra entre Rússia e Ucrânia. É possível dizer que nesses 85 anos da ABIMAQ, esses foram os seis anos mais tumultuados da história da Entidade e do setor?
Marchesan –
Com toda a certeza, e essa sensação não é apenas da ABIMAQ, é uma sensação de toda a indústria, aliás do País como um todo e porque não dizer da história do Planeta. Quando pensamos que nesses 6 anos, há mais de 2 anos lidamos com uma pandemia implacável, não temos dúvida em afirmar que foram anos difíceis, mas graças ao nosso corpo de gestores e presidência executiva, colaboradores, Conselho de Administração, conseguimos nos manter em pé.

M&E – Pode-se dizer que o setor entra em uma fase de consolidação do crescimento mais fortalecido e maduro após tantos imprevistos?
Marchesan –
Sem dúvida alguma. Acredito que a pandemia trouxe inúmeras lições, entre elas o cuidado com as pessoas e o avanço do digital. Mostramos ser criativos e sobreviventes em situações adversas. Nos reinventamos e aprendemos muito com isso. Tivemos perdas importantes nesse período, perdemos o conselheiro Luiz Péricles que era uma lenda na indústria de máquinas, perdemos Pedro Buzzato, outra lenda na ABNT, perdemos ainda, Augusto Paulo Xavier de Brito, Ricardo Cilento, Rubens Dias de Moraes e Luiz Belloli, todos extremamente representativos e ativos em nosso setor. As homenagens póstumas não refletem a falta que eles fazem no dia a dia da Entidade.

M&E – Olhando para os indicadores, após a queda da atividade industrial no período de 2014 a 2017, o setor estabilizou e retomou o desenvolvimento. Qual a contribuição da ABIMAQ nesse sentido?
Marchesan –
Uma atuação vigilante no sentido de lutar pelos interesses dos associados em primeiro lugar e do setor de máquinas e equipamentos como um todo. Vivemos atentos às mudanças econômicas, que podem nos afetar. Temos um sistema de acompanhamento em Brasília, sempre atento e monitorando mudanças e sugestões do Executivo e Legislativo. Podemos dizer que a contribuição da ABIMAQ foi fundamental na manutenção da desoneração da folha de pagamento, exatamente no período de 2018 a 2023; bem como nas prorrogações de crédito outorgado. Temos um departamento de feira atuante que realiza 4 feiras próprias (AGRISHOW, EXPOMAFE, FEIMEC E PLÁSTICO BRASIL) mas apoia várias, dependendo do interesse dos nossos associados. Temos uma espécie de agência do BNDES dentro da ABIMAQ, que socorre invariavelmente as dificuldades dos fabricantes de máquinas para obter financiamentos. O departamento de exportação tem parceria com a APEX Brasil, através do BMS – Brazil Machinery Solutions e um Esforço Exportador para facilitar a busca do mercado externo pelos associados. Nosso departamento de economia e estatística não só pesquisa e divulga números como também indica tendências. Todas essas e outras ações tendem a explicar o desenvolvimento do setor.

M&E – Mesmo em um cenário adverso, a ABIMAQ aumentou o número de associados e ampliou os serviços prestados aos associados. Quais conquistas o sr. destaca? O que contribuiu para o aumento do número de associados?
Marchesan –
Tenho a convicção plena que foi o número de serviços que a ABIMAQ disponibiliza para o associado que contribuiu para o recorde de associados que temos nesse momento. Nunca na história da ABIMAQ registramos o atual número de associados. São inúmeras as vantagens para quem quiser fazer parte do nosso universo. Desde as vantagens financeiras imediatas, como por exemplo, desconto no preço dos metros quadrados adquiridos nas nossas feiras, como também ajuda em todos os aspectos da empresa, como mencionei acima temos a parceria com a a APEX, a BMS – Brazil Machinery Solutions, os índices setoriais, e benefícios que fazem total diferença no crescimento do nosso universo. Isso sem mencionar as nossas rodadas de negócios, que geram grandes oportunidades de negócios para as associadas, sem esquecer a atuação em todo o território nacional, por meio de 9 unidades espalhadas pelo Brasil, inclusive fornecendo, desde 2018 e com a criação de nossa Superintendência de Mercado Interno, vários estudos de Inteligência de Mercado, especificamente aço, metais não ferrosos e levantamento de investimentos industriais, sugerindo tendências. Creio que o suporte em vários serviços, quando descobertos pelo nosso universo de atuação que é a indústria de máquinas e equipamentos, podem impulsionar o crescimento das empresas, e isso com certeza explica o nosso aumento do número de associados, além de uma moderna gestão comercial favorecida por uma forte atuação do marketing e implantação do sistema de CRM e B.I. Não posso esquecer nesse item a visibilidade e representatividade que a ABIMAQ tem junto ao público em geral, o que certamente facilita o acesso das informações pertinentes no nosso universo de atuação.

M&E – Sua gestão também pode ser marcada pela consolidação do processo de profissionalização da Entidade. Em âmbito interno, quais realizações merecem ser destacadas?
Marchesan –
Todo o processo de profissionalização da ABIMAQ foi desenhado levando em consideração atingir os objetivos elencados acima. A estrutura atual da ABIMAQ que se iniciou com a contratação da presidência executiva em 2013, anterior à minha posse em 2016, foi desenhada levando em consideração as necessidades que geraram as realizações externas mencionadas acima e que se consolidaram durante a minha gestão, incluindo a atual chefia de gabinete e a criação da Superintendência de Mercado Interno. As coisas na realidade estão totalmente interligadas. Por exemplo, não fosse a fixação da Diretoria-Executiva de Tecnologia talvez não tivéssemos conseguido o protagonismo na Indústria 4.0, a partir do demonstrador de Soluções para a Indústria 4.0, exposto na FEIMEC 2016, na Expomafe 2017, na Feimec 2018 Expomafe 2019 e FEIMEC 2022. As ações internas, especialmente, a consolidação da gestão profissionalizada, permitiram o desempenho de setores até então inimagináveis, como também se não tivéssemos um setor de eventos como temos não teríamos realizado e fixado o nosso Congresso Anual como referência para o setor de máquinas e equipamentos. Durante a pandemia, o foco foi informação, capacitação e suporte às empresas associadas e seu corpo de profissionais. Dessa forma, realizamos 90 webinares em 2020 e 75 webinares em 2021; fizemos vídeo sobre o setor e a Covid-19; desenvolvemos hot site sobre as ações das empresas no auxílio à Covid-19º e sobre as medidas emergenciais, além de diversos e-books e participação das empresas associadas no Programa Solidariedade da Globo. A revista Máquinas & Equipamentos, criada em 2017, consolidou-se como veículo oficial de comunicação com o setor e o mercado e, como o Anuário ABIMAQ que chegou à 10ª edição em 15 anos, manteve a periodicidade durante a pandemia. A comunicação da Entidade com a sociedade por meio da Imprensa também mostrou crescimento, com a ABIMAQ sendo cada vez mais procurada por jornalistas em busca de informações sobre o setor e posicionamento frente a assuntos de importância para a economia brasileira. O resultado pode ser dimensionado pela presença no noticiário: de 2016 a março de 2022 foram mais 44.600 de matérias. A modernização da comunicação visual da ABIMAQ e a criação do portal também são realizações recentes. Refletindo as ações desenvolvidas, a pesquisa de satisfação com a metodologia Net Promoter Score (NPS) realizada por consultoria externa há três anos, dá uma visão da modernidade e do aumento da confiabilidade das associadas na Entidade, com a pontuação crescendo ano a ano, assim como o número de respondentes.

M&E – Em que pesem todas essas dificuldades que marcaram o cenário nesses seis anos, a ABIMAQ chegou a ser premiada em inovação. Qual o significado desse prêmio para o setor?
Marchesan
– Esse é um acontecimento que nos enche de orgulho. No ano de 2020, no auge da pandemia, o Departamento de Tecnologia da Informação da ABIMAQ recebeu três prêmios por qualidade na prestação de serviços. Os prêmios foram em reconhecimento à qualidade dos serviços oferecidos na associação a partir 2019. A homenagem foi feita pelas empresas Audere, que há 14 anos é referência em segurança da informação no Brasil, e a Sophos, uma desenvolvedora e fornecedora de software e de hardware de segurança. No mesmo ano, o departamento de Tecnologia da Informação da ABIMAQ recebeu em outubro uma nova premiação em reconhecimento aos serviços prestados na associação. Desta vez, a Amazon AWS, representada por Pedro Henrique Valiati, entregou uma placa ao Departamento de Tecnologia da Informação da ABIMAQ, destacando a excelência na utilização de serviços na nuvem. É um reconhecimento importante, pois permite ao associado saber que usamos as melhores práticas no manuseio das informações e gestão das nossas próprias necessidades na área de Tecnologia da Informação.

M&E – O que o sr. gostaria de ter feito e não foi possível devido às turbulências?
Marchesan –
Gostaria de ter conseguido na minha gestão uma interlocução com o governo que viabilizasse as importantes reformas para o nosso setor. Apesar de saber que não depende de nós apenas, sabemos que o Brasil precisa urgentemente de passar por um processo de reindustrialização, mas não é só isso. É universal o entendimento de que a indústria é uma das principais alavancas das transformações em curso, por estar associada ao desenvolvimento de serviços sofisticados. Além disso, a indústria estabelece vínculos com outras atividades dando a elas maior capacidade de introduzir inovações e modificar seus processos produtivos, o que lhe garante a condição de multiplicadora de empregos e renda em todos os setores da economia nacional. No Brasil, a recuperação do crescimento e do desenvolvimento econômico também demandam uma indústria forte e diversificada. E para tanto, obter condições competitivas é prioritário. A economia global, antes mesmo do advento da pandemia, vinha num processo de transformações em direção à maior sustentabilidade ambiental e social, à digitalização da indústria e à busca pelo fortalecimento dos elos da cadeia produtiva. Nesse ponto, acredito que resida a nossa maior frustração, apesar de termos conseguido diminuição no IPI, temos um longo caminho a percorrer no que se refere ao aspecto de desenvolver o País e gerar os empregos que um processo de reindustrialização pode trazer, mas esse processo deve vir acompanhado de um processo de desenvolvimento tecnológico e inovação, e o Brasil precisa de políticas públicas que não só permitam, como impulsionem esse processo. Trabalhar nesse sentido tem-nos dado muito protagonismo no setor, mas ainda há muito a ser feito. Mas sabemos que o mais importante em nossa história é continuarmos trabalhando diariamente para executar nosso compromisso de oferecer aos nossos associados conhecimento, atendimento personalizado e geração de oportunidades de negócios.

M&E – Qual o sentimento que permeia a passagem de comando para o novo presidente? Explique
Marchesan –
A passagem de comando dá-se com a certeza de que a luta continua por maiores e melhores condições para o setor de máquinas e equipamentos. Tenho certeza de que o novo presidente tem isso muito claro em seus objetivos e não hesitará em continuar a nossa luta, que inclui principalmente reindustrializar o País, combater o Custo Brasil e ter ações capazes de promover o nosso desenvolvimento. É preciso lutar para ter uma indústria cada vez mais tecnológica e sofisticada, com ética e ações sustentáveis. Esse é o caminho do futuro, muito mais do que defender uma simples reindustrialização. Sabemos que a Inovação é fundamental para ampliar demandas internas e modernizar a indústria. Após a pandemia, vemos que a transformação digital nos traz uma nova cultura organizacional, tendo a tecnologia no centro da estratégia empresarial. Não se trata apenas de investir, mas de um processo de transformação acelerada e contínua que demanda esforços maiores por parte das organizações. Sem esquecer, no entanto, a prestação de serviços aos nossos associados.

M&E – Qual recado o sr. deixa para o setor representado pela ABIMAQ?
Marchesan
– Quero dizer ainda que continuarei lutando pelos nossos interesses, levando em conta que os grandes players mundiais têm, cada um, um projeto de país e sua agenda macroeconômica visa a obter e a manter um crescimento sustentado. No Brasil, a estratégia não pode ser diferente. É necessário que o País se empenhe em ter uma indústria de transformação robusta, diversificada e competitiva, capaz de se destacar no cenário internacional, que, assim como ocorreu em muitas nações hoje desenvolvidas, garanta à sociedade brasileira desenvolvimento tecnológico, empregos de qualidade e renda digna. É preciso deixar clara a noção de que o aumento da desigualdade social e da violência, a polarização da sociedade, o alto desemprego e o crescente desalento de nossa juventude não podem ser enfrentados sem a retomada do crescimento sustentado, essencial inclusive para o equilíbrio das contas públicas. É preciso, portanto, que a ABIMAQ continue trabalhando para que o governo tome medidas urgentes no sentido de se organizar de forma a permitir o crescimento sustentável da economia de modo que a reversão da desindustrialização garanta emprego e renda para o cidadão. Para isso, são necessárias ações que garantam a isonomia competitiva do setor produtivo, proporcionando ampliação de sua participação no mercado doméstico e internacional.